sexta-feira, 19 de agosto de 2016

crônica - Metro e Meio, Brédi-Piti e os PM's

Metro e Meio, Brédi-Piti e os PM`s

Originalmente  publicado no antigo blog
"Menna Comentários", precursor deste.
Data da postagem original: 18.03.2016.
Comentários na postagem original:  10.
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Vou resumir a história do Delegado: pense num delegado feio! … Mas, cá entre nós, Delegado não é pra ser bonito. E, se puder ter a cara mais feia do que a dos bandidos, tanto melhor: impõe mais respeito!
Pois a feiúra do Delegado logo se espalhou, e assim ficou famoso. Tinha gente na cidade que nem conhecia o Delegado, mas já sabia que era feio. Daí, que se alguém estava caminhando e topava com um sujeito muito feito, ia logo dando passagem e cumprimentando porque podia ser o Delegado. Na dúvida, cumprimentava, que cumprimentar errado não é crime. Mas não cumprimentar o Delegado, podia dar cadeia, se ele desconfiasse que não olhou prá ele por causa da feiúra!
Pois o Delegado feio estava lotado numa cidadezinha do interior, na beira do rio. Em delegacia do interior, é comum ficar trocando de Delegado. Quanto menor o interior, mais troca, porque os delegados, em geral, vão seguindo na carreira e cada vez mais querem chegar nas capitais. Em geral, quando ingressam na carreira, são lotados no interior. Nem se acostumam direito, e já vão trocando de delegacia.
Em compensação, os “fregueses" das delegacias do interior, muitas vezes são bem conhecidos. Vivem entrando e saindo da cadeia. Especialmente aqueles que não são tão violentos, que vivem cometendo pequenos furtos, ou mesmo os que vez por outra se envolvem em alguma briga. Vão na festa, ficam porres e pronto: lá vão eles amanhecer na delegacia, porque acabaram brigando! E tem os “Maria da Penha”. Aqueles que de vez em quando batem nas namoradas, muitas vezes porque estão prestes a ter a testa enfeitada, ou porque já estão com todos os enfeites. 
Pois o “Metro e Meio” era desses que vivia entrando e saindo. O apelido não era por causa da altura, se bem que não era alto. O apelido é porque ele chegava no bar e pedia:
“Me serve metro e meio de cachaça”. 
Por que ele pedia assim, ninguém sabia. Mas também ninguém perguntava. O “Seu Canhoto”, dono do bar, servia, ele tomava de um trago, e se ia embora. Como não trabalhava e vivia de “bico”, “Metro e Meio” muitas vezes não tinha o dinheiro pra cachaça e se “amigava" das coisas dos outros. Jamais com violência, mas não era prudente deixar as roupas no varal se o “Metro e Meio” tava sem o dinheiro da cachaça! O que visse ele pegava e tentava logo vender “na beira” para algum barco que estava de saída do trapiche da cidade. Bicicleta ele também gostava muito de pegar, embora nunca tenha aprendido a equilibrar-se numa delas. Pegava a bicicleta e ia empurrando até a beira, para achar um comprador. O problema é que em uma cidade pequena, logo “Metro e Meio” era conhecido, e quando o viam empurrando bicicleta, chamavam a polícia e não demorava pro “Metro e Meio” estar na frente do delegado. Eu mesmo já havia dito, pessoalmente, em audiência, para o “Metro e Meio” desistir dessa vida! Não que eu tivesse pretensão de redimi-lo, convertê-lo, ou trazê-lo ao bom caminho. Não tenho esse talento. Era uma questão prática. Ele não era bom nisso!
“O que foi dessa vez, ‘Metro e Meio’”? Perguntei no interrogatório.
“Uma botija de gás, doutor”.
“Hein? Tu tentaste furtar um botijão de gás? E como fizeste isso?”
“Peguei a botija e saí correndo com ela na cabeça, mas me pegaram, doutor”.
“‘Metro e Meio'… larga essa vida! Tu és um incompetente! Como tu esperavas não ser notado, correndo em plena tarde com um botijão de gás na cabeça? Larga essa vida! Vai fazer algo que tu saiba, porque ser ladrão tu não sabes, ‘Metro e Meio’".
Mas não adiantava!
Também havia o “Brédi-Piti” (isso, escrito assim mesmo!). Ganhou o apelido pelo avesso, porque era muito feio. Como ouvi numa piada recente que não lembro quem contou, o “Brédi-Piti” era o tipo de pessoa que ia comprar máscara de Halloween, e vendiam só os elásticos! E era muito complexado com a feiúra. Por isso vivia sendo preso: era uma e duas, batia na pobre “Das Dores”. Ela não podia olhar pro lado quando ele tomava as cachaças dele, que ele já queria bater nela, dizendo que ela olhava pra qualquer homem, porque qualquer um era mais bonito que ele. 
“Casou, tá casado, é até morrer! Se quiser se livrar logo de mim, fala que te mato”, ficava gritando quando bebia. Matar nunca matou, mas seguido batia ou tentava bater na “Das Dores”, e então ia preso. A “Das Dores” sempre ia chorar pro delegado soltar o “Brédi”. Afinal, como ela ia fazer pra dar de comer pros filhos e coisa e tal… Uma ou outra vez o caso ia para o fórum e a “Das Dores”, em audiência, jurava que não tinha acontecido nada, que não foi verdade, que nem chegou a apanhar. Uma vez, ela chegou com o olho muito roxo, fui perguntar o que era e “Das Dores” me sai com essa:
“Isso não é nada não, doutor. Tem que ver como ficou estragada a mão do pobrezinho do Brédi!”
Enfim era isso! Naquela cidadezinha na beira do rio, no Marajó, “Metro e Meio” e o “Brédi-Piti” eram conhecidos.
Pois desses dois, o Delegado, sempre que o “Metro e Meio” era preso, enfiava ele na cela. E ficava trancado até quando chegasse o Alvará do Forum para ele ser solto. Já o “Brédi-Piti”, o Delegado às vezes, sequer colocava na cela. O “Brédi" ficava por lá, varrendo a delegacia, limpando banheiro, e até atendendo telefone!
“Alô, sim, é da Delegacia, pois não? … Não, o Delegado não está. Eu estou preso, mas pode deixar recado, que quando ele chegar, eu passo pra ele”.
Pois é. Ninguém sabia direito por que a diferença de tratamento. Uns achavam que era em solidariedade, por “Brédi-Piti” ser tão feio. E, feio por feio, a briga era braba entre o Delegado e o “Bredi". 
Pois o caso se deu durante as festividades da Santa Padroeira da cidade, ocasião em que vai policial militar de fora, reforçar o efetivo de 4 policiais da cidade.
O reforço que chegou não conhecia o Delegado, mas já tinha ouvido falar na feiúra!
Os PM’s de fora, que não conheciam nem “Metro e Meio, nem “Brédi-Piti”, pegaram o “Metro e Meio” empurrando uma bicicleta que tinha furtado, e levaram para a delegacia. Chegando os PM’s com o “Metro e Meio” algemado, o “Brédi-Piti”, não se fez de rogado: atendeu com conhecimento de causa. 
Olhou para os dois PM’s que trouxeram o “Metro e Meio” e perguntou:
“Quem é o condutor?”
Um dos dois apresentou-se e contou o caso ao “Brédi”.
“É típico!” Disse o “Brédi”. “Ele tá acostumado. Não repare que não tem escrivão na Delegacia, e eu mesmo vou tomar o depoimento e datilografar. 
E assim fez! Ouviu os dois policiais e mandou até um dos dois PM’s ir buscar a dona da bicicleta em casa, que ele saiba onde morava. 
Ouviu o “Metro e Meio”:
“Como foi dessa vez, ‘Metro e Meio’?
“O de sempre! Não dei conta de chegar na beira. Ainda aprendo a andar de bicicleta e não me pegam mais”, falou para o “Brédi-Piti”.
Terminado o interrogatório, ao final de tudo, um dos PM’s conduziu “Metro e Meio” para cela.
Como não viu a chave, perguntou ao “Brédi”:
“O senhor tem a chave?”
“Não, não tenho…”.
O PM ficou preocupado. “Metro e Meio” não pareceu violento, mas a experiência de anos na Polícia Militar ensinou que não se pode facilitar. Temeu pela segurança do delegado, por deixar “Metro e Meio” com a cela sem chave e perguntou pro “Brédi-Piti":
“Mas e o senhor?”
“Ah, não se preocupe. Assim que eu arrumar a mesa do delegado, vou pra cela também, pode ficar tranquilo, seu Policial!”
O que aconteceu, é que os PM’s não falaram pra ninguém o ocorrido, com medo da vergonha.
Quando o Delegado chegou, estava tudo pronto e certo. Era só assinar. Já estava acostumado! Ter o “Brédi-Piti” preso, era sempre uma mão na roda!

Por Luís Augusto Menna Barreto


(Permitam-me um abraço a Ari e Teresinha, em algum lugar entre BH e Moeda, com o carinho de quem tem saudade do pai, falecido em 2001 aos 94 anos de idade - obrigado pelo carinho vindo de tão longe)




20 comentários:

  1. Bom dia, Doutor!
    É bom começar o dia rindo...
    Mas essa de ir comprar a máscara e só receber o elástico, foi demais. Genial... Crônica maravilhosa, como sempre. Parabéns. E receba também o meu carinho.

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    1. Ah, professora, sempre sempre recebo teu carinho em cada comentário que fazes!!!!!!
      Mil obrigados!!!!

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  2. Como sempre nos fazendo rir de situações inusitadas....
    Crônica maravilhosa!!!!😄

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    1. Barbaridade, guria! Super obrigado! Bom ver-te por aqui de novo!!

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  3. Jesua!!!Se essa moda pega! Mas "aqui pra nós" das Dores devia ir presa, pois ela é uma estimuladora do comportamento violento do Brédi. Paciência!!! Eu, pessoa tranquila que nunca me arvorei a levantar a mão contra ninguém, senti vontade de levantar contra "Das Dores" quando li: “Isso não é nada não, doutor. Tem que ver como ficou estragada a mão do pobrezinho do Brédi!” Aaaaahhh! Adoro mesmo é ilustrar com as imagens aqui, tudo isso. Dão, uns curtas ótimos suas crônicas. Muito interessantes e divertidas. Beijos da Bahia do Jorge Amado. Saudade.

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    1. Óh, Jorge Amado!!!! Inevitavelmente inspiro-me em Jorge Amado! As histórias passam no Marajó, mas poderia ser tranquilamente numa praia da Bahia! .....
      Bom ver-te comentando por aí!

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  4. Como diz você Poeta: "hém"...como assim um preso tomando depoimento, e depois de tudo pronto indo sozinho pra cela. Muito boa!!! Precisa colocar em um livro pra gente comprar e ter à nossa cabeceira. Parabéns!!!

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    1. Ah, Armelinda!!!!
      Super obrigado por tanta gentileza!!! A ideia de um livro não me é de todo estranha! Também a escritora Ana Isabel Rocha Macedo tem-me incentivado e até mesmo coloca a minha disposição enorme ajuda!
      Estou pensando, também, de escrever a novela "Aventuras da vida comum em Marajó City"!
      Estou avaliando, ainda.....!!!!
      Mas super obrigado!!!!

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    2. Enquanto esperamos, torcemos para que saia breve, em Breves, estas Obras!!!

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  5. Não creio que o Brédi se achasse feio. Acho que NINGUÉM se acha feio o tempo todo.

    Agora, há dias (E isso acontece com todo mundo. Até com os bonitões, como um certo juiz que se acha.) em que nos olhamos no espelho, e parece que vemos o "cão chupando manga". Em dias assim, se formos comprar máscara, é claro que vamos sair só com o elástico no pacote.

    Diga-me uma coisa, Cronista, tu não falaste a altura do Brédi Píti não, né? Fiquei imaginando... porque se ele for, além de feio, baixo... Aí, só Deus metendo a mão. Homem pequeno... sei não, viu?!

    Mas do Metro e Meio, ah!!!! Dele eu morro de pena! Pede alguém para ensinar a ele andar de bicicleta, Doutor! Se tu tivesses me contado essa inabilidade do rapaz, quando estive por aí, eu ensinaria isso ao coitadinho. Tadinho...!!!

    XXXXXXXXXX

    Tu já estás cheio de saber o que acho de tuas crônicas. Tomas tento, Luís Augusto, siga a sugestão que Armelinda te deu! Sabes muito bem que, SE QUISERES, eu te ajudo.

    Enfim... PARABÉNS! Não me controlo e digo mais uma vez: TUA CRÔNICA É ÓTIMA!

    Abraço cheio de carinho, amigo!


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    1. Ah, mas tu também já estás cansada de saber o que acho das tuas avaliações: adoro todas elas, porque sempre vem com o exagero do carinho tamanho que sentes, fruto da tua generosidade!!
      Cada dia ganha mais corpo a ideia do livro! "Crônicas de Marajó City"!
      Bora ver.......!!!!!
      Espero que Ari e Teresa consigam ler a crônica!!

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    2. Se tu achas que minhas avaliações têm exagero, o que posso fazer?! Mas vou te dizer algo: o carinho que tenho por ti é muito grande mesmo, porém, para externar isso, falo claramente, mando abraços, mando beijos, enfrento nossas brigas, que, aliás, podiam diminuir, solto em cima de ti umas "palavras grandes", quando me pirraças, enfim...

      Agora, meu caro Cronista, elogiar tuas crônicas, para te acarinhar?! Jamais! Quando te digo que as tuas crônicas são de excelentes qualidades, isso não tem nada a ver com o bem-querer que tenho por ti.

      Portanto, meu querido, aprenda a receber elogios e não fales mais besteiras!

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  6. Além de ter gostado demais da crônica, achei demais o "Marajó City".
    Vou entrar na torcida: rumo ao livro de crônicas!
    Quero estar lá no lançamento para ganhar autógrafo!!!
    E escolha uma livraria "podre de chique"!!!

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    1. Eu também vou querer autógrafo, Elisa Ferraz!!! É bom já írmos nos preparando...!!

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    2. Calma... calma.... rsrsrsrs..... é só uma idéia, por enquanto...!
      Mas em seguida, vem uma pequenina novidade por aí... aqui mesmo na internet....!

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    3. Meu Deus...o que será!!!?
      Quanta curiosidade...!!! Nem uma pistinha, Poeta?!!

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    4. Meu Deus...o que será!!!?
      Quanta curiosidade...!!! Nem uma pistinha, Poeta?!!

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  7. Kskskksks se fosse aqui em breves eu ia querer ser o bred kskkskskskks já que o delegado da qui e lindo ops rsrsrs é um gato mesmo rsrsrs seria a Angelina Jolie kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk Dr. Só uma brincadeira Dr. Kskskksks já q o delegado da qui, arranca suspiro por onde passa uffaaaaaa...... 😍

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    1. Opa!!! Não suspiro por ele, não!! rsrsrsrs.....
      E bora avisar para as "suspirastes" que a namorada/esposa dele, é delegada também!!!!

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