terça-feira, 31 de maio de 2016

crônica - Só é traição se os outros sabem que o traído sabe

Só é traição, se os outros sabem que o traído sabe
Originalmente  publicado no antigo blog
"Menna Comentários", precursor deste.
Data da postagem original: 14.02.2016.
Comentários na postagem original:  nenhum.
Visualizações até ser retirado:  168
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Esta, não é exatamente um caso que tenha acontecido em audiência ou mesmo dentro do fórum. Mas acontece que o personagem mais efetivo desta história era um “frequentador” assíduo do fórum, sempre envolvido em um ou outro caso de pensão de alimentos ou em algum caso de investigação de paternidade.
 Pois no fim das contas, foi o próprio que contou essa história, num intervalo entre uma audiência e outra… dele mesmo, com duas autoras diferentes! 
 Ora, se ele próprio conta entre uma audiência e outra, então também posso contar!
 Diz que o caboclo tinha recém juntado as escovas de dentes com uma morena lindaça, depois de três ou quatro uniões que não deram certo. Dessa vez vai, pensava. E estava bem empolgado. Ele, com 1m60 de altura e ela com quase 1m70, ele se perdia nos braços suados da morena e estava em lua de mel consigo mesmo, se achando “o cara”! 
 Ah!, mas tenho de dizer que isso se deu na cidade de Bagre, cuja sede é uma ilha, pertence à 8a Região Judiciária, polo do Marajó, mas já fica pro outro lado do rio, já no lado do continente. Fica distante 4 horas de viagem fluvial nos barcos que fazem a linha Breves/Bagre e distante 10 horas no navio que faz a linha Breves/Belém, passando por Bagre.
 Para se ir de Bagre para Belém, tem-se que primeiro pegar um barco que sai de Bagre às 18h30min, o qual depois de navegar por cerca de 1 hora ou mais, aguarda a passagem do navio que sai de Breves com destino a Belém, e passa próximo à Ilha das Araras. Quando o navio aponta no rio, o barco, que já estava amarrado ao trapiche da Ilha das Araras com os passageiros comendo alguma coisa na venda do trapiche local, todos entram novamente no barco e o encontro entre barco e navio dá-se no meio do rio, com os passageiros pulando do barco para o navio por volta de 8h da noite, para chegarem em Belém próximo de 6h da manhã.
 Pois eis que em determinado dia, nosso indigitado “Dom Juan Marajoara” avisa a nova patroa que tem de ir em Belém. Por volta de 18h sai de casa com um ardente beijo e caminha rumo ao trapiche da empresa que faz a linha fluvial. A passagem custava então, R$ 70,00 para que atasse sua própria rede nos aparadores que tem ao longo de todo o navio, e tinha também algum dinheiro para o lanche. Ocorre que o caminho até o barco que sai com os passageiros, faz passar pelo trapiche municipal de Bagre, onde tem a lancheria. Ali, já tinha uns amigos tomando uma ou outra cerveja, depois de uma partida de futebol, que ele próprio não jogara porque justamente iria para Belém. Vendo os amigos, decidiu ir até ali, já que ainda dispunha de uns 20 minutos.
 Conversa vai, conversa vem, uma ou outra cerveja, desce mais uma ou duas com seu próprio dinheiro, e adeus viagem. Quando deu conta, o relógio já apontava quase nove horas da noite.
 Quem é do local sabe que, perdendo a saída do barco, não tem remédio: só no dia seguinte!
 Sem muita preocupação, afinal de contas, pensou, ida para Belém tem todo o dia, resolveu voltar para casa e aconchegar-se nos braços da morena.
 Pois aí que se deu o problema! Chegando em casa, sequer havia levado a chave, resolveu por dar a volta na casa para entrar pelos fundos, porta que certamente estaria aberta.
 Ao dar a volta, passa pela janela de seu próprio quarto e ouviu sussurros! Parou, quase congelado. Espichou o ouvido (se é que isso é possível) e tentou escutar o que diziam. Pois ninguém falava nada. O que escutou foram alguns sussurros que diziam tudo!
 Era um tal de “huummm”, “aaaaiii”, “isssooo”, “maissss”, “hmmmmmm" que deixou o caboclo sem muita ação.
 No mesmo momento compreendeu o dilema: na filosofia local, o caboclo só era corno, se descobrisse a traição… não, mais que isso: só era corno, se descobrisse a traição e os amigos soubessem que ele havia descoberto! 
 E agora? Precisava tomar uma atitude.  
 Poderia entrar e acabar logo com aquela pouca vergonha! Xingamentos pra todo o lado, e sabe-se lá o resultado! (Ele ponderava, também, que tinha só 1m60 de altura e sabe-se lá o tamanho do mal acabado que se deleitava com sua morena!).
 Mas tinha um outro ponto… ele não queria perder essa morena! “O que é só uma traiçãozinha, doutor?”, dizia-me com sua lógica cabocla. “Isso acontece com todo mundo. Não podia deixar de ter essa mulher só por uma bobagem dessas!”
 Por outro lado, o caboclo também pensou que não podia correr o risco de não ter ido viajar, e o outro estar aproveitando o que a morena deveria estar oferecendo para si próprio! “Se eu tivesse ido viajar, não tinha problema. Sei que eu tava correndo esse risco, doutor, mas pelo menos eu não ia estar aqui e nem ia saber. E sabe lá se não encontrava uma morena com frio durante a viagem pra Belém, precisando de um lugar na minha rede pra se esquentar. Daí, tudo bem!”
 "Mas o que tu fizeste?”, perguntei. E, confesso, pedi para o auxiliar aguardar uns minutinhos para chamar a próxima autora para audiência (que também cobrava pensão de alimentos para um outro filho do narrador daquela história).
 "Resolvi o problema! Enrolei um pedaço de rede pela minha boca para abafar minha voz, fui até embaixo da janela e gritei: LARGA A MULHER DOS OUTROS, SEU OTÁRIO!”
 Tendo gritado isso, ele saiu correndo para a frente da casa, em direção à rua e o “Ricardão” saiu pelos fundos. O pequeno “Dom Juan” disse que não queria nem arriscar a ver o cara, porque poderia ser seu amigo (e provavelmente seria, considerando que Bagre tem apenas uns seis mil habitantes em sua sede). Esqueci de dizer que ele notou a falta de dois dos jogadores do time de futebol no trapiche, os quais normalmente não faltariam à cerveja pós jogo, salvo por motivos de mulher!
 Depois de haver gritado, ele voltou ao trapiche, tomou mais umas cervejas, e, por volta de 22h30, voltou pra casa! Quando chegou, a morena estava tranqüila, deitada na rede e assistindo Big Brother. Perguntou bem casualmente o que houve para ele estar de volta e ele disse que perdeu o horário no trapiche com os amigos. “E tu?”, perguntou. “Fiquei vendo TV. O que mais tem pra fazer?”, disse ela, displicente. 
 “Pois é, doutor. E nessa noite ela não negou fogo!”.
 Mandei que fizessem o pregão da próxima audiência e descobri que a autora era mãe de um filho que o “Dom Juan” tinha feito depois do caso com a morena! 

Por Luís Augusto Menna Barreto

22 comentários:

  1. Hahahahahahaha... Muito engraçada sua crônica poeta...esse é o corno manso que se acha muito esperto...ele se safou direitinho e não perdeu sua morena...hahahahahaha.....

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    1. Ah, e como tem "valentes assim"...!!!!! Mas é curioso conhecê-los..!!! .... todos guardam histórias assim....!!!!!
      Obrigado, Tel!!!!

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  2. Kkkkkkkkkk

    Como são as coisas!!!!
    O cara é esperto....

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    1. Esperteza que a necessidade outorga!!!!!! É curioso ver "valentes" assim!!!

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  3. Poeta, você já sabe, que sua veia cômica é a melhor de todas...!!! Sua forma de escrever, deixa o texto mais divertido nos fazendo rir, do que na verdade não deveríamos. Muito boa essa história... Um corno esperto, na verdade... E haja história pra enriquecer nossos dias com boas gargalhadas...

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    1. Ah, as maravilhosas peripécias das gentes marajoaras...!!!!
      Mil obrigados professora!!!

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  4. Amigo vc se supera com as suas crônicas, muito legal.
    O cara é o cara de 2 faces faz nas outras mas não segura a sua. Já dizia a minha vó, quem não dá assistência perde a preferência e abre espaço pra concorrência.

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    1. Opa!!!!!
      Desculpa, Dr. Izamir, deixá-lo aqui sozinho!!! Vou correndo dar assistência!!!!

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  5. Misericórdia! A vida como ela é. Simplificada. Sem DR. Traiçào por todos os lados...
    E contada de um jeito tão engraçado, que cheguei a achar tão natural...
    É como dizia um amigo meu: Menna, igual a você, só você mesmo!

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    1. Ah, Maria.... como a vida marajoara, só a vida marajoara!!!!!

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  6. Gosto tanto das suas crônicas! Sempre termino lendo-as em voz alta para outras pessoas. Hoje, mesmo eu estando muito "borocoxô", li esta para minha Maria Maria.

    Não vou comentar hoje, viu, meu cronista predileto? Estou...

    Amanhã eu gravo, tá?

    Abraço você e todos os companheiros e companheiras de leitura, frequentadores e frequentadoras deste blog! Melhor, o serviço completo é mais curativo. Então, abraço e beijo.

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  7. Não posso. Se pudesse voltaria, sim. Compromissos assumidos.
    Mas em setembro voltarei. E só sairei de lá para ir a Fortaleza. Quem mais vai dos amigos aqui do Blog?

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  8. 😆😆 À caboclo como for....preciso de um amor....Homem tão sonhador.....que muitas mulheres me deixou....que muitas paixões ser criou.....São frutos do amor....Os filhos que deixou....Então pago pensão meu senhor....pata poder viver um novo amor....Pode ser com quem for...gosto de amor....amor...emoção. ...paixão....razão....sedução...o que for....vivo mesmo é uma história de amor....como for....só não posso ser um corno pra valer....pois algo vou dizer...amor é pra valer....vou tê falar...vou mim casar....ser casar....sim senhor...porquê....tenho uma boa morena pra valer...amor sim....ela é tudo pra mim...Estou de lua de mel....uau que céu....à linda mulher que é....Não pode me deixar....e nem me trair....pois corno não sou....vivo com ela só por amor...Não importa como for....gosto da morena meu senhor....Não vivo sem amor.....pois soy um homem sonhador....vivo minha paixão como for....mas corno não senhor....Posso até perdoar uma
    traição....mas não sou corno não...eu tenho uma linda mulher.....que todos quer....de tão morena que é....um doce de mulher....Não deixo ela não.....ser for uma traição.....traição....traição. ...eu vivo nesta confusão....todos sabe com razão.....dá grande traição....até os teus amigao.....que vive nessa confusão....Neste mundo de ilusão cada toda nação. ...

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    1. Ah, guria.... com toda a certeza....
      Temos esses "Dom Juans" em todos os cantos, do Oiapoque ao Chuí...!!!!
      Obrigado por essa tua alegria nos comentários...!!!

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  9. Sabedoria cabocla parauara. Nada de violência. Tudo fica como dantes no quartel de Abrantes

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    1. ... E a vida segue tranquila.....!!!!!
      Exatamente assim, Thais!!!!!!

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  10. O Marajó e suas peculiaridades. Rsrs.

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    1. Ah, o maravilhoso Marajó.... tem um jeito peculiar de resolver seus próprios problemas... um jeito diferente de ver a vida...

      Sempre aprendo no Marajó!!!

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