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quinta-feira, 28 de março de 2019

bora cronicar - A Noiva da Lagoa e o Aflito

Bora Cronicar

A Noiva da Lagoa e o Aflito
(Das Lendas de Santo Antônio da Patrulha)

Faz dois dias que minha bela, querida, saudosa, distante e lendária Santo Antônio da Patrulha aparece no 'bora cronicar'. Na quarta-feira, foi a crônica "O Sapo e a Enforcada". Ontem, colocando as coisas em seus devidos lugares, provei de forma insofismável, que tudo que existe em Paris, Santo Antônio da Patrulha tem; só que melhor! 
Daí, que nos comentários, chegaram a referir a Igreja de Santo Antônio. Bem, eu nem quis falar nela, pra não abalar a fama da Catedral de Notre-Dame. Mas, cá entre nós, não há o que a Igreja Matriz possa perder em beleza arquitetônica para Notre-Dame. Só sua escadaria recebendo a todos os que chegam, por qualquer dos lados, já é um convite à constatação de sua simpatia! 
E nós ainda temos a Lagoa dos Barros, que, se não é tão grande quanto a Lagoa dos Patos, é, evidentemente, muito mais charmosa. É lagoa que não se consegue enxergar a margem oposta e banha vários municípios, dentre eles, o mais relevante, Santo Antônio da Patrulha, claro! 
Eu lembro que quando éramos criança, a mãe às vezes aprontava-nos uma surpresa: nos tórridos dias do verão patrulhense, especialmente se algum parente de outra cidade estava visitando-nos, a mãe arrumava as coisas na Bela, e íamos para a lagoa. A “Bela" era uma Belina 76, que compramos em 1978 e esteve em atividade até 1998. Tudo cabia na Bela. E era um tempo muito mais romântico para automóveis. Quando viajávamos, a mãe colocava um acolchoado na “cachorreira" (o porta-malas da Belina, que ficava na parte interna traseira do carro), um travesseiro e eu pegava alguns gibis e ia de Santo Antônio da Patrulha até Canoas, distante 80 quilômetros para visitar os parentes, deitado ali atrás, lendo gibis. A mana ficava de dona do banco traseiro, enquanto a mãe dirigia e o pai ia ao lado, conversando. Era uma época sem “airbags”, sem cinto de segurança obrigatório, com postos de gasolina que fechavam aos domingos e, ainda assim, escapamos ilesos e vivemos! 
Pois a mãe aprontava a Bela e íamos em quantos fôssemos, porque não havia quem não coubesse na Bela, afinal, naquela época, década de 70 e 80, onde havia 5 lugares, cabiam ao menos 12! Uns para frente outros para trás, uns no colo outros na cachorreira, e vamos embora todo mundo! De mais a mais, a lagoa ficava há apenas 15 quilômetros de nossa casa, indo pela “estrada velha”, uma rodovia estadual, francamente sinuosa, que corta Santo Antônio da Patrulha e vai contornando o começo da serra do mar, ligando a capital ao litoral. A lagoa fica a caminho do litoral. Daí que chegávamos por volta de 15 horas e brincávamos naquelas águas calmas em que entrávamos lagoa adentro sem jamais a água passar da nossa barriga, não importa o quanto entrássemos! 
Mas uma coisa era certa: jamais, mas JAMAIS MESMO, correr o risco de sair depois do sol se por! Antes pelo contrário: quando começava a esconder-se por trás dos morros da serra do mar, a gente já recolhia tudo e ia embora. Nunca houve notícia de alguém que insistisse para ficar mais um pouco! 
Por quê? Ah!, repare. Lembra-se de como eu me refiro à Santo Antônio da Patrulha, atento leitor?: “minha bela, querida, saudosa, distante e lendária Santo Antônio da Patrulha. Pois este lendária não é retórico. Aliás, todos os adjetivos tem uma exata razão para que eu os use. Pois a lendária, como você, inteligente leitor já intuiu, é por conta das várias lendas que existem em Santo Antônio. 
A própria Lagoa dos Barros tem várias lendas e, dentre elas, estas três que vou contar: uma delas, é a de que existe uma cidade submersa na lagoa e que em dias de ventos fortes, é possível ouvir os sinos da torre da Igreja submersa. O fato é que a lenda é tão forte, que não há notícia de navegação na lagoa, embora sua imensa extensão. Ninguém se atreve a atravessar a lagoa em lanchas, ou outra embarcação qualquer, porque não há notícia de quem tenha tentado e tenha ultrapassado a cidade submersa.  
Outra lenda, que se relaciona com a primeira é que no centro existe um redemoinho que tudo suga e que leva à cidade submersa. E é fato que sequer há atividade de pesca na Lagoa dos Barros porque nem mesmo pescadores tem coragem macular as lendas e verem-se eles próprios, fisgados pelo redemoinho e condenados a passar a eternidade na cidade submersa.
Foto de Maria Luiza
Finalmente, outra lenda, a mais famosa, tem a ver com o próprio padroeiro e com a lagoa. E não é apenas uma lenda, é baseado em fatos reais: Em 1938, Maria Luísa, recém casada, foi encontrada morta, enforcada no próprio véu, na Lagoa dos Barros. Conta-se que assim que casou, fora passear com o marido e este, possuído por espíritos malignos advindos da cidade submersa, enforcou a própria noiva. Depois de dois dias, submersa, seu corpo fora encontrado intacto, o que contraria qualquer explicação científica! 
O crime jamais foi elucidado. 
Reportagem da época 
O fato é que o espírito da noiva morta, constantemente é visto no local, às margens  da BR 190, ou da RS 30, as duas rodovias que no local cumprimentam-se lado a lado pela extensão patrulhense da lagoa. Muitos caminhoneiros que se arriscaram à noite por ali, juram que viram a noiva. Alguns caminhões, inclusive, foram encontrados no local, abandonados, sem notícia dos motoristas, sem que nada se houvesse roubado! Se você, estimado leitor, tiver curiosidade, pesquise sobre a lenda na internet.
O espírito da noiva na RS 030
Mas o fato é que patrulhense que se preza, não vai na lagoa depois do por do sol.
Mas, enfim, queria contar isso e dizer para vocês que certa feita, numa noite de chuva forte em que faltou energia elétrica em Marajó City, e, diante das notícias de visagem no Fórum, começamos a contar histórias assim, esperando pela energia, no corredor do fórum - mas com a porta aberta e duas lanternas acesas! 
Entre as histórias marajoaras e gaudérias, contei a lenda da noiva, que, à noite, sai em busca de um noivo para completar suas núpcias.
Pois não é que eu jamais poderia imaginar que o Aflito ficaria impressionado?! Depois daquela noite, inclusive, nunca mais vi o Aflito. Tempos depois, quando encontrei um colega do Marajó, estávamos conversando e ele ria da história do caboclo desesperado pra casar, mas que, de tão feio, não havia morena que convencesse ao enlace amoroso. Perguntei o que era feito dele e meu colega disse que a última notícia que teve do Aflito é que havia despedido de pai e mãe, e, decidido, rumara ao sul. Aflito teria dito apenas que tinha um encontro com sua noiva, o que surpreendeu a todos, porque jamais houve notícia que tivera alguma.
… e só agora percebo que justamente desde essa época, não se tem mais notícia de que a noiva tivesse aparecido ao anoitecer da Lagoa dos Barros…!

Luís Augusto Menna Barreto
29.3.2019

PS: O 'bora cronicar' está entrando em férias (junto comigo). Desde o início, decidi que este projeto seria feito nos dias úteis para eu ver se consigo levar isso junto com meu dia a dia normal de trabalho, dias úteis. Então, como eu estou entrando em férias, o 'bora cronicar' sai em férias junto comigo!
Volto com este projeto no dia 6 de maio de 2019, no meu retorno. 
Eventualmente vou fazer postagens, mas não será no projeto 'bora cronicar'!
Um imenso abraço no coração de todos os amigos e amigas.
Vou aproveitar as férias para dar andamento em vários projetos iniciados e dois que estou por iniciar:
2 roteiros de teatro;
1 roteiro de filme;
1 romance de suspense, a quatro mãos;
1 conto;
... e, surpresa, vou TENTAR, desenvolver a história do Velho e o Garrincha em forma de romance, para explicar vários "vazios" que ficaram pra serem preenchidos do conto original. A idéia ("pulga atrás da orelha"), foi a escritora Ana Isabel Rocha Macedo que plantou. Mas vou dizer uma coisa: se eu conseguir realizar este projeto, ela vai ter que prefaciar!!!!
Um imenso abraço,
Luís Augusto Menna Barreto


32 comentários:

  1. Bah, essa crônica de hoje foi sensacional!!!Adorei! Sempre tive curiosidade sobre a lenda da lagoa... Muito obrigada, poeta! Boas férias! Ficamos aguardando a tua volta. Abraço!













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    1. Super obrigado, Denise!!!!!!!
      Essa de hoje foi realmente bem especial!!! Há muito o que contar sobre as tantas e deliciosas lendas de Santo Antônio da Patrulha!!!!!! Aos poucos ao longo do ano neste projeto, irei contando!!!!
      Mil obrigados por acompanhares o blogue!!!!

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  2. Adorei... Um dos passatempos em minhas muitas viagens ao interior é escutar os causos, como dizem os originais do lugar, cada localidade com os seus próprios. Já participei de episódios ilarios por conta do medo que fica após cada sessão de narrativas, deliciosa essa provocação de conseguir lembrar o que já estava guardado a muito tempo. Obrigada por mais esse carinho na minha cabecinha cansada, um bálsamo.
    Que Deus lhe acompanhe nas suas férias, dias de descanso e muita paz junto aos que ama.

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    1. Lola, é muito gostoso a gente lembrar histórias, especialmente as lendas de nossa região.
      Outro dia, o João estava falando sobre "Matinta Pereira"... eu adorei ve-lo inteirar-se das lendas paraenses!

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  3. Vai ficar a curiosidade de saber o que foi feito do oficio.

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    1. "Ofício" é um ótimo apelido... mas é "Aflito"... rsrsrsrsrs....
      Também quero saber... já pensou se a noiva da Lagoa rejeita ele e ele passa a assombrar...??

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  4. Adoro lendas e seus mistérios!!!
    Adorei a crônica!!
    Boas férias Poeta,que você aproveite merecidamente e nos traga boas novidades dia 06 de maio... Fiquei feliz com os projetos em andamento...Um filme!!!!! Que maravilha!! Vai dá certo!! Com sua competência dará,tenho absoluta certeza...Até logo!!

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    1. Lendas são sempre interessantes, de todos os lugares...
      Quanto as férias, quero tentar realmente aproveitar para adiantar alguns projetos... vamos ver...!!
      O filme é uma idéia que acho boa e viável... mas tem muita coisa por trás... vamos ver e torcer... mas vou elevando todos os projetos... devagar, eles vão tomando forma!

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  5. Vou sentir saudades desse encontro diário!! Vou!!!

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    1. Ah... eu também! Eu também gosto, creia-me... mas acho que será bom focar o tempo que eu tenha para realmente desenvolver alguns destes projetos!

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  6. Nossa Senhora Sant'Ana, de Caicó, me defenda de um dia ter que passar por perto dessa lagoa de Santo Antônio da Patrulha. Nem por curiosidade, roteiro turístico pré-determinado ou atenção ao poeta.
    Eu me pelo de medo de ALMA.
    Com essa história, eu fico com mais medo até de tomar banho no açude do sítio lá de casa.
    Vocês também usam esse termo "lá de casa"? Refere-se à casa dos nossos pais.
    Nunca à nossa casa atual.
    O universo das lendas é fantástico. E essa descrição do poeta é assustadora!
    É bom daqui pra frente ter cuidado em todo lugar onde existir água parada...a noiva ou o Aflito podem estar por lá.
    Cruz!Credo!

    E boas férias,poeta!
    E fique mais com sua família.
    E só um pouco com esses projetos todos. Tomara ver!

     

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    1. Ah... a Lagoa, de dia, é linda e segura... só não pode dormir na areia e arriscar anoitecer sem que se perceba!!! rsrsrsrsrsrs.... Aqui a gente usa o "lá de casa", mas para descrever a casa em que moramos! Não conhecia essa expressão como referente à casa dos pais! Muito interessante isso!
      Um milhão de obrigados.
      Férias é sempre legal... e eu estava realmente precisando!
      Bora atrás de novidades literárias!

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    2. Então, poeta, agora você vai dizer assim:"Nessas férias, nós vamos passar uns dias lá em casa". Significa que é na casa da Dona Zélia. Eu acho tão bonito pq dá um maior sentido à casa dos nossos pais, que deixamos com uma referência diferente quando casamos, construímos família, quando temos a nossa própria casa.

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  7. Esqueci de assinar o comentário anterior.
    Maria Zélia.

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  8. Ai que meda de fantasma, ainda bem que li na luz do dia, pois a noite pode assombrar rsrs gostei dessa mistura de histórias e lugares, Sto Antônio /Marajó, será que o Aflito foi se ajeitar com a noiva da lagoa dos barros? Muito bom seus projetos, mas aproveite as férias para fazer NADA, só apenas conversar, passear, dormir. ... Até a volta, tudo Tchau.

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    1. Ah.... e pretendo mesmo, fazer muito NADA.... rsrsrsrs.... mas eu sei que em muitos momentos vai bater uma "comichão" nas mãos e vou correndo pegar o meu amigo Mac pra escrever... mas não vou forçar... vou deixar vir ao natural!
      ... eu ADOOOOOORO fazer nada... e sou muito bom nisso!

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  9. Gosto dessas lendas!
    Um clima de mistério tomou conta dessa crônica...uuuuiiii que medo. 😨

    Amei as boas notícias!!!! Novos Projetos!!! Muito bom!!!
    Boas férias!

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    1. Eu também adorei. E acho que o Aflito deu um certo toque de leveza ao final...!
      Férias... nossa... semrpe é ótimo, né?!

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  10. Prefaciarei o teu livro com muito prazer.

    E mais: não farei como "certo prefaciador" de um dos meus livros que me prometeu estar presente no lançamento desse livro

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    1. ... isso quer dizer que não vais prometer estar presente... rsrsrsrsrsrs
      Eu sei e entendi... e, sim, tens razão... sou muito furão, né?!
      Mas o prefácio ficou bonitinho...!

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    2. Pelo contrário, estarei presente no lançamento, sim.

      Ah! ADOREI A CRÔNICA DE HOJE. DEPOIS COMENTAREI.

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  11. Desculpem o erro.
    É Nossa Senhora, filha de Santana, lá se Caicó...

    Quem manda não revisar?

    Só pode ser Maria Zélia.

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  12. Amigo fiz um comentário no texto sobre sua linda Santo Antônio da Patrulha. Tudo verdade conferido ao vivo tendo vc como guia.
    Sobre hj um grande documentário sobre o fato muito bem narrado .
    Desejo pra você que suas férias sejam ótimas e muito produtivas levando em consideração suas propostas. Um fraterno abraço pra você e até a volta.

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    1. Amigão!!!!!
      Férias é uma maravilha... mas nos poucos dias que iremos viajar, já viste: foi-se meu descanso que com a Ana, a atividade começa cedo!!!!! rsrsrsrs

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  13. Leiam no texto anterior minha visita a Santo Antônio da Patrulha.

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  14. Bacana Dr. Quanto a bela igreja vc dizia "hj a igreja tá, cheia, a plateia animada e teremos um belo espetáculo. Forte abraço

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    1. Ah!!!! Eu lembro!!!! A gente, no CLJ, preparava a missa, depois a gente olhava! A missa do domingo lotada:
      “Hoje tem casa cheia...”!!!!!!!
      Essas lembranças justificam aquela juventude!!!!

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  15. Sempre interessante lendas de fantasmas...minha mãe contava histórias de almas que ficavam a beira da estrada pedindo carona, acho que por isso até hoje não gosto de viajar em estradas escuras durante a noite....rsrsrs...Boas férias e sucesso nos seus projetos.

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    1. Super obrigado, Tel!!!
      Férias é sempre maravilhoso!!!
      Espero conseguir desenvolver alguns dos projetos que tenho!!!

      Quanto ao tema da crônica, estas histórias, de fato, sempre fascinam...!!!!
      Eu lembro até hoje da noite de tempestade, sem energia elétrica, no corredor do fórum...! Foram histórias deliciosas... mas tive dificuldade pra dormir!!!!

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