sábado, 2 de outubro de 2021

Eu, o Pilha e a Flor… (Ah!, tá bom: Eu, o Pilha e a Branquela Burra) - parte 1

 Não é por causa dela. Tô nem aí, pra branquela! Eu não vou lá, porque não gosto de usar máscara. Não sou bandido. 

Antes, eu e o Pilha conseguia logo os oito pilas que a mãe manda eu ganhar todo dia, e a gente corria aqui pro parquinho e ficava um tempão. Quando o sol tava mais forte, a gente podia ir nos brinquedos, porque não tinha ninguém. O que eu mais gosto é o escorregador. O Pilha gosta mais do balanço. Ele sabe balançar bem alto, e aí ele se joga lá de cima! Depois, começam a chegar as crianças trazidas pelas cutucadas de celular. Elas trazem as crianças pela mão até os brinquedos, e depois sentam todas juntas mas nem conversam. Ficam só cutucando o celular. Mas elas não gostam de nós e, ficam nos enxotando de lá. O Pilha não tem medo de nenhuma delas, mas ele sai, porque ele diz que não gosta de ficar onde não gostam dele. No fim, a gente só consegue ficar na rua mesmo, porque tudo que é lugar que a gente tenta entrar, eles tocam a gente. Mas a gente gosta mesmo, é do muro da Tia Zélia. Ela sempre tem um bolinho de chuva e suco de groselha! O Pilha diz que é o melhor suco do mundo, e eu acredito nele, porque ele é muito sabido! Daí, quando chegam as cutucadoras, a gente acaba saindo pra nossa árvore. 

O Ranho* é um dos que sempre chega primeiro, daí fica brincando com uns carrinhos muito legais na areia. O Uálquim** é sempre um dos últimos, e fica pouco. E a cutucadora dele fica sempre mais esperta, porque é rapidinho que as outras crianças logo começam a jogar pedrinhas nele, só pra ele ficar virando de um lado para outro, daquele jeito diferente dele, sempre balançando pra frente e pra trás. Uma vez o Pilha se meteu e acabou com a brincadeira de jogar pedrinhas no Uálquim. Também, o Pilha fez tudo errado: a brincadeira era de jogar no Uálquim, mas ele acertou foi nas crianças que jogavam pedrinha no Uálquim. Então, ficou um tempão sem que as crianças fizessem de novo a brincadeira. Só não entendi porque o Pilha ficava sorrindo olhando pro Uálquim se tinha estragado a brincadeira dele. Agora, o Pilha resolveu virar jardineiro, eu acho. Até uma máscara que a gente achou na rua, ele tá colocando, já. Eu não coloco. Prefiro ficar aqui na nossa árvore. 

Outro dia, a gente tava aqui na nossa árvore, e chegou uma menina toda branquela e magricela com uma cutucadora de celular. Deve ser nova por aqui, porque a gente nunca via ela! E eu não sei o que deu no Pilha, que desde que ela chegou, só ficava cuidando ela de cima da árvore e nem falava direito comigo. Só dizia “um-rum” e “um-um”.

A branquela chegou com uma florzinha quebrada e foi com umas pazinhas de plástico para plantar a florzinha. Mas ela é muito burra, nem sabe fazer as coisas direito. Nesse dia, o Pilha quis ficar até tarde, esperou quase todas as cutucadas irem embora, só tava o Ranho lá. Daí, ele foi lá ver a flor que a branquela burra enterrou. Ele não disse nada, só olhou. Mas no outro dia, quando o sol tava fortão, e a gente ainda tava no meio do trabalho, ele disse que já tava indo pro parquinho!

— Ei, Pilha, tu tá doido? Nem consegui os 8 pilas ainda!

— Quanto tu tem, mané?

— Nem deu deu 6 ainda!

— Tenta mais um pouco só! Se tu não consegue, eu completo. Eu te espero no parquinho!

— Mas Pilha… 

Foi… desapareceu correndo! 

Eu consegui mais umas moedas. Não tinha dado 8 pilas ainda, mas eu tava curioso pra saber porque o Pilha tava com tanta pressa, e também fui pro parquinho. Quando eu cheguei, p Pilha já estava na árvore, lá naquele galho mais alto que só ele consegue subir!

— Ei, Pilha, por que tu…

— Sshhh…

— Que foi?

— Sshhhh…

Eu subi no meu galho e vi que a branquela burra tava chegando com a cutucada dela. Daí que vi que tinha uma flor bem bonita plantada no lugar que ela tinha deixado aquela flor quebrada. A branquela começou a dar pulinhos, apontar pra flor e chamar a cutucadora pra ver! O Pilha chegou a rir alto por isso. Que bocó. Não se pra quê sair correndo da nossa sinaleira, pra vim ver a flor dessa branquela. 

Então eu vi que as mãos dele estavam todas sujas de terra. 

(Fim da parte 1).


*Vide a aventura: “Eu, o Pilha e o Ranho”

Para ler Eu, o Pilha e o Ranho, CLIQUE AQUI


** Vide a aventura: “Eu, o Pilha e o Uálquim”

Para ler Eu, o Pilha e o Uálquim, CLIQUE AQUI



Luís Augusto Menna Barreto

2 de outubro de 2021

19 comentários:

  1. O Pilha apaixonado... Que legal 😍😍😍

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    1. ... e o amiguinho, pelo jeito, tá com ciúmes... Onde será que isso vai dar?

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  2. Que saudades desse dois. Ahh o amor está no ar 🥰😍. Vamos ver o que vem pela frente ebaaaa. Eu rir viu 😆😁, meu apelido era branquela na época de escola. Amei linda crônica parabéns!!

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    1. Como será que esses dois garotos lidarão com isso?! Certamente, é algo novo para eles, e vai impacta-los de formas diferentes… Eu espero que nada atrapalhe na amizade desses dois…!!!!

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    2. Muito legal, ansioso para ler as próximas partes...👏🏽👏🏽👏🏽

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    3. Dr. Roberto Carlos!!!!! Que surpresa boa!!!! Vamos descobrir juntos como esses garotos haverão de lidar com essas descobertas tão graves… com os conflitos que já se anunciam…
      Tudo o que desejo, é que a amizade deles seja mais forte do que os desafios vindouros…!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Uma boa combinação para o início de uma história: paixão e flor...

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    1. É a combinação perfeita….! Vejamos onde levará o Pilha…..!

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  5. Esse pilha tem uma visão além do alcance, colocou uma flor nova pra ver a branquela alegre. Quem diria! pilha apaixonado!

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    1. … e agora? E as questões que virão…?! Como resolver…? Espero esses garotos consigam lidar com as novidades que se apresentam…!!!

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  6. Que lindinho, Pilha!!!! Você é show!!!!

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    1. Obrigado, tia Linda…! … tu viu como ela é bonita…?! Ai, aí…!!

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    2. Sim, eu vi!!! Combina com você! Os dois são lindos!!! Estou na torcida!!!

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  7. Recadinho da Tia Zélia:

    Juro que chorei, menino Pilha!
    Estava com saudades de ti. Da tua alegria, do teu jeito esperto de encarar as dificuldades.
    Só quem viu a pobreza de perto sabe que dribles tu dás na vida para sobreviver, nesses tempos, junto com teus amiguinhos.
    Eu lembro de ti quando vejo meninos nos canteiros das ruas, quando tem comida farta na minha mesa, quando faço bolinho de chuva, quando imagino que poderás estar doente, sem remédio para tomar, e também quando estou triste. Mas logo me vem uma força e fico alegre de novo. Estará vindo do teu pensamento essa força estranha?
    Ah, diga ao tio Menna que ele está escrevendo umas coisas muito bonitas, como nunca escreveu antes.
    E podes vir no meu portão quando tu quiseres pra gente comer os bolinhos de chuva com suco de groselha. E, por um instante, ser feliz.

    P.S. Traga teus amiguinhos.
    E quem é essa menina? Também quero saber.

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    1. Ei, tia Zélia… agora meus olhos estão querendo vazar também!
      A magrela burra ainda não sei quem é! O que sei é que o Pilha tá muito bocó, e fica igual o Uálquim quando fala nela!
      Ele disse que vai pedir uma máscara pra senhora. Disse que acha que vai falar com ela! A senhora consegue uma pra mim, também? Não posso deixar o Pilha ir sozinho, tenho medo que ela emburreça ele!

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    2. Ao Pilha:

      Ai, meu Deus!
      E eu não tinha pensado nisso antes, menino Pilha.
      Eu envio as máscaras, sim.
      Mas vou enviar quatro pra cada um de vocês, daquelas máscaras que a gente usa, lava com sabão, e usa novamente. Todo noite tem que lavar as máscaras que usou. E nada de ficar com máscaras no queixo, ou com o nariz de fora.
      Nada de pegar máscaras encontradas no chão, no meio da rua. Aquelas estão contaminadas, cheias de "Covids".
      Peça ao tio Menna que ele te explica tudo. Ele sabe muitas coisas pra gente aprender.
      E cuidado com o seu coracãozinho!
      Tomara ver você ficar abobalhado por conta de uma menininha branquela!


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  8. Respostas
    1. Saudade de todos, tia... mas agora, tá mais difícil pra contar histórias, porque com a pandemia, os ricos passam com a janela fechada e não querem abrir! Daí, a gente acaba trabalhando muito mais tempo pra conseguir o dinheiro.

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