bora cronicar
Minhas Queridas Hérnias de Disco
Era estranho demais encontrar o Alberto no bar do Tatu!
Crescemos todos juntos, mas o Alberto era o careta sarado da turma.
Quando eu o vi ali, olhando para o nada, estranhei muito. Mais ainda quando eu o vi com um copo de cerveja na sua frente. Ele não era disso. Não ele!
Eu me sentei discretamente e pedi:
— O mesmo que ele!
Só então ele me notou. Puxei conversa:
— E aí? — Eu me limitei a um “e ai”. Teve um tempo que eu via algum amigo triste e chegava direto tentando animar. Como quando encontrei o Barba, que tava tomando umas com uma cara esquisita e perguntei:
— E essa cara de enterro, quem morreu?
— Meu padrasto!
É o tipo de coisa que derruba a gente. A gente larga um “tá com cara de enterro” e recebe um “fulano morreu”! A gente fica com cara de “ãããhhh”. E tenta:
— Poxa, desculpa, sinto muito.
— Eu também…
Dei-lhe um tapinha nas costas, ao quê, ele continuou!
— … demorou pra caramba, velho escroto! Bora comemorar comigo!
Não era "cara de enterro”… era ressaca, já!
Mas, enfim, depois dessa, por via das dúvidas, mando só um “e aí?”.
O Alberto era o tipo de modelo de boa saúde! O cara que acordava às 6h da manhã, no domingo, pra correr! Malhava, tomava só sucos naturais, dormia de 6 a 8 horas por noite, não fumava, não enchia a cara, estava sempre disposto pra ajudar todo mundo. Daí que o ter encontrado no bar, foi uma surpresa! Sentei ao lado dele, e gemi (acho que já é costume) por causa das hérnias de disco!
Ele me olhou, apontou para minhas costas, e falou:
— Procura um médico… eu acabei de receber os resultados de uns exames de rotina que eu tinha feito…
Estamos, todos, chegando perto dos 50 anos. Já não tem mais moleque na nossa turma. Mesmo para os que se cuidam, estamos naquela idade em que as dores e doenças começam a aparecer! Mas ele? O Alberto? Nem óculos ele usava!
Ele pegou o copo e tomou um gole demorado. O meu ainda não tinha vindo e não pude acompanha-lo.
Arrisquei:
— Cara, essa parada de ir no médico acontece com a gente nessa idade. Outro dia eu fui no médico e ele me mandou fazer um milhão de exames. Já tive de fazer cirurgia no joelho, meu grau do óculos aumentou, tô com hérnia de disco. Duas!…
Ele ficou com o copo suspenso uns instantes, olhando para o copo. Depois falou:
— Meus exames estão bons. Perfeitos, até. Continuo com boa visão. Sem hérnias… Não tenho nada disso…
Como ele ainda estava com aquela cara de quem perdeu o boi com a corda, perguntei devagar:
— E… qual é o problema, então!
— Nenhum. Não tenho nada. Nadinhas.
Ai ai ai…
Cadê meu copo? Cadê o maldito garçom, que agora eu não tô entendendo nada e preciso tomar uma! É o tipo de coisa que só se entende com um copo na mão. Se o Alberto havia ido no médico e os exames estavam bons, por que diabos ele estaria ali no bar do Tatu bebendo?
Fiquei com receio de perguntar, mas comecei a pensar em como tudo começou a acontecer… e lembrei de todos os livros que eu já havia lido, e todas aquelas histórias que ficaram em mim pra sempre. Pensei nas taxas alteradas de alguns exames e nas histórias que cada alteração faz-me lembrar… algumas noites viradas com amigos, entre risadas e um ou outro copo; churrascos com aquela capa de gordurinha, uma dor de cabeça ao amanhecer, mas lembrando de quanta risada havia sido exposta…
… e as hérnias de disco? Ah… convivo com elas há anos. E lembro das tantas vezes que meu pequeno João babava minha cabeça já ficando calva, rindo na minha cacunda, ainda sem saber pronunciar qualquer palavra, mas já sabendo que meus braços seriam pra sempre seu porto seguro! Depois, quantas vezes brincamos de “cavalinho”, quantas vezes eu o carreguei em uma mochila própria pra ele ir sentado em minhas costas…?
Outro dia, no Instagram, eu vi o músico e cantor Rafael Malenotti - @rafaelmalenotti - (da banda Acústicos e Valvulados) no palco, com o filho na cacunda. Nunca falei com o Malenotti, mas acho que se nós nos encontrássemos em um bar, e pedíssemos uma cerveja, conversaríamos sobre nossas dores nas costas, nossas olheiras, e nossos exames com alguma alteração. Brindaríamos a isso! E agradeceríamos por cada uma dessas dores, que nos remetem a momentos que jamais trocaríamos por bons exames!
…
Quando o garçom finalmente trouxe meu copo, brindei com o Alberto e virei de uma vez… eeeeeeeca! Era Guaraná!
E o Alberto estava lá, para ajudar o Tatu a fixar uma prateleira em cima do freezer novo!
Luís Augusto Menna Barreto
26.6.2019
...eeeeeeca! Era guaraná! kkkkkkk É por isso, que não dá para tirarmos conclusões e darmos como certas né, Poeta! kkkkk
ResponderExcluirJustamente...!!!
ExcluirImaginas quantos micos meus: primeiro, o lance do "cara de enterro" com o Barba.
Depois, já fiquei imaginando o pior quando vi o Alberto no bar, bebendo... daí, ele me fala em exames... Já pensei: tá com algum mal incurável e veio encher a cara!
... isso que dá essas conclusões apressadas... mas o pior de tudo é preparar o cérebro pra receber uma cervejinha gelada, e descer Guaraná garganta abaixo!!!
Sempre os ditos populares são tão certos, "nem tudo que parece É" ....Mas, a tendência é tirarmos conclusão do que vemos né? Bem legal a crônica de hoje, ilustrada com fotos e tudo, João, louríssimo, não tava gostando do sol na cara kkkkkkkk
ResponderExcluirEle sempre teve muita sensibilidade para claridade... por isso, a maioria das fotos na rua, ele aparece com óculos.
ExcluirFoi um tempo deliciosos.. eu estava aprendendo a ser pai... e tudo, absolutamente tudo era realmente delicioso...!!!!!!
Poeta estamos com saudades, volta logo ai, ta chato sem você e suas crônicas que alegra nossos dias!! 😘
ResponderExcluirVou voltar... estou "dando um tempo"... Trabalhando em outros projetos...
ExcluirMas vou voltar... Obrigado demais por vires no blogue...!
Não há de que eu venho sempre, só não comento muito,abraço!
Excluir