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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

bora cronicar - Oi? Veja bem...

Bora Cronicar

Oi? Veja Bem…

Veja bem… ontem, eu tentei falar sobre a expressão “sabe o que eu tava pensando?”, e não deu tempo, acabou o espaço da crônica.
Eu queria chegar em algumas expressões que me assustam um pouco, mas, pra isso, eu queria chamar atenção para algumas expressões que são corriqueiras, e que, de alguma forma, ou me assustam ou irritam profundamente. O “oi" é uma delas. Não, não o “oi" cumprimento, desse que a gente avista alguém do outro lado da rua e diz: “oi!”.
Note que neste “oi”, o ponto que o acompanha, é o ponto de exclamação! Porque quando a gente diz “oi”, normalmente é com alguma satisfação. Tudo bem, eu sei que nem todo mundo costuma cumprimentar as pessoas com entusiasmo. Em alguns casos, o “oi" vem acompanhado simplesmente de ponto final. Assim: “oi.” É um “oi” mais seco, de quem não quer dar muita conversa. Mas tem "oi" ainda mais entusiasmado do que o “oi" com o ponto de exclamação. Tem o “oi” seguido de vírgula e um “e aí?”. O “oi" seguido de vírgula, eu tenho um pouco de medo, porque significa que alguém quer que eu fale mais, que eu diga alguma coisa, que entabule conversa. E nem sempre estou nesse clima. Prefiro o “oi" que fica entre o ponto final e o ponto de exclamação. Tipo o “oi" de elevador: a porta abre, a gente vai entrando e vendo quem está nele, e a gente pode limitar-se a apenas um “oi”, assim, meio indefinido, aquele “oi” por edução, o “oi" que seja suficiente pra chegar até o térreo e sair fingindo pressa pra não ter que dar conversa. E tem outro oi, também que eu não gosto tanto, o “oi" seguido de reticências, tipo o “oi" do Ross do seriado Friends. Um “oi" de quem sente pena de si mesmo e quer que lhe pergunte: “e aí, tudo bem?”, ou “oi, o que houve?”. É um “oi” que o “i" vai sendo mantido em uma espécie de MRUV (não lembra? Você aprendeu em física: Movimento Retilíneo Uniformemente Variado) Assim: “oi i i i …”. Mas tem um, pra mim, pior que todos esses: o “oi” com ponto de interrogação, quase uma interjeição, muito usado quando alguém quer ganhar mais tempo que o “veja Bem”, quando alguém quer fingir que não entendeu:
— Passaste na costureira pra pegar o vestido, que eu pedi? 
— “…Oi?”
Esse! Esse é o pior. Claro que o pobre marido dessa mulher entendeu a pergunta! Junto com a pergunta veio o choque de ver-se confrontado com algo que ele esqueceu, porque é a última coisa que escolheria fazer. Se ela tivesse dito algo como:
— Lembraste de passar no açougue e comprar a picanha maturada e depois passar no mercado pra comprar a cerveja pro churrasco com o pessoal do futebol? 
Se a pergunta fosse assim, a resposta não teria nenhum “oi”, seria clara e direta: 
— Claro que sim, meu bem! 
Mas, no primeiro exemplo, o da costureira, o recurso foi o “oi" com ponto de interrogação. Esse “oi" é pior do que o “veja bem”, porque enquanto o “veja bem” já é um começo direto, o “oi” com ponto de interrogação força à repetição da pergunta, o que dá inestimáveis segundos para o cérebro disparar toda sua energia de processamento na elaboração de uma resposta convincente: 
— Não, meu bem, eu estava indo para a costureira, e o Adroaldo ligou porque a pressão da mãe dele caiu e ele pediu pra eu passar na farmácia pra comprar o remédio da mãezinha dele, tadinha… Mas amanhã eu passo na costureira sem falta!.
Mesmo que esse “oi" com ponto de interrogação seja útil em algumas situações, eu detesto que seja dirigido a mim. Especialmente em interrogatórios.
— O senhor invadiu a sacristia e roubou o celular do coroinha?
— Oi?…
Isso me deixa louco! Daí, que desenvolvi uma técnica:
— O senhor invadiu a sacristia e roubou o celular do coroinha?
— Oi?…
— Oi! — Eu devolvo! Assim, seco, e fico encarando o sujeito. Meu ponto de exclamação fica cravado ao lado do “oi" como uma lança! Isso inibe a invenção de uma desculpa. O indivíduo não espera por isso, e, então, em vez de o cérebro sair desesperado em busca de uma desculpa para seja lá o que for, fica confuso tentando entender se foi cumprimentado de volta, ou o “oi" foi o que tive a intenção de que fosse: o resumo da repetição da pergunta seguido de “desembucha logo”. Tudo num “oi" com ponto de exclamação, que se seguiu a um “oi" com ponto de interrogação.
Pois bem. Acho que de todas as expressões possíveis, a que mais mete medo em um homem é quando a mulher diz: 
— E aí? Não notaste nada? 
Pânico! Paralização total. A gente olha em silêncio: cabelos! Ela cortou? Estavam assim ontem? Unhas! As unhas! Já estavam vermelhas, né? Ou não? Sobrancelhas! Meu Deus! Será que ela fez as sobrancelhas? Como diabos ela pode pensar que eu vou notar algo assim? 
As opções não são muitas e os resultados vão desde a execração até o desprezo com a ameaça velada: “
— Vamos ver se o Eduardo lá da firma não vai notar! 
Eu sugiro a seguinte opção: escolha alguma coisa e diga rápido com convicção. Se demorar um pouco, elas farejarão o cheiro do medo. Seja rápido. Já que é inevitável, seja homem! 
— Eu gosto quando você pinta as unhas assim!
Provavelmente não dará certo. Mas se você acertar o chute, será coberto de bênçãos e favores! 
Existe, também, a saída segura: 
— Além do fato de que você está mais magra, gostei do cabelo!
Ainda que ela saiba que você não faz idéia sobre o que era pra ter notado, as palavras mágicas “mais magra” fará tudo ser amenizado. Mesmo ela sabendo que você disse isso sem ter idéia do que ela queria que notasse, ainda que ela nem sinta sinceridade na sua voz, o fato é que se ela ouvir “mais magra”, você terá uma atenuante irrefutável à sentença que se seguirá! Então, lembre: ou o chute seco, uma espécie de “all in”, de “tudo ou nada”, ou, apele para as medidas e errará, mas amenizará a pena!
Bem… ainda não consegui entrar no assunto que eu queria, que era o “sabe o que eu tava pensando!” Perdoem. Vou precisar de uma nova crônica pra isso!
Você está me perguntando se eu vou mesmo falar sobre o “sabe o que eu tava pensando?”?
— Oi?…
Luís Augusto Menna Barreto

1º.3.2019

34 comentários:

  1. Oi??
    Ahhh!!!!
    Esse "Oi?" è a mais perfeita tradução do me 'ferrei'...
    Quando ouço essa mini palavrinha traduzida de entonação,já sei que o que pedi não foi feito,que vem uma desculpa bem esfarrapada a caminho...Quando a palavrinha vem precedida do 'veja bem' aí melhora a situação um pouco ( ou talvez piore,não sei) já que você,vai receber uma explicação que esperamos que seja no mínimo convincente...

    Adorei a crônica!!!
    Hoje 'degustei-a' antes do cafezinho matinal...rsrsrs

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    1. Bom dia!!!!!
      Então vem aqui sentar com a gente, que to passando o café!!
      Bora cronicar!!!!!
      Eu me cuido muito com esse “oi”... mas seguido ataco de “além de você estar mais magra...”!!!!!😆😁😁

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  2. Adorei essa crônica....
    Dá pra imaginar o semblante amarelado do meliante que provavelmente ficou sem entender nada. E a parte em que o coitadinho do marido tenta escapar do resultado provavelmente parecido ou igual a um filme de terror está perfeito. A sua maestria em escrever sobre os acontecimentos que passariam corriqueiramente é fantástica.

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    1. Lola... tu és muito suspeita pra falar...!!! Porque quando tu vens, a tua gentileza chega antes...!!!!!
      Mas adoro mesmo falar sobre o cotidiano e dar a minha maneira de ver esses acontecimentos que todos passamos!
      Bora cronicar, Lolaaaaaa!!!

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  3. Kkkkkk fiquei confusa com tantas formas de "Oi" pra mim a pior é o "Oi?" Me parecendo que a pessoa desdenha de nós. Kkkk por exemplo perguntamos quando não sabemos muito da pessoa e ela acha que tem uma biografia lançada e pronta para ser lida antes da próxima conversa: pergunyo "_Ele é seu namorado?" E a pessoa responde com uma careta "_Oi?"
    Kkkkkk muito bom Menna, me fez rir muitas vezes imaginando a cena. 👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼

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    1. Super obrigado por tua gentilza!!!!
      É divertido a gente parar pra analisar fatos cotidianos e situação que todos nós passamos diariamente!!
      Essa situação dos vários "ois" é deliciosa, né?!
      Um mega abração!!!

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    2. Sabe o que eu estava pensando, que só alguém com tenta imaginação e criatividade sabe escrever e descrever tão bem sobre essa pequena palavrinha com tantos significados....essa palavrinha, pquando pronunciada, vem sempre seguida de uma expressão facial de quem fala, pode ser expressão de felicidade, de surpresa, de ironia, de indiferença, enfim, parabéns pela crônica que descreve tão bem os significados de um "oi" bem falado.

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    3. kkkkkk publiquei meu comentário em resposta ao seu, foi sem querer, bjos...kkkkkk...veja bem eu não quis me meter de propósito no seu post ao comentário da Sônia...rsrs.

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    4. “Oi”, Tel!!!!
      Ah, sem problemas onde publicar!!! O barato é a gente cronicar e se divertir!!!!
      Quando a gente tá entre amigos, a gente sempre tem assumto!!! A gente faz até “oi” virar assunto!!!!!
      Super obrigado!!!!!!

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  4. Oi!!!!!
    Como fazer um "oi" ter tanto valor assim?
    Procure um poeta com criatividade e um simples "oi" vira uma magnífica crônica.
    Mesmo com tempo regrado, depois do presente que foi conhecer seu blog, faz-se necessária a minha frequente visitação.
    Mega Grata por proporcionar-me momentos descontraídos!!!

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    1. Direto de Paragominas - PA, Janehelly Nascimento.

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    2. Eu que sou grato, Dra. Janehelly, porque mesmo sabendo de sua rotina lotada de trabalho e estudos, ainda encontras tempo para cronicar com a gente!!
      Mil obrigados!!! Desejo um feriado maravilhoso a ti!

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  5. Esse "Oi" é tipo o "égua" tem várias expressões. Ana Macedo saberia explicar.
    Mas gosto mesmo é do cotidiano que virá história e a habilidade dos escritores de fazer isso muito bem.
    Agora assim... Deus me livre de estar na pele deste "sujeito"...
    Babado esse conto!
    Até!

    Bom carnaval a todos!🎉

    Obs: Diz para Lola que eu já sou fã dela. 🌷

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    1. Ah, Sílvia... quanta gentileza! Vou dizer sim, e vou mostrar teu comentário a ela!! Lola é maravilhosa e é daquelas pessoas que a gente gosta gratuitamente, simplesmente porque ela é super "do bem"!!!!!!
      Um baita carnaval pra ti!!
      Vai ter o "Arraial do Pavulagem"??

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    2. Não. Arraial em junho...
      Mas tem "bloquinho"...
      Mas quem te contou ?!

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    3. Já fui arrastado pelo Pavulagem, oras!!!!

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    4. Sério?! Não imaginava...
      Mas que bom!

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  6. Como duas letrinhas só, podem ter tantos significados né? Mas, por unanimidade, esse oi, seguido de uma interrogação, é tão irritante, pq tbm detesto. Que situação, essa dos maridos, hein? Meu Deus, ô bicho complicado é mulher kkkkkkkkkkk tem que ser artista pra conviver.... e o assunto continua.... aguardemos os próximos capítulos.... tô adorando a "novelinha" rsrsrs (mais uma profissão pra vc poeta, escritor de novela #ficaadica). Abração.

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    1. Sabes, amiga Nica... eu na verdade, já pensei em reescrever as crônicas de Marajó City realmente em forma de novela, porque acho que poderia render uma boa história de forma unificada... não está fora de meus projetos!!!

      Quanto à "novelinha" de eu tentar contar o "sabe o que eu tava pensando", o pior é que tu tens razão. Mas estou meio decidido: na próximo crônica, vou entrar de sola, já falando dessa expressão, sem rodeios!!........... bem... quer dizer... veja bem... vou tentar!
      ... oi?

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  7. "Sabe o que eu tava pensando"? Veja bem. ... é que, apesar de serem expressões tão simples, ao mesmo tempo são complexas, isso sob a visão de um artista das palavras, temos muuuito assunto pra tratar. ...uma coisa leva a outra.

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    1. ... rsrsrsrs... eu que o diga, amiga Eunice... eu que o diga... até agora não cheguei no "sabe o que eu tava pensando"...
      Realmente... uma coisa leva à outra... rsrsrsrs

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  8. Oi...veja bem!!!! Sumi um pouco...mas
    "sabe o que eu tava pensando?" rsrsrs

    Confesso que senti muita falta de todos...
    Amei tudo que li! E "tipo assim"...

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    1. Ahhhhhh!!!! Onde andavas!!!! Não encontro tua conta no Twitter!!! Perguntei pra amigos do Twitter e ninguém sabia de ti!!!!! Ficamos preocupados!!!!

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  9. Então...tive um problema com o meu digníssimo aparelho ou de ordem técnica...sei lá...acho que está é precisando ser trocado rsrsrs Só sei que perdi um monte de coisas que podia perder. Recuperei parte...outras nào consegui. A conta do meu twitter travou total...mil mãos já tentaram arrumar, porém...até agora nada.
    Com isso, aquela proposta de disciplina com as redes sociais está funcionando...(claro que contra a minha vontade rsrsrs).

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  10. Corrigindo: perdi coisas que não podia perder...

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    1. Poxa.... tu fazes falta por aqui e muita falta no Twitter!!!!
      Te tas criar uma conta nova nem que seja provisória pra voltar a conversar com a gente...!!!! Tua companhia faz bem!!!

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  11. Oi, Meritíssimo!
    Queria não ter feito tantas degustações de "suco de uva", para comentar os deversos usos do PORRA, lá na BAHIA.

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  12. Que me perdoem os amigos não baianos, mas é que o vocábulo PORRA para nós, na Bahia, não é palavrão. Só às vezes!

    Beijão, amigo cronista de excelência!

    Aqui no Rio Grande tem tanto "suco de uva", né?!

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  13. Que me perdoem, se por acaso, escandalizei algumas pessoas, em me referir aos dversos sentidos que o vocábulo interjectivo PORRA assume nos falares do povo baiano. Tais usos linguísticos, em nossa terra, são absolutamente aceitáveis.

    Entretanto, compreendo o fato de o vocábulo parecer agressivo para falantes de outras regiões do Brasil. Isso é um fenômeno linguítico denominado de DIVERSIDADE LINGUÍSTICA.

    É assim como, por exemplo, o uso do vocábulo ÉGUA, que, no Pará, é absolutamente inserido no falar do paraense, contudo, é causador de certa estranheza a falantes de outros lugares. Confesso que eu, por mais que seja uma profissional da linguagem, reajo com um pouco de estranhamento a esse uso, o que é natural.

    Entretanto, não seria natural, se eu, motivada por tal estranhamento, não aceitasse o uso e assumisse uma postura preconceituosa frente a ele.

    E nós brasileiros, que vivemos em um país de tamanho continental e falamos a mesma língua, pois os nossos falares se sustentam na mesma estrutura linguística, temos de nos conscientizar que a diversidade semântica, morfológica, fonética e, às vezes, até sintática é uma realidade.

    Um grande abraço nos amigos, com um pedido de desculpas por tanto palavreado!

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    1. E assim é em cada região deste país... o que falar do "Tchê" das plagas gaudérias, ou do égua, tão maravilhosamente paraense, ou o "uai"... e tantos outros...
      Teus comentários sempre, sempre, sempre enriquecem por aqui!!!

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