terça-feira, 11 de julho de 2017

CONTO DE BELLA - Escolhas - parte 4

Conto de Bella
Escolhas - parte 4

Às vezes, Bella e ele iam, cedo, até o restaurante na beira da estrada, onde o pai dele trabalhava. 
Chegavam antes das 10 horas, encontravam o pai varrendo o salão do restaurante, as cadeiras viradas para cima das meses. Então o pai dele os via, abria um sorriso que vinha como um abraço e logo desvirava as cadeiras de uma mesa e os dois sentavam-se tentando comportar-se como adultos. Pegavam o cardápio e escolhiam, sempre, o prato que tinha os números maiores na fila do preço. 
Então, o pai dele colocava o guardanapo no braço, pegava uma bandeja, duas taças vazias, pratos vazios, e fingia servir as crianças como o melhor garçom poderia faze-lo. As crianças, por um momento, comiam e bebiam delícias imaginárias, e pagavam com generosas gorjetas que apenas seus olhinhos podiam ver. Então, quando, às vezes ele saia da cadeira sem dirigir-se à Bella, o pai corrigia-o e fazia-o ir atrás da cadeira de Bella e puxa-la delicadamente, para que ela levantasse. 
Era sempre rápido, porque o pai dele precisava varrer o salão e apronta-lo antes que os fregueses começassem a chegar. O pai dele trabalhou a vida toda como garçom, e tinha o sonho de ser sócio do restaurante, um dia. Morreu sem realizar sonho, mas morreu sem frustrações e com a consciência tranquila de ter amado a mulher que escolhera e de ter feito o melhor para educar seu filho. Mas o garoto, ao ver o pai no leito de morte, derrotado por uma doença que ele nem sabia dizer o nome, prometeu dentro de si mesmo, que seguiria os passos do pai…
Foi então que Bella, dia após dia, mesmo sabendo que o amava, via cada vez mais distante a possibilidade de ele partir com ela, quando ela se sentisse pronta a ganhar o mundo e conquistar o “x redondinho”…
Depois de alguns anos, quando Bella o viu ganhar a vaga de garçom no mesmo restaurante que seu pai trabalhara a vida toda, Bella entendeu que não poderia submete-lo a sua escolha… Bella achou que seria cruel pra ele pedir que escolhesse entre ela e a promessa que fizera a si próprio por seu pai. Então, Bella, que já havia escolhido, em um dia no parquinho com uma folha de revista na mão, ganhar o mundo, estava, novamente, em frente a outra escolha… e escolheu deixar que ele vivesse sua escolha… e permitir-se viver o que ela havia escolhido para si própria. 
Agora, Bella estava ali… parada no instante congelado de sua vida, em que a folha de revista caiu-lhe por entre os dedos… vendo-o: de calça preta e camisa branca. Com um guardanapo no braço… o mesmo sorriso acolhedor do pai, com uma pose maravilhosa, dirigindo-se a uma mesa em que um casal com duas crianças havia chegado. Viu como ele sorria. Viu como ele deve ter dito algo às crianças que riram e ficaram evidentemente felizes, porque via o sorriso dos pais… tornara-se um homem lindo, diferente do adolescente com espinhas e magro de outrora…mas que mesmo assim ela amava… Agora, vendo-o, ainda que de longe, não sabia ao certo o que sentir. 
Mas sentiu que era o momento de reencontrar suas escolhas. 
Saiu do carro. 
E decidiu que almoçaria no restaurante de beira de estrada, e escolheria seu almoço, pelos maiores números do cardápio.

(continua…)

Por Luís Augusto Menna Barreto


14 comentários:

  1. E agora?...
    Como será o encontro de Bella com o passado?
    Que venha logo o próximo capítulo, escritor!

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    1. Próximo capítulo sexta-feira!!!!
      Bora ver como será...!!!!!

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  2. Apesar do amor que sentia, Bella compreendeu a escolha dele, de continuar o que o pai não tivera tempo de fazer, sendo que a escolha dela tbm já tinha sido feita. E agora, o reencontro. .. o que falarão? Tô curiosa rsrsrs

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    1. Também estou curioso... mas o próximo capítulo somente sairá de minhas mãos na sexta, sentarei pra escrever e, assim que feito, publico... e eu o farei na sexta, bem cedinho, pela manhã!!!

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  3. Ah..., esperar o próximo capítulo vai ser sofrido! Este, deixou um gosto de quero mais...!

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    1. Sexta-feira, Armelinda!!!!!!
      Também estou curioso, e também quero escrever o próximo capítulo... Sexta-feira, bem cedinho, estará publicado!!!

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  4. Ah!Aqui dentro de um carro, na espera de chegar quem vai chegar, não dá para comentar.

    E tenho tanto a dizer!!!

    Li, escritor. Achei estupenda a cena "teatral".

    Depois comento.

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    1. Todos aguardamos sempre com ansiedade teus comentários, escritora!!!

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  5. Meu querido escritor, nos dois primeiros parágrafos desta pare 4 do conto você escreve uma cena de teatro vivida pelas personagens. Maravilhoso esse seu recurso! As duas crianças VIVENCIAM uma “realidade”. Veja bem: VIVENCIAM. Elas não fingem. Elas INCORPORAM suas próprias vidas, como as imaginam para o futuro. Daí, é que eu sugiro, com muita ousadia e com um pedido de perdão antecipado, que você substitua o verbo FINGIR.
    Releia isso:
    “Então o pai dele os via, abria um sorriso que vinha como um abraço e logo desviava as cadeiras de uma mesa e os dois sentavam-se tentando comportar-se como adultos. Pegavam o cardápio e escolhiam, sempre, o prato que tinha os números maiores na fila do preço.
    Então, o pai dele colocava o guardanapo no braço, pegava uma bandeja, duas taças vazias, pratos vazios, e fingia servir as crianças como o melhor garçom poderia faze-lo. As crianças, por um momento, fingiam comer e tomar bebidas, então fingiam pagar. Então, quando, às vezes ele saia da cadeira sem dirigir-se à Bella, o pai corrigia-o e fazia-o ir atrás da cadeira de Bella e puxa-la delicadamente, para que ela levantasse.”

    Parabéns! Escrever isso, assim, Menna Barreto, é MAESTRIA!
    Vou me ater a este aspecto para não entrar, ainda, na avaliação dos conteúdos que subjazem a determinadas escolhas. Deixo isso, para depois de ler o conto inteiro.

    Grande abraço!

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    1. Isso que tu sugeres, escritora, é o que a ti é inato: talento! Relendo com teus olhos, é fácil enxergar que o texto fica bem melhor simplesmente suprimindo o "fingir" das crianças.... e o resto flui naturalmente! Vou corrigir esse é ois outros equívocos que também vi!!!!!!
      Um milhão de obrigados!!!!!!!

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    2. Quanta bobagem tu dizes nesta tua resposta! Que talento inato, que nada!

      Tua bondade é que às vezes extrapola.

      De qualquer forma um abraço carinhoso!

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  6. Noosssaaaaa😍😍😍😍👏👏👏👏👏👏

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