Parte 9
— O que deu em você? — ele gritou furioso, enquanto ela recém abria a porta.
Ela temeu por isso, desde o momento em que entrou nas ruas do bairro. Instintivamente, passou a dirigir mais devagar, sem nem saber o que pensar direito. O coração estava, ainda, acelerado, tanto quanto na noite anterior, quando, depois de mais de 10 anos, não entrava em um ônibus… não ao menos no Brasil. O que diria? Como seria recebida? Como explicar a noite fora de casa? Como explicar chegar pela manhã, vestida de jeans e All Star? O que dizer da sacola que trazia na mão? Torcia, com todas as forças, para que ele não estivesse em casa, mas sabia que ele demorava muito a sair e havia manhãs que nem mesmo ia para a corretora, fazendo todas as análises de mercado em seu gabinete em casa.
Quando chegou, viu Romeu, o motorista, sentado em frente à garagem, onde sempre esperava até ser chamado. “Ele está em casa. Meu Deus, o que vou dizer? Como explicar o que eu fiz, onde passei a noite?”
Parou o carro no imenso pátio da casa, longe da garagem, na esperança que ele ainda estivesse dormindo e não ouvisse o carro chegar. Abriu a porta devagar… e sua esperança de encontra-lo ainda dormindo acabou assim que colocou o pé dentro de casa:
— O que deu em você?
— Eu…
— Seis milhões! SEIS MILHÕES! — Gritou! — Seis milhões e eu tenho de agüentar desaforos de clientes de anos, porque você simplesmente sumiu do trabalho!
— Eu…
— Seis milhões!
— Eu não sei o que dizer…
— Pois eu sei! Até o final do dia, você vai ligar para o Arthur, vai tranquiliza-lo e vai dizer pra ele exatamente o plano de recuperação do capital e garantir que ele não vai sofrer perdas. Depois, você vai fazer contato com todos os seus amigos jornalistas e amanhã, em todas as mídias, quero notícias positivas para levantar todos os ativos dele, e…
Ela parecia não entender o que acontecia. Parecia nem ouvir direito o que ele dizia, porque queria procurar, no meio da fúria do marido as perguntas “onde você estava?”, “onde você passou a noite?”, “porque está vestida assim?”… Mas tudo o que ficava fazendo eco em sua mente era: “seis milhões”. De repente, seu coração já nem parecia bater tão forte. Ela já nem se sentia ofendida pela grosseria… simplesmente parecia que eles estavam em universos paralelos que se tocavam ao acaso.
— … e quero você na corretora em 40 minutos!
Ela quase nem ouviu a batida da porta. Estava quase que em choque. Tomou banho sem saber o que pensar direito. Demoraria mais do que 40 minutos, com certeza. Depois, decidiu que escolheria sua melhor roupa de trabalho, seu melhor sapato, sua mais elegante versão de si mesma. E comeria batatinhas.
…
— … All Star e calça jeans?
— É.
— 7h da manhã, e sem maquiagem?
— “Urrum" — Concordou enquanto colocava batatinhas na boca.
— E ele estava preocupado com os … quanto mesmo?
— Seis milhões.
— Uau. Adoro ouvir você falando isso, querida! Ele não perguntou onde você estava?
— Não.
— Querida, preciso de um homem assim: que não pergunte onde eu estava!
Riram. Dora fazia-a rir!
Luís Augusto Menna Barreto
19.8.2020
Cada vez fica mais dificil. A Bel derveia esclarecer a paixão que "Ele" sente e a Dora juntar os dois.
ResponderExcluirE não é...???
Excluir... pois este episódio dela chegando em casa, é um pequeno salto na história... NO próximo, voltamos um pouco para preencher essa lacuna com as 18 horas entre ela ter saído da corretora para "comprar laranjas" e a chegada em casa com o marido gritando!
Uau! E eu pensei que hoje iria saber algo mais; mas tenho um recado pra ela: não se apresse em resolver o problema dos milhões, pois só assim seu marido só vai se preocupar com eles e você pode curtir mais sua.vida com a Bell, com a Dora e suas batatinhas e quem sabe com o amor guardado a tantos anos.
ResponderExcluirAté já!
Bem....... o próximo capítulo mostrará o que aconteceram nas 18h entre ela ter saído da corretora e chegado em casa....!!!!
ExcluirHaverá muita coisa... um capítulo grande...!!!!
Sinceramente com um marido desses, ia querer morar coma Dora! hehehehe Falando sério agora, como tantas vezes , pessoas conseguem ficar completamente invisíveis perante algúem que deveria ser o seu amor que deveria cuidar, proteger e amar?Siga seus sonhos, algo muito bom vai acontecer!
ResponderExcluirEu concordo com cada palavras, com cada letra, com cada respiração havida em teu comentário!! O tema da "invisibilidade" sensível é tão presente...!
ExcluirObrigado, Denise...!
Muito bom o desenvolvimento deste conto, confesso que estou mega curiosa para saber o que aconteceu nesta noite fora de casa!!! Espero que o que ela tenha feito seja muito bom!!! Ah este marido... tem que ter um final “bem bom”!!!!🙄🙄🙄🤔🤔
ResponderExcluirDessa vez, diferente de outros contos, acho que eu comecei em minha cabeça, "pelo final"... e fui retrocendendo para escrever..
ExcluirNo próximo domingo, saberemos o que aconteceu nas 18 horas anteriores à chegada dela em casa...!
Já fiquei sabendo das novidades no carrinho da Dora! Enquanto o marido está preocupado com os 6 milhões ela está ocupada tentando ser feliz.... melhor escolha... . Esperando o próximo capítulo com os detalhes. 👏
ResponderExcluirAh!, os detalhes... eles é que nos dão a medida da felicidade... eles que fazem a fronteira entre a felicidade e o infortúnio... não são os milhões ou a miséria... a felicidade mora nos detalhes. Quem neste momento é mais feliz? Uma vendedora de batatinhas que trabalha na rua, ou uma rica mulher...?
ExcluirNo próximo capítulo, muuuuuitos detalhes!!!
👏👏⏳
ExcluirAhh era o pau quebrou ops quase rsrs. A curiosidade só aumenta a cada capítulo desse conto, essa marido nem ligou pra ela saber onde estava a noite ? 🤔 Assim é um bom marido que n pega no pé! 😁😁 Vamos aguardar os novos capítulos e saber mais coisas aí! 👏👏👏
ResponderExcluirBem que a Dora disse: "eu quero um homem assim"... rsrsrsrs...
ExcluirAcho que o próximo capítulo será um dos mais aguardados...!!!!!
Que maravilha, vamos ficar no aguardo!!
ExcluirUm casamento de gente muito rica é uma sociedade. Cuidar dos negócios é comum a todos, mesmo os que não tem tanto dinheiro. Mas é triste ver que o amor evapora. Que a esposa é uma sócia e não mais uma amante. Uma mulher invisível. Comum a tantas situações. Enfim, que bom que a personagem está descobrindo sua essência. Ansiosa para ver quais vão ser os passos. Vou fazer uma aposta, como ela ainda se chocou porque o marido não perguntou, ela devia estar na casa da amiga, sem aprontar. Só um palpite, rs.
ResponderExcluirÉ um bom palpite... e a amiga tem uma importância boa nesta chegada dela em casa... mas acho que no próximo capítulo, a amiga ainda não aparece... só no outro... bora comer uma batatinha enquanto esperamos?
ExcluirQue sufoco...pensei que haveria uma enorme briga...cobranças...mas o dinheiro está a frente. Gostei do:"...parece que estamos em universos paralelos..." Parece mesmo...
ResponderExcluirLegal, Poeta!!!
Tem vezes que é assim, né? Uma pessoa somente vê na outra, a área de seu interesse, e não se importa no que ela realmente quer, pensa ou é! Ele não notou a roupa... não notou a sacola que trazia... não notou, sequer, que ela havia passado a noite fora de casa...
ExcluirAhh, Poeta!!! E como tem....!
ExcluirNinguém melhor do que Dora para entendê-la! Afinal, já o conhecia, mesmo que não pessoalmente, já o tinha como insensível e desprovido de amor verdadeiro para com aquela criatura delicada que estava à sua frente, comendo suas batatinhas! Que bela amizade! Que sintonia! Que bonito!
ResponderExcluirA Dora tem uma excelente sensibilidade para a vida...! Ela é ótima!!!! Acolhedora... e parece ter sempre um bom conselho...!!!!
ExcluirDepois desse conto, vou tentar um "spin off" em que a Dora será protagonista... bora ver se vai dar certo!
Universos paralelos...Quem nunca viveu...Torcendo sempre pela felicidade da Dora!!
ResponderExcluirDora terá um "spin off", assim que eu acabar esse conto... Bora ver o que acontecerá à nossa protagonista e, em seguida, vamos para um spin off da Dora!
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