bora cronicar
A Culpa é do Estagiário
Tempos atrás, circulou nas redes sociais, especialmente no whatsapp, uma petição de um advogado que teria sido protocolada com a seguinte observação (eu não lembro exatamente, porque quando deletei o meu whatsapp, eu deletei toda a mídia que havia nele junto, mas vou tentar reproduzir no mínimo o sentido da coisa):
“Juridiquês, juridiquês, juridiquês, mais juridiquês… cuidado com esse juiz que ele é louco… juridiquês, juridiquês, juridiquês, muito mais juridiquês e, pra terminar, uma última pitada de juridiquês”.
Pois é, no meio da peça processual assinada por um profissional que precisa enfrentar no mínimo cinco anos na faculdade, depois realizar uma prova realmente difícil para, então sim, poder exercer sua profissão, estava lá: “…cuidado com esse juiz que ele é louco…”.
E daí? Como explicar isso no meio de uma peça processual, em que o advogado tem, justamente, de convencer o juiz, com sólidos argumentos, de que, pelos fatos narrados, o direito entrega razão ao seu cliente? Se normalmente já é tenso tentar convencer os juízes das razões de seus clientes, imaginem com uma peça processual em que tenha “vazado" essa frase?
Pelo que se soube, dos desdobramentos do caso, além de isso haver sido divulgado nas redes sociais, causou um evidente constrangimento entre juiz e advogado. Soube-se, também, que o advogado teria procurado da maneira mais elegante e coerente do mundo justificar e desculpar-se pelo ocorrido:
— A culpa é do estagiário!
Pois é! Elegante, né?! O fato é que isso é comum! Não, não é comum esse tipo de comentário vir incluído em petições dirigidas ao Poder Judiciário - muito embora, às vezes, as palavras elegantes das petições difiram das palavras que lemos nos olhos de alguns advogados que realmente gostariam de poder dizer: "esse juiz é doido”! Enfim, casos deste tipo não são de fato comuns. O que é comum, é a culpa recair no estagiário!
Teria dito, em justificativa, o advogado em questão:
— Esses estagiários, doutor, sem experiência, vivem fazendo gracinhas, e, às vezes, colocam gracejos nos comentários, os quais, é claro, são sempre deletados! Jamais havia acontecido algo parecido em nosso escritório que, inclusive, é terminantemente contrário a este tipo de atitude. O Estagiário já foi desligado e fizemos uma severa recomendação à universidade acerca do comportamento inadequado deste estudante!
Aqui mesmo, onde trabalho, cada vez que demoramos a encontrar algum processo, repetimos em quase um uníssono: a culpa é do estagiário!
Mas, cá entre nós, tem uns estagiários muito espirituosos.
Certa feita, eu retornei de férias e havia gente nova na secretaria. Um garoto com olhos realmente espertos, que se mostrava muito solícito. Vendo o rapaz a quem eu ainda não havia sido apresentado, pedi que o chamassem ao gabinete para que eu o entrevistasse como gosto de fazer com todos os que chegam à equipe.
— Bom dia. Vi que tu és novo aqui, entraste durante minhas férias. Gostaria que tu te apresentasses!
— Ah, desculpa, doutor! Eu sou o culpado!
— Hein?
Pois é! O guri apresentava-se assim. Com duas semanas de estágio, ele já havia entendido que tudo seria motivo de brincadeira e ele seria considerado culpado até prova em contrário, desde que a prova da culpa não apontasse à chefia imediata… ou a mim, é claro! Nesse caso, desimporta a prova, e fica-se com a irrefutável presunção de que a culpa é do estagiário.
Aliás, quero deixar claro uma coisa: eu chamo o teclado do meu computador de estagiário! Então, quando tu, caríssimo leitor, encontrares algum equívoco ortográfico ou gramatical, saibas: a culpa é do estagiário, o meu teclado!
Ah, sim, mas eu esqueci de falar que aquela história da petição do advogado que continha a frase “cuidado com esse juiz que ele é louco”, jamais poderia ter sido colocada nas redes sociais e divulgada. Embora o processo seja, em tese, público, isso, evidentemente, causa desproporcional exposição dos envolvidos e em nada contribui para a comunidade jurídica, nem para a harmonia das relações advogado/juiz.
Como foi parar nas redes sociais?
Pois é: um estagiário que colocou!
Luís Augusto Menna Barreto
8.8.2019
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Hahaha...Muito boa a crônica!! Adorei quando o estagiário apresentou-se como: "Culpado"...Tadinho!
ResponderExcluirEu também adorei!!! Já sabia seu lugar na organização... ou seu destino!!!!🤣🤣🤣
ExcluirBom dia Guri,
ResponderExcluirEstagiários aí, aí, aí, redes sociais (grande vilã dos tempos atuais) expõem a realidade. Já vi muita mensagem ser enviada para pessoas erradas e causando grandes constrangimentos.
Grande colocação a tua.
Ah..... mas a cada mensagem errada...... a culpa é do estagiário!!!😅🤦🏻♂️
ExcluirHahaha... pobres estagiários! 😊
ResponderExcluirMas..."tudo passa". rsrsrs
Ah.... mas a fila anda..... culpado hoje, “culpador” amanhã...!!!!
ExcluirComo diria meu pai: ajuda a construir o caráter!!!!
Só uma perguntinha, "esse juiz louco", no caso era você? Vixe kkkkkkkkkk
ResponderExcluirAdorei essa do estagiário, já se apresentar como o "culpado" tão comum seja a situação rsrsrs
Muito boa a cronicar de hoje.
Não...Rsrsrsrs dessa eu escapei..!!!! O “louco” não era eu.... rsrsrs.... mas já vou dizer: se alguma loucura foi feita em algum processo sob minha presidência, podes ter certeza: a culpa terá sido do estagiário!!!
ExcluirTer como estágio o culpado é fácil. Quero ver ter como estágio Jesus. Kkkkkkkkklkkm
ResponderExcluirOk... mas pensemos por outro viés: muitas vezes, o estagiário é crucificado pelos colegas!!!!!
Excluir(Pra quem não sabe, esse guri do comentário foi estagiário na 1ª Vara de Breves em uma é poxa que eu a presidia - que saudade imensa -. Agora, ele está às vésperas da formatura em direito na cidade de Macapá! E chama-se...... isso mesmo: Jesus!!)
Mais que um estágio, foi uma verdadeira escola. Devo muito a comarca de Breves e os professores que tiver lá como Sr. Sempre relato com colegas do prazer que foi estagiar em Breves com pessoas de extrema inteligência com o Dr MENNA BARRETO. LOGO TAMBÉM TEREI UMA ESCRAVIARIO, OPA, ESTAGIÁRIO PRA COLOCAR A CULPA KKKKK
ExcluirGRANDE ABRAÇO.