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domingo, 20 de novembro de 2016

poesia de ver - "...telas de Deus!"

Poesia de ver: “… telas de Deus!”



Há dias, em que penso que Deus está tão inspirado, que decide trocar as cores… pinta o céu e o rio de amarelo… quando vejo o sol desse jeito, parece que ele é a ponta do pincel de Deus que usa o mundo como tela…

… ou será que que sempre esteve tudo ali, e só agora lembrei abrir os olhos para as telas de Deus…?

Imagem e texto por Luís Augusto Menna Barreto
(Continuo fascinado a cada por do sol em Breves, no arquipélago do Marajó! Foto feita com iPhone, de dentro do navio, minutos antes da partida da viagem de 12 horas de Breves para Belém. Há 9 anos faço esse viagem todas as semanas… e meus olhos nunca cansam…)




segunda-feira, 14 de novembro de 2016

diálogos - "...desculpa!"

Diálogos: “… desculpa!”

Originalmente  publicado no antigo blog
"Menna Comentários", precursor deste.
Data da postagem original: 24.04.2016.
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Ela havia acabado de dizer-lhe que não o amava… e sentia por isso, porque queria saber amá-lo…

“Desculpa-me…” Ela baixou os olhos… como fazem as pessoas que pedem desculpas.

“Não posso desculpar-te”, ele respondeu.

“Por que não?”

"Como alguém que só me faz o bem, pode pretender pedir-me desculpas? Se me pedes desculpas e eu as dou a ti, tu as gastas sem necessidade…! O que sobrará, quando eu gastá-las contigo, para quem me ofender, se as desculpas que eu tinha entreguei a ti sem necessidade?”

Por Luís Augusto Menna Barreto




sábado, 12 de novembro de 2016

poesia de ver - "...destino!"

Poesia de ver: “… destino!”

Originalmente  publicado no antigo blog
"Menna Comentários", precursor deste.
Data da postagem original: 20.04.2016.
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Eu perguntei à flor, por que ela parecia triste…

“Vou morrer de velha…”, respondeu-me. “Não respondi nenhuma vez 'bem te quer'… …não cumpri meu destino de morrer despetalada, vendo um olhar feliz…”

Imagem e texto por Luís Augusto Menna Barreto





quinta-feira, 10 de novembro de 2016

pensamentos perdidos - "...relapsos"

Pensamentos perdidos: “… relapsos!”

Originalmente  publicado no antigo blog
"Menna Comentários", precursor deste.
Data da postagem original: 20.03.2016.
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     Às vezes, tenho a impressão de que os relapsos como eu, sentem mais próxima a presença de Deus… 
     
     … porque Deus precisa ficar mais tempo perto desses, tendo de toda hora, cuida-los…

Por Luís Augusto Menna Barreto




quarta-feira, 9 de novembro de 2016

poesia de ver: "...cores!"

Poesia de Ver: “… cores!”



Naquele dia que parecia cinza, as tulipas em preto e branco coloriram meu coração…!

Imagem e texto por Luís Augusto Menna Barreto




terça-feira, 8 de novembro de 2016

crônica - O Presidente, o Manobra e a Ambulância - Parte 2

O Presidente, o Manobra e a Ambulância - Parte 2

Originalmente  publicado no antigo blog
"Menna Comentários", precursor deste.
Data da postagem original: 6.5.2016.
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A ambulância sacolejava. Um pouco pelo caminho esburacado, outro pouco por conta da falta de habilidade do Manobra. Eu estava preocupado em como o presidente chegaria depois de tanto pular na ambulância. 
Não, o presidente não estava doente nem acidentado. Estava sentado ao lado do Manobra, que conduzia a ambulância, no caminho da pista (não regularizada) de pouso até o fórum! Estava indo de ambulância, porque era uma das três únicas possibilidades de transporte terrestre motorizado em Curralinho, no Marajó, naquela época. Ou eu buscava o presidente do Tribunal de Justiça de ambulância, ou buscava com o caminhão do lixo, ou ele viria na garupa de um “mototáxi" sem habilitação, sem capacete, em uma motocicleta sem placa! Optei pela ambulância!
Acomodei o pessoal da seguinte maneira: ao lado do Manobra, o presidente. Na parte de trás, os demais: eu, o padre (sim, veio um padre junto!), mais um desembargador e dois assessores. O desembargador e o padre sentados na maca, eu e os assessores em pé tentando segurar na parede. Na parte de trás da ambulância não havia nada além da maca. Há quem diga que quando o município de Curralinho recebeu a ambulância, esta era, na verdade, uma UTI móvel, cheia de aparelhos. Daí o que o prefeito não teve duvidas: os aparelhos que vieram com a ambulância faltavam no hospital. “Depena a ambulância”, teria dito. E os aparelhos foram para o hospital. 
Não, não precisa ninguém ficar preocupado ou indignado. Quem conhece Curralinho, sabe que a decisão foi a acertada! Além da estrada que leva para a pista, não há mais que três ruas paralelas ao rio e algumas transversais. Depois, é só ponte (de madeira, na largura de três tábuas), por sobre o rio numa espécie de “Veneza" marajoara, em direção ao “Bairro do Cafezal”. Resumindo: aquela era a primeira vez que a ambulância andava mais que os duzentos metros que separam o hospital do trapiche municipal! 
Quando chegamos no fórum, depois de muito sacolejar, discretamente perguntei ao Manobra:
“Pelo amor de Deus, Manobra! Onde tu tiraste tua carteira de motorista?”
“Ah, doutor! Tenho não!”
“Hein?”
“Aqui não tem carro, ninguém sabe dirigir! Fiquei sabendo que a ambulância tava parada dois meses desde que tinha chegado, fui lá e disse que eu sabia. Agora sou contratado da prefeitura, doutor.” E chegou mais perto pra falar baixinho: “Mas não tem nada assinado, porque sou cadastrado na colônia de pescadores e recebo o seguro defeso”!
Arregalei os olhos torcendo para o presidente não ter escutado aquela conversa! Não escutou. Ou achou melhor não escutar!
Entrando no fórum, o presidente até achou bonito. É uma construção muito antiga e alta! Entrou no gabinete onde faço as audiências e onde despacho os processos (uma peça única, bem ampla, com uma mesa grande e várias cadeiras em volta) e perguntou:
“O que é isso?”
Apontou para a máquina de escrever! 
“A máquina em que trabalho! Fazemos audiências e despachos nesta máquina, presidente!”
A elegância que o cargo impõe fez com que o presidente mantivesse o mesmo tom: 
“Onde está o telefone?”
Esse eu tinha! Com fio, ainda, fixo, lembram? Pois é, era assim. Tinha um disco no meio em que a gente colocava o dedo no furo correspondente ao número e rodava o disco até uma trava de metal. Um numero com oito dígitos tinha que rodar oito vezes o disco.
Ele o fez com alguma ansiedade. Não sei com quem falou, mas era alguém que certamente estava de prontidão para um eventual telefonema:
“Anote aí: Em um mês quero a internet instalada em Curralinho…”
Eu me espantei. Mas sorri!
“… quero duas motocicletas para os oficiais de justiça…”
Barbaridade! Fiquei mais faceiro que pinto no lixo!
“… e uma L 200!”
Opa! Isso não! Uma caminhonete não, pelo amor de Deus! Não que fosse muito prudente, mas interrompi o presidente:
“Não, presidente. Não faça isso!”, exclamei.
Ele segurou o telefone perto do peito, sem desligar e me interrogou com o olhar.
“Não tenho onde guardar. Não tenho onde dirigir. Não tenho nem quem dirigir!” E lembrei do Manobra, que dirigia ambulância sem habilitação. Deus me livre!
“Muito mais necessário seria uma lancha, senhor presidente.”
Ele me olhou um segundo e tomou a decisão:
“Tira a L 200, coloca uma lancha!”
Simples assim.
Daí para diante, a visita foi tranquila. Ele foi até o salão do júri, completamente vazio, com visível pó nas pás dos ventiladores de teto, sem nem ao menos uma cadeira no local. 
“Por que está vazio assim”?
“Quando cheguei aqui, oito meses atrás, já estava vazio, presidente.”
“E onde tu fazes os júris?”
“Não faço. Ninguém se mata. Nem mesmo tentam matar por aqui! Quero inaugurar o salão, mas não tenho freguesia”.
O presidente deixou escapar um quase sorriso.
Depois disso foi embora com a comitiva. A ambulância estava na frente do fórum, mas onde estava o Manobra?
“Onde está o motorista?” Perguntou o presidente, que não estava acostumado a esperar.
“Um momento, presidente. Vou chamá-lo.”
Saí nervoso. Pelo amor de Deus, onde estava o Manobra? Foi com certo medo que fui até o açougue. Estava fechado. O Retalho ficou com medo de abrir o açougue, já que era quem detinha o jogo de bicho na cidade (dizem!). 
Fui correndo até o bar do Seu Nonô. Pois o Manobra estava lá… com um copo de cerveja na mão!
“Manobra! Tu estás louco?! Bebendo? O homem está lá impaciente pra ir embora e tu bebendo, Manobra?!”
“Ah, doutor. Fiquei nervoso com o presidente do meu lado. Precisava tomar umazinha pra parar de tremer!”
Com cara de poucos amigos, levei o Manobra. 
Todos na ambulância, e a viagem até a pista pareceu outra! O Manobra desviou de praticamente todos os buracos! Uma viagem muito tranqüila!
Para a decolagem não houve problemas.
O pessoal da instalação da internet veio mesmo. Ficaram dois dias em Curralinho, instalaram uma antena parabólica enorme no pátio ao lado do fórum (que não sei a quem pertence, mas nunca ninguém reclamou), fizeram todos os testes e foram embora.
Um mês depois, recebi a ligação:
“Um momento, o presidente vai falar.”
(espera, espera, espera….)
“Por que eu não estou vendo nenhum relatório de Curralinho no sistema?"
“Não coloquei ainda, senhor Presidente!”, respondi com honestidade.
Ele pareceu ficar irritado:
“Mas não mandei colocar internet?”
“Mandou!”
“O pessoal não foi instalar aí a internet, não levaram antena e equipamento?”
“Vieram!”
“E não tá funcionando a internet?”
“Pelo que sei está, senhor presidente, eles fizeram todos os testes e deixaram tudo funcionando”.
“E por que tu não estás fazendo os relatórios?”
“Porque, senhor presidente, o fio que deixaram instalado aqui no fórum, não conecta na máquina de escrever!"
...

Isso mesmo: veio tudo... mas não veio computador!

Por Luís Augusto Menna Barreto




segunda-feira, 7 de novembro de 2016

diálogos - fragmento de "Eu, o Pilha e os 35 Pilas"

Diálogos: Fragmento de “Eu, o Pilha e os 35 Pilas”

A mãe olhou desconfiada. 
“Toma”. O Pilha botou a mão no bolso e puxou um dinheiro num saquinho plástico de sacolé. Deu pra ela.
Ela contou. Tinha 29 pilas.
“Tá faltando” ela logo gritou.
“Tá nada. Faz a conta”, o Pilha falou com autoridade. “Óh, cinco dias a oito pilas: conta comigo, 8, 14, 19, 24, 28! Tem até um pila a mais!”
Os dois ficaram em silêncio um pouco e ela olhando as moedas.
“Tá, mas bora voltar que hoje ainda tá cedo. Vai daqui, moleque, vai logo pra sinaleira”!
Ufa… saí tão aliviado. Não existe amigo como o Pilha. Vou ser amigo dele até morrer. Trabalhou por mim quando eu tava doente.
“Oh, ta me devendo, mané! Não sou teu pai.” Ele me falou.
“Ninguém é.” Eu respondi. 
Rimos.
“Mas Pilha! Tu não falou que cinco dias a oito pilas dava 35?”
“E tua mãe lá sabe fazer contas? Bora, vamos no parquinho!”

(Esse é um dos diálogos que mais gostei de ter escrito. Coloquei-o novamente, porque senti saudades do Pilha… vou visitá-lo… semana que vem, posto em uma crônica, as aventuras que o Pilha contar-me!)

Para ver o texto completo, clique AQUI - Eu, o Pilha e os 35 Pilas

Por Luís Augusto Menna Barreto



sábado, 5 de novembro de 2016

poesia de ver - "... única!"

Poesia de Ver: “…única!”

Originalmente  publicado no antigo blog
"Menna Comentários", precursor deste.
Data da postagem original: 16.04.2016.
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Talvez, como esta florzinha, tu também tenhas algumas pétalas machucadas… 
... talvez tu também sejas uma, entre várias, no canteiro… 

Mas meu amor torna-te a única de quem consigo ver a beleza… e todas as outras ficam desfocadas.

Imagem e texto por Luís Augusto Menna Barreto




sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Goela, Afrodite e o Exame - parte 2

Goela, Afrodite e o Exame - parte 2

(Esses são os acontecimentos que antecederam os fatos que iniciaram a "PARTE 1"  - para ver a parte 1, CLIQUE AQUI - que foi publicado no dia 22 de outubro de 2016.


“Doutor, chegou um aviso que amanhã ou depois vai chegar o barco da marinha pra ação social, com médicos exames e outros serviços. Estão perguntando se o senhor quer participar atendendo lá também!” 
Era o Goela, falando de longe, mas se fazendo ouvir no fórum inteiro.
“Ah, Doutor, e a mãe do Descanso tá aí de novo. Quer saber se o senhor já despachou o processo dele!”
O Descanso tava preso pela quarta ou quinta vez. Furto, de novo. Recebeu o apelido depois do segundo flagrante, quando foi preso porque parou pra descansar. Pois o leso só queria saber de furtar freezer, balcões refrigerados, geladeiras…. Isso mesmo: geladeiras!
O Descanso inventa de furtar geladeira e tenta levar nas costas. Ele é um sujeito forte. Até dá conta de levar geladeiras pequenas nas costas. Mas é sempre pego próximo ao local dos furtos. Teve vez que ele foi preso e ofereceu uma cerveja que tava dentro da geladeira furtada para os policiais… que aceitaram! Depois levaram o Descanso preso!
 Por que ele faz isso? Também fiquei curioso e perguntei em um dos interrogatórios:
“Descanso, se tu não dá conta de levar a geladeira muito longe, por que tu insistes em furtar geladeira?
"Ah, doutor, mas eu dou conta sim! O problema é que quando pego a geladeira tiro ela da energia, doutor. Daí paro logo pra aproveitar o produto de dentro ainda geladinho!”
Pois é: ele furtava não pela geladeira ou freezer em si, mas pelo que tinha dentro!
Mas desta vez, o Descanso tinha sido muito mais esperto… ou quase! Pegou a motocicleta do irmão dele, improvisou um reboque, e foi furtar um freezer do bar do Seu Nonô. Conseguiu , na madrugada, arrombar a porta sem fazer muito barulho, deu um jeito de colocar a geladeira no reboque e saiu! Parecia tudo certo… mas faltou gasolina. A moto engasgou até parar no meio da estrada por onde o Descanso havia planejado fugir e, quando a polícia chegou, encontrou o descanso gritando de dor, com a motocicleta por cima dele e o pé quebrado. Querem saber a ironia? Quando a moto parou por falta de gasolina, ele foi descer e esqueceu de… … colocar o “descanso" da moto! Sabe aquele “pezinho" ou “tripé" que faz a moto não cair? Pois é, aqui na Ilha, o pessoal chama de “descanso”.
E assim, o Descanso foi preso de novo. Não era lá nenhuma novidade. Novidade era a mãe do Descanso por lá, tão acostumada que tava, coitada, com as prisões do filho. Não ia mais nem na delegacia. Se o Descanso não aparecia em casa, ela esperava o carcereiro Fechadura passar e perguntava: 
“O Descanso tá lá, Fechadura?”
“Tá. Levaram ontem e já botei na cela. O Delegado vai falar com ele só amanhã…”
E pronto. Sabendo que o filho estava em segurança, preso, que não tinha acontecido nenhuma desgraça, ela ficava tranqüila. 
Mas dessa vez, estava ali no fórum, insistindo pra falar comigo.
Eu a receberia em seguida, mas antes, estava no meio de um processo da Justiça Eleitoral. Em épocas de eleições, é um sufoco! Os processos todos tem prazos contados em horas e a todo momento ingressa pedido para coibir propaganda eleitoral, para fazer diligência em algum lugar porque estão distribuindo cestas básicas, estão dando combustível de graça… enfim… é sempre um sufoco. Eu pedi para o Goela dizer para a mãe do Descanso esperar um pouco que eu havia recém recebido um processo com um enorme carimbo de “urgente" atravessado na capa. Tratava-se de um pedido de busca e apreensão em um processo eleitoral. Isso é sempre urgente! Em véspera de eleições, quando entra um pedido desses, é porque há alguma evidência forte de que  há algo ilegal acontecendo e é preciso agir rápido para buscar e apreender o objeto da ilegalidade.
O Barganha havia entregue o processo. E eu acho que notei uma espécie de sorriso contido e um olhar de curiosidade sobre como eu receberia o processo.
O Barganha veio entregar porque o Goela estava justamente envolvido com a mãe do Descanso que não estava dando descanso para o Goela. E tinha também, o Merece querendo emprestado o telefone do Goela, de modo que o Goela estava muito ocupado.
“Ei, Goela, empresta aí o celular”.
“Ta sem crédito”.
“Eu boto”.
"Tá com pouca bateria”.
“É rapidola”.
O Merece havia saído de casa muito transtornado na madrugada. E o maior motivo pelo que estava transtornado é que ele sabia que a culpa era dele. Todo mundo fala: “se avisou que vai viajar, viaja! Não inventa de ficar!”
Pois o Merece caiu na bobagem de se atrasar.
Todos os dias da semana, tem o barco que sai do trapiche pra ir pra Breves, também no Marajó, às 3 horas da madrugada. Chega em Breves antes das 8h. As pessoas que vão viajar, já dormem direto no barco. Na hora de dormir, por volta de 22 horas em diante, pegam suas redes e, em vez de atar em casa, ata a rede já no barco, porque daí não precisa acordar no meio da noite e levantar pra ir até o trapiche perdendo o sono. O barco fica encostado desde a tardinha e quem vai viajar já vai chegando e atando a rede.
Pois o Merece havia dito pra Querida que iria pra Breves naquela noite. Mas como tomou umas cervejas com os amigos do futebol planejando o jogo do dia seguinte, quando foi pra casa acabou deitando por lá mesmo e adormeceu. A Querida acabou indo deitar com o Merece. Mas quando chegou por volta de 1 hora da manhã, aconteceu algo que deixou o Merece curioso: 
“Merece, acorda. Acorda, Merece… tu não vais viajar? É melhor ir pro barco”. Era a Querida. Mas estranhou porque outras vezes ele havia perdido a viagem e nunca ela havia acordado ele. 
Como estava com muito sono, falou: 
“Ta cedo… daqui com uns minutos eu vou…” E adormeceu novamente. 
Perto de 2 horas da manhã, de novo a Querida:
“Merece, vais perder o barco…”
“Égua, Querida! Tá doida? Deixa eu dormir!”
Daí que quem não dormiu mais foi a Querida.
Bem quando tava dando 3 horas da madrugada, batem na porta.
A Querida nem se mexeu.
“Tão batendo”, disse o Merece.
“Acho que não.”
“Tão sim.”
“Então vai ver quem é, Merece.”
“Vô nada. Pra mim não é, eu ia viajar!”
E a Querida levantou assustada e abriu devagarinho. O Merece escutou uns cochichos, até que a Querida falou:
“É o Carretilha, Merece. Quer ver se tu podes ficar na banca de peixe pra ele que ele vai sair agora pra ver os matapi*”
É claro que não terminou bem! E a culpa era do Merece, que falou que ia viajar e não foi! 
Daí que quase brigou com o Carretilha ali mesmo, pegou só a roupa que vestiu e saiu de casa, deixando até o telefone.
Pediu o telefone do Goela, porque queria mandar a mensagem pra Querida, pra dizer que ela deixasse as coisas dele na casa da Milagres, mãe dele, inclusive a chuteira que usaria no jogo da tarde.
Enviou a mensagem e devolveu o telefone.
“Doutor, a mãe do Descanso foi embora mas pediu pra ligar quando o senhor puder atender.”
“Daqui há pouco, Goela”. 
Eu não estava acreditando: o pedido de busca e apreensão, era pra apreender os postes de luz! Isso mesmo: uma coligação queria apreender os POSTES DE LUZ que estavam colocando num bairro afastado.
Um dos candidatos inscreveu-se com apelido, como é comum em inscrições eleitorais. Ainda mais no Marajó, se o candidato não colocar o apelido, não ganha voto! Pois um dos candidatos era o “Lamparina" e, então, a coligação adversária queria convencer que os postes de luz estariam fazendo propaganda para o Lamparina! 
Quando eu vi o que era, na mesma hora tive a certeza de que o caso do Descanso seria mais importante!
“Goela, podes ligar para a mãe do Descanso! Já posso atende-la.”
“Doutor, acabou a bateria do meu celular. Vou rapidola bem ali chamar”.
Dez minutos depois, a mãe do Descanso entrou e eu fui logo falando:
“Dona Pacífica, houve algum problema? O flagrante tá certinho, o Descanso nem apanhou nem nada, já foi atendido o pé quebrado na unidade de saúde, e agora tem que esperar o Promotor ver se vai denunciar. A senhora bem sabe que o Descanso vive aprontando.”
“Mas doutor, eu só queria levar pra casa…”
“Isso não dá, dona Pacífica!”, fui logo interrompendo!  "Não tem nem um mês que o Descanso foi solto da última vez. Levar pra casa não dá!”
“Mas doutor…”
“Não dá. Isso não dá!”
“… a moto, doutor.”
“Hein?”
“Eu só queria a moto, doutor. O Descanso tá bem na prisão, doutor”.
Pois é! Ela não tava preocupada com o Descanso. Ela queria era a moto do outro filho, que foi apreendida com o Descanso!”
Naquele dia, o Goela chegou em casa, deixou o celular carregando e foi para o campo, porque tinha o jogo do campeonato da cidade, que o Merece também ia jogar… … e que no fim acabou arrumando briga, porque o time adversário começou a provocar ele dizendo que era leso, perguntando se ia viajar de novo, se ia deixar a Querida sozinha…
Mas o Goela esqueceu o celular sem senha, quando colocou pra carregar em casa.
E quando a Afrodite chegou, o celular tava carregado e entrou a mensagem que a Querida respondeu para o Merece, pelo número do Goela:
“Desculpa. não fico mais com ele. Agora só vou ficar com você. Vem pegar tua morena de novo.”

Por Luís Augusto Menna Barreto

* Matapi é uma armadilha para pegar camarão, muito utilizada na região do Marajó.