bora cronicar
Uma Carta Para Meu Velho Amigo Lico
— Já chegou? — Eu exalava ansiedade por todos os poros! Estava suado, apesar do mês de maio não ter sido nada quente na minha bela, querida, saudosa, distante, lendária e inesquecível Santo Antônio da Patrulha. Acontece que a agência dos Correios era (e é até hoje), bem quando termina a parte mais íngreme subindo a lomba que separa a Cidade Baixa (onde eu morava, no Bairro das Pitangueiras) da Cidade Alta. E eu subi a lomba correndo!
— Ainda não.
A senhora que atendia sorriu com paciência para aquela criança ansiosa de 9 anos. Eram por volta de 15 horas. No dia anterior, eu havia ido com a mãe entregar o cupom que recortei na revista do Tio Patinhas, preenchi os dados à mão, com caneta Bic, e a mãe levou-me à agência dos Correios. Não precisava selar o cupom e o pagamento seria na retirada do Supermanual do Escoteiro Mirim.
Era incrível chegar na agência dos correios. Eu achava linda! Um prédio com o pé direito alto, a gente entrava e mesmo no verão vinha aquela sensação geladinha. E era silencioso! Parecia biblioteca! Tudo tão calmo, lá.
O prédio continua igual, lindo. A agência dos Correios ainda é lá; mas agora, só as encomendas. Às vezes eu ia colocar uma carta para o programa dos Trapalhões, em que, no final, o Didi ia pra cima de uma imensa pilha de cartas, jogava algumas pra cima e pegava três, e os sorteados ganhavam uma bicicleta Calói. Daí, o Didi cantava a musiquinha: “pedalando, pedalando, pedalando com a Calói! Pedalando, pedalando, a poupança nunca dói!” Então ele colocava os quatro dedos em frente a boca, o polegar escondido por trás, passava em um movimento horizontal e estalava os dedos! E que atire a primeira carta, quem nasceu nos anos 70 ou 80 e nunca imitou o gesto do Didi.
Na década de 80, a gente conhecia o carteiro. O que passava na nossa rua (Salvador Jesus de Oliveira, ao lado do salão da igreja - a gente morava bem na esquina com a Rua Paraguai, atrás do salão) era um moreno forte! Eu achava o máximo. Por muito tempo quis ser carteiro, porque era sempre uma alegria quando ele pulava o muro baixinho que tinha na nossa casa, e ia até a janela entregar alguma correspondência. Se não havia ninguém, a correspondência era colocada embaixo da porta! As casas lá, todas tinham muro. Mas eram muros baixos e os portões nunca estavam trancados.
Quando o carteiro parava na nossa casa, era sempre uma alegria. Claro que mesmo naquele tempo, os Correios já entregavam contas. Mas não era como hoje. As contas eram da luz e da água. E só. Quando o carteiro vinha, era sempre algo bom: o pai recebia cartas, ou era alguma entrega da Avon que a mãe recebia, ou era carta de algum parente. A gente nem tinha telefone em casa!
E ir na agência dos Correios era sempre uma ocasião especial! Ou a gente ia entregar alguma coisa muito legal, ou a gente ia buscar algo muito legal!
Desde o dia que a gente foi colocar o cupom da compra do Supermanual do Escoteiro Mirim, na agência dos Correios, eu passei a ir todos os dias pra perguntar se já chegou! Meu Deus, o mundo havia parado! As horas na aula, na 5ª série na escola Estadual Espírito Santo, em 1980, não passavam. Eu lembro a alegria quando o carteiro chegou em casa com o papelzinho dizendo que o Supermanual havia chegado! Meu Deus, eu fiquei em polvorosa e depois de uns dois ou três xingões que eu levei da mãe por conta da ansiedade, lá fomos nós, na nossa Belina 78, já com 12 anos de uso, eu no banco da frente, num tempo em que não havia essa coisa extrema do politicamente correto: fui sentado no banco da frente, aqueles bancos baixinhos, sem encosto de cabeça, e sem cinto de segurança. Aos 9 anos de idade, a mãe já deixava eu passar a 3ª para a 4ª marcha.
Eu abri a embalagem lá mesmo! Eu adorei tudo! O cheiro de novo, as páginas grossas, os desenhos… e não poderia haver melhor lugar, do que a agência dos Correios, na lomba da avenida!
Daí, o tempo foi passando, e a imagem que tive dos correios entre os anos 2010, até pouco tempo atrás, era a de um entregador de contas. Havia perdido o charme. Porque quase todos os dias, havia correspondência. Eu já não conhecia mais o carteiro, porque todas as casas tinham grades altas e portões trancados, e as cartas eram empurradas para dentro de um coletor junto às grades. E havia muitas agências dos Correios, sob modelo de franquias, espalhadas em todos os lugares.
Chegava a conta da luz, da água, o IPTU, o IPVA, o telefone fixo, o celular, a internet, a televisão a cabo, o cartão de crédito, o extrato do banco, o outro cartão de crédito, o outro extrato do banco… nenhuma carta!
Mas, de uns tempos pra cá, acho que a magia tem retornado. Ao menos para mim!
A maioria das contas, já não são entregues pelos Correios. Vem diretamente por e-mail, ou mensagem de texto com anexo. É verdade que não recebo mais cartas. Mas todo o mês, eu espero ansioso o carteiro, quase com aquela alegria infantil. Ele me traz a revista National Geographic! Eu assino a versão digital, também. Mas nada supera o cheirinho das páginas e a maravilha de ver as fotos, às vezes em páginas duplas!
Os Correios recuperaram, pra mim, um pouco da magia.
E se tu quiseres um pouco desta magia, o Pilha e o Kadu chegarão pelos correios pra ti, também, se tu o pedires em qualquer das livrarias abaixo! E experimentarás a deliciosa sensação de ficares com ansiedade esperando por algo, como se fosse uma visita querida!
Quanto a mim, não desisti de receber cartas: há poucos dias, nas férias, antes de viajar para o Rio Grande do Sul, postei uma carta no correio de Belém. O destino: Rua Plínio Flores de Jesus, em Santo Antônio a Patrulha, Rio Grande do Sul. O destinatário? Lico. Meu velho amigo de infância. Quis encontrar-me comigo, virar criança de novo na casa da mãe, e receber a carta de mim mesmo!
Luís Augusto Menna Barreto
2.8.2019
Vem conhecer!
"As Aventuras do Pilha e as Historinhas do Kadu"
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E Ella? Tu conheces??? O CONTO DE ELLA não é um conto de fadas... e tu só deves ler, se tiveres coragem! O ritmo, tenho certeza que é diferente do que tu estas acostumado(a) a ler. Se tens coragem, especialmente a coragem de fazer-se preso(a) a um amor, leia-o... Se não tiveres, o conto não é para ti.
O amor pode ser uma prisão. Mas só o livres tem a coragem de se deixar aprisionar!
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Ai que lindo!! Nostalgia!! Tempos bons aqueles, das cartinhas chegando pelo correio e nossa ansiedade para pegá-las...Bom dia!
ResponderExcluirBate uma nostalgia tão boa.....
Excluirobrigado PROFESSORA Michele... conta pros teus pequenos alunos como era uma carta....!
Eu conto sim!!! Inclusive, será assunto da próxima semana...
ResponderExcluirQue super legal!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ExcluirQue legal, escrever uma carta pra você mesmo!!!!
ResponderExcluirEu amava escrever cartas e, melhor ainda era recebê-las. Era uma emoção maravilhosa!!! E os bloquinhos pra carta...coloridos...cada um mais lindo que o outro!!!!!
Eu lembro que na minha escola, algumas pessoas colecionavam papéis de carta... e a gente só arriscava a escrever uma carta, se tivesse o papel "repetido", pra não desmanchar a coleção...!
ExcluirE tinha, também, quem fazia coleção de papel de carta RECEBIDO escrita uma carta!!! Ah... bora fazer ao menos um aplicativo de papel de carta........
Rsrs ainda peguei um pouco deste tempo gostoso, e que saudades tenho. Ainda guardo comigo alguns papéis de carta que nunca rasbiquei kkkk. Tenho cartas que recebia pelo correio até hoje.
ExcluirComo é bom, Ana, encontrar em gavetas bem cuidadas, parte de nós mesmos.....!!!
ExcluirObrigado e sejas sempre bem vinda!!!!!
Adorei. Lindo. O final-fantástico. Sem maiores comentários.
ResponderExcluirObrigado, amigão... Às vezes, a gente sonha em voltar ao passado, em poder "falar com a gente" de novo... acho que de alguma forma, foi isso que fiz.....!
ExcluirQue volta ao passado gostosa, que saudade de um tempo tão bom, chego a me emocionar. Ver o carteiro chegando era motivo de grande alegria, quando eles traziam cartas, hoje só vem contas mesmo rsrsrsrsr
ResponderExcluirLindo o cronicar de hoje, muito bom relembrar.
Ah, amiga Nice... bom mesmo, né...?? Estou com um projeto que tem a ver com essa crônica e vou precisar de algumas pessoas para ajudar-me em uma coisa muito simples... e eu pensei em ti... durante a próxima semana, vou enviar-te o convite com as instruções muuuuuuuuito simples!!
ExcluirOpa, espero corresponder às suas expectativas
ExcluirTu SEMPRE correspondes!!!!!
ExcluirEu não consigo visualizar o adulto "Luis Augusto Menna Barreto", juiz ou outro ser que habita naquele guri, que o então querido Dr.Menna Barreto (pai) como era conhecido, foi inscrevê-lo no Grupo Escoteiro.Eu estava lá na casa paroquial organizando planejamento para execução de atividades dos Lobinhos naquele dia. Me encantei com a maturidade e docilidade daquele menino!Não poderia ser diferente sendo filho de quem é:a humildade de seu pai e sua mãe contagiavam.Estou lendo diariamente no seu blog.Estou encantada com a linguagem,o enredo e o contexto "dos seus escritos".PARABÉNS DOUTOR,digo,eterno MENINO!
ResponderExcluirMeu Deus..... eu to sem palavras...!!! Tão lindo teu comentário sobre “meu velho amigo Lico”....!
Excluir... e agora estou realmente envergonhado...porque não sei quem é a dona desse comentário tão lindo...!!!!
Bom dia Lilico, estamos com visita aqui em casa. Imaginas o time junto: Kika, Lívia, Laka, Lola é eu sozinho contra todas. Kkkkkkk
ResponderExcluirComentei com elas sobre esta crônica e acharam genial. Aliás o único ponto que eu levei vantagem sobre elas, voto vencido sempre eh eh eh
Também mostrei o livro. Adoraram.
Também fiquei feliz em saber que o Wolf e a Mari estavam no lançamento.
Uau!!! Que reunião deliciosa deve estar por aí!!!!
ExcluirManda um abraço do tamanho da distância que nos separa pra essas gurias...!!
Eu lembro como olhava sempre admirado pra elas... eram espécie de artistas pra mim! A Lívia era a garota mais bonita que eu conhecia; a Lola, a mais alegre; tinha a Coca 😢, a que tinha mais energia! A Kika, que pra mim não era prima, era tia, ela a mulher mais elegante que eu jamais veria igual...! A Lala, era um enigma... tinha uma força sempre pronta, como que guardada, pronta pra deixar fluir...! A Mary, sim, essa era a prima mais chegada, mais real, porque era mais perto da nossa idade...!
Acho que só sei ver e lembrar dessas gurias assim...!
Tenho uma dívida de gratidão com todas! E o arrependimento descer um parente distante... relapso... mas não sem tê-las com todo o carinho do mundo no coração...!
Ah.... fecho os olhos e sou guri de novo, vendo essas mulheres maravilhosas conversar coisas que nem entendo...
Obrigado, Benedetto... obrigado!!!!
Concordo plenamente com tuas colocações.
ExcluirOs papéis de cartas coloridos, as trocas entre os colegas de classe , Menna achei lindo, li para minha mãezinha, que é acamada , e ela adorou . abraços
ResponderExcluirInfelismente, não apareceu o nome de quem postou, neste comentário...
Excluir... mas seja quem for, eu quero dizer que me trouxe um sorriso que iniciou no rosto e foi até a alma!
Espero sinceramente que ela tenha gostado... E envio meu melhor abraço, com todo meu coração!!!
Olá, Lico! !!! Prazer em conhecê- lo!!
ResponderExcluirQue bela infância... Que grande és! Voltes sempre aqui neste espaço... Dr. Menna escreve coisas incríveis!
Adorei!
Até.
— Oi, tia Sílvia.... ei, eu vou ser esse careca aí, que fica escrevendo??? Ah, então vou sair correndo pra brincar!!! Quero aproveitar muito antes de ficar cansado como eu do futuro...!!!
ExcluirPrefiro ficar criança, sendo o eu do passado...!!!
Kadu e Pilha podem viajar pro interior do Pará!?!
ResponderExcluirEu vou convidar.
Abraço.
Ah!, Sílvia... podem ir sim!!! É só planejar que eles aparecem no interior!!!!!
ExcluirAh ... que saudade dos Correios tb. O mesmo! No tempo do Círculo do Livro e dos amigos correspondentes. Saudade sem fim. Juro que eu escreveria para a minha amiga Rosalva se não mais residisse na terrinha.
ResponderExcluir... mas escreves....
Excluirvais ver que acontece uma mágica... a carta viaja no tempo... e vai encontrar-te menina....!!!!