Ah, se fosse verdadeira a frase do título… Mas não é! Estejas preparado, pois, quando ouvi-la!
O centroavante acaba de receber o cruzamento, e por conta daquela estranha precisão digna de cientistas da NASA, ataca a bola com a testa, num movimento de proposital impacto, de modo a que, com a força aplicada, muda a trajetória da bola que, antes paralela ao gol, agora descreve um ângulo quase reto, perpendicular, infinitamente mais rápida que qualquer raciocínio. Somente um movimento reflexo, desses que o cérebro parece ter guardado para uso em ocasiões especiais, em que não temos tempo de recorrer a qualquer lógica, a qualquer elaboração mental, pode salvar o gol iminente!
Pois é neste momento exato que tu a ouves! Tu não a viste chegar, afinal, as mulheres tem esta arte de chegar propositadamente sorrateiras (outro dia falo sobre a diferença de homens e mulheres chegando em casa). Pois assim, mais do que a presença dela, a frase pronunciada pega-te de surpresa, tal qual o centroavante antecipando-se ao zagueiro.
Tu estavas ali, tranquilo, sentado no sofá da tua casa, televisão ligada no jogo que nem é do teu time e, por isso, até melhor de ver; nenhum pensamento na cabeça, quem sabe com aquela latinha de cerveja ao lado, e ela chega com a frase da qual tu não escaparás:
— Nem te conto o que aconteceu!
A partir desta frase, o teu cérebro, já meio entorpecido pela cerveja e pela deliciosa ausência de pensamentos, dispara bilhões de choques elétricos: primeiro, chegam vibrações do ar, as tais ondas sonoras, captadas por nossa audição… É um momento de torpor, ainda, em que o cérebro recebe os sons, como se fossem refugiados, ainda sem nomes, ainda sem destinos, ainda sem maiores informações, para então coloca-los em fila, interroga-los, organiza-los e destina-los. Os sons são transformados em palavras que entendemos e organizados de maneira que tenham alguma lógica. A seguir, ainda no tempo em que a bola viaja da testa do centroavante em direção ao gol e o cérebro do goleiro também está disparando mil informações para que o corpo reaja, tu recebes do teu cérebro a frase no sentido literal, que é a primeira interpretação, com as primeiras informações que o cérebro dispõe naqueles microssegundos: “Nem te conto…”.
Enquanto a bola viaja micrômetros e teu cérebro vai processando novas informações das ondas de luz da tua visão periférica, tu chegas e ensaiar um sorriso diante da literalidade da informação: “nem te conto…”.
Algo dentro de ti responde ao cérebro: “ótimo! Já está bom! Nem me conte! Cancele quaisquer outras informações! Eu fico apenas com o ‘nem te conto’”…
Mas é tarde! A bola avança mais, suspensa no ar, ainda sem se render à força da gravidade, e teu cérebro, esse desobediente, envia mais informações: a entonação da voz dela, sugerindo que não foi uma frase isolada; a aproximação em uma trajetória que o cérebro prevê como destino a frente da televisão, postando-se no caminho entre teus olhos e a tela. E o pior: a definitiva informação de que a frase encaixa-se nos exatos padrões de outras tantas pronunciadas rigorosamente iguais ao longo dos anos: “Nem te conto o que aconteceu!”.
Então, agora já com todas as informações sobre a frase, já com o contato visual irremediavelmente estabelecido, teu cérebro entrega a correta interpretação da frase:
“Nem te conto o que aconteceu”: significa que ela vai sim, contar-te algo que seguramente não será mais importante do que um jogo de futebol que não é do teu time, ela vai dar-te detalhes sobre fatos que tão logo tu os receba, serão involuntariamente deletados, embora tu saibas que num breve futuro, tu serás inescrupulosamente sabatinado sobre o que ela “nem te contaria”, sem qualquer chance de acertares uma das respostas. “Nem te conto o que aconteceu”, é o prelúdio de uma novela para a qual não queres o ingresso. “Nem te conto”, significa, enfim, que ela contará TUDO, absolutamente TUDO o que não queres saber sobre a última fofoca acerca das pessoas que nem sabes quem são, e não será pelo microssegundo da bola viajando ao gol! Será pelo tempo do jogo inteiro, com direito à prorrogação e pênaltis. E tu estarás como que na Tribuna de Honra da fofoca, onde todo o foco do olhar dela será em ti, sem que possas nem comemorar o gol, nem xingar o juiz.
Quanto à bola que o centroavante havia cabeceado em direção ao gol, e que tu ansiavas para ver o desfecho, saboreando tua cerveja?
— Nem te conto o que aconteceu…
Luís Augusto Menna Barreto
15.11.2021
Nem te conto sumano, acredito que viestes ao mundo para fazer imensa diferença na vida de muita gente. Obrigada por existir!!!
ResponderExcluirÉgua, mana! Tomaste manga com leite?! 🤣😂
ExcluirTodos nós viemos fazer diferença. Somos únicos! Temos a chama Divina em nós! Apenas esquecemos disso a maioria do tempo…!!! Obrigado por vires visitar o blogue!!!!
Adorei!!!!!😂😂😂
ResponderExcluirSimplesmente vejo passando o filme na hora...
Isso foi filmado pela Ana, chegando com os olhos claros meio que arregalados e ansiosa para contar alguma novidade o que aliás deve ser uma constante neste momento em que ela está como síndica, dá até pra escutar a frase Dita no sotaque inconfundível 😂😂
Lola, Lola…. Adivinha quem me inspirou a escrever essa crônica….?
Excluir… nem te conto!!! 🤣😂
Nem te conto que...
ResponderExcluir...ao ler, inicialmente, me veio a literatura, me lembrei de um escritor que, para mim, é uma grande referência, o Luis Fernando Veríssimo. Sabe a "dicção" da escrita do Veríssimo? Ah, me pareceu muito...Que maravilha, Menna!!! Depois, me veio a linguística. Nem te conto que, por aqui, já estudamos elementos negativos que nada negam... "nem te conto" é tranquilamente "um prepare-se para o que vou te contar"... ah, a lingua(gem) que força que tem essa entidade!!
Valéria… infelizmente, não tenho bagagem de conhecimento pra enfrentar alguns assuntos! Na linguística, na literatura, mesmo, sou um curioso e aventureiro: vou escrevendo, sem saber que possa estar passeando hora por uma vertente de linguagem, pra por outra… E sempre fico maravilhado, quando recebo comentários que tenham a propriedade dos teus!
ExcluirEu lanço o texto, pela “graça”, pelo humor que vislumbro da brincadeira com as palavras… (Fiz isso com as crônicas “Posso Ser Sincera” e “O Que Ela Tem Que Eu Não Tenho”)… e haverei de fazer com uma que já escrevi (ainda inédita): “Nem Queira Saber”!
Daí, que eu só posso agradecer-te DEMAIS por brindar a mim e aos amigos do blogue, quando tu nos mostra segredos que nem pensamos existirem, nessas linhas cunhadas com tanta distração…!
Obrigado DEMAAAAAAAAAAAIS!!!!!!!!!!!!
Ah… quanto à comparação com Veríssimo… PelamordeDeus… mesmo não podendo apontar o lápis que ele escreva, é pra ficar com sorriso de orelha a orelha!!!!!!!!!
ExcluirBarbaridade!!!!!
Finalmente cheguei só agora que deu ... Ninguém nem venha com este "nem te conto " a cabeça pira e tentar adivinhar o povo enrola encontar mesmo que conte depôs em uma longa história as vezes. Eu não chego em casa sem fazer barulho não já chego gritando ajuda aqui, abre o portão aí, ou chego assobiando igual um menino!! 😅😅🤭
ResponderExcluirParabéns a mente pira mesmo,aravilha de crônica Menna!! 👏👏👏☺️
😂🤣 quem dera se todas chegassem assim em casa!!!! Rsrsrsrs
ExcluirNem te conto…. Adorei ver-te por aqui!!!!!!!!
Sempre chego assim, até os vizinhos já me conhece no corredor, se querem falar comigo abre logo a porta!! Pego ninguém em casa de surpresa, dá tempo até de esconder o chocolate se estiver comendo pra não dividir 😒🤨😏 😅 🤭🤭🤭
Excluir🍫 😋😁🤣
ExcluirNem te conto que adorei...
ResponderExcluirPois então, “Nem Queira Saber” o que eu digo na próxima crônica!!!!!!
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