sexta-feira, 8 de março de 2019

bora cronicar - Sabe o Que Ela Tava Pensando?

Bora cronicar

Sabe o Que Ela Tava Pensando?

Tá bom, vou chutar o balde e falar logo: “sabe o que eu tava pensando?”
Pois então, essa é uma expressão que também me deixa preocupado. Ela não me apavora propriamente, mas me deixa preocupado. E não é que a expressão em si deixe-me preocupado. É apenas quando a Ana diz isso!
A Ana tem umas coisas curiosas. Ela é uma das pessoas mais determinadas que eu conheço. E quando digo determinadas, estou falando em foco total. Então, acontece não raramente, de ela, do nada, perguntar alguma coisa no meio de uma conversa em que eu fico sem entender coisa nenhuma… Porque a conversa, na verdade, estava acontecendo apenas na cabeça dela, mas ela pergunta como se eu soubesse de tudo que ela estava pensando. 
Por exemplo, ela já perguntou assim:
—Porque você prefere o 1.5, né?
—Hein? 
Isso foi quando ela decidiu que eu precisava de um carro pra ir trabalhar. Porque quando eu estava no Marajó, eu não precisava de carro. Talvez uma lacha, mas não um carro!
O fato é que ela estava pensando e tratando disso em sua mente, enquanto eu assistia a um jogo do Inter; ela perguntou isso, como se fosse no meio de uma conversa em que já teríamos discutido sobre vários outros itens. Mas essa pergunta que ela fez, escapou porque, sobre isso, ela deve ter ficado indecisa na conversa mental que ela estava tendo comigo. Daí, perguntou e ficou me olhando como se fosse evidente que eu deveria saber o que ela estava pensando, enquanto o D’Alessandro entregava um passe milimétrico de mais de 30 metros para o centroavante colorado que perdeu o gol!
Esse foco da Ana, muitas vezes diverte o João, porque, no fim, tanto ele como eu, achamos engraçado. Às vezes, nós estamos os três, Ana, João e eu embalados em algum assunto, e, no meio da conversa, vem uma pergunta que foge completamente do contexto. Ao menos do contexto em que eu e o João estamos, mas certamente é do assunto que estamos os três tendo na cabeça da Ana:
João: — Papai, essa semana nós vamos ter apresentação do trabalho de ciências.
Eu: — Que legal, filho, temos de treinar a apresentação, então.
Ana: — Vocês não acham que a gente deve chegar em Porto Alegre e ir direto na loja de tapetes?
Mais ou menos isso. Eu e o João nos olhamos, e acabamos rindo!
Mas algumas vezes, muitas aliás, ela está pensando e introduz o seu pensamento com uma pergunta meramente retórica: “sabe o que eu tava pensando?”, e já emenda o assunto em que está focada.
Eu até tento acompanhar, mas o problema é que quando a Ana fala “sabe o que eu tava pensando?”, a velocidade das informações é muito maior do que minha capacidade de processamento. Quase não tem vírgula, ela quase não respira a partir do “sabe o que eu tava pensando?”, o ponto de interrogação dura menos do que as descargas elétricas dos meus neurônios sendo ativados, e, de alguma forma, a impressão que eu tenho é que sempre tenho que ficar correndo atrás da informação e do raciocínio dela.
Daí, que eu decidi que precisava arrumar alguma forma de ganhar tempo. 
Foi então, que eu pensei em fazer o mesmo que faço com quem me fala aquele maldito “oi?” Com ponto de interrogação em algum depoimento:
— Foi o senhor que entrou na sacristia e roubou o celular do coroinha?
— Oi?…
— Oi! — Respondo assim, seco e olhando nos olhos, e o sujeito entende que meu “oi" significa a repetição da pergunta e a palavra: “desembucha" tudo num “oi" só.
Pois depois de ter bons resultados com a técnica do “oi respondido”, decidi: vou responder à pergunta retórica e com isso ganho tempo. Só que com a Ana não seria tão simples. Seria preciso concentração, alguma preparação, ensaio. Precisaria estar pronto pra ser pego até de surpresa e reagir. Como eu me aprontaria pra isso?
Treinando! 
Pensei em quem usa esse tipo de expressão (ainda que não com a velocidade e determinação da Ana). A Isabella! A Isabella é uma estagiária de direito que trabalha na equipe da 3ª Vara, e pelo menos um dia por semana, ela quem digita as audiências pra mim. E ela fala algumas vezes justamente isso:
— Doutor, sabe o que eu tava pensando?
Ela fala com suavidade e fluidez como falaria uma parisiense. Aliás, o nome dela nem é Isabella. Mas eu realmente a chamo assim, porque ela tem cara e jeito de Isabella. Eu tenho certeza que ela deveria ter nascido em Paris e ser batizada como Isabelle, e alguém no setor de remessa de bebês, lá no céu, fez alguma bobagem. Mas, enfim, a Isabella às vezes fala: “doutor, sabe o que eu tava pensando?”. 
Daí que, embora ela não merecesse, o teste seria com ela! Dito e feito: no primeiro  “doutor, sabe o que eu tava pensando”, eu tasquei:
— Não! 
Ela parou. Não esperava a resposta. Demorou três segundos (eu cronometrei), riu e disse algo tipo:
— (riso francês) Desculpa, claro que o senhor não poderia saber… Sabe o que é…
Aproveitei o “sabe o que é”, improvisei e mandei outro:
— Não! 
Mais uns dois segundos até a reação da Isabella! 
Depois, até expliquei pra ela a situação e ela ficou aliviada. 
Bem, o teste havia sido realizado com sucesso. O “não" à pergunta retórica tinha rendido três segundos, depois mais uns dois… calculei que com a Ana eu ganharia ao menos uns dois segundos no total, mas cada milésimo seria importante.
Passei uns dois ou três dias concentrado, até vir o primeiro “sabe o que eu tava pensando?”. Foi à noite, enquanto eu lanchava depois do trabalho. Eu estava degustando o romance vencedor do prêmio Leya de 2017, na companhia do Messi, e ela entrou na cozinha: 
— Sabe o que eu tava pensando?…
Ah!, eu estava preparado. Concentrado. Pronto. Armei minha melhor expressão de “tenho tudo sob controle”, e disparei:
— Não!
— … amanhã, tu vais com meu carro, que quero levar o teu pra lavar que tá muito sujo, e…
Pois é. Era a Ana. Atropelou meu não sem nem notá-lo. Não fez nem cócegas no foco que ela mantém. 
Tentei, né?!
Luís Augusto Menna Barreto

8.2.2019

24 comentários:

  1. Cla! Clap! Clap!
    (Aplausos para quem não leu gibis)

    É isso aí! As mulheres pensam. E pensam muito! Pensam o tempo todo!
    E ainda realizam o que pensam! E como pensam em realizar... Ah! Sim! As mulheres são seres pensante. Não se distraem. Não perdem o foco... Talvez quem esteja na fase de teste... Mas só por alguns segundos. As mulheres são Ph...
    Viva as mulheres!

    Boa crônica!

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  2. Muito a cara da Ana, tive a oportunidade de presenciar a rapidez de uma negociação na compra de duas cadeiras em Salinópolis, confesso que fiquei me segurando pra nao rir da cara do vendedor que depois de ter desistido de não dar o desconto teve que provavelmente mandar fazer uma cadeira especialmente da maneira como a nossa querida Ana desejava. O interessante foi a avalanche de informações que vieram logo depois do trato feito, como dizemos por aqui, com rapidez e firmeza de causar inveja aos lerdos nas conversas, eu mesma fiquei espantada ao mesmo tempo que me divertia. O Sr. é realmente o marido que toda mulher pede a Deus... Se deixa encaixar perfeitamente nas conversas mesmo sem estar participando fisicamente.

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    1. Eu tava pensando... isso já é bom, né??!!!! Porque daí, ela conversa comigo sem eu nem precisar falar muito!!!🤣😅😅

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  3. Como sempre... Mais uma crônica que nos faz viajar no tempo.

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    1. Ah... mas viajar no tempo pra Salinas, é muito bom....!!!!!!!

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  4. Uma crônica que me fez rir só de imaginar sua expressão risonha quando a Ana te inclui numa conversa que acontece na cabeça dela, ainda bem que tem o João pra rir junto rsrs Ah, essa de batizar a moça de Isabella, é um costume que trouxe do Marajó né? Legal. Gostei do seu treino com o uso do "não" kkkkkkkkkk que com a Ana não funcionou, mas tentou. Belo e divertido cronicar de hoje.

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    1. Ah!, mas eu não desisto! Ainda estou atrás de alguma técnica que me de alguns segundos pra alcançar o raciocínio dela!!!

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    2. Poeta, as mulheres tem essa capacidade de pensar e fazer várias atividades simultaneamente, já os homens não as tem, isso é uma coisa só nossa, mulheres. Li essa informação em algum lugar que não me recordo onde, mas tem comprovação científica dessa capacidade feminina, acho que Deus qdo nos criou nos fez assim porque a maternidade requer esse dom. Ana nos comprovando essa velocidade de processamento e realização de pensamentos. Bjos a todos vcs!

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    3. Oi....???!! Ainda to processando teu comentário!!!!😂🤣😂🤣

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    4. kkkkkkkkkkk seu processador é um intel top, o mais moderno de todos, acho que é o I 9....vc é um mestre das palavras....

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  5. Dizem que: por trás de um grande homem há uma mulher ainda maior.
    Linda homenagem!
    Parabéns pra Ana e pra todas as mulheres nesse Dia Internacional da Mulher!

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    1. Isso eu admito: jamais seria quan eu sou, não estaria onde estou, se não fosse essa guria!!!

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  6. Ahhhhhh, mulheres pensam muito rápido mesmo! Abraço bem carinhoso para Ana e para as mulheres que convivem contigo, poeta. Grande abraço!

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  7. Minha querida Ana! Sou assim!Divago ..meu diálogo interno ou de quase todas as Anas..Marias..Joanas...Fernandas..Isabeis.Lúcias..enfim mulheres...voces homens jamais entenderão o que se passa nas nossas cabeças esse é o que nos torna incrivelmente interessante ao ponto de voces casarem tentando descobrir nossos mistérios Ana é capricorniana ? Cansou poeta de ler sem as virgulas e reticências que tornam tudo mais interessante Beijo querido

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    1. O texto é incrível... bem se vê que é da lavra de quem tem a palavra por ofício! Notei logo que o comentário era um recado especialmente no que NAO fora escrito! Ah, como é bom ver-te cronicar por aqui!!

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  8. "Só que com a Ana não seria tão simples. Seria preciso concentração, alguma preparação, ensaio. Precisaria estar pronto pra ser pego até de surpresa e reagir. Como eu me aprontaria pra isso?
    Treinando!" Está frase foi demais Menna, ótima crônica para celebrar o dia internacional da mulher. 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻 Nos somos assim mesmo, quando vocês estão chegando com o fubá, nós já temos a polenta pronta. 😂😂😂😂😂 Muito bom, um feliz dia da mulher para a Ana!

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    1. Demais, amiga Sônia, foi teu comentário tão divertido!!!! Venhas sempre cronicar!!!

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  9. Palavras sao desnecessárias para descrever a crônica...A obviedade fala por si só MARAVILHOSA...

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    1. Ah!, Michele... sempre tão bom ver-te a cronicar trazendo tanta gentileza...!!!!!

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