Só é traição, se os outros sabem que o traído sabe
Originalmente publicado no antigo blog
"Menna Comentários", precursor deste.
Data da postagem original: 14.02.2016.
Comentários na postagem original: nenhum.
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Esta, não é exatamente um caso que tenha acontecido em audiência ou mesmo dentro do fórum. Mas acontece que o personagem mais efetivo desta história era um “frequentador” assíduo do fórum, sempre envolvido em um ou outro caso de pensão de alimentos ou em algum caso de investigação de paternidade.
Pois no fim das contas, foi o próprio que contou essa história, num intervalo entre uma audiência e outra… dele mesmo, com duas autoras diferentes!
Ora, se ele próprio conta entre uma audiência e outra, então também posso contar!
Diz que o caboclo tinha recém juntado as escovas de dentes com uma morena lindaça, depois de três ou quatro uniões que não deram certo. Dessa vez vai, pensava. E estava bem empolgado. Ele, com 1m60 de altura e ela com quase 1m70, ele se perdia nos braços suados da morena e estava em lua de mel consigo mesmo, se achando “o cara”!
Ah!, mas tenho de dizer que isso se deu na cidade de Bagre, cuja sede é uma ilha, pertence à 8a Região Judiciária, polo do Marajó, mas já fica pro outro lado do rio, já no lado do continente. Fica distante 4 horas de viagem fluvial nos barcos que fazem a linha Breves/Bagre e distante 10 horas no navio que faz a linha Breves/Belém, passando por Bagre.
Para se ir de Bagre para Belém, tem-se que primeiro pegar um barco que sai de Bagre às 18h30min, o qual depois de navegar por cerca de 1 hora ou mais, aguarda a passagem do navio que sai de Breves com destino a Belém, e passa próximo à Ilha das Araras. Quando o navio aponta no rio, o barco, que já estava amarrado ao trapiche da Ilha das Araras com os passageiros comendo alguma coisa na venda do trapiche local, todos entram novamente no barco e o encontro entre barco e navio dá-se no meio do rio, com os passageiros pulando do barco para o navio por volta de 8h da noite, para chegarem em Belém próximo de 6h da manhã.
Pois eis que em determinado dia, nosso indigitado “Dom Juan Marajoara” avisa a nova patroa que tem de ir em Belém. Por volta de 18h sai de casa com um ardente beijo e caminha rumo ao trapiche da empresa que faz a linha fluvial. A passagem custava então, R$ 70,00 para que atasse sua própria rede nos aparadores que tem ao longo de todo o navio, e tinha também algum dinheiro para o lanche. Ocorre que o caminho até o barco que sai com os passageiros, faz passar pelo trapiche municipal de Bagre, onde tem a lancheria. Ali, já tinha uns amigos tomando uma ou outra cerveja, depois de uma partida de futebol, que ele próprio não jogara porque justamente iria para Belém. Vendo os amigos, decidiu ir até ali, já que ainda dispunha de uns 20 minutos.
Conversa vai, conversa vem, uma ou outra cerveja, desce mais uma ou duas com seu próprio dinheiro, e adeus viagem. Quando deu conta, o relógio já apontava quase nove horas da noite.
Quem é do local sabe que, perdendo a saída do barco, não tem remédio: só no dia seguinte!
Sem muita preocupação, afinal de contas, pensou, ida para Belém tem todo o dia, resolveu voltar para casa e aconchegar-se nos braços da morena.
Pois aí que se deu o problema! Chegando em casa, sequer havia levado a chave, resolveu por dar a volta na casa para entrar pelos fundos, porta que certamente estaria aberta.
Ao dar a volta, passa pela janela de seu próprio quarto e ouviu sussurros! Parou, quase congelado. Espichou o ouvido (se é que isso é possível) e tentou escutar o que diziam. Pois ninguém falava nada. O que escutou foram alguns sussurros que diziam tudo!
Era um tal de “huummm”, “aaaaiii”, “isssooo”, “maissss”, “hmmmmmm" que deixou o caboclo sem muita ação.
No mesmo momento compreendeu o dilema: na filosofia local, o caboclo só era corno, se descobrisse a traição… não, mais que isso: só era corno, se descobrisse a traição e os amigos soubessem que ele havia descoberto!
E agora? Precisava tomar uma atitude.
Poderia entrar e acabar logo com aquela pouca vergonha! Xingamentos pra todo o lado, e sabe-se lá o resultado! (Ele ponderava, também, que tinha só 1m60 de altura e sabe-se lá o tamanho do mal acabado que se deleitava com sua morena!).
Mas tinha um outro ponto… ele não queria perder essa morena! “O que é só uma traiçãozinha, doutor?”, dizia-me com sua lógica cabocla. “Isso acontece com todo mundo. Não podia deixar de ter essa mulher só por uma bobagem dessas!”
Por outro lado, o caboclo também pensou que não podia correr o risco de não ter ido viajar, e o outro estar aproveitando o que a morena deveria estar oferecendo para si próprio! “Se eu tivesse ido viajar, não tinha problema. Sei que eu tava correndo esse risco, doutor, mas pelo menos eu não ia estar aqui e nem ia saber. E sabe lá se não encontrava uma morena com frio durante a viagem pra Belém, precisando de um lugar na minha rede pra se esquentar. Daí, tudo bem!”
"Mas o que tu fizeste?”, perguntei. E, confesso, pedi para o auxiliar aguardar uns minutinhos para chamar a próxima autora para audiência (que também cobrava pensão de alimentos para um outro filho do narrador daquela história).
"Resolvi o problema! Enrolei um pedaço de rede pela minha boca para abafar minha voz, fui até embaixo da janela e gritei: LARGA A MULHER DOS OUTROS, SEU OTÁRIO!”
Tendo gritado isso, ele saiu correndo para a frente da casa, em direção à rua e o “Ricardão” saiu pelos fundos. O pequeno “Dom Juan” disse que não queria nem arriscar a ver o cara, porque poderia ser seu amigo (e provavelmente seria, considerando que Bagre tem apenas uns seis mil habitantes em sua sede). Esqueci de dizer que ele notou a falta de dois dos jogadores do time de futebol no trapiche, os quais normalmente não faltariam à cerveja pós jogo, salvo por motivos de mulher!
Depois de haver gritado, ele voltou ao trapiche, tomou mais umas cervejas, e, por volta de 22h30, voltou pra casa! Quando chegou, a morena estava tranqüila, deitada na rede e assistindo Big Brother. Perguntou bem casualmente o que houve para ele estar de volta e ele disse que perdeu o horário no trapiche com os amigos. “E tu?”, perguntou. “Fiquei vendo TV. O que mais tem pra fazer?”, disse ela, displicente.
“Pois é, doutor. E nessa noite ela não negou fogo!”.
…
Mandei que fizessem o pregão da próxima audiência e descobri que a autora era mãe de um filho que o “Dom Juan” tinha feito depois do caso com a morena!
Por Luís Augusto Menna Barreto