Reflexo - capítulo 4 - Teresa
— Você está bem?
— Tudo bem. Minha orelha está doendo um pouco, mas está tudo bem! Tive uma excelente enfermeira!
A ferida do Val estava feia. Acho que deveria ter levado pontos. Eu quis levar o Val até a farmácia, ou no posto de saúde, mas ele não quis. Então, fomos até minha casa, e eu tentei limpar o ferimento e coloquei um curativo.
Se a louca realmente mudou para aquela casa, vai ser minha vizinha! Deus me livre! Tomara que não fique muito tempo!
— Que mulher doida, Val.
— Acho que ela alugou a casa. Eu nem vi nada, mas acho que ela saiu lá de dentro, só pode!
— Então acho melhor eu me mudar! Vai que a louca descobre que é minha vizinha e resolve atacar de novo?
Eu lembro que também não vi de onde ela saiu. Parecia fora de si, quando atacou o Val com o balde. E foi por puro instinto que segurei no braço dela. Ela iria bater nele novamente. Quando ela recuou, eu corri pro Val, sentado no chão, com a cabeça sangrando. Quando vi o corte atrás da orelha, pegando um pouco dos cabelos do Val, eu fiquei assustada. Daí que quando eu me virei, a louca já não estava mais lá, nem a criança. Aliás, pensando bem, estranho demais a atitude da mulher… acho que tem algo errado. Vou ficar esperta. Tão lindinha a garotinha, com aqueles olhos verdinhos e o cabelo todo cacheado… nem se parecia com a louca! Será que é dela? Será que não é por isso que ela ficou tão nervosa? Meu Deus!, será que ela sequestrou essa criança?
Acho que vou ficar esperta pra ver se descubro alguma coisa.
Vou ver se o Val me ajuda. Aliás, acho que no fim, o Val gostou do que aconteceu. Porque ele acabou indo lá em casa, e foi a primeira vez que ele passou do portão. Eu ainda… ainda não consigo. Mesmo com o Val é muito difícil. Ele sabe que não pode tocar em mim. E mesmo assim, ele não desiste. Nunca passa do ponto, nunca avança o sinal. Ele me respeita… e eu nem sei até quando ele vai aguentar esperar. Eu queria, juro que queria, saber gostar dele como ele merece. Mas eu simplesmente não consigo. Às vezes, eu queria que o Val encontrasse alguém que gostasse dele. Mas às vezes acho também que eu ficaria com ciúmes. Não sei. Talvez eu seja uma pessoa muito egoísta. Quero ele pra mim, sem ele poder ter a mim.
Eu senti que ele tremeu quando eu comecei a limpar a ferida. Eu notei que a respiração dele ficou diferente, enquanto eu encostava de leve, o pano molhado pra limpar o sangue. Ele fechava os olhos, quando eu o tocava. A gente percebe quando alguém entra naquele estado em que quer que o tempo pare. Ele estava assim dava pra ver. Mas eu fiz que nem percebia. Apenas fiz o curativo e me despedi quase mandando ele embora.
— Você pode trocar meu curativo, hoje?
…
— Teresa!
— Hã? … o que você disse? Desculpa, eu acho que tava no mundo da lua.
— Acorda. Leva na mesa 3. Mas se controle. São dois rapazes. E é claro que eles vão olhar pra você!
O Val disse isso sorrindo… mas quase com ciúmes junto.
Bem, deixa eu me concentrar… não posso jogar a bandeja nesses rapazes e perder esse emprego!
— Dois chopes e batatas fritas?
Eles não disseram nada. Ficaram olhando pra mim e trocando olhares. Eu sabia que ia ter alguma coisa errada. Assim que eu coloquei os dois copos de chope na mesa, um deles espichou o dedo e tentou encostar em mim, como que me cutucar. Eu dei um pulo. Foi por muito pouco que não fiz igual à louca do balde e bati neles com a bandeja.
— Eu disse, eu disse: é a garçonete doida! — O rapaz quase ruivo disse rindo e apontando pra mim! O era uma mistura de susto e riso. Eu fiquei estática uns segundos, pronta pra atacar. E, de repente, o Val apareceu do meu lado:
— Tá tudo bem nessa mesa? — Ele perguntou empunhando uma faca, discretamente, mas de modo a que os rapazes entenderam o recado.
— Claro, cara! De boa…
Fomos saindo devagar. No fundo, eram apenas dois garotos. Não deviam ter nem 20 anos. Quando eu estava alguns passos distante, ouvi:
— Ei, moça…
Apenas me virei.
— Faz uma selfie com a gente?
Luís Augusto Menna Barreto
12.8.2019
A situação da moça é difícil, será que se recupera algum dia? E parece que está é ficando famosa com suas atitudes de defesa, querem até fazer selfie com ela. Coitada, só ela sabe como se sente com tudo isso. ....
ResponderExcluirExatamente, Nice... a ideia desse capítulo é mostrar que mesmo em um lugar em que ela não é conhecida, os reflexos do que houve são visíveis e ela de alguma forma fica “rotulada” mesmo com isso....
ExcluirSó um dos tantos reflexos que podem ter....
Gosto muito do "Reflexo"... A realidade não é fácil,e até que ponto somos 'uteis' na vida de alguém,ao ponto de modificá-la para melhor? Pensemos!!
ResponderExcluirA ideia é essa, Michele...: “pensemos”...
ExcluirTudo que recebemos, seja de bom ou ruim, e todas as nossas ações, expandem reflexos....
Aguardemos ainda pra ver onde vai....!!!!!
Que bom que o Val cuida dela. Ela precisa de muito carinho e compreensão para superar as lembranças dolorosas...se é que é possível superar. Veremos...
ResponderExcluirVeremos, amiga...
Excluir... e quem cuida do Val...? Até onde se aguenta um amor em que é possível ver e nem ao menos tocar...? Vamos torcer juntos pelo Val!!
É verdade...Quem cuida do Val??!!! A situação dele é bem delicada também!
ExcluirQue difícil, Poeta!!!