domingo, 15 de dezembro de 2024

Eu, o Pilha e a Festa do São Jorge - Igreja de São Jorge

 


Igreja de São Jorge 

   Eu, o Pilha e a Festa do São Jorge


Certo dia fui convidado por um grupo de estudantes de Administração da PUC para um bate papo sobre Administração de pequenos negócios. Ao terminar, o grupo me pediu a gentileza de entregar umas doações que eles arrecadaram para a festa na igreja de São Jorge no Partenon. Descendo a Av. Elias Cirne Lima, na sinaleira com a Bento Gonçalves, um moleque novinho me abordou: 

Desde aquela vez que eu voei como o super-homem (mas o Pilha disse que a gente apanhou dos flanelas grandões) na saída do jogo*, a gente nunca mais foi guardar carro de multidão. Os flanelas grandes ficam se xingando e não brigam... mas se aparece um pequeno, eles se "provalecem"! Eu não lembro muito bem do que aconteceu... mas eu lembro que a gente ganhou uma nota roxa, linda, que tem um passarinho bicudo. 

— Tio me arruma um pilas. 

Mas como o Pilha queria ir na igreja do São Jorge, ele queria ganhar rápido os oito pilas. E então fomos numa saída de multidão, num colégião de gente grande que o nome é Púqui. A gente passa sempre lá na frente, quando o Pilha quer ir falar com o São Jorge, porque a igreja dele é lá no final da rua que não acaba, com valo no meio. 

— Tu é muito pequeno pra trabalhar, devia estar brincando. 

Pra não arrumar confusão, a gente ficou na sinaleira, porque pra sair do colégião, todos tem que passar lá. E os flanelas estavam, todos, lá na frente da Púqui, pegando notas coloridas de quem tinha deixado o carro no canteiro do valo e na rua pequena do lado. Daí, teve um tio que parou bem na frente, na sinaleira e eu pedi um pilas pra ele. 

— Preciso de oito pilas, pra brincar, tio. — Achei estranho, mas dei dez reais. 

Eu lembro que tomei um susto, porque o tio me deu uma nota diferente, vermelha. Não era tão bonita como a roxa. Tinha um passarinho também, mas com o bico torto. Fiquei olhando o desenho da nota e nem lembro se agradeci. O Pilha disse que a gente sempre tem que dizer obrigado e sorrir, porque rico gosta de criança alegre. E se a gente pega a moeda e sai correndo, depois os ricos nem abrem a janela pra gente. 

— Obrigado tio... 

É... eu acho que agradeci... mas eu já tinha me virado e saído correndo, porque eu queria mostrar logo pro Pilha aquela nota colorida. 

O moleque saiu correndo para o outro lado, onde estava um outro um pouquinho maior, e saíram correndo atravessando a Bento. O sinal abriu e eu quis ver o que os garotos iram comprar com o troco que eu havia dado, então eu os segui até a Praça Arcênio Gonçalves. 

      O Pilha ficou feliz, quando mostrei a nota.

— Ei, tu tá deixando de ser mané?! Essa nota vale muito! Vale mais que teu dia todo. Esconde isso na cueca e bora brincar um pouco no parquinho perto da igreja. 

Se o Pilha não fosse muito sabido, eu ia duvidar, porque a nota roxa é mais bonita que essa. Até o passarinho da outra é mais bonito. Como pode essa valer mais? 

O pequeno foi direto para o balanço e o maior, para um canteirinho de flores. Quando começaram a chegar os moradores, eles subiram numa arvore. O maior foi bem para cima e o pequeno, em um galho mais baixo. Realmente eles foram brincar. Segui o meu caminho até a igreja São Jorge que esta a dois minutos da praça. Encontrei-me com Rogério Karpinski, um dos coordenadores do evento que informou como estava programada a festa, e seria assim: 

Aquela não era a nossa praça, mas também tinha árvore e balanço. A gente foi naquela, porque o Pilha queria ir na igreja 

do São Jorge. Quando o Padre está lá, ele nunca corre com a gente; e tem vezes que ele até dá leite quente num copo bem limpinho pra gente tomar. E nem é no mesmo, é um copo pra cada um! 

69ª Festa de São Jorge. Inicio no dia 10 de abril com a 13a Corrida e Caminhada de São Jorge, que abrirá oficialmente os festejos. No dia 22 de abril, o Baile de São Jorge ocorrerá às 20h. No dia 23, Dia de São Jorge, está marcada uma especial programação religiosa e cultural, que se estenderá até o dia 24 de abril. 

Depois de ficar um pouco no parquinho, a gente foi até lá. O Padre estava conversando com um moço. E era o moço que deu a nota grande pra gente! Eu parei quando vi ele. 

— Bora, mané. 

— Êh, Pilha... e se ele quiser a nota vermelha de volta?

— Não tá na tua cueca? A gente fala que já gastou.

Prometi que arrecadaria brindes para serem doados e sorteados no dia do evento. 

Eu convenci o Pilha a não ir lá. Daí, a gente ficou escondido e só entramos na igreja, quando não tinha mais ninguém, nem o Padre por perto. 

Algumas semanas depois consegui muitos brindes, brinquedos e muitas roupas para o brechó do dia 23. Resolvi levar para a Igreja. 

Quando estava na Bento Gonçalves fazendo o retorno para chegar à igreja, avistei os dois moleques parados, e me deu a impressão que estavam rezando ou pedindo alguma benção, ou simplesmente admirando o vitral da fachada da igreja, que é lindo. Estacionei o carro e fui pedir ajuda para os moleques para descarregar o carro e levar para igreja, mas eles não estavam mais lá. 

Tava chegando o aniversário do Pilha. A gente sabe, porque a igreja do São Jorge, começa a ficar movimentada. Eu não sei o dia do meu aniversário, e o Pilha disse para eu escolher um santo, como ele fez, e daí fazer o aniversário no dia do santo. Mas eu 

ainda não escolhi. Eu acho que eu também queria o São Jorge. E na festa do São Jorge, tem arraial com roda gigante, carrossel, jogo de argolas... A gente estava olhando o desenho do São Jorge no janelão da igreja, e eu vi o tio da nota grande chegando. Fiquei com medo, acho que ele ainda tá procurando a gente pra pegar a nota de volta! E eu acho que ele viu a gente, mas daí saímos correndo e fomos embora. 

Falei com minha filha Daiani dos moleques e ela me mandou um abrigo preto (calça e jaqueta) Adidas, um outro casaco com zíper, uma camisa Polo que era do Vicente quando pequeno que, ela estava guardando para o Pedro e também uma calça jeans, uma camisa de manga comprida e um All Star vermelho pouco usado, também do Vicente que ele não estava mais usando. 

O Pilha sempre quer tentar usar roupa nova. Eu acho que é pelo aniversário dele, mas ele sempre fala que é pra ficar arrumado para o São Jorge. 

Dia 22 fui procurar os garotos para dar os presentes. Procurei na sinaleira, na praça que eu os vi, naquele dia, mas não os encontrei. Resolvi deixar com o Padre, porque ele disse que os dois garotos costumam aparecer por lá. 

No dia da festa, a gente ainda não tinha conseguido roupa nova. Choveu muito nos dias antes da festa, daí, os ricos nem abrem a janela do carro. Quando a gente chegou cedinho, antes da missa e da procissão, o Padre nos chamou. Ele pediu para a gente entrar na casa e deu dois copos de leite quente. Nossa, com frio, leite quente fica melhor ainda! Daí, ele disse que era pra gente se secar e trocar de roupa. Disse que dentro da outra salinha, tinha roupas pra gente! 

No dia seguinte, dia de São Jorge fui à missa e almocei no salão da igreja. Quando eu já estava indo embora, finalmente vi os moleques. Estavam faceiros, com as roupas que eu tinha levado pra eles. Estranhei que não me agradeceram... Mas outro dia tentaria falar com eles. A tarde já avançava e eu tinha que ir para o Beira-Rio que era dia de jogo do Inter. 

Eu nem lembro qual dia de chuva eu não senti frio. Mas, dessa vez eu tava de casaco. Nunca tinha usado, e nem consegui fechar, porque não é botão, e não consegui engatar pra fechar. O Pilha, ficava toda hora correndo, só porque as pontas do casaco dele, voavam pra trás! E ele estava de tênis! Tinha só um par. Ele quis deixar pra mim, mas eu vi como o olho dele brilhou quando viu. E afinal, era aniversário dele, né? Mas ele me deu a sandália dele, que é melhor que a minha, e finalmente joguei fora aquela sandália com prego pra segurar a alça. 

A gente foi agradecer o Padre, mas ele disse que não foi ele quem deu as roupas. 

      — Quem foi, Padre? — Perguntou o Pilha!

      — Foi o Jorge.

      O Pilha me olhou sorrindo, e disse baixinho:

      — Viu? Eu não disse que São Jorge ia dar um jeito?


Jorge Senden 8.4.2023

Luís Menna Barreto 16.4.2023 

*Vide as aventuras: 

Eu, o Pilha e o São Jorge (Clique aqui)

Eu, o Pilha e os 35 Pilas (Clique aqui)

Para quem quiser ler, todas as aventuras do Pilha estão no blogue, é só me pedir e eu envio o link! 

3 comentários:

  1. Ahh!! Que saudades do Pilha!! Essa inocência...Que lindo Poeta, nos trazer de volta esse garotinho que aprendemos a amar...

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    1. Ah!, Michele!!! Obrigado!!! Mas essa devemos ao Jorge Senden, que encontrou o Pilha, e iniciou a aventura publicada!!!!!

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  2. Ah!, Michele!!! Obrigado!!! Mas essa devemos ao Jorge Senden, que encontrou o Pilha, e iniciou a aventura publicada!!!!!

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