UM CONTO DE FÉ
Parte 3
Havia algo de ironia naquilo tudo.
Há menos de dois anos, ele estava ajoelhado na capela daquele mesmo hospital. Os médicos haviam chamado os familiares para dizer que não havia mais o que fazer pelo pai, e ele lembra que enquanto a mãe ficara no quarto, ele fora para a capela rezar. Lembra que Sil o acompanhara, de forma silenciosa e descrente, mas o tempo todo ficara lá, esperando por ele.
Foram quase dois anos intensos demais. Mas havia alguma ironia.
O pai, de algum modo que os médicos explicaram apenas como “passou a responder aos medicamentos” recuperou-se. Não para voltar ao que era. Reformou-se no exército, locomovia-se com dificuldade e mal andava alguns metros, sentia-se cansado e precisava repousar. Mas não morreu no hospital como previram. A mãe dele passou a ser incansável nos cuidados. Se antes dedicara a vida a cuidar dos filhos e criá-los, agora descobria-se em uma nova missão: cuidar do homem com quem dividiu sua vida.
Há quase dois anos, quando ele saiu da capela do hospital, junto com Sil, vira uma movimentação na porta do quarto onde o pai estava. Pensou que o havia perdido, sem que tivesse tido a oportunidade de contar-lhe sobre si. Entrara na capela para rezar em busca de milagres e coragem. Então, a mãe apareceu na porta, virando a cabeça de um lado a outro, como que lhe procurando. E, quando ela o viu, ele percebeu o sorriso por entre a angústia do rosto da mãe, percebeu a lágrima que lhe descia lenta, sentiu o aperto de Sil na sua mão. E houve algo de diferente. Não pode ver, mas poderia jurar que a pele de sil estava arrepiada. Se a notícia fosse a pior, Sil entraria com ele. Mas, como ele ainda não havia contado, Sil apertou-lhe a mão e ele foi ao encontro da mãe. Sil olhou pra ele… depois para a capela, de onde acabaram de sair. Viu a cruz. O Cristo. E, por um momento, pareceu que Cristo realmente olhava para ele.
O pai, em menos de dez dias, tivera alta.
Mas em menos de um ano, chorara a perda da mãe. Não deu tempo, sequer, de pedir a Deus por sua saúde, como fizera pelo pai. A mãe fora dormir um dia, e simplesmente não acordara mais.
Sil, que desde aquele dia em que o vira rezar e, saindo da capela, receberam a melhora do pai dele, acompanhava-o, em silêncio, nos momentos em que ele rezava. Não rezava com ele. Mas o acompanhava. Não blasfemava mais. Sil vira-o velar a mãe. E Observou que tanto quanto na doença do pai, quanto ao lado do derradeiro leito da mãe, embora a dor natural, havia nele uma calma que Sil não entendia. Uma tranquilidade. Por muitas vezes, Sil achava que ele deveria revoltar-se. Que deveria brigar com Deus. O pai estava doente. A mãe, que cuidava tanto do pai, jazia no caixão ao seu lado. E, ainda assim, Sil via nele algo que parecia tranquilidade. Uma paz.
Sil simplesmente não sabia mais o que pensar sobre isso. E não conseguia esquecer o dia em que saíram da capela, no hospital, e sentiu o arrepio que lhe percorreu o corpo todo.
Sil, lembrava-se da apreensão que sentira. Da angústia quando ele perdeu a mãe. Não pela dor de perdê-la. Era algo que Sil sabia ser muito mais egoísta: era o medo de perder a ele! O pai dele precisava de cuidados. E Sil ouviu-o dizer, segurando as mãos do pai, naquela oportunidade:
— Pai, eu vou cuidar de você. Vai ficar tudo bem.
E tanto Sil quanto ele, sabiam, que algo mudaria.
Ou ele contaria ao pai… ou não poderiam continuar juntos.
…
Mas a ironia não fora aquela situação toda de alguns meses atrás, com a morte da mãe antes de o pai dele que havia sido condenado pelos médicos…
A ironia era isto, neste momento. Era Sil estar ali… justamente ali. E o motivo pelo qual estava ali, enquanto ele, com tamanha fé, não estava…
Por Luís Augusto Menna Barreto
Como dizer que sem fé não esperança. Só lembrando as palavras do evangelho. Se vc tem fé está remove montanhas. Respeitando a todos só em Jesus vamos ao Pai, pois Ele é o caminho,a verdade e a vida. Assim sendo só crendo Nele as nossas preces serão atendidas.
ResponderExcluirAmém!
ExcluirBoa tarde, amigão!
Qual será esse tal segredo...?!!!
ResponderExcluirQuanta ansiedade pra saber!!!
Este conto tem apenas mais uma parte.... tudo haverá de ser respondido na próxima publicação!!!!!!
Excluir... mas hoje, depois de tanto trabalho, de arranjar o lugar certo das palavras, consegui ver o final!!!!!
Sem querer saber mais que o próprio autor, acho que o grande segredo está na cara, pelo menos é o que me parece, um relacionamento homossexual ocorre aqui... mas bora aguardar o próximo capítulo.
ResponderExcluir... e se o “segredo” NÃO for este... ou, falando de outra forma: se isso NÃO FOR SEGREDO... e, a propósito... qual o milagre havido? E qual a questão de FÉ?
ExcluirAh..... como é bom encontrar teus comentários!!!!
Ah é, o milagre... Deus concede uma cura pedida com fé.
ResponderExcluir... qual cura?
ExcluirFoi isso que ele pediu?!!!!
😉
A maior curiosidade é o segredo guardado que então saberemos qual é no próximo capítulo.
ResponderExcluirAguardemos!
Mas a lição de fé é algo a ser valorizado!
Feliz de quem a tem!
Feliz de nós que aprendemos com nossos pais e tentamos ensinar aos nossos filhos.
Mas... que venha o segredo!
Que venha a FÉ!!!!
ExcluirPenso eu que tem mistério e palavras para pelo menos "duas partes" neste teu escrito... Mas não diminuiu a importância que este dá a fé desde o princípio. O salto no tempo foi uma surpresa. Boa mão novelesca a tua... Sempre!
ResponderExcluirAh, guria......
Excluirnem sei como
Agradecer.... tu és sempre gentil demais...
Espero que o desfecho não te decepcione!!
Rsrsrsrsrsrsrs
ResponderExcluirVou manter a linha... Fique tranquilo.
Eu, que nem sempre sou tão gentil e que jurei não comentar mais nada sobre o que escreves sem que antes tomes uma atitude quanto ao que já está escrito, (TU BEM SABES SOBRE O QUE FALO), digo somente que o "tal segredo" se não for, de fato, surpreendente, a FÉ VAI PARA O BREJO.
ResponderExcluirUm abraço só de braços!
Essa, eu preciso que tu expliques....
Excluir.... não entendi!!!😬
(A parte de tu não comentares mais, eu entendi 😪, não entendi a parte sobre o texto)!
Mas eu não estou com vontade de explicar...
ResponderExcluirDeixa isso pra lá!
Teu conto é bom! Não há necessidade de ficares irritado.
Mas não me irritei....
ExcluirNão ficaria irritado contigo!
.... fiquei preocupado!!!!!
Esse conto foi uma experiência literária diferente... tenho experimentado desde o CONTO DE BELLA.....
Escrevi o CONTO DE BELLA e depois, voltei pra minha zona de conforto... escrevi o CONTO DELLA, e voltei pra minha zona de conforto.... daí fui experimentar com O TEATRO... e vi que nem havia saído da minha zona de conforto, porque estava escrevendo na 1ª pessoa o TEATRO e o narrador era criança... Daí enveredei pro CONTO DE FÉ, com UMA idéia na cabeça...
Mas agora fiquei meio com medo de minha ideia não ser suficiente e eu mesmo conduzir o conto pro brejo!!!!
.. é um experimento...
... daí, no meio desse experimento, ainda experimentei outra linguagem no “Contículo” do Rei Mais Rico do Reino Mais Pobre.....
...e tenho experimentado...pra ver se no segundo semestre desenvolvo um outro graaaaaaaande projeto experimentar...!!!
Mas no meio disso, quero salvar o conto do brejo!!!!!!
O que tu tens contra o BREJO?! Faz isso, não...!
ResponderExcluirO brejo é preciso! Todas as pessoas devem experimentar, vivenciar o brejo. É terra adubada! Lama cheia de microrganismos! Muitas vezes nascente de água que corre!
A FÉ, para ser mantida e fortalecida, tem
de entrar no brejo.
Abraço!
Agora é que me enrolei de vez!!!!
ExcluirO BREJO PURGA!
ResponderExcluirANDES PRIMEIRO PELO PURGATÓRIO, PARA SALVAR A FÉ!
Eu discordo... Não é o purgatório não! É mais embaixo... o inferno de Dante.
ExcluirMas barbaridade!!
ExcluirQue saudades!!! E que surpresa BOA!!!!!!
... bora por esses círculos... cadê Beatriz???
Não me contive!!!! Saio da minha clausura apenas para dizer que eu mesmo fui para o brejo... E não saí de lá ainda!
ResponderExcluirAbraço a todos! Saudações, nobre cronista!
E onde andará tua Beatriz...? Que em outras páginas, tinha um outro nome......?
ExcluirNão te vou apressar a sair... porque sei que poetas, quando vão ao inferno, voltam com o paraíso nas palavras...! Aguardo, resignado, tua volta!!!!!!!!
... saibas, apenas, que te esperam... com grande ansiedade...
É verdade! O BREJO pode ser também o INFERNO, quando a purgação se intensifica.
ResponderExcluirMas não nos esqueçamos que até ELE "desceu à massão dos mortos" e só depois "subiu aos céus".
O BREJO, pois, LUIZ E LUÍS, é a lama da qual não podemos fugir.
... há os que sabem andar na lama... há os que se sentem incomodados com ela... há os que se sentem bem...
Excluir... e há os que nem percebem que estão na lama, porque nelas nasceram, e é lama que conhecem...
Mesmo assim, sem ser Dante ou LuAlves, tenho medo de jogar o conto no brejo...!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirTenhas medo, não!
ResponderExcluirNão há pureza sem antes uma imersão no BREJO.
Há quanto tempo não acontecia esse encontro que gostamos tanto!!!
ResponderExcluirPoeta Menna, Ana Macedo e LuAlves...que maravilha de diálogo! Obrigada por esse momento ímpar!!!
Ô, guria....!!!!!
ExcluirNem me fala....! Hoje em dia são tão raras as visitas desses dois....!
... mas é tão bom......!
Nem te falo como me faz bem!!!!
Mas, o que mesmo vocês estão fazendo no brejo, pessoas? Tenham cuidado...
ResponderExcluirO Menna escreveu:
ResponderExcluir"há os que nem percebem que estão na lama, porque nelas nasceram, e é lama que
conhem"
Mas, Luís Menna, todos nós nascemos na lama. Quem de nós não veio da lama uterina?!