Olá, pessoal!
Eu revisitei o projeto REFLEXO, estou retomando e tive de fazer modificações.
Escrevi o terceiro capítulo e tive de reescrever os dois primeiros. Então, depois do terceiro capítulo estão os capítulos 1 e 2 para relembrar, já rescritos com as necessárias modificações.
Uma modificação que fiz foi colocar no título de cada capítulo, o nome da pessoa que está narrando o capítulo, para facilitar o entendimento.
Espero que vocês tenham paciência comigo, por estar fazendo esse projeto diretamente com todos vocês sendo “cobaias”.
Super obrigado!
REFLEXO
Capítulo 3 - Joana
Eu estava lavando as paredes. Achei a casa muito velha e mal cuidada. Mas a localização era boa, perto de uma escola para Aurora, e tinha um pequeno pátio nos fundos. Mas as paredes e o chão estavam imundos. Decidi lavar, antes mesmo de desfazer as malas e organizar o pouco que temos.
Raramente eu me distraio com a Aurora. E foi rápido demais. Eu levei um susto. Ouvi Aurora chorar. Saí correndo e peguei a única coisa que tinha à mão naquele momento: o balde de metal, com alguma água. Gritei:
— Aurora!
Eu vi aquele homem segurando a Aurora e simplesmente ataquei: bati o balde com toda a força que eu tinha na cabeça dele. Ele estava agachado segurando a Aurora. Os dois caíram. Puxei a Aurora e coloquei-a atrás de mim. O homem parecia tonto e eu me preparei para atacar de novo! Então, senti que alguém segurou meu braço com força! Aurora começou a chorar. Senti um certo desespero ao perceber que havia mais de um e vieram flashes do ataque que sofri 4 anos atrás.
— Pare! — Eu ouvi gritar. Só então reparei que era uma mulher. — Meu Deus, você é louca!
Então a mulher largou o meu braço e correu até o homem no chão. Parecia preocupada e tive a impressão que ela não sabia como fazer para ajudá-lo:
— Val, você tá bem?
O homem conseguiu sentar e colocou a mão na cabeça. Aurora chorava atrás de mim, e eu segurava o balde ameaçadoramente. O homem sangrava perto da orelha. Aproveitei que estavam distraídos e fui recuando com a Aurora. Até que entrei e tranquei a porta. Fiquei olhando por trás da cortina da janela do lado da casa. Aurora ainda chorava.
O homem levantou, um pouco tonto, e eles saíram. Ele saiu cambaleando, mas a mulher não o ajudava a caminhar. Não encostou nele. Esperei, ainda, alguns minutos para ver se voltariam, mas, depois que desapareceram da minha vista, por trás do arbusto ao lado da casa que eu recém aluguei, finalmente fui ver Aurora.
— Nunca mais saia de perto da mamãe, ouviu? Entendido? Nunca mais! E se algum estranho chegar perto, quero que você grite o mais alto que puder e venha para o lado da mamãe, certo?
— Minha moto... — Ela chamava de “moto” o triciclo plástico que eu havia comprado no Natal. — Minha moto...
Eu olhei pela janela e vi o triciclo virado perto do meio fio. O joelho da Aurora estava arranhado.
— Quebrou a roda. — E ela chorava.
Mandei que ela ficasse ali dentro e saí com cuidado. O triciclo estava lá, mas não achei uma das rodas. Havia um bueiro perto, daqueles que coleta as águas da chuva e some por baixo da calçada e, então, achei que a roda poderia ter ido para o bueiro. Voltei com o triciclo em duas rodas. Foi difícil consolar Aurora. Não havia como andar no triciclo faltando uma das rodas traseiras. E eu prometi a mim mesma que assim que arrumasse um emprego, a primeira coisa que eu faria, seria comprar um triciclo novo para Aurora.
Luís Augusto Menna Barreto
5.8.2019
Capítulo 1 - Teresa
Foi rápido.
Tem gente que fala que a gente quer… que a gente que incentiva… quanta merda!
Depois, fica só o nojo, o ódio… a vergonha.
Foi numa noite de quinta, quando eu voltava do restaurante.
O Rafael sempre me dava carona até quase metade do caminho, e me deixava num ponto de ônibus com movimento. Mas quando eu descia do ônibus, perto de casa, tinha que caminhar um quarteirão. Fazia isso em menos de cinco minutos. Levava sempre uma bolsa pequena, com lenço de papel, um batom, um celular velho e estragado, e uma nota de dez reais. Se viesse a moto do assalto, levava a bolsa e eu não levava tiro. Eu já havia sido assaltada quatro vezes.
Naquele dia, quando desci do ônibus, senti um aperto no peito. Achei até que era o celular bom que levo escondido no sutiã. Mas era pressentimento.
Como eu disse, foi rápido.
Sabe tudo o que falam, sobre como a gente deve agir numa situação dessas? Tudo merda! Eu ouvi meu nome:
— Teresa!
Eu me virei. Quase sentindo um alívio. Um assaltante não diria meu nome. Então, quando o monstro chegou em mim, encostou o cano do revolver na minha testa. O mundo parou ali. Eu tremia toda. Ele só falou: “cala a boca, vadia”.
Depois, eu fiquei como que anestesiada, sem reação. Não consegui gritar, não consegui nem ver o tempo passar. Quando terminou, eu estava com as costas todas arranhadas da parede rebocada e sem pintura, em que ele me apertava, bufando como um animal. Quando ele terminou, bateu forte com a arma na minha cabeça e eu caí. Ele fechou a calça e saiu. Eu consegui sentar e encostar na parede. Não sabia onde estava um dos meus sapatos. Minha calça estava jogada perto de mim. Olhei o prédio do outro lado da rua, e vi um homem com o celular apontado pra mim. Acho que ele viu tudo. Não gritou. Não fez nada. O desgraçado só filmou. Postou nos grupos de whatsapp.
Eu não conseguia me mexer. Eu não tinha nada quebrado, mas eu simplesmente não conseguia me mexer. Um cara de moto passou olhando. Depois voltou devagar. Então chegou perto de mim. Eu estava sentada, ainda, sem conseguir me mexer. Ele estava de capacete. Foi devagar até minha bolsa que estava no chão. Pegou, olhou dentro, virou todas as minhas coisas, pegou os dez reais e me disse: “vadia”. Foi embora.
Eu não sei quanto tempo passou. Não sei se eu desmaiei. Depois lembro de uma senhora japonesa, junto com uma menina que parecia neta dela, atravessar a rua. O desgraçado continuava filmando. A menina juntou minhas coisas e a senhora ajudou a colocar minha calça, ali, sentada mesmo e, depois, me levantou. Ela falou em hospital. Mas eu só queria ir pra casa. Só ir pra casa. Minha testa estava sangrando e doendo, mas eu acho que não tinha nenhum osso quebrado. O monstro não quebrou meus ossos. Quebrou minha alma.
(continua)...
Luís Augusto Menna Barreto
17.6.2019
(republicado em 5.8.2019, junto com a postagem do capítulo 3)
Capítulo 2 - Teresa
— Você está bem Teresa?
— Estou sim. Já vai passar. Apenas me engasguei.
— Você anda se engasgando muito ultimamente.
O Val sempre se preocupa comigo. Ele é o único homem com quem eu consigo falar alguma coisa sem sentir raiva ou nojo. Ele nunca toca em mim. Ele já viu várias vezes eu ter acessos de raiva quando algum homem toca em mim. O problema é que sou garçonete. Sempre fui. Nem sei se eu sei fazer alguma outra coisa. E nos restaurantes em que eu trabalho, sempre tem algum freguês engraçadinho que não se contenta só em passar uma cantada, mas quer tocar na gente.
Do último restaurante eu fui demitida quando um freguês pegou no meu braço logo depois que eu passei pela mesa dele. Foi instintivo: eu peguei uma faca e joguei a bandeja com os pratos todos em cima dele e eu o ameacei com a faca. Foi sem pensar. Instintivo mesmo. Mas fui pra rua naquele dia mesmo.
Do outro restaurante, eu fui demitida depois de virar as garrafas de cerveja que estavam na mesa de um outro freguês. Eu achei que um homem ia tocar em meu braço e quase dei um pulo. Mas bati na mesa de outros fregueses e as garrafas de cerveja caíram. Uma quebrou no chão, outra, derramou em cima do cliente. E eu?: Rua!
Não posso continuar sendo demitida assim. É a terceira cidade desde que eu saí da casa dos meus pais. A segunda cidade desde que minha filha nasceu. Na última, eu já era conhecida como a “garçonete doida”. Mas já não tem muitos restaurantes pra eu trabalhar por aqui. Meu patrão atual já disse que essa é a ultima chance.
Eu sei que tenho que controlar isso. Mas é mais forte que eu. Desde que ... desde aquilo, enfim, simplesmente não consigo que nenhum homem me toque. Até com meu pai tive problemas... bem, acho que até não é bem a palavra. Acho que principalmente com ele tive problema. Pelo menos ajudou a decisão de ir embora!
Eu lembro dele gritando:
— Também, você insiste nesse emprego de merda!
Eu ainda estava tremendo. Estava tomando banho há umas duas horas. Mas ele tava ali, do outro lado da porta do banheiro, gritando:
— … parece que você queria que acontecesse isso! Queria! Vai ver é alguém que você atendeu mal nesse seu emprego de merda!
Eu sempre discutia muito com ele. Mas naquele dia, eu não consegui dizer anda. Eu só queria poder tomar banho…
Eu ouvia a mãe tentando acalmar ele, e ouvi quando ele deve ter batido nela. Mas eu não consegui reagir. Precisava me limpar. Mas eu não conseguia. Eu me sentia imunda. Sentia em mim um cheiro que não era meu. E eu só pensava em ser eu de novo, eu queria que o sabão e a espuma lavassem o nojo, que a dor sumisse pelo ralo…
Eu me esfreguei por horas, e não adiantava. E eu ouvia do outro lado da porta:
— Isso foi pra você aprender a me ouvir! E agora? Se alguém ficar sabendo? O que vai ser de mim? Vou ficar conhecido como “o pai da estuprada”! A culpa é sua. Sua.
Quando eu saí do banheiro, ele ainda estava na porta gritando. Como eu tentei apenas passar por ele, ele me segurou pelo braço. Ali foi a primeira vez. Foi instintivo. EU dei um pulo assustada e dei um tapa no braço dele. Ele me olhou com ódio. Bateu tão forte no meu rosto, que por um segundo eu esqueci a outra dor que me consumia por dentro. A mãe gritou pra ele e eu vi quando ele bateu nela também.
— Vagabunda! — ele se virou pra mãe: — tá vendo o que você fez? Você criou uma vagabunda!
Isso foi quatro anos atrás. Mas eu ainda me apavoro de andar à noite. Agora, só aceito trabalhos de dia, então, é mais difícil ainda.
Aqui no trabalho, o Val é o único homem com quem eu converso. Na verdade, a única pessoa com quem eu converso. Acho que o Val é meu único amigo. Eu sei que ele quer ser muito mais do que isso. Dá pra ver nos olhos dele. Mas eu não consigo. Simplesmente, não consigo. Eu não sei até quando ele vai esperar por mim. Até quando ele vai ter paciência. Mas eu simplesmente não posso.
E não é só por causa do meu medo de ser tocada. Tem muito mais. Mas eu nunca vou poder dizer isso pra ele.
Luís Augusto Menna Barreto
24.6.2019
(republicado em 5.8.2019, junto com a postagem do capítulo 3)
Quando essas dores terão fim? Quando?😓
ResponderExcluir(Que possamos refletir em que poderemos ser úteis para os que passam por essas dores)
Ah, Michele, como eu gostaria de ter estas respostas...
ExcluirDesde a Criação, dos primeiros frutos, há o livre arbítrio, e uma divisão entre bem e mal... divisão que existe mesmo dentro de nós, em todo o bem que fazemos e o que poderíamos efetivamente fazer, até nossas pequenas sordidezas...
É preciso cada vez mais, parece-me, estimularmos nossa parte boa, apoiar-nos uns mos outros, em uma corrente do bem, e ir transformando-a em onda...
Obrigado por estares participando e manifestando-te neste projeto, que pretendo escrever todo aqui pelo blogue, mesmo tendo-o que corrigir e modificar, e alterar... pretendo fazer isso com todos os amigos que estiverem acompanhando este projeto, e, ao final, ter um romance pronto nas mãos!!
Super obrigado!
Uma situação muito difícil, um trauma jamais superado, só quem já viveu sabe como é, posso imaginar que a vida nunca mais será a mesma.
ResponderExcluirNo caso deste projeto, de fato, desde o começo já será possível notar consequências...!!!!
ExcluirObrigado, Nice, por sempre estar presente com teu apoio!!!!!
Depois de passar por uma situação dessa, a pessoa não conseguirá confiar em ninguém. Situação muito delicada!!!
ResponderExcluirEu estou investigando o tema, ainda... tentando acertar nas reações. Muito delicado o assunto e estou tentando tratar com o maior respeito e acerto possível. Estou invadindo devagar a espefa de sentimentos, dos traumas... enfim... estou tateando ainda, e esses comentários de todas vocês, dos amigos e amigas que visitam o blogue, deixam comentários...
ExcluirEsse projeto REFLEXO é pra ser desenvolvido com todos os amigos... por isso não hesitei em consertar dois capítulos anteriores, para adequar a história, o que nunca faço com os contos que vou publicando! Mas este, é minha primeira tentativa de escrever mesmo romance "solo"... então vou dividindo com todos os amigos aqui pelo blogue!
Super obrigado, Armelinda!
👏👏👏👏👏👏
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