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segunda-feira, 26 de agosto de 2019

bora cronicar - Minhas Queridas Hérnias de Disco

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Minhas Queridas Hérnias de Disco

Era estranho demais encontrar o Alberto no bar do Tatu! 
Crescemos todos juntos, mas o Alberto era o careta sarado da turma.
Quando eu o vi ali, olhando para o nada, estranhei muito. Mais ainda quando eu o vi com um copo de cerveja na sua frente. Ele não era disso. Não ele!
Eu me sentei discretamente e pedi: 
— O mesmo que ele!
Só então ele me notou. Puxei conversa:
— E aí? — Eu me limitei a um “e ai”. Teve um tempo que eu via algum amigo triste e chegava direto tentando animar. Como quando encontrei o Barba, que tava tomando umas com uma cara esquisita e perguntei:
— E essa cara de enterro, quem morreu?
— Meu padrasto!
É o tipo de coisa que derruba a gente. A gente larga um “tá com cara de enterro” e recebe um “fulano morreu”! A gente fica com cara de “ãããhhh”. E tenta:
— Poxa, desculpa, sinto muito.
— Eu também…
Dei-lhe um tapinha nas costas, ao quê, ele continuou!
— … demorou pra caramba, velho escroto! Bora comemorar comigo!
Não era "cara de enterro”… era ressaca, já!
Mas, enfim, depois dessa, por via das dúvidas, mando só um “e aí?”.
O Alberto era o tipo de modelo de boa saúde! O cara que acordava às 6h da manhã, no domingo, pra correr! Malhava, tomava só sucos naturais, dormia de 6 a 8 horas por noite, não fumava, não enchia a cara, estava sempre disposto pra ajudar todo mundo. Daí que o ter encontrado no bar, foi uma surpresa! Sentei ao lado dele, e gemi (acho que já é costume) por causa das hérnias de disco!
Ele me olhou, apontou para minhas costas, e falou:
— Procura um médico… eu acabei de receber os resultados de uns exames de rotina que eu tinha feito…
Estamos, todos, chegando perto dos 50 anos. Já não tem mais moleque na nossa turma. Mesmo para os que se cuidam, estamos naquela idade em que as dores e doenças começam a aparecer! Mas ele? O Alberto? Nem óculos ele usava!
Ele pegou o copo e tomou um gole demorado. O meu ainda não tinha vindo e não pude acompanha-lo. 
Arrisquei:
— Cara, essa parada de ir no médico acontece com a gente nessa idade. Outro dia eu fui no médico e ele me mandou fazer um milhão de exames. Já tive de fazer cirurgia no joelho, meu grau do óculos aumentou, tô com hérnia de disco. Duas!…
Ele ficou com o copo suspenso uns instantes, olhando para o copo. Depois falou:
— Meus exames estão bons. Perfeitos, até. Continuo com boa visão. Sem hérnias… Não tenho nada disso…
Como ele ainda estava com aquela cara de quem perdeu o boi com a corda, perguntei devagar:
— E… qual é o problema, então!
— Nenhum. Não tenho nada. Nadinhas.
Ai ai ai… 
Cadê meu copo? Cadê o maldito garçom, que agora eu não tô entendendo nada e preciso tomar uma! É o tipo de coisa que só se entende com um copo na mão. Se o Alberto havia ido no médico e os exames estavam bons, por que diabos ele estaria ali no bar do Tatu bebendo?
Fiquei com receio de perguntar, mas comecei a pensar em como tudo começou a acontecer… e lembrei de todos os livros que eu já havia lido, e todas aquelas histórias que ficaram em mim pra sempre. Pensei nas taxas alteradas de alguns exames e nas histórias que cada alteração faz-me lembrar… algumas noites viradas com amigos, entre risadas e um ou outro copo; churrascos com aquela capa de gordurinha, uma dor de cabeça ao amanhecer, mas lembrando de quanta risada havia sido exposta…
… e as hérnias de disco? Ah… convivo com elas há anos. E lembro das tantas vezes que meu pequeno João babava minha cabeça já ficando calva, rindo na minha cacunda, ainda sem saber pronunciar qualquer palavra, mas já sabendo que meus braços seriam pra sempre seu porto seguro! Depois, quantas vezes brincamos de “cavalinho”, quantas vezes eu o carreguei em uma mochila própria pra ele ir sentado em minhas costas…? 
Outro dia, no Instagram, eu vi o músico e cantor Rafael Malenotti - @rafaelmalenotti - (da banda Acústicos e Valvulados) no palco, com o filho na cacunda. Nunca falei com o Malenotti, mas acho que se nós nos encontrássemos em um bar, e pedíssemos uma cerveja, conversaríamos sobre nossas dores nas costas, nossas olheiras, e nossos exames com alguma alteração. Brindaríamos a isso! E agradeceríamos por cada uma dessas dores, que nos remetem a momentos que jamais trocaríamos por bons exames!
Quando o garçom finalmente trouxe meu copo, brindei com o Alberto e virei de uma vez… eeeeeeeca! Era Guaraná!
E o Alberto estava lá, para ajudar o Tatu a fixar uma prateleira em cima do freezer novo!

Luís Augusto Menna Barreto

26.6.2019

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

bora cronicar - O Pena de Galinha, a Aposta e o Melado... — Melado é a mãe!

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O Pena de Galinha, a Aposta e o Melado... — Melado é a mãe!

Por mais que o promotor quisesse, o caso era apenas um delito de menor potencial ofensivo: lesões recíprocas em uma briga. Mas, na falta de outros presos, como o Tonelada havia recolhido os dois elementos, o Delegado mandou o Brédi Piti (preso que faz o trabalho de escrivão) fazer o Termo Circunstanciado. 
Daí que foram parar no fórum!
Pregão do Goela:
— Pena de Galinha e Hugo! Passar pra audiência.
Quase não reparei que o Goela chamou um dos dois pelo nome, mas ele logo que me entregou o processo cochilou: “Melado, doutor”.
— Hein?
— O Hugo, doutor, é o “Melado”.
E eu, inocente, já acostumado que todos em Marajó City tem apelidos, comecei:
— E aí, o que houve entre vocês, porque tu agrediste o Pena, Melado?
— Melado é a mãe! Meu nome é Hugo!
Tensão no ar. Apenas o Goela que não conseguiu esconder uma risada. Por isso ele havia chamado pelo nome e soprou pra mim que o apelido era “Melado"!
O caso é que, por algum problema pessoal qualquer, Hugo nunca gostou do apelido, e a cada um que o chamava de Melado, ele dizia: “Melado é a mãe! Meu nome é Hugo”.
Mas não adianta, ninguém chamava de Hugo, era só Melado pra cá, Melado pra lá… e ele devolvendo “Melado é a mãe!”, e a vida seguiu. 
Até que a Pipoca, namorada do Melado (tá, tá, eu sei, “Melado é a mãe!”), resolveu por se deleitar com um sargento da marinha que estava em um navio de passagem por Marajó City, e a notícia espalhou-se. Pobre Melado… antes gostasse do apelido que tinha! Passaram a chama-lo de “O Corno”. Assim, com artigo definido (“o”) e tudo! “O Corno”! Mas daí, imagina: se ele já não gostava de “Melado”, pensa se gostou de “O Corno”?
Constantemente, envolvia-se em entreveros e vias de fato! Mas só os mais fortes arriscavam-se. Porem, o Pena de Galinha perdeu uma aposta para o Manobra no bilhar do Açougue do Retalho e, como não tinha dinheiro, recebeu como “prenda”, encarar o ex-Melado e chamar-lhe pelo novo apelido sem sair correndo. 
Aposta é aposta, tratou de pagar:
Quando avistou o dito, no outro lado da praça, colocou as duas mãos na frente da boca, naquele gesto universal de amplificação da voz e tascou:
— O Coooornooooooo!
E se veio o indignado, atravessando a praça feito touro de rodeio:
— Tu tá doido, Pena? Queres ficar sem os dentes, seu excomungado?
— Êh, que foi, tá doido, tu? — devolveu o Pena de Galinha, tentando ganhar tempo.
— Do que tu me chamaste, seu filho duma égua?
— Pára com isso, tá surdo? Eu disse foi “Huuuuu-goooooo"! 
E o Melado/Hugo/O Corno, hesitou por um momento… Mas foi então, que o Pena  de Galinha não se aguentou e arrematou:
— … tá com problema no ouvido, doido? Isso é chif…!
Pronto, antes de o Pena de Galinha terminar a frase, deu-se o “porradal”, como o pessoal fala por aqui, e foi preciso o Tonelada recolher os dois para o xilindró!
Estão pensando que foi por causa do que o Pena tentou falar ao final, que o Melado partiu pra cima? Não… o Melado até demorou um pouco pra raciocinar, mas o que fez sair no soco foi o “Huuuuuugoooooo”:
— Ninguém me chama pelo nome, doutor. Ele tava é tirando onda!”

Luís Augusto Menna Barreto

14.8.2019

terça-feira, 13 de agosto de 2019

bora cronicar - O Tesoura de Boneca, o Caminho de Rato e a Briga

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O Tesoura de Boneca, o Caminho de Rato e a Briga

Que todo mundo tem algum apelido em Marajó City, tu, caro leitor, já sabes, certo?! Pois é. Mas não sei se já contei, que às vezes, os apelidos por lá evoluem, involuem, ou mesmo se modificam.
Por exemplo, já contei há muito tempo, na crônica do "Fila-Bóia, o Cara de Cuspe e o Júri”*, que o Medida só virou medida depois de morto, antes era Sagüi. O primeiro apelido ganhou, porque subia em árvores com uma facilidade enorme. O segundo (Medida), ganhou só depois de morto! É que ele se matou errado! Não lembram? Eu conto rapidinho: como ele foi denunciado pelo Cava-Cova, resolveu matar-se: subiu numa árvore, amarrou uma corda num galho alto e a outra ponta no pescoço. Decidiu, o caboclo, pelo enforcamento. Mas errou na medida da corda e deixou muito comprida. Quando pulou, a corda não chegou a enforcar-lhe… mas morreu quebrando o pescoço na queda! Daí que, tendo errado a medida da corda, depois de morto, virou “Medida”.
Teve o caso do Tesoura e do Caminho.
Os dois eram cabeleireiros, cada um em um box, lado a lado. Sim, em Marajó City, há uma rua em que o Município fez uma espécie de feira no canteiro central e colocou vários “box" medindo 2mx2m, um ao lado do outro, e criou, assim, vários postos de trabalho. E deu-se que lá estão dois cabeleireiros. Nascidos Cebola e Picote (tá, o nome de batismo, mesmo, eu não sei, mas desde pirralhos eram Cebola e Picote) viraram Tesoura e Caminho. Quis o destino (ou o secretário de obras, que distribuiu os quiosques) que o box de um fosse ao lado do box do outro. Cada “salão" é composto de uma cadeira em frente a um espelho e uma pequena prateleira com utensílios ao fundo. Ao lado da cadeira, tem espaço suficiente para o cabeleireiro movimentar-se, desde que não engorde. Se há algum cliente esperando, a “sala de espera” são duas cadeiras de plástico com patrocínio de cervejas, que são colocadas na frente do box, ou esperam no açougue do Retalho, até que ouvem o grito do cabeleireiro dizendo: “quem tá na vez?”
O Caminho sempre foi melhor cabeleireiro que o Tesoura. Aliás, o apelido original (Picote) recebeu porque um dia ganhou uma tesoura escolar para fazer um trabalho e começou a picotar tudo o que via pela frente! Até que descobriu os cabelos da única boneca que sua irmã, a Barbiguel, tinha! Pronto: amor à primeira vista! A cada dia, a boneca começou a aparecer com cabelos mais curtos, mais curtos… até que a Barbiguel pegou o Picote tascando a tesoura nos cabelos da boneca e foi a maior confusão. Mas dali pra frente, o Picote não parou mais e aos 12 anos já cortava cabelo de todo mundo na vizinhança! Dali pra ter o próprio “salão" no box, foi um passo natural. 
Já o Cebola, que “atentava” muito os seus 6 irmãos, ganhou o apelido porque toda hora fazia um dos irmãos ir chorando pra mãe. De tanto fazer os irmãos chorarem, a própria mãe começou a chama-lo de Cebola! Pois o Cebola, sem tantos dotes, conseguiu também um box e decidiu por abrir um “salão”. Como não era muito versado na tesoura, arranjou uma máquina e, então, usava preferencialmente a máquina e raspava o cabelo de todo mundo. Um ou outro que não queria cabelo cortado à máquina, o Tesoura até tentava… mas no fim, o corte era estilo “caminho de rato”.
Por evidente que o “salão" do Caminho tinha muito mais movimento. Foi então, que o Tesoura teve uma idéia: começou a abrir o “salão" na madrugada, e esperava o pessoal que chegava no navio que vinha de Belém e passava em Marajó City na madrugada. Negociou com o Boleto do box que imprime boletos e outras contas ao custo de R$ 1,00, para fazer uma folha com vários retângulos escritos “Salão do Cebola - corte a 2 real - 2 cortes por 5 real” e passou a distribuir no trapiche, na chegada do navio. A sorte é que ele mesmo ia distribuir e fazia a propaganda boca a boca, porque quase ninguém sabia ler. Mas começou a ganhar clientes, e, pior, a “roubar" clientes do Caminho. 
Quando o Caminho soube, deu-se a confusão. E a briga teve hora marcada, porque o Caminho tinha de terminar de atender os clientes e não poderia brigar a qualquer hora. Cada um armou-se a seu modo, o Caminho com uma tesoura e o Tesoura com a máquina de cortar cabelo, ia girando o fio, pronto pra desferir golpes de rabicho de tomada! 
E foi nessa briga que ganharam os apelidos, porque o Caminho começou os desaforos acusando o Tesoura de não saber cortar cabelo, "que qualquer um corta de máquina e que raspa o cabelo de todo mundo, porque só sabe fazer “caminho de rato”! 
O Tesoura devolveu o desaforo, dizendo que era “mais avançado que o Caminho e que faz três cortes no tempo que o Caminho leva pra cortar um cabelo com a tesoura de boneca’'”.
E foi um tal de “caminho de rato” pra cá e “tesoura de boneca” pra lá, que os apelidos pegaram… mas ao contrário. Cada acusador foi “premiado" pelo próprio xingamento. Daí que o Picote passou a ser o “Caminho de Rato” e o Cebola passou a ser o “Tesoura de Boneca”. Como os apelidos são compostos, com o tempo, foram sendo reduzidos e o Picote virou apenas “Caminho" e o Cebola virou apenas “Tesoura”.
Ainda se estranham às vezes… mas dizem até, que hoje em dia um corta o cabelo do outro.

Luís Augusto Menna Barreto


segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Reflexo - capítulo 4 - Teresa

Reflexo - capítulo 4 - Teresa

— Você está bem?
— Tudo bem. Minha orelha está doendo um pouco, mas está tudo bem! Tive uma excelente enfermeira!
A ferida do Val estava feia. Acho que deveria ter levado pontos. Eu quis levar o Val até a farmácia, ou no posto de saúde, mas ele não quis. Então, fomos até minha casa, e eu tentei limpar o ferimento e coloquei um curativo. 
Se a louca realmente mudou para aquela casa, vai ser minha vizinha! Deus me livre! Tomara que não fique muito tempo!
— Que mulher doida, Val.
— Acho que ela alugou a casa. Eu nem vi nada, mas acho que ela saiu lá de dentro, só pode!
— Então acho melhor eu me mudar! Vai que a louca descobre que é minha vizinha e resolve atacar de novo?
Eu lembro que também não vi de onde ela saiu. Parecia fora de si, quando atacou o Val com o balde. E foi por puro instinto que segurei no braço dela. Ela iria bater nele novamente. Quando ela recuou, eu corri pro Val, sentado no chão, com a cabeça sangrando. Quando vi o corte atrás da orelha, pegando um pouco dos cabelos do Val, eu fiquei assustada. Daí que quando eu me virei, a louca já não estava mais lá, nem a criança. Aliás, pensando bem, estranho demais a atitude da mulher… acho que tem algo errado. Vou ficar esperta. Tão lindinha a garotinha, com aqueles olhos verdinhos e o cabelo todo cacheado… nem se parecia com a louca! Será que é dela? Será que não é por isso que ela ficou tão nervosa? Meu Deus!, será que ela sequestrou essa criança? 
Acho que vou ficar esperta pra ver se descubro alguma coisa.
Vou ver se o Val me ajuda. Aliás, acho que no fim, o Val gostou do que aconteceu. Porque ele acabou indo lá em casa, e foi a primeira vez que ele passou do portão. Eu ainda… ainda não consigo. Mesmo com o Val é muito difícil. Ele sabe que não pode tocar em mim. E mesmo assim, ele não desiste. Nunca passa do ponto, nunca avança o sinal. Ele me respeita… e eu nem sei até quando ele vai aguentar esperar. Eu queria, juro que queria, saber gostar dele como ele merece. Mas eu simplesmente não consigo. Às vezes, eu queria que o Val encontrasse alguém que gostasse dele. Mas às vezes acho também que eu ficaria com ciúmes. Não sei. Talvez eu seja uma pessoa muito egoísta. Quero ele pra mim, sem ele poder ter a mim. 
Eu senti que ele tremeu quando eu comecei a limpar a ferida. Eu notei que a respiração dele ficou diferente, enquanto eu encostava de leve, o pano molhado pra limpar o sangue. Ele fechava os olhos, quando eu o tocava. A gente percebe quando alguém entra naquele estado em que quer que o tempo pare. Ele estava assim dava pra ver. Mas eu fiz que nem percebia. Apenas fiz o curativo e me despedi quase mandando ele embora. 
— Você pode trocar meu curativo, hoje?
— Teresa!
— Hã? … o que você disse? Desculpa, eu acho que tava no mundo da lua.
— Acorda. Leva na mesa 3. Mas se controle. São dois rapazes. E é claro que eles vão olhar pra você! 
O Val disse isso sorrindo… mas quase com ciúmes junto.
Bem, deixa eu me concentrar… não posso jogar a bandeja nesses rapazes e perder esse emprego!
— Dois chopes e batatas fritas?
Eles não disseram nada. Ficaram olhando pra mim e trocando olhares. Eu sabia que ia ter alguma coisa errada. Assim que eu coloquei os dois copos de chope na mesa, um deles espichou o dedo e tentou encostar em mim, como que me cutucar. Eu dei um pulo. Foi por muito pouco que não fiz igual à louca do balde e bati neles com a bandeja. 
— Eu disse, eu disse: é a garçonete doida! — O rapaz quase ruivo disse rindo e apontando pra mim! O era uma mistura de susto e riso. Eu fiquei estática uns segundos, pronta pra atacar. E, de repente, o Val apareceu do meu lado:
— Tá tudo bem nessa mesa? — Ele perguntou empunhando uma faca, discretamente, mas de modo a que os rapazes entenderam o recado.
— Claro, cara! De boa… 
Fomos saindo devagar. No fundo, eram apenas dois garotos. Não deviam ter nem 20 anos. Quando eu estava alguns passos distante, ouvi:
— Ei, moça…
Apenas me virei.
— Faz uma selfie com a gente?

Luís Augusto Menna Barreto

12.8.2019

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

bora cronicar - O Goela o Açougue e a Gata Féxion

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O Goela, o Açougue e a Gata Féxion

O problema todo se deu porque em Marajó City, poucos lugares aceitam cartão, já que pouca gente usa cartão. 
Quer dizer: cartão tipo bolsa família, muuuuita gente usa. Aliás, existe até uma prática francamente irregular por lá: muitos comerciantes vendem fiado, “segurando" o cartão do bolsa família da pessoa. Daí, na época de receber o auxílio do bolsa família, a pessoa beneficiada vai lá no comerciante, e um empregado do comerciante vai com o dono do cartão sacar. Então, antes de mais nada, separa a parte que deve no comércio e devolve o cartão com o troco para a pessoa. Se ela quiser fiado de novo, tem que deixar de novo o cartão. E assim a vida segue!
Na época de eleição municipal, mais do que o cartão, vale o título de eleitor. O candidato a prefeito ou vereador faz uma “parceria" com determinado comerciante, que fica segurando títulos de eleitor e vende uma cota fiado. Daí, no dia da eleição, o eleitor vai lá pegar o título e alguém vai junto “fiscalizar" o voto. Tá, tudo bem, não tem como entrar na urna junto com o eleitor, mas ao menos garante que ele entrou ali pra votar. E como infelizmente o índice de analfabetismo é muito grande, o fato de ir com o eleitor até a seção e dar o "santinho" com a “cola”, já é um enorme passo.
Mas, enfim, cartão de crédito e débito, não é muito comum por lá. 
Até que um dia, o Goela arrumou um cartão! Ele havia feito uma conta no banco postal e, em seguida apareceu na casa dele um cartão de crédito com um limite pré-aprovado de trezentos reais. O Goela ficou todo “grandão”, e começou a fazer um “bafo”! Em todo o lugar que ia, perguntava se aceitava cartão, mesmo sabendo que não aceitava! Mas ele tirava o cartão do bolso e balançava pra todo mundo ver!
Ia comprar uma empada na barraca ao lado do Fórum e perguntava:
— Passa cartão aí, Farinha?
— Tá doido, Goela?
— Então pendura, que só tô com cartão!
E assim o Goela ia. Outro dia, encontrou os amigos tomando uma no trapiche e fez “o grau”:
— A próxima grade é minha. No cartão, Maresia!
— Nem vem, Goela, que cartão aqui, nem de aniversário!
— Então minha rodada fica pra próxima!
Até que um dia, com o Goela ainda arrotando esbanjamento, estava na porta do Fórum conversando com o Manobra e com o Alerta, companheiro da Maria Sem Sossego, enquanto ela gritava "justiiiiiiiiiiiiiça" na frente do Fórum, com um cartaz escrito "Ruela deve pra Nonata”, resolveram de combinar um churrasco. O Goela, como tinha virado costume, de cara já saiu falando:
— A carne é por minha conta! Mas meu dinheiro tá todo no cartão. Se passar cartão, eu compro a picanha!
O Alerta e o Manobra aceitaram e ficaram com uma cara meio que escondendo sorriso. O Goela ficou “cabreiro”, mas já tinha feito o bafo. Depois do expediente, e depois que o sol baixou, foi-se o Goela pro açougue do Retalho, onde já estavam jogando uma sinuca o Manobra com o Alerta! 
— Fala Retalho! Vê aí uma picanha no jeito, que o churrasco vai ser por minha conta…
O Retalho começou a amolar a faca!
— … mas é no cartão, Retalho!
— Na hora, Goela! 
O Goela levou um susto! Como assim? Será que o retalho tinha entendido?
— Não é bolsa família, Retalho! É no crédito! — e puxou o cartão balançando no alto!
— Só se for agora!
O Goela suspirou! 
— Ta aceitando cartão agora, Retalho?
— Olha a placa! — E apontou para um quadrado de ferro, escrito: “açeito cartão”. Um ou outro que sabia ler, até falou pro Retalho que a placa tava errada, mas ele jurava que não era “cedilha”, e sim, a tinta do “C" que escorreu!
O fato é que o Goela teve de bancar a picanha! Na hora de pagar, o Retalho gritou pro ajudante no açougue:
— Pega a maquininha, Canivete!
O Canivete largou o avental e saiu correndo.
— Peraí, Goela, que o Canivete vai bem ali* pegar a maquininha.
Menos de 2 minutos, o Canivete voltou e o Goela passou o cartão! Pronto. Estreou.
Como em Marajó City tudo se fica sabendo, a Afrodite, esposa do Goela soube que ele pagou a carne pra fazer churrasco pros amigos e determinou que o Goela passaria a comprar a carne do mês! Onde já se viu, afinal, ficar pagando picanha pros amigos e faltar carne em casa? 
E assim foi! Dali em diante, o Goela parou de fazer bafo com o cartão, e começou a comprar a carne no açougue do Retalho!
Tudo certo? Era isso? Não… nunca é só isso! Deu uns 40 dias, e vem a notícia que o Goela e a Afrodite estavam na delegacia. Não que alguém tenha sido preso, mas é que o Goela correu pra delegacia pra se proteger da Afrodite que tava com uma faca pra furar o infeliz. E tudo por causa do tal cartão!
O primeiro extrato do cartão chegou com várias compras na loja “Gata Féxion”, do Ceará, que traz roupas de mulher de Fortaleza pra vender em Marajó City. Foi daí a confusão. 
— Abre essa cela, Fechadura, que isso é briga de casal! Esse excomungado não me compra nem uma meia e aparece um monte de compra de roupa de mulher! Abre isso, Fechadura!
O Fechadura, carcereiro, parceiro de futebol do Goela, deixou ele se trancar numa cela, porque conhece a Afrodite…
O caso não chegou no Fórum. Do jeito que o Goela tava jurando que nunca passou o cartão em outro lugar a não ser no açougue do Retalho, o Tonelada (policial militar) foi buscar o Canivete que esclareceu a situação:
O Retalho não tinha maquininha. Mas pra não perder venda, emprestava a máquina do Ceará em troca de umas fichas da mesa de sinuca do açougue.
… 
O Goela escapou de ser furado. Mas pelo sim e pelo não, comprou duas blusas pra Afrodite na Gata Féxion!

Luís Augusto Menna Barreto
9.8.2019

  • Quanto à expressão “bem ali”, muito usada no Marajó, é preciso ler a crônica “Bem Ali, Seu Espirro e os Exames”, publicada em 23 de maio de 2018 no blogue “menna em palavras”




quinta-feira, 8 de agosto de 2019

bora cronicar - A Culpa é do Estagiário

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A Culpa é do Estagiário

Tempos atrás, circulou nas redes sociais, especialmente no whatsapp, uma petição de um advogado que teria sido protocolada com a seguinte observação (eu não lembro exatamente, porque quando deletei o meu whatsapp, eu deletei toda a mídia que havia nele junto, mas vou tentar reproduzir no mínimo o sentido da coisa):
“Juridiquês, juridiquês, juridiquês, mais juridiquês… cuidado com esse juiz que ele é louco… juridiquês, juridiquês, juridiquês, muito mais juridiquês e, pra terminar, uma última pitada de juridiquês”.
Pois é, no meio da peça processual assinada por um profissional que precisa enfrentar no mínimo cinco anos na faculdade, depois realizar uma prova realmente difícil para, então sim, poder exercer sua profissão, estava lá: “…cuidado com esse juiz que ele é louco…”.
E daí? Como explicar isso no meio de uma peça processual, em que o advogado tem, justamente, de convencer o juiz, com sólidos argumentos, de que, pelos fatos narrados, o direito entrega razão ao seu cliente? Se normalmente já é tenso tentar convencer os juízes das razões de seus clientes, imaginem com uma peça processual em que tenha “vazado" essa frase? 
Pelo que se soube, dos desdobramentos do caso, além de isso haver sido divulgado nas redes sociais, causou um evidente constrangimento entre juiz e advogado. Soube-se, também, que o advogado teria procurado da maneira mais elegante e coerente do mundo justificar e desculpar-se pelo ocorrido:
— A culpa é do estagiário! 
Pois é! Elegante, né?! O fato é que isso é comum! Não, não é comum esse tipo de comentário vir incluído em petições dirigidas ao Poder Judiciário - muito embora, às vezes, as palavras elegantes das petições difiram das palavras que lemos nos olhos de alguns advogados que realmente gostariam de poder dizer: "esse juiz é doido”! Enfim, casos deste tipo não são de fato comuns. O que é comum, é a culpa recair no estagiário!
Teria dito, em justificativa, o advogado em questão:
— Esses estagiários, doutor, sem experiência, vivem fazendo gracinhas, e, às vezes, colocam gracejos nos comentários, os quais, é claro, são sempre deletados! Jamais havia acontecido algo parecido em nosso escritório que, inclusive, é terminantemente contrário a este tipo de atitude. O Estagiário já foi desligado e fizemos uma severa recomendação à universidade acerca do comportamento inadequado deste estudante!
Aqui mesmo, onde trabalho, cada vez que demoramos a encontrar algum processo, repetimos em quase um uníssono: a culpa é do estagiário! 
Mas, cá entre nós, tem uns estagiários muito espirituosos. 
Certa feita, eu retornei de férias e havia gente nova na secretaria. Um garoto com olhos realmente espertos, que se mostrava muito solícito. Vendo o rapaz a quem eu ainda não havia sido apresentado, pedi que o chamassem ao gabinete para que eu o entrevistasse como gosto de fazer com todos os que chegam à equipe.
— Bom dia. Vi que tu és novo aqui, entraste durante minhas férias. Gostaria que tu te apresentasses!
— Ah, desculpa, doutor! Eu sou o culpado!
— Hein?
Pois é! O guri apresentava-se assim. Com duas semanas de estágio, ele já havia entendido que tudo seria motivo de brincadeira e ele seria considerado culpado até prova em contrário, desde que a prova da culpa não apontasse à chefia imediata… ou a mim, é claro! Nesse caso, desimporta a prova, e fica-se com a irrefutável presunção de que a culpa é do estagiário.
Aliás, quero deixar claro uma coisa: eu chamo o teclado do meu computador de estagiário! Então, quando tu, caríssimo leitor, encontrares algum equívoco ortográfico ou gramatical, saibas: a culpa é do estagiário, o meu teclado!
Ah, sim, mas eu esqueci de falar que aquela história da petição do advogado que continha a frase “cuidado com esse juiz que ele é louco”, jamais poderia ter sido colocada nas redes sociais e divulgada. Embora o processo seja, em tese, público, isso, evidentemente, causa desproporcional exposição dos envolvidos e em nada contribui para a comunidade jurídica, nem para a harmonia das relações advogado/juiz.
Como foi parar nas redes sociais? 
Pois é: um estagiário que colocou!

Luís Augusto Menna Barreto

8.8.2019




****** Tu já conheces o Pilha? E o Kadu? Tu conheces?

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E Ella? Tu conheces??? 

O CONTO DE ELLA não é um conto de fadas... e tu só deves ler, se tiveres coragem! O ritmo, tenho certeza que é diferente do que tu estas acostumado(a) a ler. Se tens coragem, especialmente a coragem de fazer-se preso(a) a um amor, leia-o... Se não tiveres, o conto não é para ti.

O amor pode ser uma prisão. Mas só o livres tem a coragem de se deixar aprisionar!

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terça-feira, 6 de agosto de 2019

bora cronicar - Jogos Noturnos

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Jogos Noturnos

Às vezes, como com qualquer pessoa, acontece de eu chegar em casa chateado. Sem sorrir muito. Como há anos estamos juntos, parece que ela já me conhece. Nem tenta nada na hora. Permanece lá, distante. Fria. 
Então, aos poucos, o peso do trabalho, do dia, parece que vai saindo de mim, e, de alguma forma, ela parece mais receptiva. Um banho ajuda em muito e, então, até mesmo meu olhar já se transforma mais terno. Ela parece menos na defensiva. 
Em dias assim, uma taça de vinho ajuda muito! Mas, mesmo com o banho, o passar dos minutos, o vinho, ainda sinto que não vou saber-me fazer bem recebido. Ainda não me sinto à vontade, como deveria estar. Ela permanece impassível.
Assim, decido que vou tentar escrever alguma coisa, essa crônica, por exemplo! Então, como se fosse implicância, com o passar dos minutos, com o agradável barulho de digitar, ela, sem qualquer som, começa a mostrar-se mais convidativa. Eu continuo no texto, firme, resistindo à tentação de olha-la. Mas sei que quanto mais vai passando o tempo quanto maior minha concentração no texto, mais ela parece chamar-me… sem qualquer palavra. É um jogo de resistência. Por vezes, disfarço, especialmente quando vou tomar mais um gole do vinho, e olho com o canto do olho. Vejo-a de relance. Não há qualquer reação, mas eu tenho certeza que ela me viu. 
Vou digitando mais forte, deixando transparecer alguma ansiedade, e tento concentrar-me o mais possível para resistir, para aproveitar a idéia, para não abandonar o texto… Mas mesmo sem qualquer som, eu posso ouvir, dentro de mim, o seu chamado. Imagino a noite lá fora, sei dos minutos avançando cada vez mais rápidos e uma ansiedade vai crescendo dentro de mim. 
Até que quando não resisto mais, eu disfarço, espreguiço os braços para o alto, disfarço, tomo o último gole do vinho tentando não demonstrar a ansiedade. Levanto-me, e quanto passo por ela, espio com o canto do olho seu volume, suas formas… mesmo impassível, sei que ela está convidando, esperando por mim. Sei que ela esperaria o tempo que fosse preciso.
Então, quando volto do banheiro, finalmente deito-me… 
Para minha decepção, há noites que é assim, exatamente assim: mesmo depois do vinho, mesmo depois de toda a ansiedade, dos evidentes convites, do jogo de resistência, quando deito, ela parece permanecer fria. Então, é minha vez de tentar… tento todos os truques que conheço, uma música suave, movimentos leves… e nada. As horas parecem, agora, começar a correr… penitencio-me de não me haver entregue ao primeiro convite, mas, agora, parece como que de propósito, não sou acolhido. 
Jogo toda a culpa nela em meus pensamentos, e, confesso, chego a pensar se eu não seria mais feliz com outra… penso mesmo, em trocar. Então, logo me arrependo desses pensamentos, lembrando de quanto tempo já estamos juntos, e que, apesar de tudo, ela já conhece minhas manias, já adequou sua forma à minha.
Sinto os minutos, as horas escorrerem… então, já começa a parte da noite que chamamos madrugada!
Passam-se mais minutos, horas talvez… e acontece: às vésperas do despertar, nos últimos minutos, finalmente, recebo o que esperei a noite toda: vem-me o sono! Minha CAMA, finalmente acolhe-me! 
Acontece assim com vocês, também, essa relação inversa? A mim, parece que quanto mais chega a hora de levantar, mais a cama me convida, e parece que reserva-me o melhor do sono, justamente para quando não há mais tempo de dormir!

Luís Augusto Menna Barreto
7.8.2019




bora cronicar - Quarto Micro Conto de Amor

bora cronicar

Quarto Micro Conto de Amor

Um dia, em que ele demorou um pouco conversando na saída do trabalho na lanchonete e pegou o ônibus mais tarde, ele a viu. Ela sentou ao lado dele. Ele ficou nervoso e não conseguiu mais tirar os olhos dela e, a cada parada, torcia para que ela não descesse. Ele queria poder olhar o máximo que fosse possível para ela.
A parada dele era a penúltima da linha. E por mais de 40 minutos circulando pela periferia da cidade, o ônibus parou inúmeras vezes e ela não desceu. Até que chegou na dele. Então ele deu o sinal. Pediu licença. Ela sorriu e levantou-se. E ela também desceu.
Olharam-se sem falar e então ele pegou o caminho para sua casa e ela seguiu caminhando na mesma direção do ônibus.
Nos dias seguintes, quase todos os dias, passaram a encontrar-se no ônibus, porque ele passou a demorar para ir embora, justamente para tentar vê-la no ônibus. 
Até que um dia, ele tomou coragem e falou com ela. Disse-lhe que gostava de encontra-la no ônibus.
E então, ele confessou que antes, pegava o ônibus mais cedo, mas desde que a viu, passou a demorar no trabalho, para tentar vê-la.
Foi então, que ela disse que morava no final da linha, mas passou a descer uma parada antes, apenas para vê-lo mais um pouco.
— Isso massageia meu coração — ele lhe disse.
— Mas é a pura verdade — ela lhe respondeu.
— Eu acredito que seja verdade. E as verdades boas, são as melhores massagens no coração.
Foram anos pegando o mesmo ônibus. Descendo em paradas diferentes.
Até que chegou um dia, em que passaram a descer para sempre na mesma parada!

Luís Augusto Menna Barreto
6.8.2019




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E Ella? Tu conheces??? O CONTO DE ELLA não é um conto de fadas... e tu só deves ler, se tiveres coragem! O ritmo, tenho certeza que é diferente do que tu estas acostumado(a) a ler. Se tens coragem, especialmente a coragem de fazer-se preso(a) a um amor, leia-o... Se não tiveres, o conto não é para ti.
O amor pode ser uma prisão. Mas só o livres tem a coragem de se deixar aprisionar!


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