A Porta da Felicidade, a Janete e o Internacional
— Bora, Olavo, anda!
— Tem certeza que é por esse caminho, Saldanha? Tá meio vazio pra ser o portão da esperança!
— Isso era no Sílvio Santos, Olavo. E era “Porta da Esperança”. Aqui é o Céu, Olavo! A gente não ia ter morrido por nada! Bora pra PORTA DA FELICIDADE!
— Tá meio vazio, Saldanha…
— Para de neura, Olavo. Óh, tá lá! Tá lá, bora…
— EPA, EPA, EPA… podem parar aí, apressadinhos… almas novas, né? Um momento!
— Oi, “seu anjo”! Então, lá na portaria, São Pedro, meu xará…
— Que xará, Saldanha? Tu não és "Saldanha"?
— Pedro Saldanha, Olavo, Pedro Saldanha! E cala essa boca, não atrapalha! Então, Seu Anjo…
— Santo!
— Oi?
— Santo! Eu sou santo. Tá vendo asas?
— É… não! Tá meio desasado para anjo, mesmo… então, Seu Santo, lá na portaria, São Pedro disse que era para procurar a porta da felicidade, que daí, tudo se resolvia, não ia ter mais tristeza e ia ser só alegria!
— Hum…. Foi é?
— Foi! Pode ser? A gente vai entrando ou tem alguma catraca, tem pulseirinha, alguma coisa assim?!
— Não, não, só responder uma perguntinha…
— Manda!
— Ok: vocês tem certeza?
— De quê?
— De que querem passar na porta da felicidade. Passando aqui, já era… acabou qualquer chance de outra coisa que não seja felicidade.
— Oras, mas precisa ter certeza para isso?
— Demais! Aqui não só tudo é felicidade, como também apaga toda lembrança das tristezas!
— Na hora, bora, Olavo…
— Ãhn… peraí, sei não…
— Como não sabe, Olavo?
— Lembra da Claudinha…?
— Claro que lembro Olavo! Essa mulher te fez sofrer como o Cão e…
— Opa, olhe o palavreado!
— Desculpa aí, Seu Santo! … então, Olavo: essa Claudinha te fez sofrer como o di… ops… enfim, te fez sofrer, Olavo!
— Pois é… mas sabe?, eu meio que curti aquela fossa! Ouvi todos os discos do Fábio Júnior, fui beber… conheci a Vanusa… E ela gostava do Sidney Magal, Saldanha! Do Magal! Mulher que gosta do Magal tem fogo! A Vanusa tinha!
— E o que tem isso?
— Não queria esquecer essa fossa…
— Tá doido, Olavo? Quer ficar lembrando de coisa ruim?
— Não foi ruim… foi… difícil… mas ruim-ruim não foi, sei lá! E tem o Maradona…
— Que Maradona, já?! Para quê vou querer lembrar de um argentino bom de bola?
— Meu cachorro, Saldanha. O Maradona meu cachorro! Era diabético… eu tinha de furar a orelha dele pela manhã e à noite, colher uma gota de sangue, medir a glicose e aplicar insulina nele… todos os dias. Era sofrido…
— Pois tu vais esquecer esse sofrimento, Olavo.
— Mas não quero. Não quero esquecer o Maradona. Era sofrido, mas era meu amigo, meu parceiro. Ele não falava mas me entendia, Saldanha…
— Olavo, deixa de sentimentalismo. Bora entrar de uma vez!
— E a Janete, Saldanha? A Janete não te traiu em 2021?
— Traiu, mas gente reatou!
— Mas tu já superaste a traição dela com o Jandir? Tu não superaste… vais apagar a Janete para eternidade, se passar essa porta!
— Poxa… a Janete… deixa eu ver… ah!, azar dela, eu aguento! Vai ser só felicidade!
— Espera Saldanha… e o Internacional…?
— O que tem o Internacional? Não bota o Internacional nisso, Olavo!
— Há quanto tempo o Inter não te dá alegria?
— Bem… teve o título do Gauchão 2025… mas fora isso… teve…. ãhn… 2006, eu acho……
— Vai apagar o Internacional, Saldanha!
— … hum…
— O Inter não te dá alegra, Saldanha… vai apagar o Inter!
— Vamos embora, Olavo! Ficar sem a Janete eu aguento, mas esquecer o Inter, não dá!
Luís Augusto Menna Barreto
9 de setembro de 2025
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