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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

bora cronicar - A Fila

Bora Cronicar

A Fila

Ontem eu contei a história de que a figura do “próximo" sempre foi muito misteriosa, pra mim. Até que eu tava na fila do caixa do Nei Variedades, e descobri que o Próximo existe! 
Mas daí, eu comecei a pensar na fila… não, não pensar apenas enquanto eu estava na fila! Era pensar na fila, na existência da fila, no significado e representação da fila. Nas transformações que a fila traz pra gente! Sim, porque se você nunca parou pra pensar, a fila é algo transformador. Eu acho até, que a fila, enquanto um ser vivo e em movimento, deveria receber mais atenção, mais estudos de cientistas. Psicólogos deveriam escrever tratados sobre a fila e a transformação de comportamentos derivados da fila.
E a fila também nos iguala. Inclusive em sentimentos! O quê? Você nunca parou pra pensar nisso? Eu já!
Veja só, caso clássico: fila da lotérica! Você tem lá o seu volante para marcar os números da mega sena que acumulou, fez todo um estudo, avaliou as probabilidades e tascou: dia e mês da data de nascimento, se você tem namorado ou namorada, o dia e mês dele, se você tem filho, dia e mês da data de nascimento do filho. Sai de casa já fazendo os planos do que vai fazer com toda a grana que certamente você ganhará sozinho. Dai, quando vira a esquina e vê a lotérica… a fila! Saindo porta afora! 30 ou 40 pessoas entre você e o caixa!
Ou outro caso clássico: você está em casa, acorda com as malas arrumadas no dia anterior, o Uber na porta, esperando, você faz aquele trajeto sem trânsito, indo para o aeroporto na madrugada, sonha com o que você vai fazer assim que chegar no destino, paga o Uber quase sorrindo, experimenta aquela deliciosa sensação de colocar a mala no carrinho, a porta automática do aeroporto abre… e você vê a fila! Incontáveis pessoas entre você e o cartão de embarque!
Pois tanto num caso como no outro, casos clássicos de fila, começam as provações e transformações: você entra nervoso, olhando pra um lado e outro, atento se por acaso não abrirá um outro atendimento ao lado, no qual você será o mais rápido e esperto e livrar-se-á da fila! Mas não! Alguns minutos e você começa a ser absorvido pela fila. Em vez de procurar para os lados, você começa a olhar quem está lá na frente, depois no meio da fila. Faz planos para quando chegar até a próxima etapa da fila, dobrando 180 graus e ficando de frente para quem estava atrás de você. Nesse momento, você começa a dar olhadas, também, para quem está atrás. E um pequeno fio de orgulho começa a nascer em algum lugar de você que esqueceu qualquer orgulho, sentindo-se francamente humilhado quando era o último da fila, e invejando, com todas as suas forças, o cara tranquilo com aquele sorriso irônico lá na ponta da fila, sabendo que será o próximo. 
Porque é exatamente isso que acontece: olhamos com inveja para quem está lá na ponta, quase para ser atendido. Pensamos: o que eles fizeram para merecer isso?! O que eu fiz a Deus para amargar o último lugar da fila? Se sabemos que não existe mágica que nos colocará no primeiro lugar, desejamos, ao menos, como uma migalha de conforto, é que chegue mais alguém e fique atrás de nós; queremos passar o humilhante último lugar da fila. Então, quando alguém chega, é como se passássemos adiante o “cone da vergonha” que em tempos mais remotos, era dado a quem incomodava na aula e deveria usar o cone, em pé, virado para a parede no canto da sala de aula. 
Depois de passarmos o cone da vergonha imaginário ao coitado que chega depois de nós, chegam outros… e mais outros… e vamos avançando! Quando chegamos à metade da fila, estamos em uma zona de conforto de sentimentos. Já abandonamos aquele sentimento de vergonha e nutrimos, cada vez mais, um sentimento de certo orgulho do tanto que já conquistamos em direção ao atendimento. Olhamos, agora, tanto para o primeiro da fila, como para as pessoas atrás de nós… a força da inveja do primeiro da fila, vai-se diluindo ou transformando-se e compensando com o orgulho que sentimos do progresso, orgulho alimentado, a cada passo, com os olhares de inveja das pessoas da segunda metade da fila…
Então, avançamos mais… e, quando vemos, estamos na última parte. Já não há mais inveja! Há o orgulho revanchista: “olhem pra mim! Eu sou o máximo, sou melhor que vocês, eu sou o abençoado que está prestes a ser atendido, enquanto vocês, pobres coitados, tem muito o que esperar ainda!”
Então, o momento supremo, o píncaro do êxtase, a porta do paraíso: somos nós! Nossa vez! O momento pelo qual todos esperamos. Nem bem saboreamos o instante, e vem a voz que tudo faz esvanecer: “próximo!”
Na velocidade das três sílabas, nossa epopéia acaba! Tal qual um párea, um exilado, nós somos afastados da manada, banidos do microcosmo da fila. E agora? O que resta? Deixamos de ser parte de algo vivo, que nos gerou um turbilhão de sentimentos, para sermos apenas e tão somente nós…
Sentimos o vazio, a pré depressão, e, quando começamos a sentir-nos perdidos, decidimos: “amanhã, irei no banco! Banco público, que tem mais movimento. Vou pagar aquela conta atrasada que só recebem em dinheiro, na boca do caixa!” 
Pronto! Já temos uma nova esperança! Amanhã, faremos parte, novamente, de um universo vivo e em movimento: A FILA!
E os desalmados pensadores dos bancos, destruíram esse nosso momento: trocaram a maravilha da fila, por senhas e cadeiras acolchoadas com televisão, enquanto esperamos. 
O mundo não é mais o mesmo…!
Luís Augusto Menna Barreto

15.2.2019

25 comentários:

  1. Nunca tinha pensado nisso... O papel sociológico da fila... "Quem sou eu não fila do pão"? Pois é... Mas aqui tá bem pensado... digo... escrito.
    Que venho o próximo!

    🌹🌹🌹🌹🌹🌹

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    1. Já diziam os sábios, sábias e sabiás, sábias? A fila anda...!! ... Rsrsrsrsrs
      .... que venha o próximo da fila....!!!!
      Obrigado, guria!!!

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  2. Crônica tão deliciosa quanto aquele café da manhã que nos renova... Ser o máximo é tudo o que almejamos.rs Já dei boas risadas em fila ,conversando e contando piadas. Não adianta se estressar! A vida é muito boa ,vamos celebrar mesmo nas filas.

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    1. Vamos celebrar!!!!!!!
      Um dos deliciosos momentos da vida é esse: um café conversando com amigos, fazendo do momento, uma crônica em que se vive...!
      Obrigado, Dê!!!

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  3. Sabe!!Eu nunca tinha parado pra pendar na 'função social' de uma fila...Gente pra mim uma fila e momento de descontração ( raramente,quando encontro alguém pra conversar ate ser atendida)vivo também momentos de estresse ( puxa! Essa fila não anda?),Às vezes acho que quando a fila e muuuiitoo grande eu chego até a transmutar-me dali...Vou lembrando momentos bons, reavaliando alguns nao tão bons...Enfim...A 'fila' ate que não e tao ruím nao Poeta!!!

    CRÔNICA PERFEITA!!!

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    1. ... e querem acabar com as filas...!!!
      Pensaremos menos sem elas!!!!!

      Super obrigado, MMichele!!!

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  4. Ufa! Nunca prestei atenção tanto como agota, a " próxima" também sou eu. Verdade não se ouve mas tanto os "próximos' estao a sumir devido as senhas eletrônica com aquele alterne mim deixa doida, tudo verdade o que disse....na vida pegamos fila pra tudo, até na hora de partir, o bom das filas de caixa de pagamento quando vc chega a fila tem quase um km hehe menos que isso se depara com alguém conhecido vc olha oba, n vou pegar essa fila... Vc diz em pensamentos se tu fingir que não mim viu te dou o teu aí também. Já peguei fila hoje lá teve foi um barraco 😂.... Bom dia poeta 😘😘

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    1. Olha.... os “tipos de fila” também pode dar crônica.... vou pensar sobre isso.....!!!!
      Obrigado, guria!!!!

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  5. Eu acho que a fila foi criada por alguém que desejou hierarquizar o acesso a serviços e assim evitar carteiradas. Sobre o social, gosto muito de ouvir as conversas das filas,mas falo pouco, quase nada. Na escuta me transformo nos diversos personagens da fila e curto a apoteose da frase acabou o dinheiro, agora só amanhã. Cara se te pego lá fora você vai ver o que é bom pra tosse.

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  6. Só através da análise brilhante de um poeta, vemos uma fila com seu lado positivo(quando a olhamos com bom humor) socialisamos, ouvimos histórias diversas, experimentamos sentimentos de vergonha/raiva de ser o último da fila, assim como o orgulho de ser "o próximo" ah, ainda tem a frustração de qdo "acabou o dinheiro" ou "o sistema tá fora do ar" ufa, qta coisa que nunca tínhamos parado pra pensar. Excelente e educativa a cronicar de hoje, parabéns poeta.

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    1. Ah, amiga!!!! A FILA com amigos como tu torna-se um prazer mesmo em último lugar na fila!!!
      Transformaríamos a fila em uma roda de café pra cronicar!!!!!
      Super obrigado!!!

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  7. Pois então Na minha vida..falta a fila...que anda...que espera...que nos faz refletir..planejar..encontrar um conhecido..vizinho...ou até um grande amigo que não vemos á anos!
    A modernidade de por tudo no débito automático, me tirou da fila!
    Não serei á próxima!
    Beijo com carinho!

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    1. Ah!, Ana.... sejas a ‘próxima’ a voltar pra fila, então... !!!!
      e bora fazer da fila, um doce lugar pra cronicar...! Veja, hoje já houve histórias desamigou contando que reencontraram velhos conhecidos na fila... que encontraram os amores de suas vidas...
      Bora ser “a próxima” da fila....!!!!

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    2. Sensacional, sua crônica me fez refletir que fila é inevitável e estamos todos na fila, a cada minuto alguém deixa este mundo para trás, não sabemos quantas pessoas estão na nossa frente, não dá para voltar para o fim da fila, não dá para sair da fila, então enquanto esperamos a nossa vez: Vamos fazer valer a pena cada minuto de nossas vidas! aplausos mil nobre poeta!!

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    3. Meu Deus... Acho que teu comentário é muito mais profundo do que eu esperava com a crônica... que lindo...!
      Nem sei como agradecer-te...! Super obrigado!

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  8. Sim!
    Quero comentar sobre esta crônica.
    Depois!
    Este comentário vai ficar na fila.

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    1. Boooooora..... a fila é um ser coletivo em constante transformação.... bora fazer da fila uma roda... de boas conversas...!!!!

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  9. Acho que vou desistir de comentar sobre a crônica FILA.

    Vou falar sobre as últimas crônicas, de um modo geral. Mesmo porque sobre fila não tenho muito a dizer, a não ser que ODEIO fila. Entro em fila, somente nas que não me oferecem qualquer outra oportunidade. Pago mais caro, se for o caso; suplico a alguém (geralmente, meu velho e querido amor) para ficar em meu lugar; e fujo sempre, quase sempre, dos lugares ou situações que exigem fila. Fila é o CÃO!!!

    (Ah! Mas me esqueci de dizer que a única coisa que não faço. E isso é de jeito nenhum! É furar fila. Se vejo alguém fazer, movimento a liderança e conduzo um roda- baiana.)

    Infelizmente, às vezes, não dá para fazer nada disso. A fila se impõe, e me obriga a estar nela. Pior: me força a ENTRAR nela. Aí, eu me canso, me chateio, me mordo, xingo até a minha décima geração de avós antecedentes aos meus avós por terem contribuído para que eu nascesse e tivesse que vivenciar uma chatice daquelas. Fila é um SACO!!! Até a da comunhão.

    Não, não estou blasfemando, não. Imagina você que outro dia eu estava exatamente na fila da comunhão e, de “repente, não mais que de repente”, recebo um beliscão na bunda. Sim, isso mesmo, a pessoa que estava atrás de mim me deu um beliscão na BUNDA. A situação era tão inusitada que o meu ai foi mais de espanto que de dor. Foi um AI súbito e alto. Num reflexo, olhei para o padre e, imediatamente, para a pessoa de trás. E sabe quem era o cidadão beliscador?! Um rapaz portador de síndrome de dawn (daw?), que morrendo de rir, me perguntou: gostou?! E eu engolindo todos os xingamentos que já estavam na boca, lhe respondi, com cara e voz de pastel: Não. Claro que isso foi razão para todos na fila rirem. Até o padre, que estava lá na frente, não se aguentou e riu também.

    De quem foi a culpa dessa trapalhada toda? Da fila, claro! Não fosse a fila o desejo de beliscar minha bunda não teria surgido naquele rapaz dawn. Em outra pessoa, até poderia ter surgido, mas por certo, não teria sido aflorado tão espontaneamente e tão sem autocensura como foi. Quando eu digo que fila é coisa do DIABO...!

    Vixe! Esqueci! Eu ia falar era sobre a natureza das últimas crônicas do Meritíssimo, que, diga-se de passagem, mudou completamente, não foi cronista? Porém agora não dá mais. Deixa para outra ocasião!

    Abraço, amigo!

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    1. Barbaridade... esse não é um comentário!!! É a TUA CRÔNICA DA FILA!!! Que maravilha!! Parece coisa de Marajó City: beliscão na bunda na fila da comunhão!!!! Muito inusitado!!! Coisas de Bahia, talvez?!!!!!
      Super obrigado, escritora!!!!!!

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    2. Até eu que estou a milhares de km de distância dessa fila da comunhão da escritora Ana, ri e imaginei a cara sem vergonha do beliscador, imagine quem assistiu de perto a cena rsrsrs inusitada situação essa.

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  10. Valei- me! Beliscão na fila da comunhão já é um título e tanto! E das crônicas diárias...
    Então... Concordo com a "mudança" na mão do cronista... Mas mudar "é bão"!
    Eu tô achando muito bom isso da gente vir aqui e comentar e cronicar um pouco... da fila... do bombril... do whatsapp... enfim.
    Adorei teres vindo Ana... Um cheiro!

    Tão bom isso Dr!!!
    Até!

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  11. Há as filas,sempre estamos em alguma...
    Mas sempre nas filas é um momento de contar e ouvir histórias, de interação
    Sem contar as coisas engraçadas que se vê!
    Adorei,traduzuste em palavras o que se sente estando no final de um fila , e quando somos o primeiro kkkk
    Genial !!!!
    Adorei a história do beliscão , muito engraçada....

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