bora cronicar
Minha Nova Paixão
Eu lembro que quando eu tinha cinco anos de idade, assim que eu comecei a aprender a ler e escrever, eu comecei a pedir pro pai pra usar a máquina de escrever. Ele tinha uma antiga Olivetti, de ferro, que ficava no escritório dele, na frente de uma parede que era uma prateleira de livros.
A Olivetti era o instrumento de trabalho dele, e ele me recomendava muito cuidado, o que, evidentemente, eu, com cinco para seis anos de idade não tinha. Rapidamente, eu conseguia fazer com que dois tipos ficassem entrelaçados e eu não sabia resolver, ou então, a fita saía do lugar, porque eu não sabia colocar o papel direito, ou, pior, eu dava um jeito de travar o carro da máquina…
O pai sempre teve toda a paciência que se pode esperar de um pai com a experiência de 70 anos de idade e um filho de 5. Foi daí que muito rápido eu já estava com alguma agilidade. Eu continuava a escrever bastante com papel e caneta, em grandes cadernos antigos que o pai tinha e eu pegava pra mim. Mas gostava mesmo, era da máquina de escrever. Então um dia, já na minha adolescência, quando eu tinha uns 12 ou 13 anos de idade, o pai comprou uma máquina de escrever nova, uma Remington plástica. Eu adorei.
O tempo foi passando e passando… e eu entrei na faculdade. Sete anos depois de entrar na faculdade eu estava saindo (sim, sete anos depois, porque eu repeti duas vezes direito constitucional - já contei essa história aqui). Daí, que quando fiz meu trabalho de conclusão do curso, fui mostrar para meu orientador dois dias antes do prazo da entrega e ele achou bom… mas disse que havia muito erro de ortografia e que eu teria que refazer tudo.
— Hein? Mais de setenta páginas, em dois dias?
Pois é. E, para minha salvação, o pai da Ana emprestou-me uma absolutamente maravilhosa máquina elétrica! Barbaridade! Aquilo era sobrenatural. A máquina tinha um teclado super macio e apagava! APAGAVA! Se eu batia (era “batia" o termo; não como hoje que a gente fala "digitar”) uma letra errada, eu apertava uma sequencia de três teclas e a máquina apagava como que por milagre! Tá, tá, não era lá um milagre… e nem era “apagava”! Na verdade, havia uma fita corretiva, que a gente repetia a tecla errada e ela “pintava" de branco bem em cima da letra errada!
Meu Deus, isso era a minha salvação! Era tecnologia demais! Foi paixão à primeira vista!
Mas foi uma paixão efêmera, eu confesso. Acho que fui muito volúvel… porque não durou nem um ano esta paixão, e a família da Ana comprou um computador! Minha Nossa Senhora! Aquilo sim! Um ultra moderno computador “386”. E o teclado? Uau! Era algo fantástico! E o editor de texto, aquela coisa absurdamente maravilhosa, em que eu podia errar à vontade, apertava uma tecla com uma flecha que apontada da direita para a esquerda, e saia apagando tudo!
Vocês podem imaginar o que significava isso, para alguém que adorava escrever e que, muitas vezes, por força de um erro, simplesmente modificava as idéias pela preguiça de ter de escrever tudo de novo?!
Eu ainda tenho a máquina de escrever. Tá lá na minha bela, querida, distante lendária, saudosa e inesquecível Santo Antônio da Patrulha. Durante meus oito anos de advogado, ela estava presente no escritório, como uma espécie de “estepe”. Mas eu confesso… acho que olhava para a máquina com uma certa piedade, como um ser de quem eu parti o coração, ainda tinha carinho, mas o amor havia acabado… eu estava inevitavelmente apaixonado pelo computador e seu maravilhoso editor de texto.
A partir daí, eu sou um aficcionado por qualquer tecnologia de editores de texto que ofereça-me facilidades e recursos de escrita. Para terem uma idéia, eu utilizo, no meu Mac, nada menos de 7 editores de texto. Isso: 7. O Pages, que utilizo para trabalhar e para crônicas de Marajó City; o Scrivener, que uso para roteiros; o Ulysses, que uso para escrever meus rascunhos de romances e novelas que um dia haverei de lançar; o iBooks Author, que uso para fazer textos em formato de e-books e trabalhos escolares para auxiliar o João; o Bear, que utilizo para textos muito curtos; o iA Writer, que utilizo para textos “especulativos”; e o Flowstate, que uso para o “pânico do último minuto”, como eu chamo, porque é um editor que (pasmem, mas e verdade!) apaga, simplesmente apaga, todo o texto e eu o perco para sempre, se eu parar por mais de cinco segundos de escrever antes de atingir o tempo que eu pré-determinei que ficaria escrevendo.
E eu gosto de cada um, sou apaixonado por eles!
Descobri que não sou tão sentimental assim. Sequer tenho saudade do tempo que eu escrevia com caneta e papel. Até escrevo… mas apenas quando eu não tenho outro recurso, utilizando papel e caneta mais para não perder alguma idéia quando eu esteja longe de um recurso de tecnologia.
Por quê eu estou contando tudo isso?
Porque até outro dia, eu era apaixonado por livros. Tenho muitos. Gosto do cheiro. Das cores. Do peso. Da disposição nas estantes…
Mas chegou um “brinquedo novo” que eu encomendei, e que acho que tomará o lugar dos livros em meu coração:
Chegou meu e-reader. Um leitor de livros digital.
Eu sinto que estou apaixonado novamente!
Luís Augusto Menna Barreto
3.6.2019
Verdade!!!! Às vezes, conversando, digo que não sei como fazíamos livros contábeis e fiscais todos escritos a mão, e datilografávamos todas as guias, contratos, declarações, etc. Muito "bati" máquina no cartório com a vó Cecília, adorava!!! Mas bom mesmo é quando falo em casa que fiz no "CACTI" curso da MECANOGRARIA, assim como fiz curso de DATILOGRAFIA, e os filhos perguntam: "o que é isso mãe???" Kkkkkkkkkkkkkkkk!!! O tempo voaaaa!!!
ResponderExcluirTatay... eu aprendi no CAT, depois CIE, a preencher cheque e a endereçar cartas!
ExcluirE tinha datilografia e a prova era com uma máquina com as teclas "tapadas" com uma capa, pra gente não ver qual era!
Eu não lembro mais o nome do professor, mas lembro que ele era calvo e tinha uma papelaria na cidade alta, perto do Fórum antigo, que depois virou delegacia (não sei se ainda é), logo depois da Borges de Medeiros!
Bah, o João não consegue sequer vislumbrar um mundo sem wi-fi...
Se eu digo pra ele que não havia internet, ele pergunta: "e onde vocês assistiam YouTube?"!!!!
Sim, o mesmo que me deu aula, o prof. Flávio Rosa. A mãe dele mora pertinho do escritório, a minha sala tem uma janela que vejo a casa dela. Ele mora em SC. Tínhamos que usar os 10 dedos para datilografar, não era "dedografar". Meus filhos também, quando é para com a gente o Miguel pergunta, "tem wi-fi???"
ExcluirNem pensar em viajar para algum lugar sem wi-fi.... socorrooooooo.......
ExcluirImpossível não se apaixonar por essas modernidades tão maravilhosas, mas ainda assim, o velho e bom papel e sua parceira caneta, são mais seguros, confio mais rsrsrs
ResponderExcluirAh.... esses não tem queda de energia que faça perder o texto... pra salvar, basta uma pequena dobradinha e uma gaveta ou um bolso...
Excluir... e, cá entre nós... como era bom receber cartas, né...?!
Meu pai tinha uma Facit de esfera. Cópias com carbono, aff ! Com o advento do 486, não migrou. Escrevia tudo a mão e eu digitava e imprimia
ResponderExcluirrsrsrsrs..... ah... mas essa Facit era "sobrenatural"... imagina: uma esfera!!! Os "ferrinhos" com os tipos nunca mais atolariam!!!! Eu achava incrível ver a esfera virando-se feneticamente e achava espetacular a forma como ela "sabia" a exata posição para pressionar a fita contra o papel...! Eu adorava ver o "tio" Dr. Flávio "bater" à máquina, porque ele era tri rápido e aquela bolinha de metal ficava girando enlouquecida na máquina que cada vez mais rápido ia formando frases!!!
ExcluirE também não havia o movimento do rolo. O papel não se movimentava mais: era a esfera que sabia o lugar de se posicionar!!! Aquilo ela quase ficção científica!!!!!
Baita crônica!!! Esse paralelo da modernidade com o passado é bem interessante...No meu ponto de vista, há os prós e contras de cada um...Eu guardo com certa nostalgia o hábito da comunicação mais manual,como disse Eunice,acho mais seguro...rsrsrs...Agora como tivemos um mar de possibilidades com o advento da tecnologia!! Sou até, de certa forma grata à ela, foi através dela que somos agraciadas com essas maravilhosas crônicas,conhecemos pessoas mega importantes na vida... Particularmente, sou um pouco dependente dessa 'modernidade'...Ah!!! Como conhecer Marajó City, se não fosse a 'bendita' tecnologia??
ResponderExcluirEsse argumento de "Marajó City" é muito precioso pra mim...
ExcluirTalvez Marajó City sequer existisse em literatura, se não fosse a tecnologia, porque somente comecei a escreve-la, com o antigo blogue "Menna Comentários", que foi o embrião do 'menna em palavras'!
De fato, há prós e contras...
... bora tentar ficar nos prós....... rsrsrsrsrs...!!!!!!!
Veio bem nítida a lembrança do meu curso de datilógrafa copista, fiquei me achando o rainha da cocada preta. Comprei em trocentas prestações uma Olivetti Letera moderníssima para as minhas posses da época. Que lembrança boa que a sua nova paixão me trouxe. O seu novo livro de bolso é uma das maravilhas que a tecnologia nos proporciona. Só fico com pena porque isso vem com uma velocidade tão grande que dá até medo, Tudo tem que ser aproveitado de imediato.
ResponderExcluirde fato, a velocidade assusta-me... mas, ainda assim, a vida parece-me veloz demais, também... acho que os anos estão passando mais rápidos...
Excluir... e mais rápido eu sinto saudade das coisas de ontem...!
É... isso tudo é um tanto antipático, mas é verdade.
ResponderExcluirQuando me lembro que o meu primeiro romance, o MALVA, eu o escrevi todo à mão, e com grafite, usando borracha. E eu já tinha, na época, um 386. Era o máximo, em tecnologia! (Kkkk!) Mas achava eu que só conseguia redigir, no computador, textos técnicos, textos de conteúdos teóricos. (Quanta antipatia!)Textos literários só brotariam de mim, se fossem escritos à mão.
Ó, que bobagem! Como depois me acostumei tanto! O meu computador, hoje, é uma extensão de mim.
Mas havia certa poesia naquela dependência da escrita cursiva, sim. Tanto é que, na segunda edição do MALVA, ele foi editorado tendo como folha-capa de cada capítulo a cópia da folha manuscrita. Aquele meu sentimento era até bonito! Só não era prático.
Depois disso, não tive nenhuma resistência a ler livros e livros no meu KINDLE querido. Faço ainda muitas leituras em livros de papel, também. E vou continuar lendo em um e em outro. O que não posso ficar é sem ler. Sou, verdadeiramente, viciada em ler literatura. Sempre. Todos os dias. Nunca um dia sem ler.
Conversei demais, né? Nem sei por quê!
Beijão, amigo!
Ah... falando nisso, escritora, podes conversar à vontade... porque quando escreves, é literatura... e também nós, aqui no blogue, adoramos ficar a ler, e a ler e a ler...
ExcluirEscreves, escritora... queremos ler mais...!
Máquina elétrica de datilografia, foi algo assim...surreal, pra quem tinha um grande volume de trabalho pra entregar (datilografado). Era um sonho o tal de apagar...nossa...que coisa maravilhosa!!!! Nem imaginávamos que viriam muito... muito mais! E cada dia surgindo mais novidades nessa tal tecnologia!!!
ResponderExcluirSó sei que melhorou demais a nossa vida!!!!
Ótima crônica, Poeta!!!!!!
Ah..... o computador, comigo, foi paixão imediata!!!!! Como é bom poder repensar ideias, sem gastar folhas do bloco enchendo a lixeira......!!!!!
ExcluirMil obrigados, Armelinda!!!!!