Dois Contos de Prosa
- Da série: “Críticas Desautorizadas do Prosa…”.
Tinha a “Banca do Zeca” na “Rodoviária de Baixo”… não tinha outra. Revistas e gibis, eram ali. Tinham os jornais também: o Correio do Povo e a Zero Hora diariamente e a Folha Patrulhense que, naquele tempo, eu nem sabia de quanto em quanto tempo era publicada! Os jornais a gente até conseguia em outros comércios. Até entregavam em casa, cedinho, junto com a garrafa de leite, que a gente pagava por mês.
Quem não recebia o leite pela manhã, em garrafas de vidro ou nos tarros, tinha de ir todo o dia comprar o leite de saquinho. Para pegar o leite com validade para o outro dia, só se pegasse a remessa da tarde! Daí, chegava em casa e colocava naqueles suportes de plástico, com uma alça. Não havia casa que não tivesse um daqueles.
Todos os dias, o pai lia o jornal cedinho, sentado na mesa onde fazíamos as refeições.
As notícias não eram instantâneas, não havia a ansiedade gerada por rolar o “feed" e ir consumindo informações aleatoriamente, sem nem conseguirmos mais distinguir o que é verdade do que é inventado.
A impressão que tenho, é que a vida está rápida demais, tudo passa em alta velocidade! Vemos centenas de fotos dos amigos no Facebook e Instagram e, sem nem olhar direito os detalhes, apertamos o “👍” ou o “❤️”, para estarmos sendo “digitalmente sociáveis”, pulamos os “posts" que tenham mais do que 3 linhas, não vemos vídeos que tenham mais do que 30 segundos, porque, afinal de contas, existe outro e outro e outro e depois tantos outros, que quando olhamos, estamos invadindo a madrugada, estamos perdendo o tempo em que queríamos fazer aquela tarefa manual, estamos, enfim, passando a vida na tela em nossa frente!
Algumas vezes ficamos por tanto tempo numa troca de áudios, enviando daqui e recebendo dali, e nem percebemos que poderíamos simplesmente termos ligado, dito “bom dia”, falado amenidades…!
Ai de nós, se sentimos o celular vibrar e não olhamos imediatamente de quem é a mensagem! E que troque o primeiro pneu, aquele que nunca tentou dar uma espiadinha na mensagem com o carro em movimento, ou quando parou no sinal, ou, ao menos, não tentou estacionar para ler e responder aquela mensagem, como se algo importante demais não pudesse esperar o tempo de chegarmos!
Não esperamos mais o horário do filme, porque agora, é o filme que nos espera no “streaming”, para que o vejamos, sem pausa para o xixi ou para vermos o bolo que estava no forno. Se “pausamos” o filme, certamente foi para respondermos a mensagem de whatsapp que acabou de chegar e não pode esperar mais nem um minuto, ainda que seja a figurinha de "bom dia" do amigo do primo da mãe da professora de inglês do filho daquela pessoa que só vemos durante 8 minutos na academia!
Quando paramos (se paramos) para pensar, a vida está rápida demais… uma velocidade que quase contraditoriamente, “rouba-nos” uma deliciosa parte da vida que, justamente, faria desacelerar… encontrar amigos, rir com calma…
Então, eu fui novamente pegar o PROSA NA VARANDA, e, avançando na minha leitura pelo PROSA, descortinaram-se dois contos que particularmente, abraçaram-me…
… foi estranho! Porque eu os li, e não havia aquela busca por um arremate final surpreendente. Não havia suspense no começo, ou um enredo intrincado que fosse aos poucos sendo amarrado… Não havia sequer a intenção de alguma piada no final, ou frases que anunciassem um viés de humor.
Mas eu senti algo estranho!
Tive a impressão que o ritmo fora o mesmo do começo ao fim, e quando terminei a leitura dos dois, foi… diferente…! E, mesmo assim, parecia que eu estava envolvido em uma velha sensação, mas que eu ainda não havia identificado quando terminei de ler… acho que minha reação foi: onde estão elas, que ainda agora estavam aqui comigo? Cadê a MARIA RUTH MAYKOT e a MARILANI DOS SANTOS BERNARDES?
“O Espelho de Cristal” e “A Mala”, não são contos… São o banco na frente da casa, em que essas duas autoras estão sentadas, com o chimarrão na mão, esperando passarmos para dois dedos de (do) prosa. Esses contos nem são literatura… esclarecendo: não são apenas literatura, são uma conversa! Dessas que a gente encontra a amiga na manhã de domingo, quando saiu simplesmente para caminhar, e acabou parando para aquela PROSA maravilhosa, em que o tempo passa como se não existisse WhatsApp, como quando parávamos sem precisar fazer "selfie" para postar…
“Prosaicos”! Acho que essa era a palavra que eu estava procurando: prosaicos!
Não porque destituídos de nobreza… pelo contrário! Prosaicos, porque PROSA!
Porque são contos que simplesmente CONVERSAM conosco, como um convite! Porque são, enfim, simplesmente bons de ler! Porque deixam a alma passear leve e solta!
Então, com licença. Vou pegar minha “MALA”, olhar-me no “ESPELHO DE CRISTAL”, e ver se já estou pronto para mais uma viagem no PROSA NA VARANDA!
Luís Augusto Menna Barreto
Em 20 de setembro de 2025.
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