Pensamentos Perdidos - “…lençóis!”*
Por causa dela, ele se perdeu do mundo... do tempo... de tudo... já nem lembra quando sua morte começou. Sabe, simplesmente, que de há muitos anos vem morrendo. E cultiva sua morte, regando-a e lhe tornando dia a dia mais robusta, através das lembranças dos dois, às quais jamais abdicara...
O belo sorriso da amada jamais desaparecera de suas lembranças... jamais fora capaz de guardar lembrança da tristeza ou de qualquer sofrimento dela. Lembrava-se de como era maravilhosamente igual, todos os dias, acordar-se com o “bom-dia” dela às sete da “madrugada”: ela já com os cabelos presos, café tomado, dentes escovados e apressada para o trabalho naquele escritório de “insensíveis” engenheiros, enquanto ele ainda se espreguiçava na cama. Haveria de encontrar o café sobre a mesa, o pão cortado, as geléias...
Ela era seu mais exato contraponto: tinha trabalho fixo, obedecia horários, fazia pós graduação - em que mesmo? - pagava o aluguel, tinha celular, agenda, vida social na qual ela insistia em colocá-lo, milhões de amigos... ele, porém, vivia do seu amor, deixando, despreocupadamente, passar dias após dias, e vivia da esperança de um dia vender uma das peças de teatro que escrevia, sem qualquer outra ocupação, que não a sua caneta e o amor pela moça.
- Para vender é preciso terminar ao menos uma. - Dizia ela com seu jeito prático de encarar o mundo.
- O importante não é terminar, mas começar sempre. Depois de criar um personagem ele toma vida própria, e já não posso mais escrevê-lo. Tenho de senti-lo, tenho que esperar ele me dizer o que fazer. - Ele respondia.
- Mas eles nunca te dizem. Tu escreves, então, personagens mudos! - Riam. Ela o aceitava assim. E ninguém jamais entendera como os dois puderam ser tão felizes naqueles dias, sendo tão diferentes.
As pessoas achavam que o tabuleiro de xadrez sempre montado na sala era meu, só porque eu era o ‘avoado’ e nem acreditavam que ela jogasse tão bem. Ele se divertia com aquela lembrança. Era um dos poucos sorrisos que aquela sua lenta morte permitia. Até que um dia, ele brigou porque ela queria trocar a roupa de cama. Ele disse que não precisava, que não estava suja, ainda. Ele, enfim, disse que não! E não permitiu que ela trocasse a roupa de cama.
Ela nunca mais voltou. Quando foi despejado, porque ninguém mais pagara o aluguel, foi correndo à cama e enrolou-se nos lençóis... os lençóis, hoje desbotados, rotos, que são sua mortalha durante seu lento morrer. Ele jamais escreveu novamente. Jamais fez outra coisa senão lembrar da moça sempre bela, aguardando a morte ficar tão volumosa que superasse sua vida.
Depois de muitos anos, jamais ousou pensar - porque não teria uma segunda chance para viver novamente - em como poderia ter sido diferente a vida, se os lençóis da cama fossem trocados...
Por Luís Augusto Menna Barreto
*Um texto escrito há 25 anos, por um menino de 21…
Amigo, cultuar um sentimento, muitas vezes nos tira da realidade multifacetada e nos transporta para as contínuas expressões das pertenças dos laços que construímos nas artimanha do nosso coração.
ResponderExcluir"Cultuar", por si só, parece equivocado... se é sentimento, é pra sentir, é pra viver!!
ExcluirNesse caso, tens inteira razão, Amigão!!
Vamos começar trocando os lençóis, seria diferente? Seria. O amor busca tudo e o tudo se traduz no belo, no romance, no namoro, no olhar e, por último mas não por última coisa, o trocar de lençóis. O amor exige alguma coisa em troca e essa troca tem que ser comum aos dois, pagamento do aluguel, horário forçado, sempre correndo e/ou escrevendo e, chegar em casa ao final do dia, com a cama desajeitada e com os lençóis, ah os lençóis, sempre sujos, não existe amor que aguente, e o amor, e o amar, desaparecem quando os lençóis não são trocados. Moral da historia, deixe sempre limpo o seu ninho e o seu espaço e da sua parceirinha que ninguém vai querer trocar de lugar. É por aí o caminho. Até
ResponderExcluirAh, os caminhos do amor... passa, certamente, por pagar o aluguel, trocar os lençóis... mas, certamente, passa em entender a pessoa amada, e fazer concessões...!!
ExcluirAh... o Amor! A troca ( de lençóis). O cultivar.
ResponderExcluirE me remete a "Eduardo e Mônica", me fez lembrar de antas diferenças que deram certo, ou não...
... e o caminho do amor não se encontra justamente nas diferenças...? No encontro do côncavo com o convexo...? Ah!, o amor....!
Excluir... o caminho é feito de encontros e desencontros ...
ExcluirEm partes que se completam , formando um só..
Um relacionamento necessita que os dois lutem juntos para que o amor permaneça vivo, automaticamente o sentimento vai pelos ares quando as diferenças são gritantes.
ResponderExcluirNão sei se são as diferenças que acabam com um amor... ou quando a gente perde a delicadeza de compreender o diferente, e já não busca o encanto que havia, justamente na diferença....!
ExcluirBoa tarde, amiga Eunice...!
Terá!
ResponderExcluirUm segundo capítulo, me lembro da outra história de 😍 amor........
.... ah... esta, publicada hoje, foi escrita muito antes da história a que te referes... esta escrevi há mais de 25 anos...
ExcluirA outra, de fato, tem final diferente... ou nem tem final e os personagens ainda se estão construindo...!!
Ah... esse tal "amor" é complicado!!!
ResponderExcluirMas, também acho que o que mais atrapalha é a falta de parceria, de aceitar o outro como ele é. Em um relacionamento onde impera o individualismo, o "Eu", "Eu" e "Eu", é quase impossível dar certo.
O amor é sempre plural... quando só o vemos no singular, não conseguimos compreendê-lo....!
ExcluirAmor, inevitavelmente é "nós", e não "eu"...!!!!!
Obrigado Armelinda
É pura retórica dizer que o amor transforma duas pessoas em uma única. São sempre duas pessoas que se amam.
ResponderExcluirSempre? Nem sempre.
Não deu certo? Deu, até quando deu.
Então não era amor? Era, mas morreu. Como tudo.
Do eterno "que seja infinito enquanto dure...."
ExcluirCom certeza!!!!
ExcluirÉ verdade, Ana!!! O amor pode morrer, sim. É como uma plantinha delicada, se não cuidar com muito carinho e dedicação não resistirá aos maus tempos!!!
ResponderExcluir... e as plantinhas, a gente mata até quando rega demais!
Excluir"Cuidar de amor exige mestria..."
(Leo e Bia - Osvaldo Montenegro)
Ah!!! Osvaldo Montenegro... maravilhoso!!! Eterno MENESTREL!!!
ExcluirSim, Linda. É por isso que, de quando em vez, é preciso domar uns personagens, concluir uma história, limpar a casa, mudar os móveis de lugar, mudar a roupa de cama, diversificar os hábitos, DAR UMA SACUDIDA NA ROTINA. Não é?
ResponderExcluirXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXCXXXXXXXCXXXXXXXX
Agora, Mestre, aqui pra nós, esse moço é preguiçoso, né? Além do mais, sujo.
Ah! Aí, não tem mulher que aguenta!!!!
(É brincadeira! Todo respeito com tua personagem!
Abraço!)
Preguiçoso ainda vá lá... mas, de fato, sujo.... eca...... o talvez eu não tenha investigado direito, escrevendo naquela época, é que talvez no lençol não trocado ele encontrava ainda mais o cheiro dela....!
ExcluirA querida Ana tem razão, desculpa aí poeta, mas não tem amor que resista a preguiça e a sujeira...o cheiro da pessoa amada está dentro de nós, não precisa de nada material para nosso sentido despertar.
ExcluirCoitadinho do Cascão... ainda bem que nas histórias do maravilhosa Maurício de Souza, existe a "Maria Cascuda"...!!!! rsrsrsrsrs
ExcluirKkkkkk...verdade...tem gosto para tudo nessa vida...kkkkkk
ExcluirNossa, que triste!!! Embora seja a história de um grande amor, há um jugo desigual. Vishi!!!
ResponderExcluirMais uma vez, Renato Russo:
Excluir"Estamos medindo forças desiguais,
qualquer um pode ver
que só terminou pra você"
(Os Barcos)
Ah, e como é triste quando só termina de um lado!!!
ResponderExcluirRenato Russo tinha uma música linda, chamada "Os Barcos"
Excluir"(...) Eu fico com a saudade, você com outro alguém...(...)"
Grande verdade, Armelinda.
ResponderExcluirAh... obrigado.... e perdoa-me haver demorado tanto a responder... tenho demorado em revisitar-me...!
ExcluirComo manter o amor a estrovertido a loucura.. mais sem tirar os pés do chão???
ResponderExcluirExiste como fazer isso...???
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