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sábado, 9 de setembro de 2017

CONTO DELLA - Decisões - parte 8 - final

Conto Della
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Decisões - parte 8 - final

Ela estava sozinha na mesa do restaurante. 
Estava tranquila. Não havia tristeza ou solidão. Ela esperava. Havia dois pratos na mesa. Duas taças. Como sempre.
De repente, enquanto o garçom servia-lhe mais uma taça de vinho branco, que ela saboreava com uma salada niçoise, veio-lhe um quase sorriso, ao lembrar que há vinte e cinco anos, tomava também vinho branco, comia a mesma salada e estava no mesmo restaurante… e, naquela oportunidade vinte e cinco anos antes, esperava por ele.
Foram três meses intensos naquela época. Vários encontros. Ela já o acompanhava por noticiários, jamais perdera o contato dele. Sempre torcera por ele, mesmo depois que ela rompera o noivado. Ficara surpresa com a ascensão e crescimento dele. Por algum motivo que não sabia explicar, sempre ficou atenta sobre ele ter um novo relacionamento ou não, e as notícias jamais o colocavam com qualquer relacionamento sério. Pensa que, de algum modo, naquela época, era ciúmes… e viu-se sorrindo, ainda sozinha à mesa, pensando nisso.
Lembrou-se de como ele a surpreendera naqueles três meses. Parecia que ele sempre antecipara suas orientações. E foi em um golpe de mero acaso, que tudo ficara claro para ela: encontrara-se com uma assistente de sua amiga Constanza Pascolato, em plena Milão, Itália, no chamado Quadrilátero da Moda (as ruas Via Manzoni, Montenapoleone, della Spiga e Corso Venezia), saindo da loja da grife Ermenegildo Zegna. Embora muito discreta, a assistente, também sua amiga, deixou escapar, apenas, que eram compras para um cliente muito especial de Constanza, um “novo rico” do mundo da tecnologia, em ascensão e que queria impressionar alguém. 
— Deve ser alguém muito especial, porque além da Constanza, para moda, contratou sessões, também, com a Cláudia para etiqueta. — Disse-lhe a assistente.
No dia seguinte, ela recebera um telefonema da própria Constanza, pedindo desculpas pela inaceitável indiscrição de sua assistente, e colocando-se à disposição para qualquer eventualidade que poderia, a improvável conversa, ter causado.
Com aquele acaso, soubera, duas semanas antes da viagem a Singapura, que ele havia tido a assessoria das mulheres que eram, para ela, ídolos e, quando estava à altura, fora recebida como amiga. “Constanza Pascolato para moda, e Cláudia Matarazzo para etiqueta… por isso ele estava tão perfeito”, pensara. A partir de então, fora simples demais refazer os passos dele e entender que tudo aquilo não seria para uma reunião de negócios. 
Daí, que quando recebera o recado dele, para o encontro no restaurante do hotel, soube muito bem o que vestir. E soube o que esperar:
— Parabéns! — Disse a ele, que interrompeu, por um instante, os passos e sem perceber franziu a testa. Naquele momento, ele sentira um calafrio. Como um aviso de que tudo que planejara durante meses, poderia ruir. 
— Como você soube? — E, enquanto ela o olhava nos olhos, ele ainda disse: — Você sempre soube, não é? 
E, de repente, ele não era mais o homem seguro que durante quase três meses encontrara-se com ela. Era, novamente o garoto que não sabia o que pensar quando estava na frente dela. Teve o ímpeto de beijar-lhe, porque era o que fazia quando ainda namoravam, e ele não sabia o que dizer. Mas nem isso conseguiu. 
— Não… só descobri há poucos dias, por um golpe de sorte. Você esteve perfeito. Não fez absolutamente nada de errado.
Ele forçou um sorriso:
— Então você sabe sobre qual proposta eu me referia…
— Agora eu sei.
— E…? 
Ela o olhou com ternura. E, por esse olhar, ele soube a resposta.
— Está no meu bolso. Você nem ao menos quer vê-lo? — Ele perguntou.
— Não… — Ela sorriu. — Tenho medo de que eu aceite, apenas para ter esse anel.
Ele também sorriu. Não chegou a tirar o anel do bolso. 
Aquela foi a última vez que haviam conversado. Vinte e cinco anos atrás. Mas mesmo assim, ambos continuaram seguindo um ao outro pelos noticiários. Ambos sorriam com o sucesso um do outro. 
E, agora, ela estava ali. No mesmo restaurante. Pedira o mesmo vinho. A mesma mesa. A mesma salada. Vinte e cinco anos depois daquele encontro, recebera um bilhete dele. Entregue por um mensageiro. Um bilionário aposentado do mundo da tecnologia, usara um mensageiro para levar-lhe um bilhete escrito à mão, com um pedido para um encontro. 
Então, ela fez questão de que tudo fosse absolutamente perfeito. E, embora há alguns anos também ela não atendesse mais, limitando-se às colunas que passara a escrever, e palestras para seletas empresas, aceitou mais uma vez atender pessoalmente um cliente… que se sentou a sua frente, aceitou a salada e pegou o talher errado (pegou o de fora), ela sorriu e pensou: “ele não a enviou a ninguém primeiro”.
A menina de vinte anos sentada a sua frente pediu desculpas, trocou o talher como indicado por ela, e sorriu com o canto da boca.
— Você tem o mesmo sorriso de seu pai. 
… e pela primeira vez, ela aceitou uma cliente mulher.


Fim.


Por Luís Augusto Menna Barreto 

21 comentários:

  1. Acho que todos queriam esses dois juntos...eu queria!!! !!!!...rsrs...entretanto os finais nem sempre são como gostaríamos...a arte imitando a vida!!!!

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    1. Onrigaaaaaaado Tel!!!!
      Eu estava sentindo um vazio enorme aqui no blog....!!😬
      Parecia que ninguém havia gostado... rsrsrsrsrs
      Nem minha irmã, que comentou todos os capítulos me disse nada, ainda!!!!!

      Como diria Humberto Gessinger:
      "A vida imita o vídeo
      Garotos inventam um novo inglês.
      Vivendo num país sedento,
      Um momento de embriaguês.

      Somos quem podemos ser
      Sonhos que podemos ter"!!!

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  2. Valeu,Poeta!!!
    Amei acompanhar a saga desses dois! Foi muito instigante! A riqueza de detalhes que você apresentou no decorrer dos capítulos foi incrível, me impressionou muito! Como sempre, nos surpreendendo!!! Parabéns!!!
    Já estou aguardando o próximo... conto...ou...

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    1. ... ou... rsrsrsrsrs
      Bem... estou trabalhando para publicar uma crônica de Marajó City... e, depois, um novo conto, mas com um PROJETO DIFERENTE... vou fazer um teste... mas não será como esses últimos em que parei tudo e publiquei apenas o conto.
      Vou intercalar o conto com outras publicações, até porque será um projeto realmente bem diferente e não faço ideia sobre a aceitação ou não; porém, quero muito experimentar!

      Quanto ao CONTO DELLA, super obrigado, guria!! Acho que a idéia de surpreender com a literatura seja uma das funções do escritor...
      Quando escrevo, muitas vezes os personagens falam por eles mesmos, seguem destinos que não eram os que eu havia traçado ao iniciar... os personagens meio que ganham "vida própria"...
      ... então, "conversando" com os dois desse conto, não consegui ve-los juntos... e tenteada forma mais carinhosa possível tratar disso.
      Pulei a cena, e poupei os personagens dos enfrentamentos das despedidas.
      Talvez, em um filme, o final fosse com ela dizendo "sim" depois de ele abrir a caixinha com o anel, viria uma música e a câmera afastar-se-ia...
      ... mas num conto despido de "roteiro", em que, embora os detalhes, a personalidade dos personagens fosse mais descritiva do demonstrativa, não parecia dar certo este final... então, a surpresa...
      De qualquer forma, gostei demais de escreve-los... e, como no CONTO DE BELLA, penso que haja muito material para voltar a estes personagens no futuro...!!!

      Um baita obrigado, guria... espero que continues acompanhando...!

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    2. Sem nenhuma dúvida, Poeta!!!
      Sempre voltarei...!

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  3. A literatura nos dá asas e muitos caminhos. Nem todos gostamos dos caminhos escolhidos.
    Quem sabe num futuro próximo , retomes a estes personagem e construas um outro fim...

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    1. Quem sabe....?
      Na verdade, eu adorei tanto estes quanto os personagens do CONTO DE BELLA...!!!
      E tanto neste, quanto naquele, acho que tem muito espaço para histórias incidentais com os mesmos personagens....!!!
      Quem sabe um novo enredo incidental que justifique o final...??!!

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  4. Olá!

    Uau...tuas repostas estão recheadas... Muito bom isso.
    Vou "fazer a crítica"... (aquela pessoa chata!)

    Não temas! Os comentários vem... De uma forma ou de outra. E se "não mata, fortalece".

    Sobre o CONTO DELLA, em resumo, desde a primeira parte até aqui, fiquei surpresa. Primeiro porque foi ousado apresentar um conto diferente do que tínhamos visto de tuas crônicas... Tão bem escritas e ricas de verdade. Tuas aventuras marajoaras, o cotidiano do PILHA e também, porque não as ELAS românticas.
    Por isso, esta "singela" história de amor dividiu minha opinião... Porque não tendo por ela muita simpatia, acabei por esperar o "final feliz"... Parecia o óbvio.E NÂO gostei. Não comentei.E pelos desdobramentos, estou aqui.Talvez meu NÂO gostar tenha haver com meu NÂO gostar muito do conto... Achei- o bem menos de tudo o que tu já tinha escrito. Lamentei. Mas respeitei.E esperei dele o que ele parecia ser. Mas... Vem tua sabedoria e "quebra minha cara"! MUito bem... Mudou o curso, entendi. Depois de tudo isso... Acho, agora, bem justo. Acabo por compreender... Só faço um apelo: SEJAS GRANDE! Traga pra cá todo o teu esforço em fazer O MELHOR! Sempre! Espero que me entendas e aceite minha "opinião". Que tem muito haver com o que penso, é claro! E não tens a obrigação de concordar com ela. Assim como não tenho que gostar de tudo. Talvez tenha eu me "acomodado" e me acostumado com as aventuras literárias que li aqui e não tinha visto com bons olhos toda sua "exibição pessoal"... Veja bem... Peço compreensão.
    És O Cronista!! Gosto do que escreves. Mas quando não me agradar vou dizer!
    No final penso que valeu a experiência.
    É teu espaço. Teu Blog! Tuas palavras. Faça dele sua rua.
    Não se sinta obrigado a "agradar". Aceite as opiniões... (penso eu...) "final alternativo"... "remendo"?????? Não sei. Siga em frente!! Sempre!

    Um abraço.

    À todas e todos!

    Até!

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    1. Mas barbaridade, guria!!!!!!
      Gostei muito do teu comentário e sinto-me de certa forma, lisonjeado!
      Se de alguma maneira eu decepcionei (e olha que barato, isso:) é porque em algum momento fui além!
      Baixas expectativas não criam decepções!
      Se entendes que no conto não fui o melhor com minhas verdades, é porque sentiste as verdades em outros escritos, o que me faz ficar feliz!!!!!
      Só posso agradecer!!!
      Nos dois últimos contos, fiz experimentos. Escrevi com alguma preparação e pesquisa!!!
      Tenho, ainda, a intenção de uma terceira experimentação (e esta terceira, realmente ousando um passo mais longe e um terreno francamente novo!)....

      Devo voltar às crônicas depois disso, permitindo-me uma publicação de uma de Marajó City antes da terceira experimentação, tanto quanto intercalei os últimos dois com um "Pilha"!

      Os contos exigem mais de mim e, entendo também, mais de quem os acompanha... porque há uma sequência a ser seguida e, muitas vezes não há o interesse em acompanhar a todos.... diferente das crônicas em que a leitura esgota-se ao final, simplesmente!

      Mas estou numa fase de experimentos... e pontos de vista como o teu somente contribuem pra mim, fazendo com que eu possa ver como está sendo recebido aquilo a que me disponho!!!

      Realmente obrigado!!!!!!!

      Um baaaaaaita abraço!!!!!!

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    2. Dr. Menna...
      Eu que devo lhe agradecer a atenção e a compreensão.
      Desculpe por alguma palavra...
      Toda experiências serão bem lidas.
      Até!

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    3. Outro dia "ajeito" esse plural ai... Tá bom?
      Fique com Deus!

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    4. rsrs... sem problemas! É ônus da nossa vida corrida e de escritas em caminhadas, ônibus, intervalos... mas o grande barato, é a gente se comunicar!!!
      Como dizia o "Velho Guerreiro": "Quem não se comunica, se trumbica"!

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  5. Percebemos que nem sempre a vida é como desejamos que seja. O amor e a admiração continuou mesmo com a distância de ambos! Não se pode exigir perfeição quando o assunto é sentimento. Ele se esforçou para agrada-la,talvez o maior sentimento entre eles era o mesmo que antes os afastou! Parabéns por tão rico conto !!!

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    1. Ufa!!!!!!
      Suuuuuper obrigado!
      Esse conto tem dividido opiniões e tenho respeitado a todas! De certa forma, isso parece enriquecedor: há manifestações para os dois lados, o que parece ter justificado o experimento!
      Escrevi sobre muitas coisas que não são meu cotidiano, diferente das crônicas que sempre postei.
      O estilo necessariamente foi mudado e alguns não o apreciaram o que é perfeitamente compreensível e absolutamente faz parte das funções da literatura: suscitar a imaginação, os gostos e sentimentos!
      Mas claro que, diante de algo tão experimental, receber o carinho teu, para o conto, é um afago na alma de escrevedor!!
      Mil obrigados!!!!!

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    2. Sou eu quem agradeço pelo carinho em me responder poeta! Gratidão e sucesso sempre !!!

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  6. Realmente o amor tem vários caminhos e maneira de se expressar!!! Parabéns!!!

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    1. Mas bah!!!!!
      Valeu, guria....
      ... os caminhos do amor... só o amor sabe trilha-los....!!!
      Vai entender.....??!!

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  7. O homem é tão complexo e ao mesmo tempo previsível que a singularidade das conclusões fora do "happy end" o leva a pensar numa possibilidade da vida não esperada, mas está ali, existe e é real. É sempre uma nuance da vida. Parabéns Dr.Menna !

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    1. Mas tchê!!!!!
      Super obrigado, Dr. Jackson!!!
      Com os dois últimos contos, fiz uns experimentos, e alguma pesquisa pra escrever...! Eu me esforcei para o resultado....!!!
      Fico muito feliz que tu o tenhas recebido dessa forma!!! Realmente, suuuuuuper obrigado!!!!

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  8. Interessante.....vc conseguiu agussar minha curiosidade e minha delicadeza de percepção.

    Vc é especial

    Amo seus contos e crônicas!

    Esperando os próximos!!


    Sou suspeita pra falar!

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