bora cronicar - Os (envia) Diálogos (envia) Modernos (envia)

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Os (envia) Diálogos (envia) Modernos (envia)

(*Ela, sem itálico. Ele, em itálico.)

07:52: Oi (envia)

07:52: Já chegaste? (envia)

07:52: Não esqueces de passar no super (envia)

07:52: Compra a cartolina porque ele vai precisar na aula de artes. (envia)

07:53: Preta. (envia)

07:53: Ou azul escuro. (envia)

…

07:56: Acabei de estacionar. Agora que vou subir para o trabalho. A BR estava com muito movimento. Pode deixar que vou comprar a cartolina na volta pra casa. (envia)

07:56: Ok. (envia)

07:56: Bom trabalho. (envia)

07:56: Até depois. (envia)

07:56: Bjs - emoji de coração - (envia)

… 

08:02: Ok, beijos. - emoji de coração - (envia)

…

— Com vocês também acontece assim? — eu perguntei quando cheguei na secretaria.

Claro que ninguém entendeu a pergunta. Então expliquei e já aproveitei pra dizer que se algum deles quisesse falar comigo por mensagem de texto (eu deletei meu WhatsApp, lembram? Foi a primeira crônica do projeto “bora cronicar”) eu pedia a gentileza de que escrevessem tudo o que pretenderiam falar e só depois, apertar o “enviar”. 

Às vezes acontece de eu estar dirigindo, ou em uma audiência, e começa aquele tremor discreto do celular, acusando que recebemos uma mensagem. Não sei como é contigo, caro leitor, mas, comigo, quando eu recebo uma notificação de mensagem, eu simplesmente quero, sim, ler a mensagem. Fico curioso, ou ansioso, sei lá. Mas quero ler. Daí, que se estou dirigindo ou em audiência e sinto vibrar discretamente o celular anunciando que chegou uma mensagem, começa a gerar alguma ansiedade, mas francamente controlável. O problema é que dificilmente o celular anuncia apenas uma mensagem. (Quem dera!). Quando sinto aquela vibração discreta, já fico num estado automático esperando as próximas… porque sei que vai vibrar mais! Porque ela simplesmente não consegue escrever tudo o que quer dizer-me e só depois apertar envia. Olhas como seria legal o mesmo texto que iniciou essa crônica: 

07:52: Oi, já chegaste? Não esqueces de passar no super e comprar uma cartolina  preta ou azul escura porque ele vai precisar na aula de artes. (envia).

Em vez disso, foram seis mensagens! SEIS! Todas elas vibrando no intervalo de um minuto! Eu quase tranquei o estacionamento do fórum, parando o carro no meio da passagem pra pegar o histérico celular e ver o que era, porque pelo número de notificações, parecia que havia uma catástrofe e eu deveria voltar correndo, estocar comida e esperar o caos chegar!

Daí que, quando cheguei na secretaria da 3ª Vara Cível, perguntei pro pessoal:

— Com vocês também acontece assim?

Depois de eu explicar e entenderem o que eu queria de fato perguntar, o Marco concordou:

— Exatamente assim, doutor. E olha que se passar mais de dois minutos sem responder, dá problema. — e mostrou-nos um diálogo:

11:52: Oi (envia)

11:52: vc tá ocupado? (envia)

11:52: já falou da licença? (envia)

11:53: pq temos que decidir a viagem (envia)

11:53: avisa quando tiver resposta (envia)

…

11:55: cadê vc? (envia)

11:55: pq n responde? (envia)

…

11:57: amor, tô no trabalho, vou falar com o doutor depois das audiências. (envia)

As meninas que trabalham na secretaria, óbvio, de forma francamente corporativa, tentaram defender-se, dizendo que a gente (homens) que é devagar demais. E que “todo mundo” faz isso de escrever um pouco e ir enviando.

— Pra quê? - perguntei!

— Porque vocês (homens) são devagar demais, e então a gente manda aos poucos pra vocês irem lendo e poder responder mais rápido quando a gente terminar a mensagem. — Disse a Fernanda, que é a “Síndica" da 3ª Vara Cível.

(Aqui, se fosse uma uma conversa por mensagem de texto eu colocaria o emoji daquela carinha com a mão no queixo como quem diz desconfiado, pensando no assunto: “hummmmm”…).

Acontece, que essa explicação não serve muito. Porque elas, as mulheres, exigem resposta! Ah!, caro leitor, tu deves estar pensando: “é claro que exigem resposta! Quando enviamos mensagens, queremos respostas, oras!”

Mas não, talvez tu não tenhas entendido. Vou esclarecer com este diálogo arquivado em meu celular:

12:55: Oi (envia)

12:55: Tudo bem? (envia)

12:55: Tá em audiência ou pode falar? (envia)

12:56: Passa no super e traz creme de leite? (envia)

12:56: Mococa. (envia)

12:56: 4 cxs pequenas. (envia)

…

13:16: Ufa, intervalo entre audiências. Podes deixar que eu passo no super e levo. Vou entrar em audiência de novo. Beijos. (envia)

13:16: Por que tu não respondes as minhas mensagens? - emoji com carinha braba - (envia)

13:17: Mas acabei de responder! - emoji de olhos arregalados - (envia)

13:17: As primeiras não! (envia)

13:17: Tchau. (envia)

Entenderam? Eu não havia respondido ao “oi" e ao “tudo bem”! A única chance de não ter de enfrentar uma confusão, é responder “envio por envio”! 

Daí que outro dia, tentei algo diferente. Estava no meio da tarde, quando começaram as vibrações no celular:

16:11: Oi (envia)

16:11: tá ocupado? (envia)

16:11: hoje tem jantar na casa do Carlos Márcio. (envia)

16:11: tem como tu chegares mais cedo? (envia).

Eu não consegui responder naquele exato instante, e, como percebi que havia passado uns três minutos de quando recebi as mensagens, resolvi não me complicar. Tive uma idéia brilhante: liguei!

“Oi. Bah, eu tava tri embalado numa sentença, por isso não respondi na hora. Pode deixar que vou rapidinho arrumar as coisas por aqui, e já saio, ok?!”

“Tá bom, não demora. Beijos”

Viste só, caro leitor! Foi fácil, simples, ágil! Resolvi o problema com menos tempo e em poucos segundos… 

… qual! Ledo engano:

16:20: Oi. (envia)

16:20: Por quê tu não respondes as minhas mensagens? (envia)

…

16:24: Mas eu te liguei assim que vi tuas mensagens! (envia)

16:24: Mas não respondeste. (envia)

16:24: Tchau. (envia)

16:24: E não demora. (envia)

Ou seja: o lance é responder às mensagens. Todas!

Foi então que reuni toda a coragem que dispunha, cheguei em casa e toquei nesse delicadíssimo assunto com ela! Falei que ela poderia tentar escrever tudo o que estiver precisando dizer em um único texto e só depois enviar…

Ela escutou (eu acho). Não disse nem uma palavra. Resolvi dar o assunto por encerrado e saí com aquele jeito de quem se fez entender! 

Daí, no dia seguinte, cheguei no trabalho e por volta de 9h, o celular vibrou. Mensagem. Esperei. Esperei. Esperei… Seria possível? Só vibrou uma vez? Discretamente, coloquei a mão no bolso e vi a notificação: “1 nova mensagem”. 1. UMA!

Tive uma espécie de ansiedade ao contrário! Antes, ficava ansioso com a metralhadora de vibrações, com várias mensagens que poderiam ter sido uma só. Agora a ansiedade é que eu nem estava acreditando que aquela minha conversa teve resultado! Teria ela realmente conseguido conter-se e enviou todo o texto em uma única mensagem? Ah!, eu precisava ver isso. 

Aproveitei o momento em que uma testemunha saía da sala e outra seria chamada, para puxar o telefone discretamente do bolso e ler a mensagem. Seria um momento marcante pra mim: ela havia enviado uma só mensagem!?

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…

Pois é. Meia hora depois, meu celular vibrou 6 vezes seguidas. Eu deveria passar na farmácia e comprar Maresis.

Luís Augusto Menna Barreto

1.8.2019

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