Ok, todo mundo já está careca de saber: álcool e direção não combinam. Até quem bebe e tem carro sabe disso.
Daí, tu deverias estar-se perguntando: “mas se todo mundo sabe disso, então qual é o problema, por que tanta gente bebe e dirige?”
Ah!, o problema é do momento em que se sabe disso!
Isso mesmo: o momento!
Queres ver? Olha a conversa desse caboclo que chegou algemado na audiência:
— Eu não sabia, doutor!
“Ai meu Deus…”, eu pensei. Já vi que seria mais um caso daqueles em que o caboclo faz-se de tonto, pra tentar enrolar-me!
— Tá, Forquilha! Tu tens quase quarenta anos de idade e nunca ouviste dizer que beber e dirigir não combina?
(Ops!, deixa eu fazer um parênteses necessário: eu já contei em outras crônicas de Marajó City, especialmente nas três crônicas “O Presidente, o Manobra e a Ambulância”, que em muitos municípios do Marajó, sequer existe carro… mas tem de motos! E muitas! Pois é! Se conduzir carro já é perigoso, imagina motos! Pronto. Fechei o parênteses).
— Já ouvi sim senhor!
— Então, Forquilha, como tu me dizes que não sabia!
— Na hora, doutor!
— Hein?
— Doutor, presta atenção:
O Goela arregalou os olhos quando o Forquilha me disse “presta atenção”; achou que eu ia prender o Forquilha - que já veio preso! Mas a verdade é que fiquei curioso! Ele continuou:
— … a gente sempre ouve no rádio e vê comercial de TV que beber e dirigir não pode, doutor.
— Então, Forquilha? Caramba…
— Pois doutor, escute: antes eu sabia.
— Ah, tá, depois parou de saber? Ficou com amnésia?
— Não, doutor, fiquei só com a Dois Reais, essa “Minésia”, nem conheço. Não muda de assunto, doutor! Então, antes eu sabia, e agora sei de novo, entende, doutor?
Fiquei em silêncio… tentando respirar devagar. Minha paciência tava por um fio!
— Assim, doutor, a gente sai de moto e pensa: "hoje só vou dar uma volta, não vou nem entrar na festa". Mas daí, a gente passa lá na frente da sede e encontra os amigos. Dá uma paradinha e fica conversando. Daí, umas morenas começam a entrar - porque o senhor sabe, né doutor, as mulheres entram cedo, que elas não pagam até meia noite -. Daí, o pessoal começa a entrar e a gente pensa: tá, vou entrar, mas não vou beber nada, só dar uma olhada, ver se tem alguma morena querendo dar uma volta, e saio”. Nessa hora, doutor, ainda tô sabendo que não pode beber e dirigir!
— Sim, Forquilha, e quando chega a tua amnésia?
— Doutor, já falei que nem conheço essa “Minésia”!
— Não é isso, Forquilha, “amnésia" é… deixa pra lá. Continua.
— Então… daí, aparece um amigo com um balde de cerveja, e te oferece uma. A gente até lembra sobre dirigir e beber… mas acredita que só umazinha não vai fazer mal, doutor. Então aparece uma morena como a Dois Reais… tá, não é lá essas coisas, mas pra mim, né, doutor, já é muito. Daí, a morena, doutor, a Dois Reais, não essa Minésia aí, que nem sei quem é, daí, a morena pede uma cerveja, doutor. O senhor sabe, né?! A gente compra uma cerveja pra morena. Vai bebendo… daí quase nem lembro mais essa coisa de não poder dirigir…
Nesse ponto, eu confesso que não deveria, mas fiz pra provocar: sussurrei baixinho:
— Chegou na amnésia… — eu confesso que quase ri, mas me segurei!
— É sério, doutor, não sei que é essa! Eu juro pro senhor que eu só fiquei com a Dois Reais.
— Tudo bem, continua!
— Então, doutor… uma cerveja pra morena, um beijo, outra cerveja, uma mão boba… outra cerveja…
— Cuidado onde isso vai parar, Forquilha!
— Não se preocupe doutor. Porque daí adiante, é aquele momento que eu falei pro senhor: já não sei mais.
— Ah, tá, Forquilha — falei com ironia — agora que não te convém mais, tu não lembras que não pode dirigir e beber?
— Não doutor. Nesse ponto, não é só isso que não lembro! Acordei foi na delegacia, com a moto amassada, a perna ralada, e nem sei da Dois Reais. Eu juro pro senhor: naquele momento, eu não sabia que não podia beber e dirigir!
Pois é! Era isso que eu queria dizer: o problema é o momento em que a gente sabe ou não sabe que pode dirigir e beber! Pelo que vi, esse conhecimento não é constante. Ele é volúvel: a gente justamente tem esse conhecimento e esse entendimento quando não precisa, ou seja, quando não bebe! Quando começa a beber, que é quando a gente mais deve saber que não pode dirigir, parece que esquecemos disso!
Mas, pasma, não foi a explicação do Forquilha que mais me surpreendeu (até pela lógica e coerência)! Foi a conclusão a que o Forquilha chegou, que me deixou mais abismado!
Depois da explicação, arbitrei a fiança. Quando eu disse “um salário mínimo”, o Forquilha gemeu. Eu sei que é um valor alto no Marajó. Mas esse tipo de delito, se a pena pecuniária é pesada, costuma prevenir!
— Há quanto tempo tu estás preso, Forquilha?
— Três dias, doutor… o delegado não tava na cidade, e o senhor sabe como o Tonelada é, né?
O Tonelada é o policial militar que faz as vezes de delegado quando este não está na cidade… e também em algumas vezes que o delegado está!
— Então me fala uma coisa: valeu à pena esses três dias presos e ter que pagar um salário mínimo?
— De jeito nenhum doutor!
— Aprendeste a lição, então?
— Sim senhor, doutor! Álcool e direção não dá certo!
— Vais parar de beber, então, Forquilha?
— Vou vender a moto, doutor!
…
… pois é!
Por Luís Augusto Menna Barreto
Kkkkkkkkkk 😂😂😂😂
ResponderExcluirPrefere vender a moto!!!!?
Isso que é gostar de beber!!!
E essa "amnésia"???!! 😂😂😂
Muito boa!!! Valeu a espera, Poeta!!!
pode isso??? Pois foi o que aconteceu MESMO!! Ficar sem moto, vá lá... mas sem cerveja??!!! Nem pensar!!!!
ExcluirCoisas de Marajó City!!!
Que bom que apareceste, minha querida amiga Armelinda!!!!
Ahhhh, não perco tuas crônicas!!! Ainda mais do "Marajó City"!!!!! São jóias raras!!!!!
ExcluirRsrsrsrs não tão jóias... não tão raras...!!!
Excluir... mas divertidas como uma conversa em um café com os amigos!!!
Tá certíssimo o "caboco", Doutor!
ResponderExcluirMoto é um perigo nas mãos de quem bebe... Agora parar de beber isso é lá com o A.A. Saúde pública, também...
E essa linguagem "paraensês" com sotaque gaúcho? Está caprichada, hein?!?
Sempre vale a pena esperar tuas crônicas marajoaras. Bacana, mesmo!🍃🌺🍃
Ainda há muito por contar...! A vida, no universo marajoara é maravilhosa e surpreendente...! É preciso conhecer o Marajó.....
Excluir... mas pra quem não pode, eu tento levar um pouquinho de seus “causos”...!!!!
Obrigado, guria!!!
Vai vender a moto e vai lá de carro ver as morenas outra vez, espero que ele vá a pé, acho que nao.... Muito bom amei 😄😄👏
ResponderExcluirAh!, guria... em algumas cidades do Marajó, sequer há carros... Na cidade de Bagre (faz parte do continente, mas é tida como região Marajoara) havia um ou dois... Em Curralinho, busquei o Presidente do TJ na Ambulancia porque não havia carro; Em Afuá, uma “Veneza Marajoara”, cidade em pontes e palafitas, nem motos, apenas bicicletas (até mesmo força pública: polícia, bombeiros, ambulância - bicilância) ... Se o Forquilha vende a moto, faz festa de cerveja com os amigos!!
ExcluirFinalizando meu domingo com uma dose caprichada de humor...com essa crônica
ResponderExcluirriquíssima de detalhes incríveis!
Fiz uma viagem de primeira classe, com esta leitura!
👏👏👏👏👏👏
Guria.... tu que me colocas na melhor das classes, ao fazer-me este comentário!!! Obrigado sempre....!!!
ExcluirTu trazes um imenso sorriso pra minh’alma!!!
Amei exa.Conheço boa parte do Marajó e realmente a cada dia uma nova história. São as verdadeiras lendas vivas.
ResponderExcluirGuria....!!!!! Penso que tu saibas muito mais que eu!!!! Tu tens o carimbó na alma!!!!
ExcluirMil obrigados de vires visitar nossos amigos no blogue!!!!
Tava com saudades das crônicas marajoara, comédia demais esse Forquilha, pra evitar problemas futuros, resolveu vender a moto,mas parar de beber? Jamais kkkkkkkk e o nome das morenas? Dois Reais,e agora, a "Minésia" adorei kkkkkkkk muito divertida a crônica.
ResponderExcluirMarajó City é sempre delicioso pra todos nós!!! Bora vender os carros e continuar na roda de amigos!!!!
ExcluirQue bom ter sempre tua presença por aqui!!!!! Bora tomar uma cervejinha com a gente!!!!
Que saudade deslavada e "semvergonha" bateu em mim agora!!!
ResponderExcluirSaudade de Breves, saudade de Bagre, saudade do Goela, saudade de TI, meu cronista predileto! Saudade de nós, de Nora, de Lu. Vixe que saudade escancarada!
No ano que vem vamos voltar juntos ao Marajó?
Beijão!
Saudade recíproca....
ExcluirBora voltar, com certeza!!!!
Sentimos tua saudade aqui, e pelo Twitter... és sempre especial nesses mundos de literatura....
... LuAlves, NoiteNua... eram tempos bons...!
❤
ResponderExcluirAh, corações.... são sempre bem-vindos!!
ExcluirValeu amigão. Uma crônica pra ninguém colocar defeito,principalmente pela conclusão. Vender a moto, dar valor a vida e torrar o dinheiro com os amigos.
ResponderExcluirExatamente, amigão!!!
ExcluirFoi muito engraçado! Na hora ele nem titubeou: “vou vender a Moto”! O que não pode é ficar sem a cervejinha com os amigos!!!!!!!😁😁😁
Um baita abraço, amigão!!!
Saudadessss das crônicas marajoaras...
ResponderExcluirAqui e meu diva, e onde me deleito com tão belas leituras...Adoro!!!
Demoro mas volto!! Rsrsrs
Espero que eu consiga manter uma melhor constância nas crônicas, porque é onde mais me divirto escrevendo!!!!
ExcluirEssas crônicas marajoaras são maravilhosas,assim como todas as postagens do blog...Eu ja disse: Sou fã!!Me sinto bem quando venho aqui!!♥️
ResponderExcluirMichele, como é BOM ver-te passear pelo blogue, ver-te correr por entre corredores de letras, ver-te sorrir por essas linhas!!!
ExcluirSejas sempre bem-vinda, Michele!! E voltes sempre! Sempre tem lugar pra você!!!!
"O assunto mais importante do mundo pode ser simplificado até ao ponto em que todos possam apreciá-lo e compreendê-lo. Isso é - ou deveria ser - a mais elevada forma de arte."
ResponderExcluirCharles Chaplin
Assim você fez arte quando simplificou um ato formal.
"O homem que é capaz de fazer o outro rir tem em sua alma a alegria de viver e de conviver." Eu!!!
Parabéns!
Guria, tu sempre me surpreende...!!
ExcluirQue lindo o que tu escreveste...!!!!
Realmente super obrigado...
É tri bom contar contigo aqui no blogue!!!!
As crônicas de Marajó City são o máximo, como me divirto lendo.
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