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segunda-feira, 13 de maio de 2019

bora cronicar - Pai de Primeira Viagem

bora cronicar

Pai de Primeira Viagem

Quando o João estava pra nascer, eu lembro que comprei um pequeno manual. Um “Manual do Pai de Primeira Viagem”.
Olha… foi um dos livros mais úteis que eu já comprei na minha vida.
Mas confesso que eu não havia lido ainda, afinal, era dia 11 de julho e tudo estava programado para o dia 20. Daria tempo.
A história toda foi a seguinte: eu e a Ana viemos para o Estado do Pará no final de 2002, mas somos do sul. Ela, de Porto Alegre, e eu da minha querida, saudosa, distante, lendária e inesquecível Santo Antônio da Patrulha. Eu sempre quis ter um filho logo, mas a Ana, com seu jeito prático, decidiu que só teríamos filho depois que tivéssemos organizados pra isso (entenda-se: com o orçamento regularizado e condições de, no mínimo, fazer um quarto pro bebê). Daí, que em 2006 ela ficou grávida e em 2007 (com o Inter campeão do mundo!), nasceria a Antônia ou o menino. Concordamos que, se fosse menino eu escolheria o nome. Então, quando soubemos que era garoto, escolhi “João”. Nome simples, todo mundo sabe escrever, um nome só, pra não passar o sufoco de ouvir a mãe chamando pelos dois nomes (coisa que quem tem dois nomes sabe que significa encrenca), e todo mundo sabe escrever! 
— O seu “Lúis" é com “s" ou com “z”? Tem acento?
— “Karina" é com “c" ou com “k”?
— “Vandisgrêisson Wellerson” se escreve como, mesmo? 
Pois é! Eu queria algo simples. E, como sou católico, queria nome de santo. Escolhi João, o apóstolo, na esperança de já ir granjeando simpatia de berço, desde o nome, para meu pequeno João com o Papai do Céu.
Eu acumulei dois meses de férias e, no último momento em que ainda era recomendado viajar de avião, a Ana foi para Porto Alegre. Eu fui de carro em uma deliciosa aventura que contarei em outra crônica.
O fato de ir ter o João em Porto Alegre, não tem nada a ver com ufanismo gaudério. Mesmo tendo nascido no sul, o João é meu pequeno paraense, falando deliciosamente “chiado”, transformando “s" em “x" e surpreendendo-me com interjeições tipo “égua, papai”. 
João foi nascer lá, por questões práticas. Afora o fato de que a Ana tinha um médico desde os tempos de adolescente, que a irmã e o cunhado são médicos, a questão foi também financeira. Vejamos: toda a família dela e a minha estão no sul. Se tivéssemos o João aqui, seria uma peregrinação de parentes para Belém, para conhecer o João. Onde iriam hospedar-se? Claro, no nosso apê! E de-lhe comida para toda essa gente. E ar condicionado direto, porque quem vem do sul, sofre com o clima do norte… enfim, fazendo as contas, seria uma boa grana. Agora vamos inverter essa equação: eu e a Ana indo para o sul, seríamos hóspedes na casa do pai dela. Isso significa casa, comida e transporte por conta do sogro. Claro, né, porque eu não iria cometer a indelicadeza de tirar dele o prazer e a cortesia de bancar as despesas para a sua filha e o maravilhoso marido que ela tem, praticamente um George Clooney gaudério!
Daí, que o João estava destinado a nascer gaúcho.
Como a especialidade do cunhado da Ana é radiologia, estávamos numas de fazer várias “fotos" do João ainda na barriga da Ana. E o pirralho estava “programado” para nascer lá perto do dia 20 de julho (eu queria o dia 14 para ser na data da queda da Bastilha, associando diretamente o piá à ancestralidade européia - por parte da Ana). Mas o fato é que numa dessas sessões de fotos, o cunhado, Dr. Carlo, notou alguma alteração que eu não entendi e comunicou-se diretamente com o médico da Ana. Daí que aproximadamente 18h do dia 11 de julho, a Ana recebeu um telefonema do médico dizendo assim:
— Já reservei tudo, tens que estar no hospital Mãe de Deus às 5h da madrugada porque o João vai nascer às 6h, amanhã! Mas não te preocupas, está tudo bem! 
Meu coração disparou.
Mais ainda, quando vi a Ana nervosa, porque ela sempre foi forte, firme e decidida e a gravidez realmente não a assustou. Mas eu lembro que quando ela desligou o telefone, ela estava quase pálida, embora estivesse tudo pronto: havia uma mala pronta para receber o João com roupas, fraldas… tudo…!
Eu tentei bancar o forte da relação:
— Ana, calma… tá tudo bem. Vai dar tudo certo.
— Como tudo certo? Tu não ouviste? Tenho que estar no hospital amanhã às 5h!
— Mesmo assim, calma. O médico falou que é só um imprevisto, mas vai dar tudo certo com o João!
Ah… quanta ingenuidade a minha!
— Tu não estás entendendo nada! Como vou conseguir horário num salão essa hora pra fazer uma escova? E as unhas? Tenho que fazer as unhas!
Você, pai de primeira viagem, nem pense que conseguirá entender a cabeça delas. 
O fato é que chegamos em casa, depois de realmente conseguir um salão de beleza aberto, e fiz o que mais achei importante: li todo o Manual do Pai de Primeira Viagem naquela noite mesmo!

Luís Augusto Menna Barreto

13.5.2019

13 comentários:

  1. Como todo imprevisto,esse tbm, foi um atropelo hein? O que importa é que deu pra fazer o que tinha que ser feito, as unhas e cabelo da mamãe e o papai ler o livro, e aí, o manual te ajudou mesmo poeta? Bom dia, boa semana.

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    1. Necessariamente, essa história terá a segunda parte!!! Vou falar do quanto o Manual ajudou!!!!!
      Super obrigado, Nice!!!!

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  2. Homem é muito prático não é Menna, rsrs pensa racionalmente mesmo com as emoções a mil. E a Ana queria mesmo estar bela quando nascesse o João e com ele a mãe que ela seria. 👏👏👏👏👏👏👏😘 Feliz dia das mães para Ana!!!!!🤗

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    1. Ela pensou muito à frente: pensou nas fotografias com o João recém nascido, pensou que em muitas fotos apareceriam suas mãos, apareceria ela de perto.... ufa...! Coisas que nem de longe passaram pela minha cabeça!!!🤦🏻‍♂️🤣😅

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  3. Uffa!! O bom é que deu pra ler o manual!!Claro que a mamãe queria receber o João toda linda e maravilhosa!! Ainda bem que deu tempo fazer as unhas e cabelos,afinal momentos inesquecíveis temos que nos sentirmos plenas!! Coisas de mulher!!!

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    1. Pois é... mas vai fazer a gente (nós, homens) entender isso?! Ainda mais na "primeira viagem"!!!
      Eu deveria era ter lido o manual bem antes!!! rsrsrsrs

      Super obrigado, Michele!!

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  4. Nós, mulheres, pensamos em tudo. Nos mínimos detalhes. 😊
    Ainda mais em um dia tão especial assim! Nascimento de um filho!!! Dia INESQUECÍVEL pra todas as mães!

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    1. Pois é... mas eu, aqui, com minha visão de ogro, achei que ter um filho era o seguinte: vai lá no hospital, o guri nasce, a gente tira meia dúzia de fotos, enrola o pirralho numas toalhas, coloca uma touquinha do Inter, dá tchau e vem-se embora!!!!
      Muito simples, tudo! rsrsrsrsrs

      juuuuuuuuuuuura.... !!!!

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  5. Linda crônica,eh assim mesmo se deixar até uma maquiagem antes do parto ainda rola só ficarmos linda nas fotos😜😊 Ahhh agora vai ter quer crônicar o daí endiate até após o parto!😆😆😘👏👏

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    1. Vou contar um pouco mais da história.... Essa crônica tem continuação!!
      O pior é que acho que realmente, em algumas fotos ela estava de batom... será que ela se maquiou e eu nem notei?

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    2. Pode ter usado um baton ou até uma maquiagem leve. Mulher sempre é vaidosa até nessa hora, choramos máqueada sabemos que pode borrar, choramos assim mesmo! 😊

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  6. Lagrimei de tanto rir... Eu não consigo imaginar uma mulher em vias de entrar na sala de parto preocupada com a beleza, somente a BELA Ana que sempre calma , formosa, linda e acima de tudo altamente competente em tudo pensaria e ainda somente ela estaria com tempo sobrando pra ir a um salão de beleza. Esse pai de primeira viagem não poderia estar começando na prática melhor do que com a Bela Ana.

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