Para comemorar um (1) ano do lançamento do livrinho AS AVENTURAS DO PILHA E AS HISTORINHAS DO KADU, o blogue mennaempalavras apresenta:
Eu, o Pilha e o Convite
Foi meio que de repente.
Antes, a gente ia pra sinaleira umas 9 horas da manhã, e já perto de 4 horas da tarde, cada um de nós já tinha os 8 pilas e eu já tinha até dado o 1 pila do Pilha. Porque a sinaleira é dele, né?
Desde que a gente se conheceu, no tempo em que eu era bem criança, a gente combinou assim: eu posso pedir na sinaleira, mas tenho que obedecer as regras do Pilha e tenho que dar 1 pila pra ele, todo dia. Mas já teve um monte de dias, que foi o Pilha que me emprestou pra eu pagar pra ele. E teve aquela vez que fui parar no hospital, e o Pilha que trabalhou sozinho pra conseguir até os 8 pilas que todo dia tenho que levar pra mãe, pra não apanhar.
Mas agora, sei lá o que aconteceu. Quase não tem mais carro. E quando aparecem carros, ninguém mais quer abaixar o vidro. No inverno, sempre foi mais difícil, porque o asfalto fica gelado e dói o pé. No verão também dói o pé no asfalto, mas é diferente. Mas no inverno, os ricos passam com o vidro levantado, e só poucos abaixam. Agora, tem pouco carro e ninguém quer abaixar o vidro. Um ou outro, abre uma frestinha em cima no vidro, e deixa cair uma moeda. Ninguém mais abaixa o vidro e dá na mão da gente.
Quando a gente vê alguém estacionar e sair do carro, tá estranho. Tá todo mundo usando máscara. Parece que todo mundo virou bandido. Porque bandido que usa máscara e capacete, né?
Outro dia, eu e o Pilha ficamos até de noite no sinal e não deu nem três pilas. A mãe me deu dois tapas que minha orelha ficou zunindo até eu dormir!
O Pilhão, que é o irmão do Pilha, e que tem banca de DVD pirata no centro, disse que é um tal de “convite”. Que é uma doença que nem gripe. Disse que a gente tem que usar máscara também. Eu não quero usar máscara! Não sou bandido e não ganhei “convite” nenhum. E nem sei pra quê isso tudo de máscara, se é uma gripe. Todo ano, no inverno, a gente fica gripado! É engraçado: a gente fica falando estranho, e tossindo. E tem o campeonato de meleca: a gente tapa um lado do nariz e sopra forte pelo outro: quem tirar mais meleca ganha! Mas só dá pra fazer quando a gente tá gripado!
O que sei, é que não me convidaram pra nada e esse tal “convite" tá fazendo é eu apanhar todo dia.
Tem dias que eu escapo… porque o Pilha "intera" os 8 pilas. Daí, não apanho. Mas às vezes eu acho que o Pilha nem conseguiu os 8 pilas dele. Mas ele sempre diz:
— Óh, mané, tá me devendo, que não sou teu pai!
E eu sempre respondo:
— Ninguém é.
E nós dois rimos. Sempre a mesma piada. E sempre rimos. Mas do jeito que o Pilha já me salvou, eu devo estar devendo muito. Eu não sei contar dinheiro depois de dez, mas acho que já tô devendo uns trinta e onze pra ele!
O Pilha sempre me salva. Um dia, eu que queria conseguir salvar ele.
Pelo menos, quando a gente brinca no parquinho ele deixa eu salvar!
Ah!, nem contei: tá tudo muito diferente, e eu acho muito pior com esse tal “convite”. Quase ninguém na rua, umas poucas pessoas andando igual bandido, com máscara… mas tem uma coisa boa: as cutucadoras de celular não estão mais levando as crianças no parquinho. A gente sempre vê o Ranho lá no alto, olhando pela janela… às vezes, ele até abana. Ele nunca abanava pra gente, mas agora que não tem mais crianças com as cutucadoras, ele tá até abanando pra nós. E eu acho isso bom, porque a gente pode fazer de conta que ele é nosso amigo.
Isso é uma das poucas coisas boas desse tal “convite”: agora, eu e o Pilha podemos brincar nos brinquedos do parquinho, porque quando as cutucadoras estão com as crianças, elas nunca deixam a gente chegar perto e a gente fica só nas árvores.
O Pilha já tinha dito que ás árvores são brinquedos que Deus que fez pra gente, e a gente pode sempre brincar. Agora, o Pilha disse que esse “convite" é Deus tirando os outros garotos e convidando eu e o Pilha pra brincar nos brinquedos que nunca podemos.
—… ihhh…. Olha lá: o Pilha tá no balanço tossindo com a mão no peito! Acho que vai ter campeonato de meleca de novo…!
Luís Augusto Menna Barreto
26.7.2020
Bom Dia. Emocionado ao rever o Pilha.
ResponderExcluirAmei...
Excluir— Tio Jorge!!! Eu tava com muita saudade! Deixa um ki-suco de groselha no muro e conta umas histórias pra nós pela janela...?!
ExcluirA inocência e a solidariedade acima de todos os machucados da vida.
ResponderExcluirComo me sinto pequena diante da interpretação da vida por esses meninos e dessa sensibilidade do Poeta Menna!
Eu, que nunca mais tinha sentido lágrimas nos olhos, vejo meu rosto molhado...
— Tia Maria... que saudade...! Fica na janela pra gente conversar um pouquinho... tem bolinho de chuva? Pode colocar num saquinho e deixar aqui fora pra gente?! Queria contar umas coisas....
Excluir(Pilha)
Parabéns escritor...o Pilha que tanto amamos, saudades do Kadu também!! Um ano do seu livro. 👏👏👏😍😍
ResponderExcluir— Oi, tia Liu! Que saudade! A gente tá voltando pra contar o que tá acontecendo...!
ExcluirQue bom... Vamos ficar feliz com a volta de vcs grande abraço!! 😘
ExcluirObrigado por nos fazer ver o que nunca queremos ou conseguimos ver.
ResponderExcluirAh!, os "Pilhas"... nós os tornamos tantas vezes invisíveis... Parece mais fácil para nossa própria hipocrisia, não os vermos...! Mas eles estão ali... atrás de moedas... de restos de Ki-Sucos... de abraços... de quem os "note" e olhe em seus olhos com alguma bondade...!
ExcluirDoçura de crônica! Dá vontade de atravessar a tela e dar um abraço muito apertado nestas amadas crianças. Como isso não é possível, deixo meu abraço e muita gratidão por abordares de forma sensível e bela estes temas! Parabéns! A tia Denise se pudesse ,ia levar estes guris para tomar um sorvete!
ResponderExcluir— Tia...!!! A gente adoooora sorvete!!! Uma vez, que ajudei o mano a cortar a grama e limpar um terreno, teve uma vovó que fez picolé de Ki-Suco pra nós, colocando Ki-Suco na coisa de fazer gelo com uma colher pequena dentro! Fez um desses pra gente, tia?
ExcluirQue felicidade, rever o Pilha e o Kadu!
ResponderExcluir—Ah!, tia.... a gente também fica com saudades! Mas agora, tá cada dia mais difícil vir conversar, porque tem pouco carro na rua, e quase ninguem baixa o vidro pra dar moeda... daí, a gente tá ficando muito mais tempo na sinaleira.
ExcluirQuanta saudades do Pilha e seu amigo, com essa visão bem particular do mundo! Bora baixar o vidro que o Pilha continua lá!
ResponderExcluir... todos os dias, Sussi... eles estão lá... loucos pra conseguir os 8 pilas e ir pro parquinho, subir nos brinquedos de Deus, onde eles podem brincar entre os galhos...!
ExcluirUm reencontro cheio de restrições por causa do "convite" né? Nem por isso menos alegre, muito bom ver que apesar de tudo, os garotos estão por aqui.
ResponderExcluirEstão, Nice...! Esses nossos amiguinhos são sobreviventes... são heróis da vida...!
ExcluirQue bom demais ver-te por aqui..!!!!!
Que saudades, Nice...!!
Uma boa historia nos conecta a grandes emoções, a inocência e a pureza narradas na historia de Pilha e Kadu alimenta nosso imaginário e nos transporta para dentro da cena, parabéns por mais essa linda obra de literaturara. Passa là em casa que vou deixar uns doces de abòbora encima do murro. Tio Batisti
ResponderExcluir— Tio, deixa um Q-Suco de groselha também?! Deixa num copinho de plástico pra nós, tio!!! Na outra semana a gente volta pra contar outra historinha!!!
ExcluirLágrimas nos olhos...Sempre me emociono ao rever a inocência do Pilha...Vou ali tomar um Q-suco de groselha e tirar um cisco que caiu no meu olho...
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