Como aconteceu, ninguém soube explicar, no momento…
Almeida estava em casa. Era por volta de 10 horas da manhã. Sentia-se pressionado pelo trabalho. Nunca pensou que trabalhar em Home office, fosse deixar-lhe mais estressado que na pressão do escritório na seguradora. Desde que sua rotina mudou, sentia-se mais cansado, mais tenso… Mas, no solitário apartamento de um quarto, ele ouviu… Primeiro, foram esparsos… depois, mais constantes. Então ele se levantou e foi até a janela que dava para a avenida Gentil Bittencourt, em Belém do Pará… De repente, ele quase nem acreditava no que via. E um sorriso involuntário renasceu, depois de tanto tempo, em seu rosto.
Sueli estava no meio de um telefonema, tentando convencer o atendente da academia, que de forma nenhuma iria pagar a multa de 70% do contrato, se há mais de quatro meses, não podia usar a academia, e não tinha idéia de quando poderia voltar a usar. O atendente estava inflexível e parecia não considerar a pandemia e a nova ordem das coisas. Ao mesmo tempo, Juninho puxava-lhe as calças, aos berros, sem entender por quê não podia ir na pracinha brincar com os amiguinhos. Em meio a isso, ela também ouviu. Puxou o fio do fone de ouvido enquanto o atendente falava pela milésima vez a palavra “multa”, pegou Juninho no colo e caminhou, desconfiada, até a porta. Até mesmo o menino pareceu assustado com o barulho que ele mesmo já nem lembrava. Ela abriu a porta, com uma mistura de urgência e receio… Juninho olhou espantado. E a alma de Sueli, inundou-se de algo que ela somente soube traduzir por esperança.
Malu estava em uma vídeo conferência com os CEO's da Cidade do Panamá e de Singapura, resolvendo como transformar a crise mundial em oportunidade de aumento das vendas dos jogos on line da divisão de entretenimento daquela multinacional do mundo cibernético. Os membros da conferência estranharam quando Malu pediu licença (em inglês), e saiu da frente do vídeo, sem maiores explicações. Mas ela não resistiu… Fora como que enfeitiçada pelo barulho… um barulho que ainda estava em algum lugar em sua memória mas que, tão realista como era, sua mente racional tentava ainda não acreditar, para que não perdesse a batalha para seu coração, onde as esperanças são depositadas. "Não existe esperança, Malu, existe planejamento e foco”, era o que ela dizia sempre a si mesma. Abriu a porta do escritório para a sacada naquela cobertura de um prédio “classe A”, na avenida Gentil Bittencourt, em Belém, quase ao lado do prédio do Almeida. Eram vizinhos, tanto quanto de Sueli, sem que jamais fossem conhecer-se.
Malu olhou para baixo e, de repente, respirou fundo. Compartilhou sem saber, do mesmo sentimento de Almeida e de Sueli. E de tantos outros que agora, amontoavam-se nas janelas, alguns saindo de casa, apenas para verem novamente…
Sim, era um engarrafamento! O primeiro em tantos meses de lockdonw, distanciamento controlado, e tantas outras restrições… Os carros parados, o cruzamento trancado, as buzinas…
… não… não era o caos… era o anúncio das nossas vidas que seriam devolvidas…!
Luís Augusto Menna Barreto
15.7.2020
Nossa eu senti o mesmo, quando as coisas aqui em São Paulo começaram a voltar ao normal kkkkk.
ResponderExcluirNé?! Até saudade de engarrafamento a gente sente...!!!!!
ExcluirNossa, Estou indo para Porto Alegre, na esperança de ver a Av. Castelo Branco parada, engarrafada como nos bons tempos de vida normal.
ResponderExcluirEu ainda estou esperando pegar o engarrafamento da volta do trabalho!!!!!!
ExcluirSentimento parecido só que no chão, quando passo do portão do condomínio para a rua. Que alívio.
ResponderExcluirQuem diria que teríamos essas saudades tão prosaicas....!!
ExcluirPreciso acertar meu cadastro. Marco = Benedetto
ResponderExcluirAh!, mas eu já sabia quem era!!!!!
Excluiresperança, um conto gostoso de ler e bem atual, resume o sonho e a vontade que sentimos em retornar para a realidade do cotidiano.
ResponderExcluirA ideia, é exatamente essa!!!!
ExcluirLinda crônica!
ResponderExcluirA expressão dos nossos anseios mais urgentes.
Como gostaria de ouvir esse som. Sinal de que nossa vida voltaria ao normal,Poeta!
Esperamos a volta das nossas rotinas... que tenhamos aprendido a falta que a rotina faz-nos!
ExcluirLinda crônica...
ResponderExcluirEu senti parecido...Confesso que ainda me acho estranha na rua,ainda bate uma certa insegurança...Meu psicológico ainda está num estado de alerta bem ativado...Sou medrosa mesmo...E a vida aos poucos vai voltando aos eixos...Que Deus nos abençoe nessa retomada...
Aqui, tudo ainda está muito diferente... sinto saudade de abraçar os amigos!!!
ExcluirValha cadê minha foto? Rsrsrs
ResponderExcluirBoa pergunta........!!!!!
ExcluirKkķk
ExcluirÉ sério sumiu....
Eu acredito!!!! Acho que tens que ir no teu perfil do Google e editar novamente com a tua foto!!!
ExcluirMuito bom, parabéns! Retratata bem nossa inusitada realidade.
ResponderExcluirNé?! Até do engarrafamento temos saudades.....
ExcluirA gente com saudade de gente. Pensar que ficou para contar a história, é a salvação!
ResponderExcluirA gente com saudade de gente. Pensar que ficou para contar a história, é a salvação!
ResponderExcluirNora resume o que sinto... Ainda estou a assistir a história... sem acreditar nos meus olhos...
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