Bora Cronicar
Oi? Veja Bem…
Veja bem… ontem, eu tentei falar sobre a expressão “sabe o que eu tava pensando?”, e não deu tempo, acabou o espaço da crônica.
Eu queria chegar em algumas expressões que me assustam um pouco, mas, pra isso, eu queria chamar atenção para algumas expressões que são corriqueiras, e que, de alguma forma, ou me assustam ou irritam profundamente. O “oi" é uma delas. Não, não o “oi" cumprimento, desse que a gente avista alguém do outro lado da rua e diz: “oi!”.
Note que neste “oi”, o ponto que o acompanha, é o ponto de exclamação! Porque quando a gente diz “oi”, normalmente é com alguma satisfação. Tudo bem, eu sei que nem todo mundo costuma cumprimentar as pessoas com entusiasmo. Em alguns casos, o “oi" vem acompanhado simplesmente de ponto final. Assim: “oi.” É um “oi” mais seco, de quem não quer dar muita conversa. Mas tem "oi" ainda mais entusiasmado do que o “oi" com o ponto de exclamação. Tem o “oi” seguido de vírgula e um “e aí?”. O “oi" seguido de vírgula, eu tenho um pouco de medo, porque significa que alguém quer que eu fale mais, que eu diga alguma coisa, que entabule conversa. E nem sempre estou nesse clima. Prefiro o “oi" que fica entre o ponto final e o ponto de exclamação. Tipo o “oi" de elevador: a porta abre, a gente vai entrando e vendo quem está nele, e a gente pode limitar-se a apenas um “oi”, assim, meio indefinido, aquele “oi” por edução, o “oi" que seja suficiente pra chegar até o térreo e sair fingindo pressa pra não ter que dar conversa. E tem outro oi, também que eu não gosto tanto, o “oi" seguido de reticências, tipo o “oi" do Ross do seriado Friends. Um “oi" de quem sente pena de si mesmo e quer que lhe pergunte: “e aí, tudo bem?”, ou “oi, o que houve?”. É um “oi” que o “i" vai sendo mantido em uma espécie de MRUV (não lembra? Você aprendeu em física: Movimento Retilíneo Uniformemente Variado) Assim: “oi i i i …”. Mas tem um, pra mim, pior que todos esses: o “oi” com ponto de interrogação, quase uma interjeição, muito usado quando alguém quer ganhar mais tempo que o “veja Bem”, quando alguém quer fingir que não entendeu:
— Passaste na costureira pra pegar o vestido, que eu pedi?
— “…Oi?”
Esse! Esse é o pior. Claro que o pobre marido dessa mulher entendeu a pergunta! Junto com a pergunta veio o choque de ver-se confrontado com algo que ele esqueceu, porque é a última coisa que escolheria fazer. Se ela tivesse dito algo como:
— Lembraste de passar no açougue e comprar a picanha maturada e depois passar no mercado pra comprar a cerveja pro churrasco com o pessoal do futebol?
Se a pergunta fosse assim, a resposta não teria nenhum “oi”, seria clara e direta:
— Claro que sim, meu bem!
Mas, no primeiro exemplo, o da costureira, o recurso foi o “oi" com ponto de interrogação. Esse “oi" é pior do que o “veja bem”, porque enquanto o “veja bem” já é um começo direto, o “oi” com ponto de interrogação força à repetição da pergunta, o que dá inestimáveis segundos para o cérebro disparar toda sua energia de processamento na elaboração de uma resposta convincente:
— Não, meu bem, eu estava indo para a costureira, e o Adroaldo ligou porque a pressão da mãe dele caiu e ele pediu pra eu passar na farmácia pra comprar o remédio da mãezinha dele, tadinha… Mas amanhã eu passo na costureira sem falta!.
Mesmo que esse “oi" com ponto de interrogação seja útil em algumas situações, eu detesto que seja dirigido a mim. Especialmente em interrogatórios.
— O senhor invadiu a sacristia e roubou o celular do coroinha?
— Oi?…
Isso me deixa louco! Daí, que desenvolvi uma técnica:
— O senhor invadiu a sacristia e roubou o celular do coroinha?
— Oi?…
— Oi! — Eu devolvo! Assim, seco, e fico encarando o sujeito. Meu ponto de exclamação fica cravado ao lado do “oi" como uma lança! Isso inibe a invenção de uma desculpa. O indivíduo não espera por isso, e, então, em vez de o cérebro sair desesperado em busca de uma desculpa para seja lá o que for, fica confuso tentando entender se foi cumprimentado de volta, ou o “oi" foi o que tive a intenção de que fosse: o resumo da repetição da pergunta seguido de “desembucha logo”. Tudo num “oi" com ponto de exclamação, que se seguiu a um “oi" com ponto de interrogação.
Pois bem. Acho que de todas as expressões possíveis, a que mais mete medo em um homem é quando a mulher diz:
— E aí? Não notaste nada?
Pânico! Paralização total. A gente olha em silêncio: cabelos! Ela cortou? Estavam assim ontem? Unhas! As unhas! Já estavam vermelhas, né? Ou não? Sobrancelhas! Meu Deus! Será que ela fez as sobrancelhas? Como diabos ela pode pensar que eu vou notar algo assim?
As opções não são muitas e os resultados vão desde a execração até o desprezo com a ameaça velada: “
— Vamos ver se o Eduardo lá da firma não vai notar!
Eu sugiro a seguinte opção: escolha alguma coisa e diga rápido com convicção. Se demorar um pouco, elas farejarão o cheiro do medo. Seja rápido. Já que é inevitável, seja homem!
— Eu gosto quando você pinta as unhas assim!
Provavelmente não dará certo. Mas se você acertar o chute, será coberto de bênçãos e favores!
Existe, também, a saída segura:
— Além do fato de que você está mais magra, gostei do cabelo!
Ainda que ela saiba que você não faz idéia sobre o que era pra ter notado, as palavras mágicas “mais magra” fará tudo ser amenizado. Mesmo ela sabendo que você disse isso sem ter idéia do que ela queria que notasse, ainda que ela nem sinta sinceridade na sua voz, o fato é que se ela ouvir “mais magra”, você terá uma atenuante irrefutável à sentença que se seguirá! Então, lembre: ou o chute seco, uma espécie de “all in”, de “tudo ou nada”, ou, apele para as medidas e errará, mas amenizará a pena!
Bem… ainda não consegui entrar no assunto que eu queria, que era o “sabe o que eu tava pensando!” Perdoem. Vou precisar de uma nova crônica pra isso!
Você está me perguntando se eu vou mesmo falar sobre o “sabe o que eu tava pensando?”?
— Oi?…
Luís Augusto Menna Barreto
1º.3.2019