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domingo, 24 de dezembro de 2017

UM CONTO DE FÉ - parte 2

UM CONTO DE FÉ
Parte 2

— … e reze um rosário em penitência. — Disse isso, enquanto fazia o sinal da cruz, e aguardava que ele levantasse. 
Ele não levantou em silêncio absoluto… ele sempre agradecia ao padre que o confessasse.
Decidiu por se confessar, no dia em que falaria para sua mãe. 
Com a mãe, as coisas sempre foram mais fáceis. E ela sempre se preocupava em dobro: preocupava-se pelas angústias dele… e preocupava-se como o pai iria reagir. Não que fosse um bruto. Não o era. Mas era rígido:


— O que foi isso? — perguntou-lhe o pai, quando ele chegou da escola com um olho roxo!
Ele, de cabeça baixa, segurava o choro, sem responder. O pai abaixou-se na frente dele: 
— Olhe pra mim. Você vai voltar lá, e não virá embora antes de que quem tenha feito isso, fique igual a você, entendido?
Ele balançou a cabeça. Largou os cadernos da quinta série e retornou pelo caminho da escola, assolado pela angústia tremenda. Não tinha medo de quem lhe batera. Não teria medo da briga, ou de apanhar de novo… a angústia era porque não queria brigar. Sobretudo, apavorava-lhe a ideia de bater em alguém. Mas não ousaria desobedecer o pai. 
Antes de chegar na escola, viu o garoto que lhe havia agredido passar correndo e chorando, com a camisa rasgada e uma das mãos no rosto. Em seguida, viu seu irmão, 15 meses mais velho, com o uniforme todo desalinhado:
— O pai mandou você voltar?
Ele balançou a cabeça. O irmão colocou a mão sobre seus ombros, virou-lhe no caminho de casa e saiu caminhando ao seu lado.
— Já resolvi pra você. O olho dele também está roxo.
De alguma forma ele sentiu um alívio. E sentiu-se quase culpado por isso, porque entendia que pelo pecado do irmão, escapara de pecar batendo ele mesmo no colega.
O irmão tornou a falar:
— Mas olha, agora você me deve uma. Não vai contar pro pai que me viu fumando nos fundos da escola.

… 

Quando contou para a mãe, ela encheu os olhos de lágrimas que não caíram. 
O coração de mãe, sabia há tempos… mas era diferente ouvindo-o falar. Talvez não estivesse preparada. 
Passados uns instantes, ela pegou as mãos do filho, segurou-as e disse-lhe, simplesmente:
— Filho. Tu serás sempre medido e julgado, pelo tamanho do teu coração. E eu tenho muito orgulho de você.
Ele abraçou a mãe. Quando soltaram o abraço, veio a pergunta que ele esperava:
— Quando você vai contar para o seu pai? Ele está doente, você sabe…
Ele baixou os olhos…
— Eu não sei…
— Você precisa contar. Não pode esconder.
— Eu sei…


18 comentários:

  1. Empatia por essa mãe... Sempre o amor mais verdadeiro! Boas festas a todos!!

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    1. Amor de mãe... INCONDICIONAL.... como uma mãe há 2017 anos atrás...!!!

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    2. Sim! Maria que deu à luz ao Príncipe da Paz é um bom exemplo de amor verdadeiro... Nem todas as mães neste mundo são ou serão como ela... Mas seu exemplo ficou registrado.

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    3. Dificilmente uma mãe não será Maria, penso....!

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  2. MÃE... Sempre digo e repito, que é o ser mais sagrado que Deus criou, sempre tão compreensiva e protetora. E sempre dividida entre as questões dos filhos e a rigidez do pai, e o mistério continua.... enredo de novela, aguardando o próximo capítulo...

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    1. Amor de mãe.... acho que só sendo mãe pra saber a dimensão de amar algo que tenha sido gerado decai mesma.....!!!!!!!

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  3. Antes de me tornar mãe, ouvia o povo dizer: "...ser mãe é sofrer no paraíso." Ficava intrigada, nào entendia. como podia alguém sofrer no paraíso?!!! Muito estranho!
    Hoje sei bem o que é isso... A felicidade de ser mãe é indescritível...porém...quando um filho tem um problema, a gente sofre mais que eles...!

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  4. Obrigada, Poeta!!!!
    Feliz Natal também!!!
    Para você e todos do Blog!

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  5. Amor de mãe!!!
    O mais verdadeiro e incondicional!!!
    Lindo!
    Que venha o próximo capítulo!
    Feliz Natal a todos que passarem pelo blog!

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    1. Que venha o próximo!!!!
      .... e virá!!!!!
      Ah!, o amor de mãe....!!!

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  6. /Seu pai está doente e por isso precisa contar?!/

    Acho que não. Não precisa não. Para quê?!
    Nem toda verdade é preciso ser dita. Há verdades que magoam demais. E nem toda mágoa é compensadora.

    Considero a verdade como um dos pilares da virtude. Entretanto, fazer apologia à verdade absoluta, em certas circunstâncias, pode ser uma grande maldade. Além de ser uma atitude meio hipócrita. Quem nunca omitiu uma verdade? Quem?!

    XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

    Luís Menna, o conto promete discussões polêmicas. E isso, tu sabes, é um excelente sinal de literatura boa.

    Parabéns!

    Um grande abraço!

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    1. Mas que presente de Natal bom tu colocares teu comentário!!!!!
      De fato, penso que nem todas as verdades precisam ser expostas... mas penso, também, que a natureza dos personagens exige que conte. Penso que o personagem ficaria por demais angustiado em reter isso consigo... ao menos é o que retiro do que me fala o próprio personagem quando o investigo, quando o tento escrever...
      ... então, a necessidade, antes de ser uma verdade para todos, é uma sentença para ele.
      De resto, se causar alguma discussão, seja sobre a fé, seja sobre a crença, seja sobre o segredo do personagem.... que venha.
      De minha parte (e normalmente de todos os que frequentam o blog!) toda a discussão será tratada com todo o respeito.

      Ah, se me permites: este tema e outros poderão ser tratados e discutidos no dia 29, a partir das 20 horas, pelo blog e pelo periscope, de forma simultânea, quando estarei ao vivo respondendo perguntas!!!!

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  7. Que belo convite, hein?!?
    Que plateia luxuosa essa sua... Comentário de Ana Macedo de presente de Natal. ⭐️

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  8. Mulheres são mais sensatas, menos agressivas e mesmo sem ser mães elas tem o instinto. Concordo plenamente com o sábio comentário da escritora Ana Macedo! Há coisas que feririam tão grandemente a alguém tão importante e querido por nós como nossos pais, genitores, irmãos, filhos. Que contar seria sofrer duas vezes. O que está no passado... melhor ser apagado se não foi dito na hora do acontecimento!

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    1. ... mas e se for algo permanente...? algo que ele carrega na alma e que terá de tomar uma decisão?

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