bora cronicar
Hoje Tem Camila
Eu já começo meu dia tenso…
Eu sei desde a hora que acordo. Sabe quando tu acordas e tens certeza que tens que fazer alguma coisa…? Não, não uma coisa aleatória; algo que você TEM que fazer.
Eu Lembro que quando era criança, e estudava à tarde na Escola Estadual de 1º Grau Estado do Espírito Santo, na minha bela, saudosa, distante, inesquecível, querida e lendária Santo Antônio da Patrulha (até a terceira série, a gente estudava à tarde. Da quarta série em diante, era pela parte da manhã), eu, como toda criança, assim que acordava queria pular da cama e sair correndo pra rua, achar os amigos e brincar. Mas daí… bem, daí vinha a mãe, virava um criado mudo com gaveta amarela que tinha ao lado da minha cama, colocava o caderno de caligrafia (talvez tu só saibas o que seja isso se tiveres mais de 30 anos, então, se tu não sabes, fica feliz) em cima do criado mudo e eu só poderia sair pra rua pra me reunir com o Cuca e o Christian, depois que eu fizesse a tarefa de caligrafia.
Qual o problema? Bah!, o problema é que, toda aquela disposição, toda aquela energia, toda aquela vontade de conquistar o mundo sendo um piloto de nave espacial igual da do Buck Rogers, ou ser um soldado com um cachorro bacana igual o Rin Tim Tim, ou correr com um carro pelas curvas de Santos como Roberto Carlos, abatia-se sobre mim uma preguiça invencível no instante em que eu via o caderno de caligrafia.
Acho que a tarefa levaria cerca de uns cinco minutos se fosse feita com dedicação, concentração e afinco; talvez uns dez minutos, se fosse feita com alguma displicência…
… pois eu levava entre meia hora e quarenta minutos! E depois, passava o resto da manhã culpando a maldita tarefa de caligrafia, porque nem deu tempo pra nada. A gente mal teve tempo de fazer um cipó com os galhos do chorão ao lado do quintal da casa do Christian, mal teve tempo de andar de carrinho de rolimã feito pelo “Vô Nilto” (avô do Cuca, mas do qual éramos todos “netos"), mal teve tempo de jogar bolinha de gude na frente da casa do Cuca. Mal a gente fez isso e já ouvia a D. Ruth gritar: “Chriiiiiis-tiiiiii-aaaaaaan”, e lá se mandava o Christian pra casa sem nem dizer tchau (D. Ruth impunha respeito em toda a gurizada da rua), ou logo a tia Jussara, mãe do Cuca, mandava ele entrar pra se arrumar pra escola… daí, o tempo tinha passado e pronto. Culpa do quê? Do caderno de caligrafia, claro!
Tu estás te perguntando se a mãe também não gritava chamando por mim? Pois sabe que não. Acho que ela sabia que logo em seguida à D. Ruth chamar o Christian, eu estaria de volta.
Mas, o fato é que aquele caderno de caligrafia, meio que me traumatizou.
Daí, eu fui crescendo e meu trauma passou a ser ouvir a musiquinha do Domingão do Faustão (“… do tempo que sapato novo era sapatão…”). Não tenho nada contra, muito vi o programa do Faustão, no tempo que nossa TV preto e branco só pegava “o canal 12”. O problema é que a musiquinha do Faustão, anunciava o domingo escoando-se! Daí pra diante, o que era pra ser diversão, era obrigação. A gente tinha que fazer alguma coisa, inventar alguma brincadeira, jogar alguma coisa, porque o domingo estava acabando! Depois era Trapalhões e a gente já tinha que estar de banho tomado. Quando o Show da Vida começava, a gente tinha que estar na cama!
Depois, o tempo foi passando, e os traumas meio que foram sendo superados!
… era o que eu pensava!
Atualmente, tem dias que eu já acordo tenso. Eu abro os olhos, o sol paraense está despontando pela sacada, o ar da manhã ainda está agradável, e eu quase não aproveito. Assim que abro os olhos eu lembro! Então, passo o dia sabendo que vai chegar a hora!
No trabalho, as horas voam! Daí, como neste exato momento (são agora, enquanto escrevo, 16h51min), eu já penso que tenho que arrumar tudo pra sair. Vou colocar as coisas na mochila, separar o que não deu tempo de terminar, fechar o gabinete, ir até a garagem sabendo que sou o último a deixar o fórum (o expediente acabou faz tempo), vou pegar o carro, ligar o podcast no programa Sala de Redação de ontem, e saber que, a cada minuto que passa, a cada metro que avanço no trânsito da BR que liga Ananindeua até Belém, estarei mais perto… mais perto…
Chego, estaciono na minha vaga no prédio, subo, dou atenção pro Messi que pula nas minhas pernas, pergunto como foi o dia do João, tento enrolar um pouco e lá vem a Ana, sem qualquer piedade: "tá na hora, desce!”
Pego a escada. 10 andares. Chego tenso espiando e lá vem:
“Ooooooi Luís”! Sim, é ela: lépida, faceira, saltitante e desesperadoramente pontual!
Aff… sim, hoje é dia de Camila!
Luís Augusto Menna Barreto
31.5.2019