Pensamentos Perdidos: AS FLORES - parte 13 de 15
Carta de Henrique
Há um vento fraco lá fora… Posso ver como as árvores são agitadas por ele… Posso ver como todos os corpos são tocados pelo vento que hora é brisa, hora é tufão…
Há vento… lá fora!
Não sei se tenho tempo. Preciso terminar esta carta antes que o vento que há lá fora enfraqueça e pare… e, há tempos, eu não consegui entender direito quando os ventos param ou começam…
Estou confuso, Júlia…
Vejo as imagens de minha infância, de uma juventude que não percebi, da maturidade que se escondeu e dos dias em que me vi morrer lentamente através do espelho que insistia em tornar-me velho. Penso na vida e na morte e não consigo, agora, separá-las. Não sei até onde vivi e nem quando comecei a morrer. Não sei nem ao menos se tudo o que passei foi vida… Contudo, não consigo encontrar a alegria de um renascer e, então, percebo que sinto medo de algo que nem sei se conheço…
Lembranças que nunca tive, de minha infância, chegam com clareza em minha mente. Vejo-me correndo em lugares que esqueci, subindo em árvores que foram meus castelos, brincando com bolitas… lembro-me de ter sorrido. Percebo, agora, que minha infância ficou esquecida junto com o saco de bolitas que deixei quando te conheci, Viviane. E lembro daquele dia de vento em que acreditei que a vida poderia ser bela. Naqueles momentos de vento, tenho a certeza de ter conquistado um pedaço de um paraíso qualquer, d’onde fui expulso assim que acordei, solitário, como uma folha que o vento arrancou de sua árvore da infância para deixar atirada sem rumo em um lugar a esmo…
Passei, então, a procurar-te em todas as flores que se curvavam, em todos os galhos que se balançavam em um brisa qualquer… Fiquei a desejar que todos os dias fossem dias de sol para que eu saísse a procurar por uma sombra que ficasse ao lado da minha. Se não lembro de amigos na infância, da mesma forma lembro apenas da solidão da maturidade em que te procurei em vão em todas as Manoelas, Anas e Marias que pude encontrar… e, em nenhuma, encontrei o vento ou o aroma que vinha do teu corpo.
Eu te senti perto cada vez que sentia teu cheiro antes de ventos que, mais do que plantas, destruíam meu coração. Encontrei-te, então, nas lembranças que não tenho, nos momentos que não vivi, nos lugares que nem me lembro… Perdi-me em sonhos de castelos em que não fui rei solitário e, cada vez, rezava para não ter que acordar.
O tempo passou e trouxe calo às minhas mãos, peso às minhas pernas e tornou tenra a fibra que, por ti, foi dura pela primeira vez. Encontrei minha infância revivida em meninos que corriam pelas ruas, encontrei-me, estranho, em um espelho que mostrou um velho e, então, notei das as dores que sentia sem saber e a visão que não me permitia mais saber o que diziam os livros que antes eu lia.
Vejo o vento passando lá fora e vejo-o como a minha vida. Chego até aqui e não sei quando comecei a viver. Não sei nem ao menos se houve começo. Sim, sinto minha vida como um vento. Um vento que começou e não notei, que soprou sem ser percebido e que chega ao fim sem saber até onde deveria ter chegado…
Passei a minha vida a procurar-te, Elaine, e esqueci-me de viver. Sinto, agora, todas as forças querendo abandonar meu corpo - que já teve força - e noto que sempre pensei que recordaria minha vida antes da morte.
Escrevo, Helena, para dizer-te que não sei ao certo o que é amor. Mas, certamente, eu te amei.
Vou ao teu encontro, Fernanda… Vou ao teu encontro…
Por Luís Augusto Menna Barreto
"...passei, então, a procurar-te em todas as flores que se curvavam, em todos os galhos que se balançavam em uma brisa qualquer. . .
ResponderExcluirTodo o texto é lindo, porém, este trecho me fez parar um pouco mais...
demorei... li. . . li de novo...
Ah, quanta imaginação, Poeta!!!
Quantas vezes nos pegamos assim: recordando o que vivemos... o que deixamos pra trás...
... mil obrigados....
Excluir... e quantas vezes "recordamos" o que nem mesmo vivemos, estando com quem queremos (em pensamento) em lugares que nem visitamos, em momentos que nem dividimos....?!
Poeta, desculpe a intromissão, mas me identifiquei com esse seu comentário, isso de viver situações em lugares nos quais nunca fomos, com quem queremos... a mente é LIVRE...
ExcluirAh, não é intromissão nenhuma!!!
ExcluirÉ conveniente, oportuno e é uma gentileza!!!
Intromete-te sempre!!
Obrigada.
ExcluirVerdade, Linda e Nice, que página bonita esta que o poeta nos deu!
ResponderExcluirHenrique, há um tempo que é TEMPO DE MORRER.
Quem sabe o que vem na parte final...???
Excluir(A parte final, é a 14... a 15, é DEPOIS do final!
Ai... ai... ai...
ResponderExcluirQuanta birra se estendendo...
Achei lindo o texto... acho lindo sentir saudade... lembrar... até do "não vivido"... o que fica no plano das ideias...
E concordo que há tempo para tudo... para viver e morrer... é chato... mas fato.
Só é feio implicar e retrucar... (mas é divertido...)
rsrsrsrsrs
"Hein???"
ExcluirQuanto ao tempo... já vem chegando o tempo de Henrique......!
Se eu conseguir o sinal na ilha, na quinta publico!
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirMe divirto muito com esse seu "hein"!!!
ResponderExcluirÉ muito engraçado!!!
Rsrsrsrs
Excluir.... mas, na verdade, normalmente é dito com olhos arregalados ou a testa enrugada!!!!!!
Adoooro!!! Me divirto um tanto tbm Linda rsrsrs, chego a "ver" e "ouvir"
ExcluirRsrsrsrsrs
ExcluirQue careta engraçada que deve ser...
Tá bom... esperamos por Henrique...
Gostei muito de ver seus Periscopes, mostrando as viagens de navio. Muito bom!!!
ResponderExcluirTem tido periscope? Ah nãããooo!!! Tô perdendo todos então? Meu celular estragou... que pena...
ExcluirOs que eu vi, são antigos, Nice. É que, só agora os descobri.
ExcluirVou fazer outros!!!
ExcluirMostrar a realidade do Marajó... acho que na quinta vou de Breves até Bagre, e vou tentar um petisco-e para terem uma idéia da viagem por aquelas águas...!
E farei um de Bagre, também, para verem a realidade do fórum local: pequenino, mas muito agradável de estar lá!!!
Que pena que não vou ver, nesse dia ainda estarei sem celular... agora fiquei triste snif, snif...
ExcluirMas acho que o petisco-e fica arquivado e podes ver depois!!!
ExcluirEsse homem amou o amor. Este se manifestou em todas as mulheres que cruzaram eu caminho. Foi feliz!
ResponderExcluirOu não.......!
ExcluirAmanhã (03.11.2016), algumas respostas....!!
Vamos aguardar então...mas muitos buscam e nunca encontram.
ResponderExcluir... e outros... encontram sem sequer haverem buscado...!
Excluir"... Não sei até onde vivi e quando comecei a morrer..., não sei nem se teve começo... " esse poema diz tanto... ��������. Amoo
ResponderExcluirFoi uma das frases que mais tempo levo-me em construção... era preciso ser exato... para dizer da forma como queria... agradeci a Deus quando a construção desta frase ficou pronta... e, em cima dela, montei todo o texto...!
ExcluirOlha, tens um poder de manusear com as palavras e depois organizá-las no texto. É um dom, um talento, pois prontos são capazes de queimar nossos neurônios, já que ao lê-los nos guiam e nos fazem enxergar através de vários ângulos, digamos assim, rsrsrs. Parabéns, Parabéns, Parabéns menino que faz das palavras, seu brinquedo, ou passa tempo. 😘
ResponderExcluirah... mas que frase maravisa, que vou levar comigo: "menino que faz das palavras, seu brinquedo, ou passa tempo..."
Excluir💓💔
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