Pensamentos Perdidos:
Epílogo
Último número
Aos 50 anos, ainda repetia suas apresentações solitárias ao ar livre com a certeza de que estaria sendo observado por uma mulher que sorri.
Em uma dessas noites, distante 30 metros da imensa lona, sentiu um clarão a iluminar seu picadeiro ao relento. Pode ouvir murmúrios e gritos. Sentiu seu coração queimar e brilhou como nunca! Parecia poder ouvir os gritos da mulher que o fez homem além de palhaço. Um calor imenso chegava ao seu corpo fazendo-o suar. Cada vez mais o clarão iluminava-o e ele se empenhou em suas piadas como jamais fizera. Lembrou de todas as caretas que havia feito desde o tempo em que não partia com o circo e, antes, ficava esperando sua volta. Em meio àquele delírio, pela primeira vez sentiu a dor que consumia seu coração. Lembrou de cada palavra de um poema escrito há muito tempo e percebeu que havia passado a vida a buscar na platéia o riso que não achava na própria alma. Podendo sentir o riso que vinha da maior estrela, notou que conservava jovem em seus sentimentos tão apagados, o sorriso amado por ele um dia... e reviu-se pulando e fazendo piruetas como há muitos anos. Permitiu-se ser amado, mas jamais abandonou a fidelidade do seu coração ao único amor que sentira. Olhou a imensidão do céu procurando uma estrela grande e assustou-se... seu mundo nunca havia sido maior que um picadeiro.
Após poucos minutos, o palhaço deixou cair os ombros e baixou a cabeça: o clarão havia-se apagado. A trinta metros dali, havia fumaça e cinzas de um fogo que rapidamente consumiu o que foi sua vida!
Os murmúrios eram muito diferentes dos risos que sempre o ovacionaram.
Uma menina de 10 anos correu assustada para um palhaço que era seu pai e sequer sabia estender seus braços. Olhou longamente a filha, sem levantar a cabeça e entendeu que jamais seria jovem novamente para fazer malabarismos para uma menina cujo sorriso é amado por ele. Quis esconder-se do tempo conservando igual o riso da platéia ao longo dos anos, mas fracassou...
Olhou o céu e percebeu que teve a chance de amar a mulher que o assistia através do brilho das estrelas... ... e, finalmente, lembrou-se de amá-la.
Com calma e vagar, pegou três laranjas em seu bolso. Abriu um largo sorriso e jogou-as para o alto. Quis, de todo o coração, fazê-la sorrir.
Enfim... era um palhaço!
Por Luís Augusto Menna Barreto
"Permitiu-se ser amado, mas jamais abandonou a fidelidade do seu coração ao único amor que sentirá."
ResponderExcluirQue lindo poeta!!! E o palhaço nunca perdeu sua essência! E retornou pra sempre!!!!
Acho que o palhaço, nasce assim... pra fazer sorrir aos outros, mais do que a si próprio...
Excluir... e às vezes é assim: o amor é compreendido somente quando já se foi...!
"...e às vezes é assim: o amor é compreendido somente quando já se foi...!"
ExcluirÉ uma triste verdade!!!
Humm, que triste isso, mas foi a única forma que a vida encontrou de ele realmente valorizar e amar quem verdadeiramente o amou, sem cobranças, sem exigências, apenas o amou como ele era. O fogo o fez ver o que ele mesmo disse à ela um dia antes de sua partida. A vida nos traz as laranjas, nós é que decidimos se fazemos dela motivo de alegria, por termos aproveitado as mil formas de utilizá- la; ou lamento, por não tentarmos de alguma forma tirar o melhor dela antes de estragar. Pra mim Menna as laranjas são como os ciclos da vida!
ResponderExcluirMuitas vezes, amiga, as laranjas estão nos nossos bolsos e as deixamos cair em algum lugar que nem lembramos...
Excluir... outras é assim: decidimos jogo-las pra cima, e fazer sorrir!
Ah, meu escritor querido, por que toda história de palhaço é sempre tão triste?! Este teu palhaço me toca tão profundamente...
ResponderExcluirSerá que o Sedrick não topa escrever uma história em que o palhaço seja mal? Uma história em que os leitores, em vez de ficarem nesse estado de tristeza lânguida como eu estou, fiquem furiosos e queiram pô-lo atrás das grades? Hein, Sedrick?
Seria muito melhor do que ficar me enchendo o saco aqui na guia, querendo porque querendo que eu o namore. Eu não quero, já disse. ESTOU APAIXONADA POR ÂNGELO. Assim que ele voltar do voo vou lhe falar em namoro.
Olha gente, hoje eu convidei uma baiana do acarajé, para arrumar sua banca com seu tabuleiro aqui nesta calçada.
Venham! Vamos comer muito ACARAJÉ e muito ABARÁ até o circo passar todinho!
Aceito seu convite, vou comer muito acarajé com vc Ana e vamos juntas afogar a tristeza do palhaço e encontrar laranjas e aprender a fazer malabarismos com elas e enfim sorrir muito juntas...
ExcluirAna, morei um tempo na Bahia, e não me acostumei com o abará e o acarajé não, mas, se tiver uma perninha de caranguejo, um catado de sirí e uma moqueca de camarão, aí sim não vai ter hora pra sair da guia.
ExcluirAh, Ana...snif, Snif! Que triste... mas passa um acarajé aí! E agora, onde sentaremos?
ExcluirAna Macedo,
ExcluirVocê e muito é metida a besta!!! E quer saber mais: Você é FEIA! FEIA , FEIA e FEIA!!! Falei mesmo!!! Tomara que o abará te dê dor de Barriga!
É?! Sou feia, porque não sou pra o teu bico!
ExcluirInveja matou Caim, na porta de um botequim!!!!!
Doido eras tu pra pegar essa feia aqui. Eu é que não te ou ousadia!
Armelinda, onde tu moraste aqui na Bahia? Hoje moras onde?
ExcluirOlhe, quinta-feira vou trazer vatapá e caruru. De quebra, um pouquinho de catado de siri para você.
Ana, morei em Muritiba, nas proximidades de Cachoeira,São Félix e menos de duas horas de Salvador. Hoje moro em Goiânia-Goiás. E, olha, vou esperar ansiosa por estas delícias, pois amo de paixão.
ExcluirPessoal....!!!!
ExcluirEu demorei, porque tava vendo o palhaço ensaiar...
Fui perguntar pra onde vai o CIRCO, e ele só me respondeu: "por aí"...!
Vou sentir saudades, sabe?
E bora parar com essa briga! Sedrick e Ana, bora parar com isso e porque não pega logo um a mão do outro?!
O Ângelo nunca aparece, mesmo!!!!
Bora! Uns vem comigo pra comprar pipoca e algodão doce, outros vão comprar o ingresso...!!! Hoje, quero sentar bem pertinho do picadeiro, que se o palhaço chamar pra brincadeiras, quero ser o primeiro!!!
Que bom!!!
ExcluirVou querer comprar algodão doce!!!
Mas, acho que vou entrar é por baixo da lona, quero um pouco mais de aventura, aproveitar que é o último dia!!!
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ExcluirEu me emociono e me encanto com facilidade...
ResponderExcluirHoje não foi diferente...
Hoje me emocionei,como tantas outras vezes ao te ler...
Que triste!!!Será a sina dos palhaços???
Ah, Michele... mas dessa tristeza toda, o palhaço, ao que parece, lembrou-se de amar! Ele que já nem sabia...
Excluir... preocupa-me, a filha do palhaço, que correu para o pai, e não encontrou os braços abertos....!
Continuo, agora, a contar a história que venho narrado:
ResponderExcluirÀ noite, junto com o malabarista aprendiz, fiz minha primeira apresentação com as malabares. E não posso negar que foi um sucesso.
Um mês, dois, três... Eu já era quase uma malabarista.
Certo dia, entretanto, no momento da apresentação, ao fazer um dos movimento com as malabares, meu olhar se deparou com o trapézio. Aí... pela primeira vez errei em público o movimento e deixei uma das peças rolar pelo chão.
Fiquei triste com o meu primeiro desacerto, assim para todos verem, no jogo do malabar. Mas continuei me apresentando.
Um mês, mais outro, cinco meses, um ano... Aí eu já era uma malabarista de verdade.
Mas havia o trapézio lá em cima que, de quando em quando, puxava o meu olhar.
Durante todo este tempo, reparei que o palhaço que me salvara dos leões, e mesmo sem me dizer uma única palavra, me ensinara a pintar a minha máscara, nunca se apresentava sem a pintura no rosto, sem nariz de bola vermelha e sem o chapéu de três pontas que quase encobria seus olhos.
Isso me deu a ideia, que para mim foi uma libertação. Passei também a viver sempre pintada. Aí não precisei mais andar pelos cantos escuros, a fim de esconder o monstro que eu me tornara. Agora, eu era uma figura excêntrica, quase mítica. Chamava a atenção por onde passava, mas eu não era mais um horror.
Foi então, que em uma tarde, quando quase todos do circo dormiam o sono da sesta, o trapézio me tentou mais forte e eu fui até ele. Olhei-o, olhei-o... Lembrei-me dos tempos em que eu o dominava... Lembrei-me do amor antigo... de mim quase de menina... do meu primeiro adeus... E senti saudades.
Subi passo a passo, tentando a leveza de outros tempos. Fiquei lá em cima! Olhei para baixo, e o que havia embaixo nada me atraiu. Só o espaço em minha frente me chamava. Passei as mãos pelo sustentador e...
ai, ai, ai.......... e??????????
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ExcluirAff Ana... quase morri... acaba com meu coração!!!(exagerada!! Rs)
ExcluirPior é Menna com esse palhaço triste que finalmente descobriu um caminho no peito. Felicidade é assim: pode ser antes (sonho... sem ter acontecido), durante ou depois, quando se perdeu... Pobre sina do palhaço.
Mexendo com a nossa emoção...
ResponderExcluirE por que sempre é assim - contas essas histórias de palhaço, se sabes que depois do último número vamos sentir saudades dele, ter vontade de consolá-lo, de dar-lhe um abraço ou trazê-lo pra nossa casa?
Apesar de tudo, do tanto que torci pela felicidade do nosso palhaço, não fiquei tão triste com o final não. Afinal, ele encontrou uma forma de continuar demonstrando seu amor áquela que realmente o conquistou. Mais uma vez me lembro de de um certo poeta que diz:"...Que a mulher que amo, continue sendo amada, mesmo que distante..." Valeu palhaço querido!!!
Excluir"... porque metade de mim é amor..."
ExcluirAh, Maria... acho que o Palhaço não sabe mais viver em casas... não sabe mais deitar e olhar tetos que não se mexem ao vento... não sabe mais não sentido o cheiro de serragem....
... não o leves pra casa... vais até ele... e mostras teu sorriso...!
"...e a outra metade...TAMBÉM!!!!!
ExcluirSempre achei o palhaço triste, por mais que nos faça sorrir, ou melhor, gargalhar! Já estava esperando um final triste... Ah, eu quero esse livro! Além da emoção que existe dentro dele, vou lembrar de cada noite que viemos aqui, sorrimos, choramos, sentamos na guia, comemos... Foi muito bom. Agora é ver a comitiva? Caravana? Comboio? Nem sei como chama... É ver o circo indo embora e acenar a mão num adeus. Adeus...
ResponderExcluirParabéns, poeta!
ExcluirVocê sabe mexer com a emoção das pessoas!
Professora Norminha...
ExcluirNão sabes o quanto eu fico feliz com esse carinho todo...
... acho que de tudo o que já pude escrever, O CIRCO foi o que mais me gratificou... não tanto pelas letras, não tanto pela idéia da história... mas pelo que me trouxe de bom, sentando com todos vocês aqui na calçada que a Ana inventou de chamar de "guia"...
Vês...? ficamos todos crianças... todos voltamos a implicar, a querer pipoca, a disputar ficar no melhor lugar.... pedimos, de novo, dinheiro pro pai ou pra mãe pra comprar algodão doce, vimos a Ana implicar com o Sedrick, rimos, derramamos o suco de saquinho plástico, comemos até o raspa-raspa da Sylvia.... ah... saudades terei eu...
Obrigado a ti e a todos por todo esse carinho, que foi tão maior que eu, que eu consegui retribuir tão pouco....
... mas olha.... ainda tem a parte 13.... vamos sentar na guia, uma última vez...!!
Não sei porque tu implicas assim comigo, Menna! Primeiro não fui eu quem começou a chamar o meio-fio de guia. Ou foi o Lu ou aquele metido a gostoso, aquele tal! Depois, não sou eu que implico com ele. É exatamente ao contrário, ele é que implica comigo.
ExcluirE agora... tu também, Menninha?! Sei não, viu? Acho que tu estás é se mordendo de ciúme
do outro Menna, teu parente, aquele tiozinho que é juiz lá no Marajó. Ele, sim, é legal e vai me orientar na queixa que eu vou dar contra o sujeitinho e contra ti, na DEAM.
Tá bom, tá bom, tá bom...vou conversar com o Sedrick e resolver a situação, o "mal entendido"...vocês ficam nessa "prosa ruim" e a gente nem come e nem vê o espetáculo direito...aff
ExcluirCaro Menna Barreto,
ResponderExcluirEu fiquei bem tentado a entrar em teu circo... Mas, não tenho essa docilidade. O convite da Ana Macedo é tentador... sobre um outro palhaço. Mas, o momento é desse palhaço e seu final leve, emocionante. Bem verdade, há uma tragédia narrada de forma contida, embora relevante. Ver desaparecer em chamas toda a sua vida é algo muito dramático. Mas, dada a leveza e doçura de sua condução, passou quase "desapercebido". Não ficou nada amargo. É sua estilística. É possível perceber esse cuidado das não ranhuras em seu texto. Quando o faz, você mesmo põe imediatamente os curativos. Percebeste isso, Ana Macedo???? O Menna quando (raramente) fere seus personagens ele é também o socorrista que prontamente os atende. Há uma nobreza que fica por aí. Uma alma leve. Escrita que traz encantamento.
Eu bem que fiquei tentando... Mas, o ciclo (parece) está fechado. O palhaço e suas laranjas ao final, venceram.
Aplausos
Saudaçoes!
... desculpa, Sedrick... tem uma lágrima viva no meu olho... um nó na garganta... que bom que tu não me vês... nem ninguém...
Excluirporque tem algo vazando pelo meu olho, dentro de mim...
Que lindo!!! Essa cena eu gostaria muito de ter tido a honra de visualizar!!! Aquele que tanto nos emocionou...também teve seu momento de extenar sua emoção!!! Fechou com chave de ouro esse momento ímpar com o circo!!! Parabéns por tanta sensibilidade!!!
ExcluirQue lindo!!! Essa cena eu gostaria muito de ter tido a honra de visualizar!!! Aquele que tanto nos emocionou...também teve seu momento de extenar sua emoção!!! Fechou com chave de ouro esse momento ímpar com o circo!!! Parabéns por tanta sensibilidade!!!
ExcluirMano, não poderia esperar outro final para o circo.
ResponderExcluirChoro e visualizo quem está a olhar juto as estrelas.
Cada um cria seus personagens,
Criei os meus.
Meu palhaço tem nome! Seu grande amor, que o fez triste, embora sendo um palhaço também.
Amores desencontrados. Amores não vividos.
Por que?
Agora se faz tarde a pergunta e não precisamos buscar respostas.
Lindo teu espetáculo!!! Bravo!!!
Que um dia estes dois personagens se encontrem acima das estrelas e que desta vez o palhaço seja feliz.