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quinta-feira, 30 de junho de 2016

pensamentos perdidos - O CIRCO - parte 7 de 13

Pensamentos Perdidos:

CAPÍTULO 2

Capítulo 2
“E o palhaço o que é?...”
A vida era diferente, agora. As crianças, filhas daquele circo, riam enquanto ele ensaiava suas piadas e caretas naquele picadeiro vazio.
Não fazia muito que tinha 21 anos. Acompanhava o circo há oito meses e tudo era um pouco estranho, ainda. Porém, em cada cidade deixava as marcas de seu trabalho estampadas nos rostos alegres da platéia, e a ovação embriagava-o. Cada criança que ria, cada rosto banhado em riso e sorriso fazia-o esquecer o vazio em seu coração e o ajudava a sorrir também.
Fazia, agora, parte da alma do circo.
Por Luís Augusto Menna Barreto












quarta-feira, 29 de junho de 2016

poesia de ver - "... café com flores!"

Poesia de Ver:



“Hoje, quis servir-te amor!”
… e uma das fomes que ele tinha, foi saciada…!

Imagem e texto por Luís Augusto Menna Barreto


terça-feira, 28 de junho de 2016

crônica - O Juiz Que Pague o Acordo

O Juiz Que Pague O Acordo

Originalmente  publicado no antigo blog
"Menna Comentários", precursor deste.
Data da postagem original: 26.02.2016.
Comentários na postagem original:  9.
Visualizações até ser retirado:  413.

Essa eu me arrisquei! E quando cheguei em casa, ainda levei uma bronca!
Foi no Juizado Especial do Bairro do Marco, em Belém do Pará, como algum caso que já contei aqui!
Naquela época, em 2003, havia um advogado que atuava muito por lá. E olha!, eu reconheço: ele lutava com unhas e dentes pelos clientes dele. Fechava muitos acordos, mas em todos, podem ter certeza de que o seu cliente saía com alguma boa vantagem. Claro que não sei o acerto entre ele e seu próprio cliente, nem quanto ele levava daquilo… o fato é que o qüera era bom de acordo!
Também havia por lá, uma advogada muito conhecida no Juizado, que atuava defendendo várias empresas que eram processadas. E olha que não ficava muito pra trás do advogado bom de acordo. Ela era dura na queda. Já chegava impressionando: era uma mulher alta, cabelos escuros e compridos, sempre maquiada e equilibrando-se perfeitamente em saltos daqueles que a gente vê em desfile de moda. Fechava acordos… mas dificilmente um acordo superava metade do que o autor tava pedindo.
Esse caso, eu lembro bem, o autor reclamava uma bicicleta muito boa, que havia sido furtada de dentro do estacionamento de um supermercado conhecido daqui de Belém. O autor entrou pedindo o valor da bicicleta, danos emergentes, ou seja, pedia o valor que passou a gastar levando a filha de táxi para a escola, eis que antes a levava de bicicleta, e pediu, também, “dano moral”. Vai saber qual é o dano moral num caso desses, mas vá lá. Acho que se fosse o contrário até era mais razoável, não é?: antes ia de táxi e agora fora forçado a ir de bicicleta… o caboclo podia até tentar dizer que sentia vergonha de ter trocado o táxi pela bicicleta… mas o contrário? Imagina: o cara que levava a filha na “garupa" de uma barra forte, agora tava todo "podendo" chegando de táxi todo dia na escola da filha…?! Pode até ter tido prejuízo financeiro, mas que chegar de táxi todo o dia faz um bafo, a isso faz!
Mas enfim… eu ainda não havia decidido, e somente o faria ao final da audiência!
Normalmente, havia quatro audiências de instrução por tarde (o Juizado funcionava  aberto ao público das 16 até às 20 horas). Aquela era a última e havia começado perto de 19h30.
Fiz minha introdução acerca das vantagens de um acordo, tentei deixar bem claro a parte do “sabe-se lá o que pode sair da cabeça de um juiz”, e fui pros “finalmentes" de um acordo! 
Bah, não teve jeito! (Se eu fosse paraense, provavelmente diria: égua, moleque, o acordo levou farelo!).
Enfim, sem acordo, uma vez que o autor queria pelo menos R$ 4.000,00 para acordo e a empresa queria pagar no máximo R$ 500,00, vamos para a instrução. A advogada fez a contestação na hora (tinha farinha no saco pra fazer!). Achei que seria isso e perguntei:
“Alguma das partes quer depoimento pessoal?”.
“Nós queremos”. “Nós queremos”. 
Não, não foi repetição. As duas partes quiseram! (Afff…!).
Isso já era por volta de 20h20.
Ouvimos os depoimentos e perguntei:
"Alguma das partes trouxe alguma testemunha que queira que seja ouvida?"
“Nós trouxemos”. “Nós trouxemos”.
É, de novo! As duas partes!
“Quantas?
“Três”. “Três”.
Ui!
Busco ânimo e vamos lá, já pensando o que vou dizer em casa quando chegar perto de 22h!
Ouvimos TODAS as seis testemunhas!
Mesmo cansado, como todos ali, aliás, fiz o que sempre faço quando todas as provas foram feitas no Juizado: tento novamente um acordo, explicando às partes que será com aquilo que haverei de julgar. E tento enfatizar novamente aquela parte do “sabe lá o que vai sair da cabeça de um juiz”!
Progredimos! 
Chegou um momento, perto de 22h30, que o autor contentava-se em receber R$ 1.850,00. E a parte ré aceitava pagar R$ 1.800,00.
Pensei: “tá no papo”! Ninguém vai perder de fechar um acordo por conta de R$ 50,00!
Eles deixariam! Acreditem! Não houve jeito!
Olha… tentei… ficamos quase 1 hora tentando de tudo, mas travou bem ali, pela maldita diferença de R$ 50,00. 
Estávamos esgotados e, àquela altura, se não houvesse acordo, ainda demoraria pelo menos mais uns 40 minutos para eu prolatar a sentença (Juizado Especial sempre prolatei as sentenças em audiência).
Até que tive uma idéia. Virei-me para o autor e seu advogado:
“Deixa eu entender: se o seu cliente receber R$ 1.850,00, vocês aceitam o acordo?”
"Aceitamos, doutor. Mas nem um centavo a menos!”
Virei-me para a advogada da parte ré:
“Vocês aceitam o acordo se só pagarem R$ 1.800,00, é isso?”
“Isso, doutor, nem um centavo a mais!”. Imagina se ela ia dar o braço a torcer àquela altura do campeonato!
Foi então que virei para a auxiliar que estava digitando e disse:
“Escreve aí: as partes fecharam o acordo em R$ 1.850,00. Eu vou pagar esses R$ 50,00 para todos podermos ir embora!” - E nisso coloquei a mão para trás como quem vai tirar a carteira do bolso!
Foi um tal de “Doutor, não faça isso”, que os dois advogados pularam da cadeira e disseram que não poderiam deixar aquilo acontecer e coisa e tal!
Resultado: Fecharam o acordo pelo óbvio: R$ 1.825,00.
Quando contei em casa, foi aquela bronca:
“Tu tá louco?! Vais ficar pagando acordo dos outros agora? E outra: tua carteira ficou em casa!”
Era verdade. Na hora que botei a mão pra trás vi que a carteira não estava no bolso… mas não quis recuar. Não faço a menor idéia de como eu ia sair dessa, se eles aceitassem que eu pagasse a diferença! Nunca mais fiz isso!


Por Luís Augusto Menna Barreto



segunda-feira, 27 de junho de 2016

diálogos - ...retorno! // dialogues - "... return!"

Dialogo - “…retorno!"
// 
Dialogues - "... return!"

“Dói partir.”
Dói ficar sem ti”.
“Será tanto tempo… quando penso em todo o tempo que passará até eu voltar…” Ela não conseguiu terminar a frase.
Pensas que importante é que partes pra voltar.
“Eu sempre vou voltar pra ti!”
Então, se voltarás, pensas que não importa onde andes nem quanto tempo levarás… mas se realmente voltarás, assim que saíres do meu abraço, darás o primeiro passo para retornar pra mim”.

//

- It hurts to leave.

- It hurts to be without you.

- It will be so long ... when I think of all the time it will take until I come back ... - She could not finish the sentence.

- You must think how important it is that you leave but you will return.

- I'll always come back to you!


- Then you will come back, you must think that it does not matter where you are or how long you will take ... but if you will really return, as soon as you leave my embrace, you will take the first step to return to me.

Por Luís Augusto Menna Barreto


domingo, 26 de junho de 2016

pensamentos perdidos - O CIRCO - parte 6 de 13

Pensamentos Perdidos:
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Há dias, já, que se havia ido o circo. Mas ele conseguia fazê-la rir, ainda, repetindo dezenas de vezes as mesmas piadas que aprendera com os palhaços.
Eu gosto quando você me faz rir. - Dizia ela.
Eu gosto quando você ri. - Respondeu.
Você é um palhaço! - Falava entre sorrisos, enquanto ele fazia caretas e tentava imitar os malabaristas com três laranjas. - Deveria entrar para o circo!
O seu riso basta-me. Minha alma alegra-se só por fazer-lhe sorrir. Se algum dia você não sorrir mais pra mim, aí eu vou embora com o circo pra tentar fazer todo mundo rir e tapar um pouco o vazio que ficará no meu coração.
...
O sorriso, agora, era uma lágrima no olho da menina.

Por Luís Augusto Menna Barreto









sábado, 25 de junho de 2016

poesia de ver - "... teu brilho!" // poetry to see - your brilliance!

poesia de ver - ... teu brilho!
//
poetry to see - your brilliance!


“Como gosto de ver-te assim radiante, florzinha”!
E eu sempre gosto quando tu me vens olhar…!”, respondeu-me a florzinha.
“Tu ficas linda assim, iluminada pelo sol!”
O sol sempre me bate… mas é o brilho do teu olho que vês refletindo em mim!

"How I like to see you so radiant, little flower!"
"And I always like it when you come to look at me!" Replied the little flower.
"You look beautiful like this, lit by the sun!"

"The sun always hits me ... but it's the glitter of your eye that you see reflecting in me!"

Texto e imagem por Luís Augusto Menna Barreto



sexta-feira, 24 de junho de 2016

crônica - Maradona no Juizado Especial

Maradona no Juizado Especial

Originalmente  publicado no antigo blog
"Menna Comentários", precursor deste.
Data da postagem original: 23.02.2016.
Comentários na postagem original:  3.
Visualizações até ser retirado:  386.

Taxistas… vou dizer uma coisa! Não sei se todos são assim, mas os casos mais inusitados que aconteceram comigo no Juizado Especial, sempre tinham algum taxista envolvido. Ô classe pra ter criatividade em negócios! Esse caso, os três envolvidos eram taxistas!
Pois eu estava no Juizado Especial do Bairro do Marco em Belém, que hoje tem um outro nome menos charmoso, é “Vara-alguma-coisa” do Juizado Especial. "Juizado Especial do Bairro do Marco” era muito mais legal e a gente pelo menos sabia que era no Bairro do Marco. Sim, sabia onde era, mas pra chegar lá, vou te contar..! A rua 25 de… - esqueci o mês, não sei se é de Novembro ou Dezembro - era um zigue-zague! Não, não é figura de linguagem! a cada 70 metros mais ou menos, tinha que mudar de lado na avenida! Não me pergunte por quê! Como dizia um personagem de Ariano Suassuna: “Só sei que é assim”!
Pois bem: foi lá no Juizado Especial! Eu sempre levava os processos de audiência para casa na noite anterior, para dar uma estudada neles e já planejar uma abordagem para acordo. Quando vi o processo na noite anterior, fiquei super tranqüilo. Uma história bem simples: o réu havia pedido um mil reais para o autor, este deu o dinheiro em empréstimo e fazia quase seis meses que não recebia nem um centavo. Queria receber de volta o que emprestou. Simples assim!
Pois na hora da audiência, entraram os dois e comecei:
“Então o senhor deu em empréstimo um mil reais, é isso”?
“Sim senhor”.
Virei para o outro:
“E o senhor não pagou?”
“Não senhor”, o outro respondeu.
“Então é muito simples: o senhor tem de pagar. Precisamos só acertar uma forma de pagamento que o senhor possa cumprir”.
“Não senhor”, repetiu o cara. “O Senhor não entendeu Doutor”.
O que será que tinha pra entender num caso em que um pede emprestado, não paga, e tem de pagar?! … mas tinha muita coisa…!
“Doutor, eu não devo nada”.
"Hein??!!"
"Eu só tava trabalhando no ponto de táxi e conheço eles, Doutor, mas não devo nada!”
Como assim “conheço eles”, pensei…? Olhei pro autor e ele foi explicando sem eu perguntar:
“Doutor, é verdade. Ele não me deve nada. Ele é só testemunha. Quem deve é o Maradona!”
Caramba! Se o cara não devia, o que ele estava a fazendo ali. Mais que isso: se quem devia era o “Maradona”, por que ele não tinha sido indicado como réu?! Era caso de extinção do processo pelo que a gente chama de “ilegitimidade passiva”, ou seja: ninguém pode cobrar de quem não deve!
Mas o autor, com cara de quem está tentando a última chance falou:
“Doutor, desculpa. A gente sabia que ele (o réu) não me deve. Mas ele é testemunha que o Maradona me pediu emprestado e eu dei o dinheiro!”
Perguntei o óbvio:
“E por que tu não entraste contra o Maradona?”
“Ele é muito brabo, doutor. Vive armado e fazendo confusão lá no ponto. Se eu chamo ele pra justiça, ia ter confusão e ele não ia vir. Daí, coloquei o Maradona só como testemunha e ele veio, Doutor. Tá aí fora!”
Pela madrugada! Será que ele tem medo do Maradona?! Bem, de qualquer forma, o sistema do Juizado Especial tem vários critérios em que o mais importante é resolver o problema. Não tive dúvidas: 
“Chama o Maradona”.
Pois não é que não era apelido: o nome do qüera era MESMO Maradona! E era o primeiro nome! Era “Maradona alguma coisa”. E olha… que nome mais apropriado: baixinho, com uma pose, andando todo de nariz empinado e o cabelo meio crespo. 
Chutei logo o balde:
“Eles me disseram que o senhor pediu um mil emprestado e não pagou, é isso?”.
“Sim senhor”.
“E…?”, perguntei.
“E eu já falei que vou pagar quando eu puder! Mas se ele quiser, faço uma proposta agora, e resolvo”.
Bom… a verdade é que foi resolvido tudo naquele dia mesmo. E tô quase com vergonha de contar o acordo que eu homologuei. Até tentei explicar para o autor que não era muito vantajoso a ele, que muito provavelmente daria errado de novo… mas o autor achou maravilhoso o acordo e pediu pra homologar. Tá bom, né?!
... 
Ok, vou dizer o acordo: o Maradona convenceu o autor (que JÁ HAVIA DADO UM MIL REAIS, não esqueçam) a fazer um CDC, aqueles empréstimos bancários que a gente faz no caixa automático do banco, no valor de um mil reais na própria conta do AUTOR. Daí, com este dinheiro, ele Maradona, “pagava" o empréstimo de um mil feito, e passaria a pagar as parcelas do CDC para o autor.
...
.. não entenderam? É o seguinte: o autor pagou-se com seu próprio dinheiro, e, agora, tem uma dívida de empréstimo com o banco! E o Maradona? … ah, o Maradona quitou o empréstimo que havia feito. Essas novas parcelas, são uma nova história…!

Por Luís Augusto Menna Barreto



quinta-feira, 23 de junho de 2016

pensamentos perdidos - O CIRCO - parte 5 de 13

Pensamentos Perdidos

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“Respeitável público...”
Pipoca! Maçã do amor! As pessoas sorriam nas arquibancadas. As crianças, assim como ele, esperavam, inquietas, a entrada dos palhaços.
“... o maior espetáculo da terra!”
E era verdade. Ele acreditava, lá no fundo de sua alma, que era verdade. Não havia espetáculo maior do que o ato de sorrir, de alegrar-se.
O verdadeiro espetáculo era, sem dúvida, o saber fazer sorrir.
Ele estava triste por estar só. Mas, ainda assim, não conseguia deixar de sorrir com os palhaços.


quarta-feira, 22 de junho de 2016

poesia de ver - "...metade!" // poetry to see - "... half!"

poesia de ver - "...metade!" // poetry to see - "... half!"





… já não lembro se eu era um só e virei 2…

Nem lembro se éramos dois, de um mesmo 1…

Mas sei que quando te arrancaram do meu lado,

virei apenas metade de mim.

//

... I can not remember if I was one and I became 2 ...

I do not remember if we were both the same 1 ...

But I know that when they pulled you from my side,

I will only become half of myself.

Originalmente  publicado no antigo blog
"Menna Comentários", precursor deste.
Data da postagem original: 09.03.2016.
Comentários na postagem original:  9.
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Originally posted on the old blog
"Menna Comments", precursor of this.
Date of original post: 09.03.2016.
Comments on original post: 9.
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Imagem e texto por Luís Augusto Menna Barreto



terça-feira, 21 de junho de 2016

crônica - Bédi-Bói, Macaquinho e o Homem-Aranha

Bédi-Bói, Macaquinho e o Homem-aranha
(Novamente, um especial agradecimento ao Investigador de Polícia ARAGÃO, 
muito atuante no arquipélago do Marajó, que em uma ímpar gentileza, 
enviou-me os relatos que deram origem a esta crônica!)

Incrível como essas coisas acontecem sempre na sexta-feira!
“Não dá, doutor! A casa não tem porta!”
“Hein?”
“Não tem porta, doutor”, repetiu o policial militar!
O Distéfano e o Magistrado, os dois oficiais de justiça estavam ali também. Olhei pra eles como quem pergunta “que história é essa”?
“Tem não, doutor”, disse o Magistrado.
“Tá bom…” Esse foi o Distéfano. Sem mudar a expressão tranquila. Era só o que ele me dizia: ”Tá bom…”. Assim, com reticências e tudo e quase sem pronunciar o “m" do final. Saía assim: “tá bô”!
“E eles sobem lá como? Ou depois que entraram na casa foi que construíram as paredes?” Eu perguntei, já quase irritado.
“É o Macaquinho, doutor. O moleque sobe muito rápido e joga a escada pro Bédi”, explicou o policial.
O caso era o seguinte. O Bédi-Bói havia invadido um terreno lá para os lados da estrada. Onde leva esse estrada, eu não sei. Acho que leva até o outro lado da ilha. Afinal, aqui no Marajó, tudo é ilha e, se uma estrada existe e vai direto, só pode levar até o outro lado. Sei que nos finais de semana muita gente fala que “vai pra estrada”. Isso é quase uma gíria. Ouvi dizer que tem vários igarapés ao longo da estrada, mas eu nunca fui, ainda, em nenhum. O mais longe que já fui foi até a pista de pouso (de piçarra, sem qualquer regularização), quando fui buscar o presidente do Tribunal de Justiça de ambulância, dirigida pelo Manobra que nem habilitação tem! Fomos de ambulância porque era o único veículo disponível na cidade além do caminhão de lixo e algumas motos velhas e sem placa que fazem serviço de mototaxi. 
Pois o caso é que o Bédi-Bói havia invadido um terreno pra além da pista e ergueu ali uma casa. E literalmente ergueu, porque pelo que o pessoal estava contando, a casa era de dois pisos, mas não havia porta nem janela na parte de baixo. Na parte de cima, havia três janelas, uma na frente e uma em cada lado. Mas nenhuma porta. Nem escada! O Bédi aliciou o Macaquinho, um garoto com aparência de desnutrido, que já foi apreendido algumas vezes por sempre tentar furtar frutas, para que o Macaquinho suba ligeiro e jogue uma escada de cordas para o Bédi subir.
Bem, já deu pra imaginar que o Bédi-Bói não era exatamente um anjinho, né?! Pois é. Desde moleque, aprontava, entrando e saindo da delegacia. Normalmente, alguns furtos, brigas e muitos desacatos. 
Pois ele achou de invadir um terreno que tem um igarapé e uma pequena praia, formando um agradável balneário minúsculo de propriedade da D. Justa, que mantinha lá, apenas uma tenda para, nos dias quentes, vender cervejas e salgados para quem fosse ao igarapé. Como  o Bédi invadiu no inverno (é sempre quente, mas o “inverno” caracteriza-se pela estação das chuvas, quando, em vez de chover todos os dias, chove o dia todo!), deu tempo para construir a casa sem ninguém perceber. Agora, chegando o verão (pára de chover o dia todo e começa a chover todo o dia!), a pobre D. Justa havia ido até seu terreno e deu com a casa. Foi falar com um policial militar. Esse, mandou procurar o delegado. O delegado falou pra ir no Ministério Público. O Ministério Público mandou dona Justa para a Advogada da cidade (não tem defensoria, mas o prefeito paga uma advogada para fazer as vezes de defensora), e esta, finalmente, ingressou com pedido de reintegração de posse! E daí, já era sexta-feira! 
Peguei o processo e logo despachei determinando a reintegração. Entreguei para o Goela e ele, levando o processo para a secretaria, espiou a decisão e sentenciou: “encrenca, doutor”. 
Mandado feito, chamaram os oficiais Distéfano e Magistrado pra ir cumprir. Eles pediram o apoio do policial militar e lá se foram. Chegaram lá e deram com a casa sem porta. Averiguaram e ficaram sabendo que o Bédi passava o dia todo trancado na casa (não sei fazendo o quê) e só saía à noite. Mas à noite não pode cumprir mandado de reintegração, segundo a Lei. 
Não conseguiram cumprir o mandado e voltaram.
“Mas vocês não mandaram ele descer?” Perguntei.
“Mandar mandamos, né doutor” falou o Magistrado. “Mas o Bédi pegou uma garrafa com gasolina e um isqueiro e disse que ia tocar fogo em tudo se alguém chegasse perto da casa e tentasse subir! E pra subir, só levando escada, doutor!”
Ai ai ai… 
“Tem o Homem-Aranha…”
“Hein?” Minha surpresa nem foi por falar em homem-aranha. É que foi o Distéfano que falou alguma coisa pra mim além de “tá bom…”!
“O Aragão… ele sobe!”
Aragão era o único policial civil, além do delegado!… Tá, tem o Fechadura, mas esse não é policial, apenas cuida do xadrez da delegacia. Mandei chamar o Aragão, que ficou conhecido como Homem-Aranha, depois de ser filmado subindo em uma casa para pegar um ladrão. Ele conhecia há muito o Bédi e já conhecia, também o Macaquinho, o garoto desnutrido e ágil que o Bédi pegou para subir e jogar a escada.
“Missão dada, missão cumprida, doutor!” Falou o Aragão, sem pestanejar.
“Mas a casa não tem porta. Tem que subir no andar de cima”, ponderei.
“Feito”!
"E o Bédi ameaça jogar gasolina e tacar fogo”.
“Feito”!
"E tem o Macaquinho! É menor, não quero que seja machucado.”
“Feito”!
“E ‘pelamordeDeus’, não me vai dar tiro por lá”.
“Feito”!
Saindo todo mundo da sala, o último era o Distéfano que indicou o Aragão. 
“Distéfano! Tu que conheces o Aragão, o que achas?” Perguntei quando ele saía.
Adivinha?
“Tá bom…"
No outro dia, sábado, por volta de 10 horas, o Goela foi me chamar para eu ir no fórum, porque o Aragão estava lá com o Distéfano porre, enrolado em uma rede, aparentemente sem nenhum arranhão, e a D. Justa já estava desmontando a casa, pelo que disseram!
“Mas como foi isso?” Perguntei.
"Ah, doutor, falei com a Sandrinha Vira-Copo. Ela tava me devendo uma, porque eu aliviei um estelionato dela, uma vez”. (Fingi que não ouvi essa última parte!).
Como assim?
“Ontem foi sexta-feira, doutor. O Bédi ia no brega, e pedi pra Vira-Copo embebedar ele. Dito e feito. Embebedou. Quando chegamos lá, de manhã, ele tava porre dormindo. Trabalho deu, foi pra descer ele porre lá de cima. Mas enrolamos na rede que ele tava dormindo e descemos ele.”
"E o Macaquinho? Não deu trabalho?” Perguntei.
“Não, doutor. Nenhum. Foi só levar fruta!”
“Hein?”
Pois é. O apelido “Macaquinho”, não era porque subia rápido nas coisas. Era porque as primeiras vezes que foi apreendido, foi por tentar furtar bananas. E ele tava sempre com fome! 

Por Luís Augusto Menna Barreto



segunda-feira, 20 de junho de 2016

diálogos - "...quase verdades!" // dialogues - "... almost true!"

diálogos - "...quase verdades!" // dialogues - "... almost true!"


“Essas histórias todas que tu me contas, são verdadeiras…?”
"Are all these stories you tell me, are they true ...?"

“Verdadeiras…? … a verdade sempre me pareceu tão diferente em cada um. Será que existe só uma verdade, ou cada um tem a sua própria e só achamos que é verdade quando finalmente nos agrada que seja?”
"True ...? ... truth always seemed so different to each other. Is there only one truth, or does each have its own, and we only think it true when we finally like it to be? "
“São verdadeiras?”

“Algumas são… outras nem tanto…”
"Some are ... others not so ..."

“Por que tu me contas o que não é verdade?”
"Why do you tell me what is not true?"

“Não disse que não é verdade… disse que não é tanto verdade… eu te amo… quero te proteger de verdades que machuquem… então, conserto as verdades com gentilezas pra que sempre sejam um carinho quando chegam pra ti.”
"I did not say that it is not true ... I said that it is not so true ... I love you ... I want to protect you from truths that hurt ... so I fix truths with kindness so that they will always be affection when they come to you."

(Do conto “Entrelinhas”… que ainda não escrevi… porque o personagem ainda briga comigo, e ainda fala o que peço para ele não falar…)
(From the story "Entrelinhas" ... that I have not yet written ... because the character still quarrels with me, and still speaks what I ask him not to speak ...)


Originalmente  publicado no antigo blog
"Menna Comentários", precursor deste.
Data da postagem original: 07.03.2016.
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Por Luís Augusto Menna Barreto

domingo, 19 de junho de 2016

pensamentos perdidos - O CIRCO - parte 4 de 13

Pensamentos Perdidos:

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- Como você pode ser tão irritante às vezes? - Gritava ela, irritada naquela noite sem luar. - Que droga!
- E você? Como pode irritar-se tão facilmente? - Perguntava, tentando acalmá-la. - Sorrir desgasta menos a gente...
- Como eu vou sorrir se você fica me irritando?
O circo, já montado cem metros à frente, iniciaria o espetáculo em dez minutos. Era a grande estréia!
- Ta bom, desculpa. - Falava ele. Não lhe irrito mais. Vamos, que já vai começar...
- Vá você!
Ela se virou decidida e sumiu rumando contra as pessoas que iam para o espetáculo.

Por Luís Augusto Menna Barreto



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