Bora Cronicar
Sabe o Que Eu Tava Pensando?
Sabe o que eu tava pensando?
"Veja bem”…
Quando eu ouço essa expressão, chego a ficar nervoso. É uma expressão típica de quem está organizando as idéias pra enrolar-me. Sério. Ou eu sou muito azarado, ou minha estatística está certa: quando alguém começa uma frase com “veja bem”, normalmente eu tenho um problema pela frente. A verdade nunca vem seguida de “veja bem”.
Por exemplo: eu estava no plantão criminal (eu sou titular de Vara Cível, mas três vezes por ano, eu fico no plantão cível e criminal, durante o final de semana). Então, como eu estava dizendo, eu estava no plantão criminal, e chegou o flagrante de um cidadão acusado de roubo simulando o emprego de arma de fogo. O malandro queria tomar umas cachaças e, tendo decidido isso, estava sem dinheiro. Foi então, que avistou uma moça que desceu na penúltima parada do ônibus antes do final da linha, em um bairro da periferia de Ananindeua. A moça vinha do trabalho, e chegava perto de sua casa, depois de dois ônibus, vinda de Belém, onde trabalha numa lanchonete que nada mais é do que uma carrocinha de venda de tacacá na calçada. Trabalha perto de uma escola e atendem até por volta de 22h. Ela chega em casa por volta de 23h30, e, como óbvio, poucas pessoas estão na rua. O bairro por mais esforço que a administração municipal faça, não tem a melhor iluminação, porque os próprios malandros tratam de quebrar a lâmpada da iluminação pública justamente para facilitar seu labor ilegal.
Pois foi que vendo a moça descer no local ermo àquela hora, e agarrar-se com as mãos cruzadas ao peito na bolsa de pano em que levava apenas o cartão de passagem, um batom Avon e um celular, que o larápio decidiu-se por assaltá-la. Enfiou a mão sob a camisa e anunciou o assalto com as palavras da moda: “perdeu, perdeu”.
Assustada, a moça entregou-lhe a bolsa. Mas qual não foi a má sorte do assaltante, por que naquele instante, saiu da casa quase em frente, um morador que, por acaso, é policial militar e assistiu à cena. Armado que estava, embora de calção e camiseta, no mesmo instante deu voz de prisão e deu-se o flagrante.
Tudo estava muito claro no auto. Na audiência de custódia, eu li o auto de flagrante e e perguntei:
— Foi isso?
— Veja bem… — começou o incauto.
Suspirei.
— Veja bem, doutor, não foi bem assim. Eu pedi o celular emprestado pra ligar pro meu primo pra ele emprestar com ele um dinheiro pra comprar remédio pro meu sobrinho que está doente.
— E pra isso anunciaste um assalto, gritando “perdeu”?
— Veja bem, — de novo!!!! — eu tava falando comigo mesmo, indignado porque meu primo me disse que tinha perdido o dinheiro do pagamento dele. Por isso não ia emprestar!
— Que primo? Mas tu já havias falado com ele? Pra quê pedir telefone emprestado pra vítima, então?
— Veja bem, — Deus! Só podia ser cacoete do sujeito! — ele ligou pra mim antes.
— Se tu tens telefone, por que foste pedir o da vítima emprestado?
— É que — ufa, se ele tivesse dito “veja bem” de novo, eu surtava! — eu tô sem crédito, doutor. Daí fui pedir o dela…
Vocês podem imaginar que tinha muita ponta solta na história. Eu levei um tempão conversando com o sujeito, porque ele sempre parecia ter uma justificativa, mas nada encaixava direito. A história dele, enfim, não importa. O que eu queria era mostrar que, começando com “veja bem”, eu já desconfio. Inúmeras vezes, sobretudo em programas de entrevistas com políticos, diante de uma pergunta difícil e, especialmente aquelas em que o entrevistador fundamenta a pergunta com dados concretos, o político que está sendo entrevistado começa a resposta com “veja bem”.
Acho que o “veja bem” para o político equivale ao “com certeza” para o jogador de futebol. Muitas vezes os repórteres esportivos fazem uma pergunta já com o início da resposta, e o atleta começa com o “com certeza”:
— Então, fulano, o empate não era o que vocês esperavam, não é?
— Com certeza, nós lutamos, corremos, e…
Bem, mas sabe por quê o título de hoje é “sabe o que eu estava pensando”?
É porque eu queria falar justamente sobre esta expressão: o “sabe o que eu tava pensando”. Para isso, eu iria falar antes, sobre algumas outras expressões, para então chegar e arrematar com o “sabe o que eu tava pensando?”. Mas agora, estou chegando no limite a que me propus para cada crônica e nem entrei no assunto ainda.
Vou ter que continuar esta crônica amanhã, e, só então, falar no “sabe o que eu tava pensando?”!
Por que eu não continuo hoje?
Ah, leitor, veja bem, eu…
Luís Augusto Menna Barreto
28.2.2019
kkkkkk...veja bem, sabe o que eu estava pensando, quando usam essa expressão geralmente vem " alguma bomba" ou absurda sugestão pra vc fazer algo, vedade que vc bem falou que querem nos passar a perna e enrolar de alguma maneira, na cara de pau.
ResponderExcluirE não, Tel?!!!!! Já fico com “um pé atrás” com um “veja bem”...!!!😂🤣
ExcluirMas tem outras expressões que tenho medo... vou falar mais um pouco disso nos próximos dias....!!!!!🤣😅
verdade* corrigindo
ResponderExcluirFico imaginando a cena rsrs...essa expressão "veja bem" geralmente é enrolacao, quando não tem o que se falar e o senhor deve ter pensado vejo bem, mas nao concordo!! Suas crônicas são tão lindas, divertidas, tornam nossas manhãs mais alegres, tão bom ler-te!!
ResponderExcluirBom é sentar perto do fogão e sentir o aroma do café passando enquanto os amigos chegam pra cronicar!!! Bom dia!!!! Bora cronicar!!!
ExcluirVeja bem Dr. ... Isso nada mais é do que uma tomada de tempo em que o dito cujo tenta elaborar uma desculpa que geralmente sai esfarrapada. Eu tenho uma opinião de que qdo estos lendo vamos vendo um filme, formando nossas próprias cenas e esse episódio e um daqueles bem engraçadas que temos o prazer de usufruir graças às suas experiências.
ResponderExcluirBarbaridade, Lola...!!!
ExcluirEsses teus comentários são tão bons quanto os deliciosos cafés, marca de tua inderrotável gentileza!!!
Realmente, esse "veja bem" é uma bruta enrolação, é pra ganhar tempo e inventar uma mentira, justamente o que os políticos mais usam. Tem expressão que automaticamente a gente já sabe o que vem a seguir.
ResponderExcluirÉ exatamente como eu penso... ainda vou falar do "sabe o que eu tava pensando", de "tudinho" e outras mais... acho que amanhã, publico a crônica sobre "o que eu tava pensando"... rsrsrsrsrs
ExcluirObrigado, Nice!
Legal amigão. Este cara é especialista em enrolação. Veja bem é a ponte que usa como espaço de tempo necessário para sua reflexão.
ResponderExcluirO sujeito é bom mesmo. É tão bom, que acho que ele se flagrou que começava mal comigo falando "veja bem" e parou de usar... rsrsrsrs... tem gente que é muito esperta!!!!
ExcluirUm abração, amigão!!
Rsrs Bom dia Menna, o "veja Bem" me mostra que a pessoa acha que não vou entender a desculpa que tá arrumando. E o "sabe o que eu tava pensando" pra mim claramente quer dizer "Te prepara que vão te escalar pra alguma coisa." Rsrs adoro suas crônicas e estórias! 😊
ResponderExcluirBoa tarde, Sônia... acho que tu tens razão... eu tenho alguns problemas com o "sabe o que eu tava pensando?", também! Vou contar na crônica de amanhã! Mil obrigados por apareceres por aqui!!!
ExcluirVeja bem...Eu...É...
ResponderExcluirAhh!! É óbvio que essa expressão sempre antecede uma desculpa bem esfarrapada...Quando ouço,já penso:'Aí vem bomba'...
Crônica maravilhosa!!
Michele!! Veja bem.... É assim que tu vais começar a falar quando a gente pedir explicação sobre o porquê tu não colocas os links das postagens do TEU blogue???
ExcluirVai, diz aí... e não me vem com "veja bem...".... rsrsrsrsrsrs
😬🤦
ExcluirVeja bem, Meritíssimo, Vossa Excelência hoje, destes uma grande enrolada no leitor.
ResponderExcluirSabe o que eu estava pensando? Que com certeza vós não sabeis o nome de uma marca de batom mais barata.
Ah! E se o sujeito começar a resposta, como está muito na moda, com:TIPO ASSIM...
Desse jeito:
- Você ia roubar o celular da moça, rapaz?
- Tipo assim, doutor, eu ia só tomar emprestado.
XXXXXXXXXXXXX
Mas...veja bem: com certeza, enrolando ou não, vos mando um grande abraço,Excelência, tipo cheio de carinho!
E tu acreditas, escritora, que outro dia apareceu um ADVOGADO falando comigo "tipo assim"... eu confesso que foi um choque! O João fala "tipo assim" e eu às vezes não me contenho e chamo a atenção dele... mas um advogado? Num espaço de 5 minutos que esteve no gabinete, ele falou pelo menos 15 vezes "tipo assim"... eu fiquei completamente chocado...
ExcluirEu sei que tem muita gente que defende que o importante é a gente se comunicar, independentemente de como se escreve. Sei que hoje existe até uma nova linguagem escrita, capitaneada pelas antigas mensagens de texto SMS (as que eu ainda uso) e depois sustentada pelos 240 caracteres do Twitter, que fizeram reinventar a escrita.
Risos viraram kkk, ksa, vc, q, pq, n, bjs... a maior palavra nessa linguagem parece ser "etc"...!!
Mas, enfim, eu sou mais antigo e ainda curto escrever na segunda pessoa do singular e colocar "s" nos finais dos plurais... ah!, sei lá... eu simplesmente gosto!
Bora ver o que espera para a geração dos filhos do João...!!!
Super gostei que comentaste...
Sabe o que eu tava pensando...?
Sabe que... "eu tava pensando" o que ia comentar... Ainda bem que Ana já comentou... Porque eu estava tentando dizer isso... que pensei que o autor estava me enrolando... Tipos assim: tentando dizer que não disse... Mas diz Veja bem, muito bem. (Rssss).
ResponderExcluirAh... veja bem... eu não tava enrolando! Tipo assim, eu queria dizer, entende? Mas aí, tipo assim, falei de outro jeito...!
ExcluirContudo, escreve o conto como ninguém!
ResponderExcluirTá...... essa massageou o ego!!!!
ExcluirEu concordo com.a crônica! As pessoas que usam "veja bem" querem sempre enrolar ! Talvez nem todas mas quando alguém fala isso, eu me arrepio...
ResponderExcluirE não é, guria!!!!
ExcluirParece entrevista de político!!!😅😅😁
"Sabe o que eu tava pensando?" Que é muito bom esse "cantinho"? Estou feliz pelo retorno de todos!!!!
ResponderExcluirE nós, felizes demais que tu sempre estiveste por aqui!!!
ExcluirVolta logo pro Twitter, Armelinda!