domingo, 31 de agosto de 2025

Tem o Guri, tem o Sansão... e tem o Duda!

Tem o Guri, tem o Sansão... e tem o Duda!

Tem o Guri, tem o Sansão... e tem o Duda!

 

Esta é uma história de ficção, qualquer semelhança com fatos, terá sido mera coincidência… … ou não!

Alguns fatos são verdadeiros… outros, são frutos de verdades que se esqueceram de acontecer (como diria Mário Quintana)!


Quem é do sul, mais afeito às coisas nativas, sabe que o “Guri” queria aprender a escrever algum bilhete, por causa da filha do Seu Bento. Se não fosse por escrito, ele não se animaria a dizer!

O Guri não estava preocupado em escrever cartas, saber preencher formulários, enviar mensagens de texto! Sequer referiu que pretendia aprender a ler, ainda que ler e escrever estejam tão perto de serem aprendidos juntos! Não pretendia saber o que dizem as placas, não queria ler romances, não se alvoroçou a faculdades! Queria pura, direta e simplesmente, aprender a escrever algum bilhete por conta da filha do Seu Bento!

Eu confesso que tive menos trabalho na vida de Dom Juan… eu me vali dos poderes incontestáveis da Fonte de Santo Antônio da Patrulha! Já falei em outra crônica, no antigo blog, que há (pelo menos) três lendas (ou eu deveria dizer VERDADES?!) sobre a Fonte de Santo Antônio da Patrulha:

Uma, fala que quem beber água da fonte, não morrerá sem retornar a Santo Antônio! Outra, diz que quem beber água da fonte, volta para morar em Santo Antônio! E a terceira, a qual eu me filio, diz que quem beber água da fonte, CASARÁ com um(a) patrulhense!

Pois daí, que foi simples: enchi uma garrafa com a água da fonte, e levei para meu “Kitnet” alugado em Porto Alegre, nos altos da Duque (de Caxias)! Esperei um dia quente, e inventei uma desculpa qualquer para fazer a Ana ir até meu Kitnet depois do trabalho. Então, como quem não quer nada, peguei bem “por acaso”, a garrafa com a água geladinha e servi para mim… e ofereci, en passant para ela. Pimba! Tomou! Já era! Selado! Demorou, mas casamos. (A lenda não é muito específica quanto ao tempo do resultado, e ela me enrolou por alguns anos, mas deu certo).

Cá entre nós, com uma lenda dessas e uma cidade com nome do Santo casamenteiro, não tinha muito para dar errado!

Proporcionalmente, eu tive menos trabalho do que o Guri, porque no meu caso, a reputação do Santo estava em jogo, e a meu favor.

Eu imagino o Guri, que, depois de acordar às 4h da manhã, tocar as vacas para o pasto, no petiço sogueiro, com o cachorro companheiro, voltava, desencilhava o cavalo, trocava a roupa, e corria para a escola, com seu livro “Queres Ler”… tudo isso, para poder dizer, por escrito, para a filha do Seu Bento, que ela, somente ela, era seu bem querer, e que todo aquele sacrifício, durante toda a alfabetização, valeria a pena se ela lesse o bilhete!

Há, também, o célebre caso do nazireu Sansão. Com a força que tinha, era fácil conquistar Dalila, afinal, ele colocava pra correr os pretendentes no seu caminho… mas para mantê-la conquistada, fez por ela o que jamais haveria de fazer: depois de mentir três vezes, finalmente revelou para a amada, o segredo de sua força! A paixão por Dalila, custou-lhe muito! Custou-lhe a linda cabeleira!

Estes três casos são exemplos do que a paixão faz com alguns de nós, garotos, que, afinal, como cantado por Leoni, “garotos como eu / sempre tão espertos / perto de uma mulher / são só garotos”…

Mas é claro, caro leitor, cara leitora, que estes casos contados aqui, são apenas algumas das coisas que nós, garotos, acabamos fazendo por nossas conquistas.

O mundo está cheio de Guris e Luís e Sansões…

… e tem o Duda!

O Duda, meu amigo, nascido Balthazar, com um problema nas pernas, andou sempre de muletas, e hoje, mais velho (como eu), já aceita uma cadeira de rodas. Mas na nossa juventude, o destino quis que ele se apaixonasse pela Clarice! A Clarice sempre foi uma menina muito bonita, mas nunca se via a Clarice com namorado! Não que faltassem candidatos, mas parece que ali o jogo era difícil: ela não bebia água sem saber a procedência, não se rendia a bilhetes de caligrafia ruim, não curtia cabeludos e tinha um código moral muito forte!

Enquanto vários tentavam impressionar a Clarice, seja exibindo dotes esportivos, dotes artísticos ou dotes financeiros, o Duda, que por ela nutria uma paixão, meio que se tornou recluso, desapareceu por um tempo.

Antes, virava a noite com seu violão, bradando com sua voz poderosa e marcante, desde baladas da Rita Lee, até hits como “Lua de Mel em Cubatão” na versão do Língua de Trapo! E, de uma hora para outra, cadê o Duda? Mal se via o Duda tocando o violão na Missa!

Passou-se muito tempo assim, a turma vendo o Duda aqui ou ali, de modo rápido, e sem uma explicação. Várias teorias foram levantadas… até que dois ou três anos depois, para surpresa geral, fora anunciado o noivado do Duda com a Clarice! A Clarice! Aquela Clarice!!

Ninguém soube ao certo, o que o Duda fez para conquista-la. Não na época.

Anos mais tarde, dizem uns, veio um tio da Clarice, direto do Japão, que não falava nenhuma palavra em português (ah, eu não Falei? Antes de casar com o Duda, o nome da Clarice era Clarice Kimiko Okada! Japa! Japonesa! Olhinhos puxados e tudo!). Este tio da Clarice, tinha problemas de visão. E, dizem alguns, viram o tio passar ao Duda um livro, todo em páginas brancas, com vários pontinhos, e que o Duda pegou o livro, passou os dedos nas páginas, e ficou rindo com o Tio da Clarice.

Outro dia, fui em Santo Antônio da Patrulha, e vi o Duda passeando com a Clarice e a Cecília, filha deles. A janela do carro estava aberta e estava tocando Djavan: “Se”!

Pois é… parece que a Clarice era como a mulher da música do Djavan, e o Duda fez curso de japones em braille, recortando o cupom do IUB - Instituto Universal Brasileiro, do gibi do Tio Patinhas.

Algumas meninas, rendem-se ao bilhete; outras, são vencidas pelas verdades das lendas. Para algumas, damos até a cabeleira... mas há até aquelas por quem alguém decide aprender japonês em braille.


Luís Menna Barreto, em 9 de março de 2025


Da canção "Guri", de João Batista Machado e Júlio Machado da Silva Filho, imortalizada na voz de Cesar Passarinho.


A Fonte Imperial citada, foi construída a partir da passagem de D. Pedro I, em 1826, em direção à Rio Grande, para lutar na Guerra Cisplatina. Para a passagem por Santo Antônio da Patrulha, foi construído um chafariz, de onde D. Pedro I bebeu água. A partir de então, e preocupado com o abastecimento de água da cidade, determinou a construção da Fonte, que fora concluída em 1847.


A canção “Se" do Djavan, tem a famosa estrofe:


“Sei lá o que te dá, não quer meu calor

São Jorge por favor me empresta o dragão

Mais fácil aprender japonês em braile

Do que você decidir se dá ou não”

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