Parte 1
Um dia, enquanto pegava uma garrafa de Cointreau na prateleira do supermercado, ele a encontrou.
A menina pelo qual se apaixonara na escola, e jamais ousou dizer. Depois, a vida seguiu e ele a guardou no coração por mais de vinte anos. Nunca houvera espaço para qualquer outra, em seu coração.
Todos os dias, quando chegava em casa, sozinho, imaginava-se contando a ela como foi seu dia; perguntando como foi o dela! Imaginava-se sorrindo lavando a louça junto com ela; depois, sentando-se no sofá para ver qualquer filme que ela escolhesse, até que adormeceriam lado a lado e, no meio da madrugada, ele acordaria, pega-lá-ia no colo, e colocá-la-ia na cama. Ficaria olhando ela dormir, até ele próprio adormecer...
Imaginava-a nas cenas mais triviais, todos os dias de sua vida. O que dela não sabia, construía no seu coração. E, com o tempo, foi-se apaixonando a cada dia. Tinha certeza que a amava e, distraído, chegou a responder, sem querer, algumas vezes, que não era solteiro... não por mentir! Porque, em seu coração, ele tinha alguém!
Então, naquele dia, no supermercado que frequentava há mais de vinte anos, ele a encontrou.
E foi estranho... cumprimentou-a como se houvesse falado com ela pela manhã. Ela o olhou em silencio, naturalmente surpresa, sem entender e sem lembrar dele. Ele sorriu:
— Você está estranha... teve um dia difícil no trabalho? ... laranjas! Precisamos de laranjas. Deixa que eu pego. Vou fazer o suco com Cointreau que você gosta, pra relaxar!
Ele largou a garrafa de Cointreau no carrinho de compras dela. Quando se dirigia para a sessão das frutas, ele se virou e disse:
— Você parece cansada. Vá para casa! Eu faço o restante das compras, e, quando chegar, vou preparar o jantar e hoje a louça será toda minha!
Ela continuava sem entender. E, por mais estranho que fosse, parecia que as frases daquele homem vinham carregadas de ternura... não... mais que isso: havia amor na forma como ele falava, e de um modo completamente estranho e talvez desconhecido, ela se sentiu abraçada por aquelas palavras.
Ela saiu devagar, pensativa. Não o associou a ninguém que conhecesse, por mais que houvesse algo distante e familiar naqueles olhos...
Aquela cena, tão inusitada e trivial ao mesmo tempo, de alguém que certamente a confundiu, ou era louco ou esquizofrênico, no entanto a fez experimentar uma sensação que há muito não sentia... a sensação de ser amada nos momentos mais quotidianos, nas situações mais comuns...
Lembrou-se de que tinha laranjas em casa. E decidiu que levaria a garrafa de Cointreau que aquele estranho largara em seu carrinho de compras...
...
Quando ele chegou em casa, guardou as compras, e começou a descascar as laranjas... e procurou a garrafa de Cointreau...
— Você esqueceu o Cointreau... mas não há problema; ainda há um pouco que dará para um drink para você! Eu faço sem Cointreau para mim. Você está precisando mais do que eu!
...
Há alguns quarteirões de distância, enquanto ela abria o MacBook, ouviu a voz indiferente do marido:
-- Você colocou a cerveja na geladeira? Hoje tem jogo! Cointreau? Você comprou Cointreau? Pra quê? Você sabe que eu gosto é de cerveja!
Neste mesmo instante, ela digitava no site de busca: “cointreau laranja drinks”.
(... continua... parte dois no dia 17.8.2020)
Luís Augusto Menna Barreto
9.4.2020
Mas Bah! e agora... Terei que esperar até a proxima segunda?
ResponderExcluirRsrsrsrsrs.... exatamente!!!!!
ExcluirMas o conto tá ficando bem legal!!!!!
Acho que é um dos que mais estou gostando de escrever!
Encontramos aqui um misto de sonho e realidade; um amor guardado, alimentado por tanto tempo, que gera uma confusão. .. bora aguardar o desenrolar dessa doce história. ...
ResponderExcluirOi, Nice!!!!!! Que saudades!!!!!!!!
ExcluirSim: de um lado, sonho... de outro, uma surpresa que, ao mesmo tempo assusta, pelo inusitado, e acalenta por transmitir-lhe ternura....!
O que vem por aí....???
Muito bom! Já ficamos com gostinho de “quero mais”!
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ExcluirEba!!!!
Segunda-feira, a parte 2!!!!
Acho que esse conto vai ser bem legal....!
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Estou curiosa para saber o final, mas realmente é estranho encontrar alguém do passado inesperadamente!
ResponderExcluir... mais ainda, quando um sequer lembra ....!!!!!
ExcluirSegunda, a parte 2!!!!!
Que delícia, fiquei com gostinho de quero mais, maravilhoso capitulo, estou ansioso e imaginando o desenrolar da história.
ResponderExcluirObrigado Batisti...!!!!
ExcluirEstou gostando muito do desenvolvimento do conto!!! Espero que todos os amigos do blogue curtam também!!!!!!!
Segunda, a parte 2!!
Fui na contramão... Li a parte 2 e voltei para 1,sem deixar de ser emocionante...E esse sentimento que perdurou tanto tempo? Aguardemos....Amei,Poeta!!
ResponderExcluirEu estava sentindo tua falta, por aqui...!
ExcluirHoje, madrugada de 1° se setembro, comecei a ler este conto.
ResponderExcluirAté aqui, se eu fosse ela, acharia que ele era esquizofrênico, sim. Entretanto, ao me encontrar com o marido, aparentemente tão pragmático, começaria a ter fantasias com o "homem desconhecido" do supermercado.
Voltei para te dar um abraço bem acochado, escritor querido!
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