Pensamentos Perdidos:
Originalmente publicado no antigo blog
"Menna Comentários", precursor deste.
Data da postagem original: 12.03.2016.
Comentários na postagem original: 2.
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Silêncio
Foi o juiz que mandou eu varrer a escola. Eu falei pra ele que não lembrava de muita coisa. Eu queria ver TV e a criança tava chorando, eu acho…
Ele nem ouviu direito. Tava falando qualquer coisa sobre uma tal “partida de tênis”, que eu nem sei direito o que é. Já ouvi muita gente falar sobre isso, tem até clube pra isso, mas não consigo imaginar como seja jogar tênis. Às vezes, imagino as pessoas desamarrando cadarços e atirando tênis tentando acertar o outro e quem é acertado tem que sair. Vai saber como rico se diverte? Sim, porque juiz é rico, não é? Ele mandou eu varrer a escola.
Eu não lembro de muita coisa mesmo… lembro que cheguei em casa e o bebê tava chorando. Daí ela gritou comigo, e o bebê não parava de chorar no colo dela… e eu sentei pra ver TV. Mas ela ficou gritando, e o bebê chorava… e tinha aTV que eu não conseguia escutar…
Era muita coisa. Muito barulho. Acho que empurrei ela. Depois ficou silêncio, porque acho que ela saiu com o bebê. A TV quebrou, disso eu lembro, porque eu tava tentando levantar a TV quando a polícia chegou. Não lembro direito se eu tava no chão com a TV…
Não entendi direito o que a polícia falou, quando me levou. Não lembro direito se falei com o Delegado, também. Fiquei preso uns dias e depois, quando fui levado para o juiz, ele mandou eu varrer a escola.
A TV lá em casa, continua quebrada… mas acho que sinto mais falta do choro da criança…
Por Luís Augusto Menna Barreto
Na maioria dos casos de violência que a gente vê contar, é mais ou menos desse modelo aí, o agressor geralmente não viu nada, não sabe de nada e não é culpado de nada. Infelizmente, o número desses casos tem aumentado.
ResponderExcluirInfelizmente, amiga, o problema é realmente grande e maior do que simplesmente a violência haver acontecido... é a cultura de achar que isso seria normal...
ExcluirDiante de tanta violência, as vezes me questiono se evoluímos mesmo da fera animal ao encontro do humanismo da relação harmônica com o próximo no contexto do mundo. Que pena. Estamos perdendo tempo da nossa vida pra tão pouco tempo de vida que temos para o nada !!!!.
ResponderExcluirBora transformar nosso tempo de vida em "ganho" em vez de "perda", recuperando alguém que erra...
ExcluirPenso que uma pessoa recuperada, é uma vida salva!
"Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento." Lucas 15:7
Eu, particularmente, acredito muito na mudança de vida, e na recuperação do ser humano. Parabenizo as pessoas que se propõe a fazer esse tipo de trabalho. Já mencionei aqui a minha experiência com uma casa Terapêutica. Foi maravilhosa. É um trabalho como da formiguinha... mas muito gratificante.
ResponderExcluirComo eu disse: um recuperado, entre milhares, que seja, é uma vida a comemorar!!
ExcluirSempre assim,o culpado se fazendo de vítima pra se safar. Nunca lembra de nada. Esquecimento por conveniência.
ResponderExcluirÉ algo muito delicado...
ExcluirDifícil demais de decidir.. por isso apenas escrevi assim... porque muitas vezes é isso que chega... e é muito difícil de separar os que realmente não se lembram, com aqueles que não querem ser lembrados...!!!
Mas há uma ingenuidade e, ao mesmo tempo, uma ternura tão sutil, porém tão profunda, na personagem desse texto que, embora ele seja um "agressor", dá vontade de pegá-lo e trazê-lo pra o colo.
ResponderExcluirEntendes o que sinto, escritor?
Acho que é o que reflete quando ele fala "A TV lá em casa, continua quebrada… mas acho que sinto mais falta do choro da criança…"
ExcluirHá casos em que o agressor, quando sóbrio, é francamente arrependido e, sóbrio, jamais pensaria em machucar quem ele ama...
Enfim... é difícil demais... julgar... apenas expus... não me atrevo a julgar..!
Realmente difícil...Esquecimento involuntário ou esquecimento por conveniência como bem citou minha amiga Eunice...Em ambos os casos é sempre muito triste esses casos de violência...
ResponderExcluirViolência é sempre triste... ainda mais se a violência é apenas reprodução do que se aprendeu...!
ExcluirInfelizmente ainda é assim.
ResponderExcluirQuando morei em uma cidade do interior há um bom tempo atrás. Fiz um trabalho voluntário na AMA - Associação do menor abandonado da cidade. Em um dos dias eu estava acompanhando as crianças brincando no quintal da associação, e vi três delas, duas meninas de mais ou menos quatro anos e um menino de cinco anos.
Estavam as três crianças sentadas numa calçadinha de frente a um salão dentro da instituição que devia ser uma lojinha ou um bar no passado, estava fechado com aquela porta corrediça normalmente vista em comércio.
Uma das meninas com a cabeça entre as pernas chorava, com a outra menina agarrada ao pescoço da amiga chorando também. O Menino muito bravo chutava as permas das meninas e dava-lhes tapas na cabeça.
Vendo isso, me aproximei e chamei delicadamente a atenção do menino, dizendo que não devia fazer isso com as amiguinhas. E então ele me disse :
_Não tia, a gente não tá brigando, a gente tá brincando. Eu sou o marido dela. E ela é nossa filha. -Apontou para a menina agarrada no pescoço da amiga. _ A gente tá brincando que eu tinha vindo do bar e comecei a bater na minha mulher e ela que é minha filha, veio separar a gente, por isso ela tá apanhando também.
Bom, não preciso dizer que contive as lágrimas e com meu jeito, sentei ao lado deles e tentei desfazer aquela imagem também orientando o que achei certo naquela época.
Escritor Menna, perdoe minha petulância em invadir seus comentários para contar está história. Lendo seu texto, por sinal muito bem escrito e explicado, lembrei-me deste fato. Grata!
Crianças reproduzem exemplos.....
ExcluirObrigado, amiga!
É sempre assim.. eu não vi nada.. não foi eu.. quando que horas.. na cara de pau..
ResponderExcluir... uma realidade muito triste....!
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