terça-feira, 9 de setembro de 2025

A Porta da Felicidade, a Janete e o Internacional

 A Porta da Felicidade, a Janete e o Internacional

       
         — Bora, Olavo, anda!

— Tem certeza que é por esse caminho, Saldanha? Tá meio vazio pra ser o portão da esperança!

— Isso era no Sílvio Santos, Olavo. E era “Porta da Esperança”. Aqui é o Céu, Olavo!  A gente não ia ter morrido por nada! Bora pra PORTA DA FELICIDADE!

— Tá meio vazio, Saldanha

— Para de neura, Olavo. Óh, tá lá! Tá lá, bora…

— EPA, EPA, EPA… podem parar aí, apressadinhos… almas novas, né? Um momento!

— Oi, “seu anjo”! Então, lá na portaria, São Pedro, meu xará…

— Que xará, Saldanha? Tu não és "Saldanha"?

— Pedro Saldanha, Olavo, Pedro Saldanha! E cala essa boca, não atrapalha! Então, Seu Anjo…

— Santo!

— Oi?

— Santo! Eu sou santo. Tá vendo asas? 

— É… não! Tá meio desasado para anjo, mesmo… então, Seu Santo, lá na portaria, São Pedro disse que era para procurar a porta da felicidade, que daí, tudo se resolvia, não ia ter mais tristeza e ia ser só alegria!

— Hum…. Foi é?

— Foi! Pode ser? A gente vai entrando ou tem alguma catraca, tem pulseirinha, alguma coisa assim?!

— Não, não, só responder uma perguntinha…

— Manda!

— Ok: vocês tem certeza?

— De quê?

— De que querem passar na porta da felicidade. Passando aqui, já era… acabou qualquer chance de outra coisa que não seja felicidade. 

— Oras, mas precisa ter certeza para isso? 

— Demais! Aqui não só tudo é felicidade, como também apaga toda lembrança das tristezas!

— Na hora, bora, Olavo…

— Ãhn… peraí, sei não…

— Como não sabe, Olavo? 

— Lembra da Claudinha…? 

— Claro que lembro Olavo! Essa mulher te fez sofrer como o Cão e…

— Opa, olhe o palavreado!

— Desculpa aí, Seu Santo! … então, Olavo: essa Claudinha te fez sofrer como o di… ops… enfim, te fez sofrer, Olavo!

— Pois é… mas sabe?, eu meio que curti aquela fossa! Ouvi todos os discos do Fábio Júnior, fui beber… conheci a Vanusa… E ela gostava do Sidney Magal, Saldanha! Do Magal! Mulher que gosta do Magal tem fogo! A Vanusa tinha!

— E o que tem isso? 

— Não queria esquecer essa fossa… 

— Tá doido, Olavo? Quer ficar lembrando de coisa ruim?

— Não foi ruim… foi… difícil… mas ruim-ruim não foi, sei lá! E tem o Maradona…

— Que Maradona, já?! Para quê vou querer lembrar de um argentino bom de bola?

— Meu cachorro, Saldanha. O Maradona meu cachorro! Era diabético… eu tinha de furar a orelha dele pela manhã e à noite, colher uma gota de sangue, medir a glicose e aplicar insulina nele… todos os dias. Era sofrido…

— Pois tu vais esquecer esse sofrimento, Olavo.

— Mas não quero. Não quero esquecer o Maradona. Era sofrido, mas era meu amigo, meu parceiro. Ele não falava mas me entendia, Saldanha…

— Olavo, deixa de sentimentalismo. Bora entrar de uma vez!

— E a Janete, Saldanha? A Janete não te traiu em 2021? 

— Traiu, mas gente reatou! 

— Mas tu já superaste a traição dela com o Jandir? Tu não superaste… vais apagar a Janete para eternidade, se passar essa porta!

— Poxa… a Janete… deixa eu ver… ah!, azar dela, eu aguento! Vai ser só felicidade!

— Espera Saldanha… e o Internacional…? 

— O que tem o Internacional? Não bota o Internacional nisso, Olavo!

— Há quanto tempo o Inter não te dá alegria?

— Bem… teve o título do Gauchão 2025… mas fora isso… teve…. ãhn… 2006, eu acho……

— Vai apagar o Internacional, Saldanha!

— … hum…

— O Inter não te dá alegra, Saldanha… vai apagar o Inter!

— Vamos embora, Olavo! Ficar sem a Janete eu aguento, mas esquecer o Inter, não dá!



Luís Augusto Menna Barreto

9 de setembro de 2025


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