sábado, 2 de setembro de 2017

CONTO DELLA - Decisões - parte 6

Conto Della
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Decisões - parte 6

Eles se encontraram várias outras vezes nos sessenta dias seguintes, enquanto as negociações da fusão prosseguiam em várias trocas de e-mails e algumas teleconferências. 
Em algumas vezes, ele recebia um e-mail da assistente dela, dizendo que ela queria encontrá-lo, mas era para que ele escolhesse o local. Ele entendeu que era para que ele tentasse surpreendê-la, e, também, entendeu que ele deveria tomar a iniciativa das conversas. Em um dos encontros, ele sugeriu um restaurante de beira de estrada, em que pediria uma das especialidades da casa: gigot d’agneau, acompanhado de vinho branco, e servido no ponto ideal, ou seja, cozido por fora e rosado por dentro, depois de sete horas no forno em baixa temperatura. Ela ficou surpresa pela escolha e achou que ele acertou ao escolher este restaurante e marcar o encontro para um sábado, eis que seria inadequado o encontro em um local distante se não fosse em um dia livre. 
Quando ela chegou, ele já estava lá. E assim que ela sentou, um garçom serviu um clericot de vinho branco. Ela se sentou de costas para a porta e foi surpreendida, ao final da refeição principal, quando uma garotinha parou ao lado da mesa e perguntou se eles estavam bem servidos. 
— Não poderia ter sido melhor! — Ele falou, sorrindo. E, em seguida: — Diga ao seu pai, que o atendimento é ótimo, e você, uma excelente maître!
A menininha saiu sorridente e parou em uma mesa adiante onde a sobremesa estava sendo servida para um casal com dois meninos.
— Como você sabe que a garotinha é filha de alguém do restaurante? — Ela perguntou.
— Você está de costas, mas eu vi quando ela entrou acompanhada por uma senhora que deduzo que seja sua mãe. Como a mãe largou sua mão assim que entrou no restaurante, e ela cumprimentou o hostess e o garçom, e passou a perguntar se as mesas estão bem servidas, deduzi que ela deva ser filha do dono ou gerente. Como entrou com a mãe, que não está vestida para trabalhar, deduzi que o dono ou gerente deve ser o pai. 
E ela quase deixou escapar um sorriso. “Como ele havia mudado”, ela pensou!
“Eu juro que vou entrar sozinha!”, ela pensava, nervosa, na calçada em frente à bilheteria do cinema. Estreava “Orgulho e Preconceito”, e ele que a havia convidado! Aparecera com dois ingressos já comprados e deixou no meio de um dos livros de estudo dela, “Negócios Negócios, Etiqueta Faz Parte” de Cláudia Matarazzo, junto com um bilhete: “espero você em frente à bilheteria. Não se atrase”. Ela não se atrasou. Ele estava atrasado.
Já naquele tempo, ela havia explicado que se ele convidasse alguém para qualquer coisa, se ele marcasse qualquer encontro, jamais (“JAMAIS”, ela enfatizava) poderia atrasar-se. De outro modo, se alguém o convidasse para qualquer coisa, não deveria chegar antes da hora. Nem atrasar. Deveria ser pontual. Se chegasse antes, ela dizia, que desse uma volta no quarteirão, que fosse em algum lugar discreto e próximo, mas não espere o anfitrião no local do encontro. 
— Ora, mas chegar cedo não é bom? Se eu chego cedo, mostro que estou interessado para aquilo que me convidaram. — Ele afirmava.
— Você não entende nada! Se o encontro é na casa do anfitrião, por exemplo, e você chega cedo, ele pode não estar pronto, e isso causará constrangimento. Imagine se ele estiver no banho?! Se for em um outro lugar qualquer, é o anfitrião que deve reservar a mesa e recebê-lo pronto, ou com os ingressos ou convites, se essa for a ocasião. Se você chegar cedo, pode atrapalhar o que lhe planejaram e ser frustrante para o anfitrião. Se chegar atrasado, será um sinal de que não se importou com o convite a ponto de programar-se corretamente. Chegue no horário.
Ela assistiu a “Orgulho e Preconceito” sozinha. Furiosa. 
Ele ficara no lado de fora. Naqueles tempos de início de pós faculdade, tudo era difícil. Não havia dinheiro para comprar outro ingresso. E ele esperou no lado de fora. 
Terminada a sobremesa, ele lhe entregou um envelope:
— Aqui está.
— O que é isso? 
— Sua passagem e a reserva no The Ritz-Carlton, Millenia Singapore.
Ela se limitou a levantar os olhos para ele e ele entendeu que era uma pergunta.
— Eu já lhe disse. Não vou conseguir sem você. Preciso que esteja comigo. Não posso errar. Será a proposta que pode mudar toda minha vida. E antes que você diga qualquer coisa, eu contatei sua assistente e escolhi uma data em que não prejudicará nenhum de seus clientes. 
Ela não respondeu diretamente. Disse-lhe:
— Este hotel é em Marina Bay. Um maravilhoso hotel para turistas. Seria mais adequado o The Fullerton Hotel Singapore. Você não vai a lazer. Deveria ter escolhido o hotel no centro financeiro. 
— Você que me disse que eu deveria surpreender! — Ele respondeu com o meio sorriso que tanto a fascinou no passado. 
De fato, ela estava surpresa. “Ele está pronto”, ela pensou.

(continua…)


Por Luís Augusto Menna Barreto

7 comentários:

  1. Uma passagem pois não "conseguirá sem ela"!!!. Maravilha!!! Mais interessante ainda.

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    1. Ah...... o que haverá de reservar os dois últimos capítulos......?????

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  2. Pronto???
    No aguardo do próximo capítulo!!!

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    1. Acho que publico na segunda ou terça... vou trabalhar na próxima parte (penúltima) amanhã!!

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  3. Gostei muito do momento em que ela sentiu-se surpreendida por ele!!! Ele mostrou com muita segurança, que também sabe das coisas!!! Muito bom...!!!
    Vamos ver quais serão os próximos passos...!

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    1. Pelo jeito, ele está sendo um excelente aluno......!!!!!!
      Mil obrigados, guria!!!!!

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    2. Gosto também quando ele disse que " não conseguiria sem ela"....
      Não pra me sentir melhor....mas sim pra me sentir útil e querida!

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