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segunda-feira, 18 de maio de 2020

Máscaras em Tempos de Corona - Uma Reflexão


A verdade é que hoje em dia, ninguém mais sabe direito como começou, ou mesmo quando começou… talvez, tempos imemoriais.

Tanto quanto as roupas, sequer sabemos quem foi o primeiro a usar máscaras. As razões estão, certamente, em um passado que não compreendemos, não vivemos, e, depois, de geração em geração, fomos repetindo. Aceitamos, simplesmente, usa-las. Hoje, sequer as questionamos.

Desde o nascimento, vemos nossos pais com máscaras. Máscaras são postas em nós e, sem nem notarmos, isso faz parte de nossas vidas. As primeiras nos são impostas e, como toda a criança, tendemos a tira-las; é a vigilância dos adultos que nos faz acostumar com elas. Desde pequenos, aprendemos que é uma questão de sobrevivência, que para convivermos socialmente, a máscara é indispensável! Não podemos sair de casa sem máscara… às vezes, em casos mais graves, mesmo em casa nós temos de usa-las… Ainda que hoje, depois de tanto tempo, sequer saibamos as razões…

Quando somos pequenos, usamos as que colocam em nós e nem mesmo questionamos. Depois, à medida que vamos crescendo, e, sobretudo na adolescência, nossa rebeldia quer fazer com que as troquemos, estilizemos com nossos gostos e peculiaridades, e exigimos escolher nossas próprias máscaras. De uma hora pra outra, temos uma coleção delas e há dias que usamos mais de uma, que as trocamos, conforme o lugar que vamos ou conforme a ocasião nos exija…

Nós as usamos tanto, que sequer reconhecemos alguém ou sequer somos reconhecidos quando as tiramos. 

Não, não sabemos quando começou… e agora, com esta pandemia, além de todas as máscaras que usamos por dentro, somos forçados a usar máscara também por fora… 


Luís Augusto Menna Barreto

17.5.2020


Mais uma vez, obrigado! Os expressivos olhos da foto, são da minha amiguinha-modelo Juju (Júlia Freitas Basso - Instagram @juliafreitasbasso) pelo uso da imagem! Tu sempre abrilhantas as postagens!


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quarta-feira, 13 de maio de 2020

Bora cronicar - Coisas do Mundo Pós Corona - 5


— Então, amiga? Foste mesmo?

— Ai, amiga, fui! O Valdinho insistiu muito! 

— Eu não sei se eu conseguiria… expor-se assim, sei lá…

— Ah, amiga, eu confesso que no começo, fiquei meio sem jeito. Mas depois, conforme o tempo foi passando, comecei a me sentir melhor! Vi todo mundo sem, tirei também!

— Tu és louca! Eu acho que não conseguiria ir numa praia de nudismo!

— Eu pensava o mesmo, amiga… mas depois que tirei, confesso que a sensação é maravilhosa!

— Não consigo nem imaginar!

— É uma sensação de liberdade, que tu nem imaginas! O Valdinho disse que quase nem reconheceu minha voz, falando assim, sem máscara, tomando vendo na boca…!


Luís Augusto Menna Barreto

13.5.2020


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terça-feira, 12 de maio de 2020

Bora cronicar - Coisas do Mundo Pós Corona - 4


— Cadê o Pedrinho? Alberto, cadê o Pedrinho? Não estou vendo ele!

— Calma Alzira! Ele estava aqui agorinha! 

— Pedrinhoooooo… ai meu Deus! Fala com a mamãe! Vanderléia, minha filha, cadê o Pedrinho?

— Ah!, mãe, esse moleque toda hora desaparece! Espera que ele volta sozinho!

— Mas nós vamos entrar agora! Pedrinhoooo, onde tu estás?

— Oi, mãe! Tô aqui! É que eu não queria ver museu! Queria ir logo no topo do One World Trade Center! Vamos, vamos!

— Para, Pedrinho! Custei a conseguir reunir a família! Finalmente consegui o programa do Museu! É aquele do filme “Uma Noite no Museu”. Tu vais gostar, filho! Alzira, todo mundo aqui? Vamos?

— Vou fazer a chamada: Alberto?

— Tô aqui, Alzira, tu estás olhando pra mim!

— Vanderléia?

— Ai, mãe, aqui. Vamos logo com isso, por favor?

— Zenaide?

— Aqui, mãe. Precisamos mesmo visitar esse museu?

— Vamos! Não abro mão de fazer tudo o que tínhamos planejado! Pedrinho?

— Pedrinho? Ah!, vou matar esse moleque! Sumiu novamente?

— O Pedrinho tá com a Rute, mãe, não se estressa! E a senhora sabe que ele nem quer saber de Museu. Aliás, eu também não quero… 

— Parem de reclamar todos vocês! Nós vamos todos em família e pronto!  Pagamos por três anos essa viagem, e agora eu faço questão de conhecer tudo o que pla… … mos! …nã… …gué…………………

— Mãe? Mãe? Pai, o que houve? Cadê a mamãe?

— Não sei Rute… espera. Ela está me ligando no fixo… a cobrar.

— Pessoal, aqui é o pai. A internet da mãe caiu, porque ela extrapolou o plano de dados. A visita ao Museu de História Natural de New York ficou pra quinta! Quero todos vocês nessa live! Boa tarde! E vocês, meninas, nada de ficar enviando a cara sem máscara pelo whatsapp. 

— Ai, pai… pára. E não é “cara sem máscara”, pai, te atualiza! É enviar “face nudes”!


Luís Augusto Menna Barreto

12.5.2020


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segunda-feira, 11 de maio de 2020

Bora cronicar - Coisas do Mundo Pós Corona - 3


Engarrafamento.
Fila da pipoca no cinema.
Fila do banco.
Fila do supermercado.
(Tá bem, qualquer fila).
Espera no consultório do dentista, com a sala cheia.
Avião lotado com criança chorando.
Ônibus lotado.
Dar voltas pra procurar vaga no estacionamento do shopping.
Ficar para o próximo elevador, porque tá lotado.
Ter que juntar o cocô do Messi (o cachorro) no meio do parque cheio de gente.
Levar bronca da professora por falar com a col…
— O que é isso, Marcelinho? Lista das coisas que te incomodam?
— Não, mãe, minha lista de desejo.

Luís Augusto Menna Barreto
11.5.2020

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sábado, 9 de maio de 2020

Bora cronicar - Coisas do Mundo Pós Corona - 2

— Ah, pai, deixa de drama… não tem nada de mais…

— Nada de mais? Nada de mais?! Meu Deus, meu Deus, o que eu fiz de errado? Por que essa desgraça está se abatendo sobre mim?

— Minha nossa Senhora, pai! Quem vê o senhor falando assim, pensa que alguém morreu!

— É quase como se fosse! O que vão pensar de mim? Todos vão apontar pra mim, por causa do que tu fizeste! Tu não tens vergonha? Não pensaste na tua família? Na minha reputação?

— Pai, eu já pedi desculpas, estou arrependida… mas é que na hora, parecia que tava pegando fogo… foi mais forte que eu…

— Pára! Nem mais uma palavra! Antes tivesse pensado em nós, na nossa honra, antes de ter feito isso! 

— Mas pai…

— "Mas" nada! Deus, Deus, o que vai ser de mim…? O que foi que te faltou para que tu me tenhas feito isso, Eduarda Cristina? Alguma vez na tua vida faltou álcool gel? Faltou água sanitária? Tiveste as melhores escolas virtuais que se pode ter! Jamais neguei que participaste das lives das festas… o que mais eu podia fazer? O que pode ter faltado?

— Pai, não faltou nada, tá tudo bem… é muito drama!

— Drama, Eduarda Cristina, drama?

— Pai, duvido que a tu e a mamãe também não tivessem feito, enquanto namoravam!

— O quê? Ah, não, isso é demais! Já pro teu quarto Eduarda Cristina! Já pro quarto! Saiba que tua mãe só tirou a máscara e mostrou os dentes pra mim depois de casada! Depois de casada! 


Luís Augusto Menna Barreto

10.5.2020


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sexta-feira, 8 de maio de 2020

Bora cronicar - Coisas do Mundo Pós Corona - 1


— Vóóóóóó…

— Maria Estela, tu estás mexendo nas minhas gavetas?

— Ai, vó, a senhora sabe que adoro procurar coisas antigas suas! O que é isso?

— Ah, minha filha…

— Neta, vó!

— Isso é “batom”!

— Hein?

— Batom. Há muitos anos não fabricam mais isso! Mas quando eu era adolescente, antes da 1ª onda da grande pandemia, era muito comum!

— Como funciona.. opa, peraí, consegui tirar a tampa! E como usava isso? Era pra escrever?

— Era pra pintar os lábios, minha filha!

— Neta, vó! Pintar os lábios? Eca, que nojo! Pra quê, se ninguém nunca vê?

— Ah… o mundo era diferente… naquela época, ninguém usava máscara!

— Que horror, Vó… então… era tipo Adão e Eva? Andavam com a boca de fora?

— Tipo Adão e Eva, minha filha… o mundo, era um paraíso…


Luís Augusto Menna Barreto

9.5.2020


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quinta-feira, 7 de maio de 2020

Bora cronicar - O Corona, o Goela e a Confissão do seu Passado


“Chamada a cobrar. Para aceitá-la fique na linha após o sinal!” 

— Alô…?

— Doutor, pelamordeDeus, eu vou acabar contando tudo pra Afrodite, Doutor, o senhor tem que me ajudar.

— Goela?

— Eu, doutor! Por favor me conte alguma coisa, pelo amor de Deus! Só o senhor pra me ajudar numa hora dessas… 

— Eu não tô entendendo, Goela…

— Não tem muito o que entender, doutor! Eu vou acabar contando tudo! Eu não sei mais o que faço, eu vou contar pra Afrodite todas as minhas escapadas, todo o meu antes e durante, ela vai me matar, doutor! O senhor tem que me ajudar!

— Calma, Goela! Respira, o que houve?

— É o corona, doutor, é o corona! Só o senhor pra me ajudar!

— Como assim, Goela, não tô entendendo? Acho que nestes 3 anos que passaram desde que eu saí daí, eu me “desacostumei" com essa tua velocidade. 

— Pois eu liguei pro senhor porque só o senhor mesmo, doutor, eu estou desesperado, a Afrodite vai me matar, eu sei que ela vai!

— Calma, peraí. Vamos tentar organizar: tu aprontaste alguma coisa?

— Muita, muita, não aprontei, doutor; um ou outro carnaval, uma ida em Belém, essas coisas, doutor…

— E isso foi recente, Goela?

— Nada, doutor, tô quieto há muito tempo. Os anos vão passando, doutor, a gente vai se acomodando…

— Mas então, se isso faz tempo, o que tu vais mexer nisso agora? Ela descobriu alguma coisa?

— Não, doutor. Mas vou contar, doutor! E ela vai me matar!

— Mas por quê tu vais contar, Goela? Bateste tua cabeça?

— É o corona, doutor!

— Meu Deus! Tu estás achando que vais morrer? 

— Tô, doutor. E quem vai me matar é ela, doutor. Vou contar tudo e ela vai me matar!

— Mas por quê? Tu estás com alguma crise de consciência, queres te redimir, é isso? 

— É nada, doutor, é o corona, já falei!

— Tu estás infectado? Testaste positivo?

— Não, doutor! É essa coisa de corona! Eu vou falar pra ela, doutor, e ela vai me matar, eu sei. Eu vou morrer nessa pandemia, mas não vai ser desse vírus! Vai ser a Afrodite, doutor! O senhor tem que me contar alguma coisa!

— Como assim, Goela? Contar o quê?

— Não sei, doutor, qualquer coisa! PelamordeDeus, conta qualquer coisa!

— Goela, tu estás ficando doido!

— Tô doutor! É esse corona que deixa a gente assim! Não sei mais o que fazer, doutor, vou contar tudo pra ela… 

— Calma… queres que eu fale com ela?

— Não, doutor! Eu é que preciso falar com ela, mas pra isso, preciso que o senhor me conte alguma coisa!

— Caramba, Goela, não tô entendendo é nada! Tu já tentaste falar com alguém por aí?

— Já doutor! Claro. Até o padre eu já tentei, doutor. Mas não adiantou nada! Só posso contar com o senhor, doutor. 

— Mas o que tu queres, afinal, Goela?

— Que o senhor me conte alguma coisa, doutor! Já falei mil vezes, o senhor parece que não entende!

— Não entendo mesmo. Explica!

— Não tá tendo esse negócio de corona, essa essa coisa de panda que mia, ou sei lá o quê?

— Pandemia, Goela.

— Isso! Pois é. Não tem isso?

— Tem. Mas o que isso tem a ver com contar teus deslizes pra Afrodite se tu nem tá morrendo, Goela?  Ah, meu Deus… É a Afrodite? Ela que tá infectada?

— Tá nada, doutor! O problema é esse loquidáu, aí, que o Governador decretou, agora ninguém pode sair de casa!

— “Lockdown”, Goela! 

— Isso esse lóqui aí!

— O que tem isso, Goela?

— Doutor, a gente não pode sair de casa, doutor! Faz dois dias que estamos juntos o tempo todo, doutor, o senhor sabe, minha casa não é grande! A gente já conversou tudo o que tinha pra conversar duas vezes, doutor! Não aguento mais ter que repetir as coisas, doutor, é 24 horas junto, já não tem mais assunto, doutor! Se o senhor não me contar alguma coisa pra eu poder contar pra ela, vou acabar contando o meu passado porque é o único assunto que me resta; e se eu não morro do vírus, ela me mata, doutor!

Eu acabei contando pro Goela uma ou outra história, que, com o talento que ele tem pra espichar um assunto, com muita sorte daria mais algumas horas… Ainda não sei o que aconteceu, porque foi ontem que ele havia ligado e eu não soube mais notícia!

Por que ele disse que só eu poderia ajudar?

Porque, como sempre, ele tá sem crédito no telefone, e só pode ligar a cobrar… eu sou o único que aceita ligação a cobrar dele…!


Luís Augusto Menna Barreto

7.5.2020


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quarta-feira, 6 de maio de 2020

Bora cronicar - Encontro de Amigas em Tempos de Corona


— Oi, amigaaaaa… que linda!

— Ai, obrigada! 

— Fala logo onde compraste essa máscara?! Tá um tudo!

— Então, nem te conto: o Beto que me deu de aniversário de noivado!

— Ai, amiga, “aniversário de noivado”, que deprimente!

— É, eu sei… mas ele primeiro quer ter segurança! Disse que não quer casar pra fazer eu passar necessidade. Mas olha: faltam só mais 8 prestações do plano 100, pra gente ter nosso próprio galão de álcool gel!

— Não acrediiiiiiiito! 

— Verdade, amiga! Ai, um sonho, né?!

— hummmmmmm então finalmente, vocês vão poder… hmmmmmm!

— Ai, finalmente! Não vejo a hora de me entregar pra ele toda embebida no álcool gel!

— Ui, vocês vão pegar fogo, amiga! Rsrsrs

— Ai, nem brinca! Fiquei sabendo que o “acidente” da Mariana com o Leandro, foi porque ele bebeu umas e outras e quis namorar depois do churrasco! Estavam lambuzados de álcool gel e parece que voou fagulha da churrasqueira!

— Noooossa!!

— Esses sim “pegaram fogo”.

— Que coisa. Cada vez a gente tem de tomar mais cuidado, né?!

— Pois é! Eu e o Beto, só vamos usar o álcool gel depois de casar! 

— Ai, que sonho… eu e o Marcos foi com água sanitária mesmo, mas a gente não aguentava mais. Deu no que deu: a Lulu e o Carlinhos!

— E tu, amiga, o que estás fazendo aqui?

— Vim na C&A comprar máscara infantil para as crianças.

— Sim, amiga, tu viste a foto que a Mariza postou?

— Vi, amiga! Ostentação! 

— Desnecessário! 

— Total!

— Imagina, ficar postando foto usando máscara Chanel em casa?!

— … e com Galão de 4 litros de álcool gel no fundo!

— Quer aparecer, amiga!

— E tu viste o Insta da Ritinha? 

— Vi, mas é fake, miga! 

— Não acredito!

— É sim! A Jandira disse que outro dia a Ritinha tava na feira pechinchando água sanitária em vidro de 50ml, e agora posta máscara Dior?! Fake!

— E essa sacola? Conta: o que tem aí?

— Ai, nem te conto: olha…

— CHOQUEI! Não acredito: lencinho umedecido em álcool 70, da Carolina Herrera?!!! Que tudooooo!

— Fiz de 5 vezes, mas comprei! Vou abafar no casamento daquela esnobe da Sílvia!

— Ai, nem me fala! 

— Diz que a lembrança aos convidados vai ser spray de espuma de álcool 70, de 20 ml! Faz todo esse bafo, mas a lista de presentes é só coisa de barão: álcool gel 150ml, água sanitária de 2 litros, conjunto de máscaras com os dias da semana…

— Que horror! Quem é que pode pagar por isso? O que tu compraste?

— Ah!, amiga, eu não quis nem saber: comprei uma caixinha pra cartela de hidroxicloroquina… mas sem a cloroquina…


Luís Augusto Menna Barreto

5.5.2020


Obrigado à minha amiguinha Juju (Julia Freitas Basso - Instagram @juliafreitasbasso), por gentilmente ceder a foto que ilustra esta postagem!

terça-feira, 5 de maio de 2020

Bora cronicar - A Importância da Máscara em Tempos de Corona


— Pois não, senhor?

— Abre pra mim, Renato.

— Por favor, senhor, fale mais perto do comunicador, por gentileza!

— Qual é, Renato, tá de sacanagem, comigo, abre logo!

— Senhor, diga o que o senhor deseja ou qual o apartamento que quer visitar, por gentileza.

— Tá maluco, Renato? Sou eu o Júnior, do 1301! Tu estás porre, Renato? Abre logo!

— Desculpe senhor, não o estou reconhecendo. 

— Renato, para de sacanagem e abre logo essa porcaria! Vou anotar no livro e reclamar com a Síndica do prédio! Abre logo!

— Senhor, não estou autorizado! 

— Que não tá autorizado, Renato?! Eu moro aí, caramba! Abre esse portão!

— Senhor, se o senhor continuar a forçar o portão, eu vou ter que chamar a polícia.

— Polícia o caramba, Renato! Abre logo que não tem mais graça essa pegadinha. Ei… é o S. Orlando, atrás de ti? O gerente condominial? Orlando! Orlandooo.

— O que está havendo aí no portão, Renato?

— S. Orlando, esse indivíduo aí tá querendo entrar, mas tô achando estranho…

— Orlando, para com a palhaçada, abre logo!

— Renato, tu conheces esse senhor?

— Assim, sem máscara… difícil… talvez já tenha visto por aí, mas sem máscara é difícil, S. Orlando!

— Vocês estão loucos? Comeram manga com leite? Abre logo essa droga, to ficando nervoso!

— Senhor, mantenha a calma. Acho melhor o senhor se retirar! Está causando tumulto aí na frente! Por favor…

— Por favor um caramba, Orlando! Que é isso? Todos os dias eu cumprimento vocês, passo duas vezes por dia nessa portaria, conto piada! Sou eu, o Júnior, caramba.

— Senhor… perdoe, mas não o estou reconhecendo! Assim, sem máscara…

— Ai, meu pai… Liga aí, pro meu apartamento, a Alene olha pela câmera e autoriza minha entrada!

— Bom, dia, D. Alene? Aqui é o Orlando. Isso, o gerente condominial. Tem um elemento aqui no portão, querendo entrar, dizendo que é o S. Júnior, mas não o estamos reconhecendo. Ele insiste para que a senhora veja-o pela câmera para autorizar a entrada. A senhora poderia…

— Claro Orlando. Peraí, vou ligar aqui… peraí… hmmmm… não… não sei… não tá parecendo… e assim sem máscara… 

— Pois é, tá muito estranho isso, D. Alene. Sem máscara… a senhora me desculpe, mas todo o dia a gente tem visto no jornal esses assaltos aí, o pessoal todo sem máscara…

— Não é ele não, Orlando. Não deixa entrar não!

— Senhor… senhor, a D. Alene não autorizou sua entrada.

— O quê? 

— Disse que não reconheceu o senhor, sem máscara!

— Orlando, Orlando… para com isso… tô ficando furioso! Vou ligar agora pra Alene! Orlando, tu vais ser demitido, Orlando…!

— Alô, Alene falando…

— Alene, que palhaçada é essa? Manda logo abrirem pra mim?

— Oi? Perdão, quem tá falando?

— Caramba, Alene, o Júnior, teu marido! Não reconhece minha voz?

— Desculpa… assim, tão clara… tu estás de máscara?

— Não tô, Alene! A droga do elástico arrebentou, joguei fora! Para com essa palhaçada, manda logo abrir!

— Olha, desculpa mesmo… mas essa voz assim, sem estar abafada, tá muito estranha, não tô reconhecendo… 

— Alene? Alene? Não acredito que ela desligou! Orlando, abre essa porta agora ou vou quebrar essa porcaria de porta de vidro!

— O que está acontecendo aqui?

— D. Karina, que bom que a senhora chegou! É esse senhor que está fazendo confusão aí na frente. Quer entrar, diz que é morador, mas ninguém conhece. Nem o Jesuíno que entrou pra entregar água pode sair com esse senhor aí na frente!

— Não saio não, D. Karina. Outro dia, tava na parada do ônibus vieram dois sem-máscara encostaram revólver e levaram meu celular. Saio não, enquanto esse maluco estiver aí. Isso deve estar até armado, D. Karina.

— Jesuíno, tu tá doido também? Toda semana compro dois galões de água contigo! Olha pra mim, Jesuíno! O que é isso? É uma pegadinha, né? Tem alguém filmando, não tem? Pra onde eu abano? Karina, perdeu a graça. Tu, como síndica, deves saber quando a brincadeira passou do ponto! Por favor, abre essa esse portão.

— Desculpe, mas não vamos abrir. E se o senhor não for embora, vamos chamar a polícia!

— Ai meu Deus!… S. Antônio! S. Antônio, que bom que o senhor tá chegando! Ufa… eu tava pra ficar louco! Vou entrar com o senhor! 

— Desculpa… eu lhe conheço?

— Tu também, Antônio? O que é isso? Uma flash mob? Para de palhaçada…

— O Senhor me desculpa, mas assim, sem máscara… até me parece familiar… mas não dá pra saber!

— Pelo amor de Deus, todo mundo enlouqueceu? Ei… caramba, abre logo, lá vem uma moto com duas pessoas, pode ser assalto! Abre logo essa droga, a gente vai ser assaltado, Antônio!!

— Hum… peraí, deixa ver… não… acho que não! Estão de capacete. Malaco anda sem máscara! Tranquilo. É… Karina, eu lembrei que não comprei álcool gel, não precisa abrir, vou ali na farmácia… Até logo, senhor, passe bem!

— Karina, isso já passou dos limites! Abre isso! Vou quebrar essa porcaria!

— Desculpe, senhor. Se o senhor não se retirar, vamos chamar a polícia!

— Polícia? Chama! Chama polícia, bombeiros, chama o Papa, Karina! Daqui não saio até vocês abrirem esse maldito portão!

— O que está acontecendo aqui? Afasta do portão, mão pra cima!

— Oi? O quê? Seu policial, eu moro aqui, eles que não me deixam entrar isso é cri…

— Cala a boca! Encosta na parede! Tubo bem aí dentro? Teve alguma violência?

— Violência não, mas esse sujeito está visivelmente alterado!

— Alterado? Alterado? Sou eu o Júnior, moro aí, estão loucos? Liga pra minha esposa…

— Cala a boca ou tu vais é levar mesmo um “telefone”, malaco! Sem máscara e quer que a gente acredite nessa história? Tem uns duzentos assim, na cadeia, vagabundo! Até logo, senhora. Vamos recolher o elemento. Alguém poderia comparecer mais tarde na delegacia pra fazer o reconhecimento?

— Sim, senhor policial. Por volta de 15 horas alguém do prédio vai lá.

— Boa tarde, a senhora é a Delegada? Eu sou a Alene, moradora do Edifício Denver…

— A sim, onde um maluco tentou entrar, né? 

— Esse mesmo.

— Está horrível hoje em dia. Estamos cheios de casos assim. Passe aqui por favor, Senhora. Vamos colocá-lo junto com outros 4 elementos, e a senhora por favor pode apontar para nós qual foi até o prédio? Fique tranquila, que ele não pode lhe ver, o vidro é espelhado. Olhe com calma. Reconhece algum deles?

— Não sei… é tão difícil assim… sem máscara eles são todos parecidos… pode ser qualquer um. Desculpa, não sei se vou conseguir apontar o elemento.

— Não tem problema. Estamos acostumados. Infelizmente é assim mesmo. Mas eles não usam máscara justamente para não serem reconhecidos! De qualquer forma obrigado. Podemos lhe ajudar em alguma outra coisa?

— Talvez… olha, meu marido saiu de casa, hoje, bem cedo, só pra ir no mercadinho da esquina, comprar água sanitária, e não apareceu até agora… to com medo que tenha acontecido alguma coisa…


Luís Augusto Menna Barreto

5.5.2020

Obrigado  à Denise Daudt (@denisedaudt) que, com um comentário no blogue mennaempalavras, na crônica “Sequestro em Tempos de Corona” deu-me a inspiração para esta crônica.

Um agradecimento aos valentes funcionários do edifício Denver: Almir, Cláudio, Everaldo, o outro Everaldo, Fábio, Fernando, Francisco, Orlando, Paulo, o outro Paulo e Renato.  Vocês são heróis mantendo tudo funcionando nestes tempos tão difíceis e, em especial, obrigado Renato e S. Orlando, por permitir-me a brincadeira com seus nomes!
Obrigado ao Dr. Júnior, Alene e ao S. Antônio, por também permitir seus nomes nesta brincadeira! Um pouco de descontração nestes tempos imensamente difíceis.


Dedicado ao  S. Francisco, funcionário da Limpeza do Condomínio edifício Denver, que foi vítima deste terrível inimigo invisível. Que se recupere e volte à normalidade de sua vida! Estamos todos torcendo!


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