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sexta-feira, 2 de novembro de 2018

O Mariposa, a Marreta e a Pequena




— A culpa… meio que é sua, doutor…
— Hein?
Ele meio que se assustou, e apertava ainda mais o velho boné nas mãos.
— É, doutor… o senhor me desculpe, sabe…?! … mas eu tentei ficar longe da Pequena.
— Como tentaste ficar longe, Mariposa? Tu estavas era preso! 
— Pois então, doutor…
— Então o quê, Mariposa? Mal saíste e já aprontaste de novo, foi te meter em confusão com a Pequena?!
— Mas por isso, doutor…
— Por isso o quê, Mariposa? Desse jeito, vou ter que decretar tua prisão de novo!
— Justamente, doutor…
Nesse momento, notei que o Goela balançava a cabeça como quem faz aquele som de “tsc tsc tsc” quando a gente ou se conforma com alguma coisa ou pensa “isso não tem jeito”.
O Mariposa, um comerciante até respeitado na cidade, chegou outro dia, todo agatanhado no pescoço, um lado do rosto, a camisa rasgada, e queria me mostrar até onde mais estava com marcas de unhas, mas eu disse que não era preciso. O Tonelada, policial que trouxe o Mariposa, disse que quando chegou na casa, tava tudo quebrado: TV no chão, geladeira virada, cadeiras quebradas.
— E a Pequena, Tonelada? — eu perguntei naquela ocasião.
— Ah, doutor, não gosto de falar… tava difícil. — respondeu o Tonelada, meio sem jeito.
— O que houve? Tava muito machucada?
— Não, doutor. Difícil foi conter a Pequena, que tava com uma marreta tentando quebrar a porta do banheiro onde o Mariposa tava trancado. A sorte é que ela não dava conta de levantar a marreta, doutor.
Quando ele disse isso, já pensei em soltar o Mariposa, mas ele logo foi falando:
— Bati na Pequena, doutor!
— O quê? Tu nunca foste disso, Mariposa! 
— Tava bebido, bati, doutor!
Ele não parecia bebido. 
— Mariposa, fala a verdade!
Ele não me olhava. Ficava com a cabeça baixa.
— Bati, doutor.
— E a Pequena? — Perguntei pro Tonelada.
O Mariposa arregalou os olhos, e olhou pro Tonelada.
Desculpa, doutor, não deu de trazer a Pequena. Ela me ameaçou com a marreta. Mas não deu conta, largou a marreta e saiu. Daí trouxe o Mariposa. Tive que arrombar a porta, porque ele não acreditou que a Pequena tinha saído.
Eu ia soltar o Mariposa. Mas antes que eu dissesse algo ele falou.
— Se eu me encontrar com a Pequena vai dar morte, doutor.
Olhei o Goela que discretamente balançou a cabeça em sinal afirmativo. 
Resolvi por mandar o Mariposa pra cadeia e o Tonelada entregou ele pro Fechadura, o carcereiro, que entregou o Mariposa pro Brédi Piti, o preso que cuida da carceragem enquanto o Fechadura toma uma e o Delegado tá viajando.
Dois dias depois, o promotor que havia substituído o anterior (o promotor Cava-Cova que cavou a própria) chegou na cidade e entendeu que nem era caso de denúncia. Pediu o arquivamento do expediente. Até porque, ninguém encontrou a Pequena. 
Então, soltei o Mariposa. E não demorou nem um dia, e ele estava ali de novo, algemado. A Pequena tinha ido parar no hospital. Daí que essa vez era grave. E o Mariposa dizendo que a culpa era minha!
Como não havia laudo, mandei o Goela correr no hospital que fica bem em frente da delegacia. Ele voltou rápido. Como não havia médico, o Goela nem falou com a técnica de enfermagem. Foi direto na fonte das notícias. Passou rápido no açougue do Retalho e soube detalhes com o Manobra, motorista da ambulância que tava lá jogando bilhar e tomando a segunda do dia, afinal, já era, quase 10 horas da manhã! 
O Mariposa tinha trocado a Constante, companheira de toda a vida, pela Pequena, com metade da idade. Mas a Pequena era braba. Bastou um dia o Mariposa chegar tarde, cheirando a Leite de Rosas, e a Pequena mostrou seu tamanho. Agatanhou todo o Mariposa e quebrou tudo na casa. Há quem diga que se o Tonelada não tivesse chegado, ou se a marreta fosse mais leve, ela tinha matado o Mariposa.
— Doutor… — ele continuou — se o senhor não tivesse me soltado tão cedo, doutor…
Hein? Pois é… o Mariposa estava me culpando, por te-lo soltado! 
— Eu também tenho culpa, doutor. Não devia ter deixado a Constante pela Pequena… e a Constante tava até indo me levar merenda na delegacia, doutor… não era pra ter me soltado.
— Mas agora tu vais preso mesmo, Mariposa! A Pequena foi parar no hospital, afinal de contas!
O Goela se aproximou. Cochichou no meu ouvido:
— Não deu conta da marreta, doutor.
— Hein? — (Foi um “hein" cochichado).
— Foi levantar a marreta pra bater no Mariposa e deixou cair no pé. Tá lá no hospital com o pé quebrado e jurando o Mariposa.

Por Luís Augusto Menna Barreto



16 comentários:

  1. Esse "Mariposa" tá mais pra marimbondo! rsrsrs E agora o Dr. é o culpado?!!!! Só faltava essa...!
    Muito boa!!! Estava com saudades desses personagens.. um tanto quanto..."cômicos"!!!!!!!

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    1. Eu também!!! Com muita saudade de escrever as crônicas de Marajó City!!!!

      Vem mais por aí... porque vou contar o que aconteceu pra Pequena chegar ao ponto de pegar uma marreta!!!!

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  2. Kkkkkkk .....muito bom
    Legal ..tava com saudades dessa aventuras poeta.

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  3. Bom dia amigão. Muito legal. Cada personagem melhor que o outro. Uma crônica com um humor super legal. Você vive situações especiais e as transforma para uma realidade que nos cativa com as cenas descritas.

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    1. Obrigado, amigão!!! O Marajó é maravilhoso!! Tem coisas que só acontece em Marajó City! A vida na Ilha nem sempre é fácil... mas as pessoas compreendem o ritmo das coisas por lá, e levam tudo com muito bom humor!!!!

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  4. Essa pequena parecia uma marola, mas é um tsunami!

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  5. A culpa é meio que é sua, Doutor! Rsrs. Muito bom lembrar, eh Marajó de povo bom.

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    1. Maravilhoso Marajó!!!
      ... porque tem coisas, que só acontecem em Marajó City!!!

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  6. Essa Pequena é o cão chupando manga!
    E com tudo isso, ainda não deu jeito nesse Mariposa!
    Adorei. Eu estava com muitas saudades dessas histórias, contadas nesse rítmo e velocidade, querido poeta.

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    1. Oh, minha querida amiga Maria Zélia... não apareceu seu nome, mas eu sei que és tu, porque tu tiveste a delicadeza de colocar o comentário também no Twitter!!!!!

      Sim, a Pequena é braba... mas essa é só uma parte da história...! Se eu conseguir, amanhã mesmo escrevo a parte ANTERIOR... que vai mostrar como a Pequena ficou tão brava!!!!!

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  7. Que confusão hein ? Até o juiz teve uma parcela de culpa, por soltar o preso e ele fazer errado de novo. Adorei mais uma crônica divertida.

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    1. Pode isso...? o caboclo queria ficar preso pra livrar-se da Pequena!
      Eu estava com saudade de escrever essas histórias...!!!

      E muuuuita saudade de fazer conversas por aqui..!!!

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  8. Estou aguardando o próximo voo do "Mariposa"! Sentada...pois...parece
    que...não sei...! 😕😊

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