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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

diálogos - "... esquecer-se!"

Diálogos: "...esquecer-se!"

"Tu vais me devolver…?"
O quê eu teria pra devolver-te?
“O amor que levaste de mim”.
Não levei amor nenhum que não fosse meu”.
“Eu te amava tanto... Então por que fiquei vazio quando partiste?"
"Por isso: porque todo o amor que tu tinhas, era meu: acho que tu me amaste tanto, que esqueceste de amar a ti próprio!"

Por Luís Augusto Menna Barreto

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

pensamentos perdidos - O CIRCO - um conto de Ana Isabel Rocha Macedo - parte 3 de 7

Pensamentos Perdidos: O Circo - um conto de Ana Isabel Rocha Macedo

O CIRCO
(Parte 3 de 7)

ANA ISABEL ROCHA MACEDO

*Respeitável público!!!! O blog “menna em palavras” orgulhosamente apresenta um circo! Um outro CIRCO! Desta vez, descortina-se o CIRCO de Ana Isabel Rocha Macedo, que brinda o blog e seus leitores com um conto inédito que será publicado em 7 partes! Venham! Comprem seus ingressos, a pipoca, a maçã do amor, as raspadinhas, o suco… venham todos!
Óh… shhhhh…… rufam os tambores… abre-se a cortina… sshhhhh…….
(Nota do “editor” Luís Augusto Menna Barreto)


III

Um dia, no entanto, reconheci que havia certa tristeza no olhar do domador. E quanto mais o tempo ia para frente, mais feras ele domava, e mais a tristeza saltava de seu olhar.
Horas havia em que ele desaparecia e, por mais que eu inventasse jeito de saber onde ele se escondia, meus intentos não apresentavam sucesso. 
Ele reaparecia, e eu lhe perguntava por onde andava, e a resposta vinha sempre como verso de cantiga: nas nuvens da alegria; nos tempos de antanho; nos risos dos insanos; nas gargantas das crianças...
Uma vez, depois do amor, eu lhe perguntei sobre a dor que enlanguescia seu olhar. Ele me respondeu que havia uma fera que desafiava seus poderes. Disse que estava quase a se dar por vencido, pois, por mais que tentasse, não conseguia domá-la.
Uma fera que desafiava os poderes do meu domador!? Como assim?! Eu nunca tinha visto uma que resistisse ao poder de mando daquele homem. Durante aqueles anos todos, eu entrava sempre junto com ele nas jaulas, e as feras lambiam meus pés, minhas mãos, se aconchegavam em mim. Eu sabia que o poder de domar o instinto daqueles animais estava nele. Era por ele que elas me aceitavam. Era pelo cheiro dele impregnado em mim que elas não me atacavam. Como então crer que havia uma fera que seus poderes não conseguiam domá-la?! Que fera seria esta?!
Mas com o passar do tempo, os súbitos desaparecimentos do meu domador ficaram mais amiúdes e mais demorados. E em certo dia, que entrou por noite a dentro, seu desaparecer se alongou e muito passou da hora de alimentar os animais.
Eu, então, confiante no cheiro que, há duas noites passadas, ele deixara em mim, quando me amara com sua voracidade contumaz, resolvi entrar sozinha na jaula primeira, a fim de alimentar os bichos ferozes.
Aí... Talvez não tivesse transcorrido ainda nem meio minuto que eu estava sozinha dentro da jaula, vez que nem a grade-porta dera tempo de eu fechar, quando o leão mais velho me atacou e jogou-me longe uns dois metros. Lembro-me do vermelho do meu sangue jorrando em minha frente, e das outras feras se aproximando e emitindo um som do qual jamais me esquecerei. Não sei se me recordo de tudo, mas o que retenho na memória não condiz com uma cena desta nossa realidade. O que guardo em mim é um acontecer típico de um universo fantasmagórico. As minhas lembranças desse momento são todas de várias imagens superpostas e moventes dentro de um mar de sangue. Dentre elas, há um rosto de palhaço.
Depois... Só depois, bem depois, fui dar por mim em um leito de hospital, toda enfaixada e com um grande curativo no rosto. Quando isso se deu, um mês já havia se passado desde que eu sofrera o ataque das feras.
Contaram-me então que, no instante em que o leão me atacou, o grito que eu dei ecoou em toda área do circo. Foi aí, sem titubear um segundo, que o mais novo palhaço do circo, arrancou, do torno, o ferro de tocaiar as feras, que o domador sempre usara no período em que as domava. Como um relâmpago, ele entrou na jaula e conseguiu me resgatar dos bichos sanguinários.
À medida em que eu me recuperava, sentia que algo havia mudado em mim. Não, não me refiro às mudanças físicas ocorridas, à grande cicatriz com a qual eu ficara no rosto, os queloides que atravessavam meu tronco e as marcas feias que ficaram em meus braços. Na verdade, eu sentia que dentro de mim, algo se apagara.
 Levei muito tempo no hospital. Quanto tempo? Não sei.
Às vezes, o domador aparecia para me visitar. Porém, a palavra nos faltava. Eu esperava que ele tocasse no assunto do acidente, mas ele nada falava. Talvez eu quisesse lhe culpar por ele não estar no circo, na hora de alimentar as feras. Talvez eu quisesse saber o porquê de ele desaparecer tanto.
 Como ele nada falava, eu me calava e acumulava o silêncio em meu coração.
Certo dia, quando ele já estava a se retirar, lhe fiz somente esta pergunta: 
- Por quê?
Ele apenas se voltou, olhou fundo para mim e nada respondeu. Só seu olhar me disse o que eu não esperava:
-Adeus!
Quando recebi alta do hospital e voltei ao circo, outro domador cuidava das feras. O meu domador eclipsara. Nem em seu nome alguém tocava.

Passei então a não ter uma função certa no circo. Apenas ajudava em alguns afazeres aqui e ali. Com aquele aspecto, não seria conveniente para o circo me exibir no picadeiro. E eu, que todos me diziam ser tão bonita, com a nova aparência, fiquei tão feia... Com um rosto quase assombroso.




sábado, 18 de fevereiro de 2017

poesia de ver - "...bondade!"

poesia de ver: “…bondade!”



A florzinha ofegava quando segurei em seu caule, sem arrancá-la…
Suspirando, disse-me:
“Se me fores desfolhar… comeces por “mal-me-quer”…

Achei tamanha sua bondade, que disse “bem-me-quer” duas vezes… e de seu último perfume exalou um sorriso…!

Imagem e texto por Luís Augusto Menna Barreto




quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

crônica - As Eleições, o Promotor, o Morto e a Parideira

As Eleições, o Promotor, o Morto e a Parideira

Época de eleições, é sempre um sufoco pra quem é juiz eleitoral.
Mas vou ser honesto… promotor também sofre um pouco…!
Pois lá no Marajó, por algum tempo, havia um promotor que, como eu, também viveu seus perrengues e teve muita história pra contar. Faz mais ou menos sete ou oito anos que ele saiu do arquipélago, mas ainda o considero um grande amigo! E vivemos boas histórias por lá. A etiqueta recomenda que eu não decline seu nome, então, de jeito nenhum poderia dizer que se trata do Dr. Gerson! 
Enfim…
Eu lembro que ele, com seu jeito peculiar de ser, descobriu um pequeno golpe, uma esperteza, digamos assim, que eu jamais observaria. Mas ele é um guri muito esperto e, na época, estava no auge de seus menos de trinta anos.
Antes preciso dizer que, para o Poder Judiciário, a eleição não é só o período de campanha eleitoral. Não mesmo! Uma das épocas de mais trabalho é perto do tal do “fechamento do cadastro”. É o seguinte: meses antes das eleições, fecha o cadastro, ou seja, não pode mais alistar eleitores nem pode mais haver mudanças de domicílio eleitoral. O eleitor tem até o fechamento do cadastro para mudar a cidade em que vota. E normalmente esse fechamento do cadastro acaba em maio. E, no dia em que acaba o prazo, à meia noite simplesmente encerra o cadastro. Tudo via sistema. Isso: deixa eu esclarecer essas duas informações, porque serão muito importantes pro que vou contar: sim, eu disse MEIA NOITE! E, sim, simplesmente acaba a possibilidade de cadastro. 
Pois é, vai chegando o final do prazo, e, especialmente no último dia, o atendimento vai direto e os servidores do cartório eleitoral ficam trabalhando realmente até a meia noite… mas DIRETO MESMO, até a meia noite! E não tem esse negócio de que "quem tá dentro será atendido”, ou distribuição de senha! O cadastro simplesmente fecha! Nem querendo, conseguimos cadastrar mais quando chega a hora.
Tá, vocês devem estar perguntando: “mas tem tanta gente assim, querendo mudar de cidade pra votar?” E eu respondo: “No interior? Mas báh, e como!”
O negócio é que quem já sabe que vai ser candidato, começa toda uma função de buscar parentes e amigos e interessados de qualquer forma que moram em outras cidades e começam um movimento migratório, de acordo com o interesse no futuro candidato (jamais falaria eu que muitas são pessoas muito simples às quais seria prometida alguma vantagem em troca da mudança do domicílio eleitoral e do voto nas eleições).
Daí, que nos últimos dias, fica um loucura.
Hoje em dia, não sei por que cargas d’água, o sujeito que quer mudar o domicílio eleitoral não precisa comprovar o endereço. Basta uma declaração afirmando que seu endereço é no município e pronto! Isso, uma declaração. Lá em algum lugar naquele papel que já veio pré impresso e que noventa por cento das pessoas que estão fazendo a mudança do domicílio eleitoral nem leem (umas porque não sabem, outras por preguiça), tem um aviso dizendo que é crime fazer declaração falsa! Tá, não vou nem falar se isso adianta alguma coisa ou não! Mas, naquele tempo, ainda era preciso algum comprovante do endereço! O talão da energia (é como o pessoal do Marajó chama o que conhecemos por "conta de luz”) servia. Só que não era exigido que estivesse no nome do eleitor, afinal, em uma casa podem morar quatro ou cinco eleitores e a conta da luz virá, evidentemente, no nome de apenas um.
Bem, o negócio é que nos últimos dias é muita, mas muita gente! Pense em uma fila de inscrição para o Big Brother ou o The Voice… pois é mais ou menos disso que estou falando!
O bom é que normalmente o fórum da Justiça Eleitoral é separado do Forum da Justiça Comum e a maior parte do tempo, eu não passo com essa pressão toda. Mas a verdade é que, nos últimos dias, nós (eu e o promotor) depois do expediente normal no fórum, íamos para a Justiça Eleitoral. E saíamos de lá normalmente depois da meia noite! 
Naquela época, o cartório eleitoral contava com 3 servidores e havia 4 computadores! Um luxo! Daí que chegava perto de dez horas da noite, eu resolvia sentar no computador como os outros servidores para atender também. E o promotor ia pra fila fazer uma triagem! Pois no primeiro dia da triagem, já foi uma loucura o que a fila diminuiu e acabamos rápido! Tô dizendo: o guri era bom!
A primeira providência que ele fez, foi organizar a fila! A fila era um problema! A partir do portão do pátio do cartório eleitoral pra dentro, a fila até que estava mais ou menos em ordem… mas do portão pra rua, era cruel! O pessoal meio que se aglomerava em um amontoado que de fila não tinha muita coisa, daí que quanto mais perto do portão do cartório, mais confusão tinha! Pois o promotor resolveu rapidinho: chamou o Tonelada, policial militar sobre o qual já falei algumas vezes, especialmente sobre a sua “delicadeza”, e num instante a fila foi arrumada! O Tonelada foi no começo da fila, deu dois gritos, tirou o cacetete, ficou balançando na mão e começou a andar ao longo da fila! Num instante a fila ficou organizada e silenciosa! Tem jeito com gente esse Tonelada, vou te dizer!
Pois, organizada a fila, o promotor começou a fazer a triagem. Ele olhava o caboclo, abria um sorriso imenso (ele sempre sorri, é um guri realmente simpático) e pedia para dar uma olhada nos documentos. O caboclo, inocente, entregava para o promotor. Daí o promotor perguntava:
“O senhor veio mudar o endereço?”
“Vim, sim senhor”
“E qual é o seu endereço?”
Pronto… o caboclo começava a gaguejar… 
“Tá, tá aí no papel que o senhor pegou”.
“Isso eu sei! Quero que o senhor me diga o endereço!”
“Ãnnh… doutor, é que eu mudei faz pouco…”
“Qual o bairro”, perto do quê?”
O caboclo tava ainda respirando pra responder, e ele atalhava!
“Vai-te embora daqui, seu lesado, pensa que vai enganar? Volta pra tua cidade!”
E lá saía o caboclo da fila! O resto do pessoal começava a arregalar os olhos. Ele passava pro outro. Mesma coisa:
Pedia documentos, “veio mudar o endereço pra votar aqui?”, “empreste-me seus documentos”, "qual o endereço”, “não gagueja que é mentira”, “vai-te embora daqui”!
Passava pro outro.
Certo, vocês estão pensando: ah, mas assim que o pessoal começou a ver o promotor fazer isso, passaram a ler rapidinho o endereço na conta de luz, pra dizer quando o promotor chegasse! 
Ta… isso serviria na Suécia! Estamos falando do Marajó, onde lamentavelmente existe uma população ribeirinha muito grande que não tiveram acesso à escola! Mais da metade não tem condições de ler, ainda mais ler rápido e sob pressão e, ainda, decorar o endereço. 
E pra fila esvaziar rapidinho, olha o que o esperto do promotor fez: gritou bem alto: 
“Tonelada, continua a triagem! Quem não souber ou gaguejar o endereço, recolhe que falo com ele amanhã!”
Já viu né?! Todo mundo que não vinha mudar-se de verdade (e mais os gagos!) foram embora da fila! 
Pois o promotor era assim!
Teve uma vez, já no dia da eleição, que deu problema numa seção de votação, em que um cidadão queria votar, estava com o título, mas o presidente da mesa de votação não deixou ele votar. 
No dia da eleição tem sempre muito problema e passamos o dia de um lado pro outro, visitando locais de votação, coibindo boca de urna, resolvendo um ou outro problema. Como sempre tem muita coisa, nós nos dividimos, o promotor para um lado e eu para outro. Pois esse chamado, ele que foi atender.
No local, confusão armada, chegou o promotor… com o Tonelada!
O eleitor, um senhor velhiiiiiinho, mal sabia desenhar seu nome, segurando o título e dizendo que queria votar. 
“O que está havendo?” Perguntou o promotor para o presidente da mesa.
“Ele não está na lista de eleitores, doutor. Não tem como votar”.
“Mas tá aqui meu título, é esse número de seção!” Exibia o eleitor.
O promotor pegou o título e conferiu. Era a zona e seção certas. Problema!
Telefonou para o cartório eleitoral. Passou a informação. Veio a resposta:
“Consta como falecido, doutor!”
“Égua!” (Fosse eu, teria saído um “hein?”. Mas o promotor é paraense da gema!)
Com seu jeito peculiar, ele falou com toda a calma para o eleitor velhinho:
“O senhor tá morto, não pode votar!”
… (Olhos arregalados, aquele momento em que a gente pensa em alguma coisa pra falar, e o promotor encarando o velhinho e sorrindo!)
“O senhor morreu. Tá morto. Consta no cadastro!”
“Mas doutor… eu tô aqui, não tô?”
“Não. O senhor tá morto!”
O caboclo olhou o promotor que sorria, o Tonelada atrás dele, muito sério, e falou:
“Olha, doutor… eu achava que não, mas o senhor tem mais estudo… vai ver eu já morri mesmo… Obrigado, doutor, vou ver se aviso a família…” E foi saindo!
… 
Tá, tudo bem… depois disso, claro que o promotor levou o caboclo para o cartório eleitoral e resolveram o problema. Era caso de homônimo. Devia ser proibido pessoas com apenas um pré nome e um só sobrenome! Será que não pensam na justiça eleitoral quando batizam os filhos?! 
Pois bem, estávamos nós no último dia do cadastro. Quando eu cheguei com o promotor no cartório eleitoral, por volta de três da tarde. Ainda tinha um monte de mães e pais com criança no colo, “furando a fila”. Pois é! O pessoal leva os filhos de propósito, porque com criança de colo, tem preferência, como as grávidas, deficientes e idosos.
Eu estranhei, porque normalmente (não sei porquê) esse pessoal que tem alguma preferência, vai bem cedinho! Mas, como sempre tem muita gente, também nem me chamou a atenção tanto assim. 
Pois o promotor, desde a chegada, sempre muito comunicativo, vai fazendo a triagem mas sempre brinca com as crianças de colo. Até pegar algumas no colo, ele pega.
E assim foram passando algumas horas, e a todo o momento vinha uma mãe ou um pai com bebê de colo. O promotor começou a estranhar quando viu uma ou duas crianças chorando quase desesperadas, querendo, a todo o custo sair do colo. O pai da criança estava mesmo meio sem jeito. O promotor foi lá e o sujeito ficou nervoso. O promotor, bem mais jeitoso do que aquele pai, acalmou a criança. O pai fez o cadastro, pegou a criança e vai ela chorar de novo. E assim aconteceu com mais um ou outro!
Lá pelas tantas, eu lembro que saí do cartório, acho que fui no mercadinho ali perto comprar água com gás e, na volta, vi uma cena curiosa que achei interessante e comentei com o promotor:
“Tchê, Doc., olha, caiu meu queixo agora! Achei muito legal que uma mãe, ali na sombra do mercadinho tava trocando a roupa do bebê!”
“O quê?” Perguntou ele com uma desconfiança que eu não entendi. Pra mim, aquilo foi uma grata surpresa, ver uma mãe, em pleno Marajó, em que as crianças às vezes usam a mesma roupa a semana toda, trocar a roupa do bebê, numa fila em um dia quente. Imaginei logo que a criança deveria ter suado muito e a mãe, prevenida, trocava o bebê.
Pois o promotor olhou mais uma criança que chorava no colo de uma mãe sendo atendida, olhou pra mim e disse:
“Égua!” E saiu ligeiro!
Fiquei com a minha expressão de “hein" no ar.
Depois de uns minutos o promotor voltou e sentou sorrindo. Em seguida, chegou uma Conselheira Tutelar:
“E a criança, doutor?” Perguntou para o promotor.
“Leva pro conselho. A mãe vai ficar detida só até à noite, depois vou liberar e tu devolves a criança para a mãe”.
“Hein?”
… 
Pois não é que a Maria Parideira arranjou de ganhar uns trocados no fechamento do cadastro? Dos nove filhos que tem, estava alugando três, pra quem queria furar a fila: um de quatro meses, um de quase dois anos e um de três e pouco! Alugava, trocava a roupa e alugava de novo! 
E dizem que quem estava pagando era um cidadão que queria ser candidato na próxima eleição!
Foi. E se elegeu!

Por Luís Augusto Menna Barreto






terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Diálogos - (trecho de aventura inédita do Pilha)

Diálogos: (trecho de aventura inédita do Pilha)

“… às vezes, eu queria ser ator…”
… iiihhh… cheirou cola vencida? Ficou doido, Pilha?
“Doido é tu, que quer voar. Até por cima de carro já voou, mané!”
Não sei que graça tem em ser ator… ficar vivendo a vida dos outros!
“A graça não tá em viver a vida dos outros, otário! … só acho que seria bom poder não ter que viver a minha vida um pouquinho…”
(…) 
Eu não ri mais. Acho que fiquei triste… porque eu adoro minha vida… e quando ficar mais velho, tudo o que quero, é ser sabido como o Pilha…!


Por Luís Augusto Menna Barreto






domingo, 12 de fevereiro de 2017

pensamentos perdidos - O CIRCO - um conto de Ana Isabel Rocha Macedo - parte 2 de 7

Pensamentos Perdidos: O Circo - um conto de Ana Isabel Rocha Macedo

O CIRCO
(Parte 2 de 7)

ANA ISABEL ROCHA MACEDO

*Respeitável público!!!! O blog “menna em palavras” orgulhosamente apresenta um circo! Um outro CIRCO! Desta vez, descortina-se o CIRCO de Ana Isabel Rocha Macedo, que brinda o blog e seus leitores com um conto inédito que será publicado em 7 partes! Venham! Comprem seus ingressos, a pipoca, a maçã do amor, as raspadinhas, o suco… venham todos!
Óh… shhhhh…… rufam os tambores… abre-se a cortina… sshhhhh…….
(Nota do “editor” Luís Augusto Menna Barreto)

II

 Quando meu corpo bateu na rede de proteção, tornou a subir e novamente desceu, não mais na rede caiu. Dois braços fortes e seguros me ampararam, e um olhar profundo encontrou o meu e atravessou minha alma. Tudo já não era o mesmo. O universo, de repente, mudara de cor.

Quando ele tomou minha mão, eu soube que os meus caminhos, daí para frente, seriam outros. Não olhei para trás. O último salto eu já tinha dado. Todos viram que aquilo era um adeus. Um amor que durara quatro anos de uma quase infância. Um amor AMOR, naquele instante, mudava de direção.

A vez primeira que entrei na jaula, eu tinha quinze anos. Meu domador segurou minha mão e orientou-me que eu deveria olhar diretamente nos olhos do único leão que ali havia, naquele momento.
 Antes, porém, me disse que a fera deveria sentir em mim o cheiro dele e, para isso, ele havia de me passar esse cheiro. E foram tantos os beijos e abraços... Todas as carícias possíveis e impossíveis... E a terra virando céu e o céu virando mar... E o desejo sendo os donos de nossas vontades... E os nossos cheiros entrando em nós... E nós nos transformando em feras e nos lambendo, nos mastigando, nos engolindo... E subindo alto... Muito alto... Mais alto ainda... Até que planamos... E viramos penas!!! E descendo em voo lento... Cada vez mais lento... Nem mais éramos nós... Até que chegamos ao chão de mato... E aí... nos demos de presente ao sono.
Quando entrei na jaula e olhei firme para os olhos do leão, o meu cheiro não era mais só o meu cheiro. Havia nele o cheiro do meu domador.
E assim os anos passaram.




sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

poesia de ver - "...último perfume!"

Poesia de ver: “…último perfume!” *



Perdi meu viço… estou perdendo minha cor… 
Só resta um pouquinho do meu cheiro, que estou guardando prá ti…
… vem, chega mais perto… deixa eu viver meu último instante, perfumando tua alma…

Imagem e texto por Luís Augusto Menna Barreto

* Originalmente  publicado no antigo blog
"Menna Comentários", precursor deste.
Data da postagem original: 07.05.2016.
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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Eu, o Pilha e os 35 Pilas

Eu, o Pilha e os 35 Pilas*
(A quinta aventura do Pilha)**

Logo que fiquei mais ou menos bom, me mandaram embora do hospital. O Pilha falou que eu havia sido atropelado e voei por cima do carro. Não me lembro direito… mas eu me imaginei com uma capa bonita, igual o Super-homem, vendo o mundo ali de cima.
“Super-mané, que não enxerga um carro grandão!”, disse o Pilha.
A mãe não foi me buscar. Quando me tiraram da cama e me botaram sentado com a perna enfaixada, numa sala cheia de gente, mandaram eu esperar que um adulto tinha que vir me buscar. Mas de adulto que me conhece, só tem a mãe, e acho que ela nem sabia que eu fui atropelado. Ainda bem que minha perna ainda tava machucada e enfaixada, senão ela nem ia acreditar e eu ia apanhar por não ter voltado pra sinaleira.
Daí eu tava ali sentado e vi o Pilha, da porta:
“Pssssssiu… psssssssssiiiiu”… e fazia com a mão e mexia a boca falando sem som: “vem, vem”…
Mas a moça disse que eu tinha que esperar ali. Daí o Pilha entrou, meio desconfiado, porque acho que enquanto eu passei esses dias no hospital, ele foi expulso mil vezes!
Mas entrou e sentou do meu lado.
“Vamos embora, mané!”. 
“A moça disse que tenho que esperar um adulto”.
“Ficou sequelado batendo a cabeça? Vão chamar o juizado! Tua mãe não vem te buscar. Bora…”
Meu coração começou a bater forte. Será? Juizado?
Tentei levantar e ir com o Pilha, mas não consegui caminhar. 
“Peraí, vou dar um jeito”. O Pilha sempre resolve tudo. É a pessoa mais inteligente que eu conheço.
“Não sai daí”.
“E vou sair como? Ficou doido?”… tá bom, nem sempre ele é tão inteligente!
Mas ele voltou ligeirinho com uma cadeira de rodas! Nem sei onde ele conseguiu.
Subi na cadeira e fomos saindo…
Quando a gente já tava quase no meio do quarteirão (que a gente chama de “quadra”), um cara de branco gritou alguma coisa e veio pro nosso lado. O Pilha começou a correr comigo na cadeira. Daí o cara gritou alguma coisa pra dentro do hospital e veio mais um. O Pilha começou a correr mais e deu no que deu: caímos, né?! Na mesma hora, já pensei que a gente ia ser pego, apanhar e por minha culpa, o Pilha ia parar no juizado comigo. 
Ah… mas o Pilha sempre pensa em alguma coisa: jogou a cadeira pro meio da rua quando vinha um carro! Foi o maior barulho! e confusão! Daí, ele se inclinou e gritou: vem na minha cacunda! E assim a gente escapou do hospital.
Mas tinha o maior problema de todos: a minha mãe.
Eu tinha certeza que ela não ia acreditar e ia pensar que eu machuquei a perna caindo da árvore no parquinho, em vez de estar trabalhando. Já fazia cinco dias que eu não dava o dinheiro pra mãe. Ela devia estar furiosa!
Sempre levava oito pilas. O Pilha me ajudou a fazer a conta. Dava quase trinta e cinco!
Eu contei pro Pilha que tava com medo. Mas ele disse o que sempre me dizia: 
“Deixa comigo. Vou lá contigo.”
Mesmo assim, fiquei com medo.
Quando chegamos lá no nosso muro, onde a mãe fica, ela já começou xingar de longe, quando me viu.
O Pilha logo falou:
“Eu que levei ele pra um trampo melhor. A gente enfaixou ele pra ganhar mais, que rico sempre tem pena de criança enfaixada”! O Pilha chamava de “rico" quem andava de carro.
A mãe olhou desconfiada. 
“Toma”. O Pilha botou a mão no bolso e puxou um dinheiro num saquinho plástico de sacolé. Deu pra ela.
Ela contou. Tinha 29 pilas.
“Tá faltando” ela logo gritou.
“Tá nada. Faz a conta”, o Pilha falou com autoridade. “Óh, cinco dias a oito pilas: conta comigo, 8, 14, 19, 24, 28! Tem até um pila a mais!”
Os dois ficaram em silêncio um pouco e ela olhando as moedas.
“Tá, mas bora voltar que hoje ainda tá cedo. Vai daqui, moleque, vai logo pra sinaleira”!
Ufa… saí tão aliviado. Não existe amigo como o Pilha. Vou ser amigo dele até morrer. Trabalhou por mim quando eu tava doente.
“Oh, ta me devendo, mané! Não sou teu pai.” Ele me falou.
“Ninguém é.” Eu respondi. 
Rimos.
“Mas Pilha! Tu não falou que cinco dias a oito pilas dava 35?”
“E tua mãe lá sabe fazer contas? Bora, vamos no parquinho!”

Por Luís Augusto Menna Barreto

  • Pilha é meu personagem mais caro… não falo de preço… falo de carinho… Já publiquei 5 aventuras do Pilha, e há uma sexta aventura inédita, ainda… mas alguns não o conhecem… por isso, decidi republicar. Perdoem-me os que já o conhecem… de qualquer forma, eu estou com saudade do Pilha…! Esta é a sua quinta aventura!

** Originalmente  publicado neste mesmo blog na data de 24 de maio de 2016.
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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

diálogos - "...mentira!"

Diálogos: “… mentira!"

“A partir de hoje, não faço mais parte da tua vida. Estou indo embora.” Ela se virou e saiu.
Tu mentes”, ele disse. Ela parou. Sem se virar, falou:
“Estou decidida. E tu me conheces. Não volto atrás.”
Mesmo assim, é mentira.
“Achas que não vou embora?”
“Acho que vais… … mas não és tu quem decides quando vais sair do meu coração!”

Ela foi embora. Mas ele estava certo: ela não saiu de sua vida…

Por Luís Augusto Menna Barreto



sábado, 4 de fevereiro de 2017

pensamentos perdidos - O CIRCO - um conto de Ana Isabel Rocha Macedo - parte 1 de 7 -

Pensamentos Perdidos: O Circo - um conto de Ana Isabel Rocha Macedo

*Respeitável público!!!! O blog “menna em palavras” orgulhosamente apresenta um circo! Um outro CIRCO! Desta vez, descortina-se o CIRCO de Ana Isabel Rocha Macedo, que brinda o blog e seus leitores com um conto inédito que será publicado em 7 partes! Venham! Comprem seus ingressos, a pipoca, a maçã do amor, as raspadinhas, o suco… venham todos!
Óh… shhhhh…… rufam os tambores… abre-se a cortina… sshhhhh…….
(Nota do “editor” Luís Augusto Menna Barreto)


O CIRCO
(Parte 1 de 7)

ANA ISABEL ROCHA MACEDO
I
Já perdi tantas laranjas ao jogá-las para cima...! 
Eu era encantada com o malabarismo. Mas meus malabares eram as laranjas maduras, porque depois eu as chupava todas. Não fui a melhor infante malabarista. Mas fui malabarista, ainda infante. Porém, tive minha primeira pirueta interrompida, quando amei aos 10 anos de idade. Saltei da infância, para outra fase, que até hoje não sei definir que fase era aquela. Aí mudei de encanto e adquiri de verdade um ofício. Passei quatro anos lá em cima, no trapézio. Voava, voava com minhas asas de sentimentos, e não caía nem nos saltos mortais. 
Nasci no circo. Eu era filha do circo. E o tempo passava, e eu continuava no circo.
A melhor trapezista! Eu com onze, com doze, com treze, com quatorze anos, e o espaço...  Aquele instante entre o soltar as mãos e novamente prendê-las era o momento, o meu momento. 
No entanto, certo dia, entre um salto e outro, não sei o porquê daquilo. Foi como se eu tivesse de olhar. Era mais forte do que minha vontade, mais imperioso do que a prudência. Então, cedi. E eu olhei.  Olhei para baixo e vi o domador dos leões. Aí...

Perdi o equilíbrio. Caí.



quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

poesia de ver - "...flor enviada!"

Poesia de Ver:  "...flor enviada!"


Originalmente  publicado no antigo blog
"Menna Comentários", precursor deste.
Data da postagem original: 04.05.2016.
Comentários na postagem original:  16
Visualizações até ser retirado:  240




Quando me disseste, ao telefone, que me acordarias com uma flor, eu sorri, pensando que era apenas um desejo de alguém distante…

… só acreditei quando vi no vidro da minha janela, que colocaste asas em uma flor para enviar-me…

Imagem e texto por Luís Augusto Menna Barreto



* No dia 4,  mais um Circo estréia no Blog... desta vez, o Circo da escritora Ana Isabel Rocha Macedo. 
Bora pra calçada, ver o Circo passar...