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sexta-feira, 14 de julho de 2017

CONTO DE BELLA - Escolhas - parte 5

Conto de Bella
Escolhas - parte 5


Bella esperou um pouco até recuperar o controle e saiu devagar do carro. 
Havia um “x redondinho” na haste dos óculos escuros. O salto da sandália Jimmy Choo que usava, afundou de leve na piçarra do estacionamento, onde tantas vezes brincara com ele, no passado. Às vezes, enquanto o pai dele varria o salão e preparava as mesas, ela e ele traçavam, com as mãos, pequenos sulcos na piçarra, que nem saiam tão retos, tentando desenhar as vagas para os carros estacionarem… linhas trêmulas, às vezes tortas, às vezes quase o dobro da largura de um carro, às vezes pequenas demais… e ficavam, depois, sentados no tronco ao lado do estacionamento, e vibravam e batiam palmas quando algum carro estacionava nas “vagas”…
Então, Bella sorriu e olhou um instante o estacionamento, como que procurando marcas dos sulcos traçados por dedinhos que ficavam com unhas cheias de terra…
Dirigiu-se em passos que com esforço de autocontrole mantiveram-se firmes, sentou-se em uma das mesas ao ar livre, protegidas pela sombra de uma generosa figueira, e ficou aguardando que o garçom viesse servi-la. Passados alguns instantes, em que também outros fregueses chegavam, veio um garçom que não era ele, e Bella resolveu por não perguntar, ainda, por ele. Ficou esperando para ve-lo atender outra mesa, cuidando, especialmente, a mesa em que estava o casal com as crianças, cujo pedido ela o viu anotar. Pediu o cardápio e ficou impressionada com alguns pratos de fina culinária descritos. Havia os tradicionais, do tempo de sua infância e adolescência… mas, agora, havia pelo menos quatro pratos que causaram em Bella alguma surpresa. Pediu água com gás e gelo, enquanto esperaria pelo outro garçom.
Viu que o pedido da mesa do casal e crianças foi servido, mas por um terceiro garçom. Admirou-se ao notar que mais pessoas trabalhavam no restaurante, porque nos tempos de outrora, apenas o pai dele servia a todos. Agora, já vira ele e mais dois. 
Como o tempo foi passando sem que o visse novamente, decidiu perguntar por ele, justamente quando o casal com as crianças terminou o almoço e saiu. Os dois garçons que não eram ele estavam no salão, atendendo e, quando um deles veio para a área de fora, à sombra da paineira, Bella chamou-o.
Bom dia. Eu vi um outro garçom, que atendeu ao casal que acaba de sair… poderia chama-lo para mim? 
Pois não! - Fez uma discreta reverência com a cabeça, girou nos calcanhares e saiu. Em um instante, o garçom que não estava no salão, aproximou-se em passos firmes, sem conhecer a pessoa que o solicitou.
Bella não teve a coragem de olhar nos olhos e, quando o garçom veio-se aproximando ela baixou os olhos, sem que fosse percebida, por trás dos óculos do “x redondinho”.
Pois não?
Um frio no estômago. Bella não reconheceu a voz. Pareceu mais fina que ela imaginava que estaria. Diferente. Olhou para o garçom… … e com surpresa, não era ele.
Não é você… - foi o que ela disse, sem querer, sem saber esconder a decepção.
Perdão, senhora?
Não é você.
O garçom ficou sem entender. Bella, depois de alguns segundos, novamente recuperando o controle embora surpresa por ver mais um garçom trabalhando no restaurante, explicou que queria falar com o garçom que havia servido o casal com as crianças.
Fui eu que os serviu, senhora.
Não. Foi outro garçom!
Desculpe senhora. Talvez haja algum engano. Aqui, trabalhamos neste turno, apenas eu, Francisco que foi chamar-me e Paulo. Talvez seja o Paulo? - E apontou para um garçom baixinho e loiro, que não poderia, de nenhuma forma, ser confundido com ele.
Eu não entendo, disse Bella… eu vi… - ficou em silêncio. Sem palavras. Sem chão.
Posso ajudá-la?
Bella olhou-o alguns instantes. Agradeceu. Tentou pagar a conta, mas o garçom, diante do visível abalo de Bella, estava instruído a não cobrar em situações assim, e disse que seria uma cortesia da casa. Perguntou se ela queria ajuda até o carro, ou se gostaria que chamassem alguém, mas Bella recusou e disse que estava bem. 
Não estava. 
Voltou ao carro, olhando tudo em volta. E, de repente, viu tudo diferente: notou que realmente o restaurante estava reformado, e com mais ambientes. O estacionamento estava maior e, no lugar do antigo tronco, havia bancos espalhados na grama, em agradáveis sombras. Havia movimento. Muito movimento no restaurante e três garçons trabalhavam, revezando-se por entre as mesas.
Bella estava confusa… poderia jurar que o havia visto. Era ele. Conhece-lo-ia em qualquer lugar, em qualquer tempo, em qualquer vida, não importa quantas vivesse, mas o conheceria. 
Entrou no carro, um pouco atônita, quase sem pensamentos… e o caminho de volta seria um caminho trilhado num vazio de pensamentos… como quando nos roubam uma parte de nosso passado…
Em seguida a que aquela senhora elegante levantou-se e saiu depois de o garçom haver puxado a cadeira para ela e a acompanhado elegantemente até a porta, abrindo-a, o garçom dirigiu-se à cozinha porque sabia que seria muito mais provável encontrar o dono do restaurante ali, do que no escritório. De fato, ali estava, trocando ideias com o chef. Havia a recomendação de que qualquer desconforto dos clientes, por menor que fosse, ele deveria ser avisado. Na dúvida, depois daquela conversa estranha, o garçom que atendeu Bella, foi avisar o patrão.
Contou-lhe em rápidas palavras, descreveu a cliente e foram, ambos, até a janela. O garçom indicou-a com o dedo, quando ela entrava no carro.
Também nesse instante, uma menininha de seis anos entrava saltitante pelo restaurante, conduzida pela mão da mãe, e falando com todos os garçons que lhe retribuíam com sorrisos e uma grande reverência, chamando a menininha de “madame" e demonstrando uma cumplicidade que é adquirida com a repetição.
A menininha, em cada mesa que passava perguntava:
Bom dia. são sendo bem servidos?
Invariavelmente causava surpresa e admiração dos clientes que retribuíam com sorrisos a gentileza da menina.
Dirigiram-se à cozinha com a intimidade de quem por mil vezes já fez esse caminho e a menininha viu o pai com um garçom, olhando pela janela.
Papai!
Ele olhou a mulher que o garçom indicava… E foi o seu mundo que parou por um instante.
No mesmo momento em que uma menininha de seis anos corria de braços estendidos gritando “papai”, de algum lugar há muito guardado, saiu de seus lábios um nome que há muito não mais teve oportunidade de pronunciar:
Bella…

(Continua…)


Por Luís Augusto Menna Barreto

19 comentários:

  1. Meu Deus que aflição! Quero logo o próximo capítulo! Nunca desejei tanto que os dias sejam curtos!

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    1. Eu também, Maria!!!!!!
      Vou tentar descobrir o que houve Bella e com ele, e publicar no DOMINGO....!!!!!!
      Ainda não faço ideia das reações deles!

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  2. Para tudo... meu Deus...
    Como estou amando esses dois.. 😍

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    1. Quanta gentileza.....
      Obrigado, guria...! Também está sendo muito bom descobrir estes personagens e interpretar suas vontades....!

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  3. Agora fui eu quem perdeu o fôlego com esse vê, mas não vê Ele tbm a reconheceu e ficou sem chão... linda história. Estou amando.

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    1. Como é bom receber esse carinho....
      tenho certeza que eles ainda vão se encontrar.....!!!
      DOMINGO, a parte 6!!!

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  4. Nossa...!!! Ufa... ainda estou me recuperando... Que venha o mais rápido possível, o próximo capítulo!!!

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    1. Armelinda!!!!! Que bom encontrar-te por aqui!!!! DOMINGO à próxima parte!!!! Vou pública-lá pela manhã!
      Também estou curioso com o desdobramento!!!

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  5. Ah...! Sempe venho... sou sua seguidora assídua!!!!
    Obrigada, por fazer os nossos dias mais leves com seus escritos!!!!!!

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    1. Obrigado por tornares os MEUS mais leves, permitindo que eu divida contigo também, os fardos das Escolhas dos personagens...!!!

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    2. Imagino, Poeta Menna... que agora é que esses dois vão sentir realmente, o peso de suas escolhas...

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    3. Olha... sou uma grande privilegiada, Poeta... por estar aqui podendo partilhar das tuas PÉROLAS!!!!!!

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    4. Evidentemente, exageras... e, privilegiado sou eu, de receber esse carinho!

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  6. Li agora e emocionada com eles dois que fizeram escolhas diferentes, seguiram rumos distintos, mas agora o reencontro!!! Ansiosa pelo seguimento dessa história de amor que ficou no passado mas vive presente nos corações deles!!!!

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    1. Também estou ansioso por descobrir, deles, o que acontecerá...
      Amanhã, escrevo e publico a parte 6...!!!
      Suuuuper bem-vinda de volta, Tel... senti tua falta por aqui!!!!

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  7. E agora?
    Que desencontro!!!
    Que venha logo o próximo capítulo!

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