Bora Cronicar
Neto é Neto, Filho é Filho!
Quando eu era criança, tinha lá meus 6 anos (nem quero lembrar quanto tempo faz!), eu ouvi uma piada que eu demorei anos pra entender. Acho que só entendi quando eu tinha uns oito ou nove, quando eu ouvi novamente. Era a seguinte: um casal velhinho conversando e a esposa velhinha fala para o marido:
— Foi uma vida boa, né meu velho?!
— Foi.
— Pena que a gente não teve filhos pra deixar nossa herança.
— Não tem problema, minha velha. A gente deixa para os netos.
Hoje em dia, eu nem encaro mais como piada. Pra mim, é um texto triste. Incrível como a gente vai mudando a percepção das coisas, né? O texto não mudou ao longo dos anos. Eu que mudei. Primeiro não entendia. Depois, entendi e ri muito, era uma piada absolutamente engraçada. Depois, veio um tempo em que a piada simplesmente perdeu a graça, era infantil demais, óbvia demais. Depois, indiferença. Hoje, sinto melancolia, imaginando o casal de “vovôs" sem netos nem filhos.
E eu estava pensando justamente nos netos. Na utilização da palavra “neto” ou “neta”. Aliás, deixe eu fazer um parênteses: eu conheço vários “Netos”, aquelas pessoas que recebem o nome do avô, e, ao final, é acrescida a palavra “Neto”. Fulano da Silva Neto. Ou até mesmo, “Neto alguma coisa”; mas “Neta" eu conheci só uma. Ela vendia passagens na empresa de um dos navios que fazia a linha Belém-Breves, que por tantos anos eu viajei. Mas foi a única. Não é comum meninas herdarem nome e sobrenome da avó.
Mas afora os nomes próprios (Neto e Neta), eu estava pensando na utilização do substantivo “neto”.
Eu acho muito legal o tweet fixado na conta da “Amontoadora de Palavras” (@AmontoadorP): “A tua avó também te dava dinheiro como se estivesse passando droga?” Porque avós tem muito em comum, né? Isso contado pela Amontoadora de Palavras, é bastante comum entre avós Eu já recebi dinheiro assim. Não era de um avô, era de um tio. Mas um tio com idade pra ser meu avô. Antes de se despedir, o tio Raul preparava algumas notas dobradas e colocava no bolso. Daí, ele se despedia apertando a mão minha e da mana, e até de algum amigo meu que estivesse lá em casa, com uma nota na mão, segurando-a em forma de “concha”. Então ele colocava a mão no bolso, e depois dava o aperto de mão, passando a nota. Colocava a mão no bolso e apertava a mão de outro. E assim ele fazia. Quando meus amigos descobriram que o Tio Raul passava notas no aperto de mão, sempre que ele ia visitar a gente, todos queriam brincar lá em casa!
O Tio Raul não era meu avô (claro, né!), mas ele me chamava pelo meu apelido, ou se referia a mim por “esse menino”.
Minha avó Izolina, que morava em Canoas, no final da linha do “Rio Branco”, também não me chamava de “neto”. Ela me chamava pelo apelido. Ou menino.
Na frente da minha casa, quando eu era pequeno, morava a família do meu amigo Cuca. A casa dos avós dele era na frente e ele morava na casa dos fundos. A vó “Ciça”, como a gente chamava a vó do Cuca, não chamava ele de neto. Era de Cuca, ou “esse menino”.
No Marajó, onde passei 11 anos, há muitas famílias, em que netos são criados por avós. Mas muitas mesmo! E eles não são chamados de netos. São chamados, na maioria, de “filhos”. E eles chamam as avós de “mãe”.
O Nando Reis, cantor que eu sou muito fã, tem uma música que eu acho maravilhosa, chamada “Meu Mundo Ficaria Completo (com você)”, que tem versos que eu simplesmente adoro e fico até com inveja que não fui eu que escrevi:
"O problema é que eu te amo.
Não tenho dúvidas que com você daria certo.
Juntos faríamos tantos planos,
Com você o meu mundo ficaria completo.
Eu vejo nossos filhos brincando,
E depois cresceriam e nos dariam os netos.”
Ele fala em netos, bisnetos e, na última estrofe, se a gente pensar direito, ele fala em tetranetos (os tais tataranetos)! Eu não sei se o Nando Reis já tem netos, mas quer saber? Acho que ele não os chama de “netos”.
Realmente, nunca vi alguém, vir cumprimentar seu avô e receber uma resposta assim: “oi neto”; ou alguém vir pedir a bênção ao avô e ser respondido: “Deus te abençoe, neto”.
Repare aí, quando você presenciar essa cena. É muito comum, ouvirmos o avô responder assim: “oi, filho”, ou até mesmo “oi meu filho”, ou “Deus te abençoe, meu filho”!
Por algum motivo que eu não sei, muitos avós, quase todos, aliás - e todos os que eu conheço, referem-se aos netos como “filhos”.
Desafio você a encontrar um avô falando com seu neto e chamando-o por neto! “Vem cá, meu neto”; “venha tomar a bênção da sua vó, meu neto”; “você quer mais um suquinho, neto?” Não! Você não ouve isso!
Por quê? Por quê? Acho que está na hora de parar com isso, com esse erro de nomenclatura, essa coisa de chamar neto de filho! É errado! Filho é filho, neto é neto!
E agora, vou terminar essa crônica porque estou indo no aeroporto pra buscar minha mãe que está vindo lá de Porto Alegre pra Belém pra visitar-me e assistir à peça de teatro que escrevi. E o João que não se faça de bobo: filho sou eu! Quem tem que ganhar os mimos da mãe sou eu! Vou logo avisar pros dois!
Luís Augusto Menna Barreto
14.3.2019
É difícil pros avós diferenciarem essa questão de 'filho é filho' e 'neto é neto'...E você já ouviu a expressão que diz: "avós são pais duas vezes?"...É o que vejo muito por aqui...Gente do céu,como tenho saudades dos meus avós,e sim,como falou a Amontoadora de palavras,eles me davam dinheiro como quem passa drogas sim...Hahaha...E eu como já sabia, esperava a hora certa de pedir a 'benção'( geralmente era nessa hora que vinha o mimo)...Pois é Poeta,acho que avós são muito mais apegados aos netos até que às vezes ao próprio filho...Eu falaria assim:Filho é filho e neto é neto e filho...rsrsrs
ResponderExcluirBom dia!!!
Como são deliciosas as histórias dos avós...!!!
ExcluirPra mim, sempre tem cara de sítio do Pica-Pau Amarelo! A Dona Benta personificava todas as avós....!
... ah.... eu acho que quando chegar minha vez, também vou dar trocados assim para os netos!!!
Sim. Meus avós sempre chamavam aos netos de filho, filha. Mas conheço uma Carmen Filha e um neto que chamam de Neto, porque está na certidão. De tempos em tempos as coisas mudam... Ah! mudam.
ResponderExcluirE é?! “Filha”, vi só uma vez! Acho que em meninas não é tão comum a repetição dos nomes!!
ExcluirMas, quando netos, são muito parecidos: querem monopolizar a atenção dos avós!!! 😂🤣😅
Que linda crônica!
ResponderExcluirSó conheci meus avós paternos. Minha vovó Geralda, mineirinha brava, porém muito boa! Quanta saudade!!!!
“Geralda” é nome de avó, né?! Interessante como há nomes que se encaixam em perfis....! Eu só conheci minhas avós, mas nenhum avô! Por parte de pai, até entendo, né: quando eu nasci, o meu pai tinha 65 anos!!!
ExcluirAmigão, cada um no seu quadrado. Pai é pai e Avô é avô. Filho é filho, neto é neto. Tirando todos os carinhos, mesadas e passeios pois o amor e o carinho são iguais, só sentia diferenças que dos avós eu nunca apanhei mas da mamãe levava varias surras por dia, italiana que resolvia tudo no cinto, mas fazia uma mscarronada como ninguém dos sete irmãos e 2 afilhadas nemhum traumatizado.
ResponderExcluirIhhhh, amigão... acho que minha mãe é meio italiana, então... porque teve uma fase que eu apanhava todos os dias!! So não era de cinta. Era palmada na bunda, mesmo!
ExcluirTaí, eu apanhava todos os dias. Se for pra ela ficar mimando o João, que também dê umas palmadas na bunda dele, pelo menos, né?!
Meu Deus.....
ResponderExcluirEu tive uma overdose de avós e tios e tinha que tomar a benção de um por um no domingo, enquanto eles assistiam o programa do Silvio Santos que inacreditávelmente passava durante o dia todo. Não ganhava a trouxinha de dindim mas ganhava muitas bençãos sobre a minha vida afinal eram 13 tios fora os avós 😆
Tempo muito bom de lembrar...
Essa ponta de ciúmes vai sumir rapidinho, lembra do ditado?
Mais ou menos assim, Quem meu filho agrada, ao meu coração adoça
Ah, Lola.. eu sempre ouvia meu pai dizer isso... ele falava assim: "quem meus filhos beija, minha boca adoça"!
ExcluirAh... que saudade...!
Não conheci meus avós de nenhum dos lados, mas já ouvi muito que avó, é mãe com açúcar rsrsrs e como agradam, essas criaturas amáveis, algumas mimam demais os netos, e os "estragam" lindinho o tema do cronicar de hoje.
ResponderExcluirFoi impossível não escrever esse tema, hoje... minha mãe chegou meia noite...
Excluir(e enquanto eu tô aqui trabalhando, o João ta lá aproveitando a avó!!!!! )
Não conheci nenhum avó ou avô consanguineo. Todos já haviam partido antes de eu nascer. Mas... até hoje, desconheço quem tenha tido tanto avô e tanta avó, como eu. Mas numa altura dessa, todos já morreram também, o que é uma pena, porque ter avó ou avô é um dos presentes mais gostosos que a vida pode nos dar.
ResponderExcluir(Joãããoo!!! Aproveita dona Zélia. O Careca aí é "só" filho, o neto é você. Passa na frente dele, João.)
Outra coisa:
dona Zélia foi para Belém para a estreia da sua peça e para mais o quê, "filho"?
A peça e meu aníver....!
ExcluirA mãe sempre faz negrinhos nessa época do ano!!!! E eu me delicio. Lembro quando era pequeno que a mãe ficava fazendo e eu e a mana "ajudando" a enrolar os negrinhos...!
ANIVERSÁRIO!?!
ExcluirOLHA!! É verdade ...
PARABÉNS!
Mais uns dias.....!!!
ExcluirO que é fazer negrinhos?
ExcluirQuerido!Amor é para dividir!Avós são pais que nos amam maisque aos próprios filhos!
ResponderExcluirPais perdem o direito de ser prioridade,quando nos dão esse presente!Um filho que não geramos,não carregamos normalmente por nove meses!Não escolhemos o nome, mas muitos filhos fazem essa homenagem aos pais!Meu filho chama-se Arthur. na verdade José Arthur,meu primogênito.Para ser sincera,José foi o próprio pai que se presenteou!Arthur...meu sogro falecido muito jovem, que nem eu conheci!Eu tinha quatorze anos quando tive meu Arthur!Sua avó paterna,tinha meu filho como seu!Amou meu filho tanto,que ao saber que ele estava seriamente doente.Fez uma promessa,se ele se curasse,jamais assistiria televisão!Meu filho foi curado(salvo)e confesso que lembrar:Dói!Ela tinha cinquenta e dois anos,na data da promessa!Ela partiu ano passado,um dia após completar noventa e seis anos!E acredite!Ela viveu todos esses anos sem ligar a televisão!Quando questionamos o porquê dela ter mesmo assim o aparelho em casa.A resposta foi essa:Eu adoro assistir televisão!Compreendemos e nos calamos diante tanto amor!Querido entenda,amor é para dividir...multiplicar....e os teus mimos com certeza dividirá com teu filho!Bora somar...multiplicar e dividir,todo e qualquer tipo de afeto e mimos também!
Ah!, Ana... que comentário maravilhoso...
ExcluirEm uma postagem antiga, eu escrevi sobre a matemática do amor... uma matemática que a gente consegue demonstrar, mas não tem lógica... quando mais dividimos, mais nós temos. Quanto mais espalhamos, mais temos. Quando somamos um mais um.... viramos três... e os três, são UM só maior... É incrível...!
Errata!Leia filhos perdem....kkk;;férias afetam...
ResponderExcluirDesculpa não comentar sobre quem chama quem de quem!Mas preferi ficar no sentir!
ResponderExcluirEu não tenho filhos Menna, portanto jamais saberei a sensação de ser avó. É sim muito triste sim. Ainda bem que sou tia e tenho afilhados. rsrs.
ResponderExcluirpois é amiga... é impressionante as transformações que experimentamos. O mesmo texto, que me chegou, em criança, como piada, manteve-se o mesmo e hoje, soa-me melancólico...
ExcluirPenso que os espaços vazios podem ser preenchidos com amor...
Mil obrigados por sempre vires aqui cronicar!
Amigo, feliz aniversário, que Deus abençoe sua vida e te dê muitos netos, filhos do João para vc saber o que é ser avô, dizem que é ser pai duas vezes, com muita saúde para vc curtir e "mimar" bem muito seus netos.Eu ainda não sou avó, espero ter essa graça e quando eu for vou lembrar de abençoa-los, Deus te abençoe,meu neto ou minha neta, afinal filho é filho e neto é neto.Parabéns e sucesso no teatro.
ResponderExcluirTão obrigado,Tel... tão obrigado....!!!!
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