Maradona no Juizado Especial
Originalmente publicado no antigo blog
"Menna Comentários", precursor deste.
Data da postagem original: 23.02.2016.
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Taxistas… vou dizer uma coisa! Não sei se todos são assim, mas os casos mais inusitados que aconteceram comigo no Juizado Especial, sempre tinham algum taxista envolvido. Ô classe pra ter criatividade em negócios! Esse caso, os três envolvidos eram taxistas!
Pois
eu estava no Juizado Especial do Bairro do Marco em Belém, que hoje tem
um outro nome menos charmoso, é “Vara-alguma-coisa” do Juizado
Especial. "Juizado Especial do Bairro do Marco” era muito mais legal e a
gente pelo menos sabia que era no Bairro do Marco. Sim, sabia onde era,
mas pra chegar lá, vou te contar..! A rua 25 de… - esqueci o mês, não
sei se é de Novembro ou Dezembro - era um zigue-zague! Não, não é figura
de linguagem! a cada 70 metros mais ou menos, tinha que mudar de lado
na avenida! Não me pergunte por quê! Como dizia um personagem de Ariano
Suassuna: “Só sei que é assim”!
Pois
bem: foi lá no Juizado Especial! Eu sempre levava os processos de
audiência para casa na noite anterior, para dar uma estudada neles e já
planejar uma abordagem para acordo. Quando vi o processo na noite
anterior, fiquei super tranqüilo. Uma história bem simples: o réu havia
pedido um mil reais para o autor, este deu o dinheiro em empréstimo e
fazia quase seis meses que não recebia nem um centavo. Queria receber de
volta o que emprestou. Simples assim!
Pois na hora da audiência, entraram os dois e comecei:
“Então o senhor deu em empréstimo um mil reais, é isso”?
“Sim senhor”.
Virei para o outro:
“E o senhor não pagou?”
“Não senhor”, o outro respondeu.
“Então é muito simples: o senhor tem de pagar. Precisamos só acertar uma forma de pagamento que o senhor possa cumprir”.
“Não senhor”, repetiu o cara. “O Senhor não entendeu Doutor”.
O que será que tinha pra entender num caso em que um pede emprestado, não paga, e tem de pagar?! … mas tinha muita coisa…!
“Doutor, eu não devo nada”.
"Hein??!!"
"Eu só tava trabalhando no ponto de táxi e conheço eles, Doutor, mas não devo nada!”
Como assim “conheço eles”, pensei…? Olhei pro autor e ele foi explicando sem eu perguntar:
“Doutor, é verdade. Ele não me deve nada. Ele é só testemunha. Quem deve é o Maradona!”
Caramba!
Se o cara não devia, o que ele estava a fazendo ali. Mais que isso: se
quem devia era o “Maradona”, por que ele não tinha sido indicado como
réu?! Era caso de extinção do processo pelo que a gente chama de
“ilegitimidade passiva”, ou seja: ninguém pode cobrar de quem não deve!
Mas o autor, com cara de quem está tentando a última chance falou:
“Doutor,
desculpa. A gente sabia que ele (o réu) não me deve. Mas ele é
testemunha que o Maradona me pediu emprestado e eu dei o dinheiro!”
Perguntei o óbvio:
“E por que tu não entraste contra o Maradona?”
“Ele
é muito brabo, doutor. Vive armado e fazendo confusão lá no ponto. Se
eu chamo ele pra justiça, ia ter confusão e ele não ia vir. Daí,
coloquei o Maradona só como testemunha e ele veio, Doutor. Tá aí fora!”
Pela
madrugada! Será que ele tem medo do Maradona?! Bem, de qualquer forma, o
sistema do Juizado Especial tem vários critérios em que o mais
importante é resolver o problema. Não tive dúvidas:
“Chama o Maradona”.
Pois
não é que não era apelido: o nome do qüera era MESMO Maradona! E era o
primeiro nome! Era “Maradona alguma coisa”. E olha… que nome mais
apropriado: baixinho, com uma pose, andando todo de nariz empinado e o
cabelo meio crespo.
Chutei logo o balde:
“Eles me disseram que o senhor pediu um mil emprestado e não pagou, é isso?”.
“Sim senhor”.
“E…?”, perguntei.
“E eu já falei que vou pagar quando eu puder! Mas se ele quiser, faço uma proposta agora, e resolvo”.
Bom…
a verdade é que foi resolvido tudo naquele dia mesmo. E tô quase com
vergonha de contar o acordo que eu homologuei. Até tentei explicar para o
autor que não era muito vantajoso a ele, que muito provavelmente daria
errado de novo… mas o autor achou maravilhoso o acordo e pediu pra
homologar. Tá bom, né?!
...
Ok,
vou dizer o acordo: o Maradona convenceu o autor (que JÁ HAVIA DADO UM
MIL REAIS, não esqueçam) a fazer um CDC, aqueles empréstimos bancários
que a gente faz no caixa automático do banco, no valor de um mil reais
na própria conta do AUTOR. Daí, com este dinheiro, ele Maradona,
“pagava" o empréstimo de um mil feito, e passaria a pagar as parcelas do
CDC para o autor.
...
...
..
não entenderam? É o seguinte: o autor pagou-se com seu próprio
dinheiro, e, agora, tem uma dívida de empréstimo com o banco! E o
Maradona? … ah, o Maradona quitou o empréstimo que havia feito. Essas
novas parcelas, são uma nova história…!
Por Luís Augusto Menna Barreto
kkkkkkkkkk. Creio que o autor estava morrendo de medo e aceitaria qualquer proposta do Maradona....
ResponderExcluirExatamente, Roberto....... Agora, pensa num cara invocado, esse Maradona...!!!!
ExcluirDepois que passa, fica engraçado... rsrsrsrsrs
Dr. Menna...o senhor tem que escrever um livro com todas essas histórias. Fará muito sucesso entre aqueles que pretendem se dedicar à magistratura.
ResponderExcluirrsrsrsrsrsrs...... pois é.....
ExcluirVou pensar nisso...! Na verdade, eu tenho um projeto para essas crônicas... vamos ver como ficará... !!!!!
Super obrigado, Thaís!!!!
Amigo os Maradonas da vida acham que sempre se dão bem, pode até ser neste mundo, mas o que é deles está guardado.
ResponderExcluirAh, Dr. Izamir....
Excluir... e olha que esse era esperto... pagou a dívida com o dinheiro do credor.... essa eu nunca tinha visto!!! rsrsrsrsrs
😂😂😂😂😂😂😂 gente, estou besta com a esperteza desse povo... E o doutor aprendendo... Alguém aí quer fazer pra me presentear?
ResponderExcluirConsertando: fazer um empréstimo...
ExcluirProfessora..... e eu que até me achava espertinho...!!
ExcluirPerto desses "Maradonas" eu vejo como sou lento...
Isso aconteceu quando eu era, ainda, juiz substituto e estava na capital, ainda, sem haver ido para o interior....
Depois, quando fui para a ilha, pensei: bom, agora o povo é mais simples, vou estar mais tranqüilo.... e vivo sendo enrolado... rsrsrsr Só tem esperto por aqui!!!
Essa foi demais!! Só me faltava essa ...rsrsrs!!!Já até imaginamos o resultado final...(Cá pra nós,jura que o Maradona pagou as parcelas)Se já começou agindo de má fé...!!
ResponderExcluirMas que engraçado foi...Embora os fatos sejam reais a maneira como contas faz a gente morrer de rir...
Ah, lembrando, depois, também dou minhas risadas...
Excluir... mas na hora é cada perrengue... rsrsrsrsr!!!
Lembro bem dessa história, da edição primeira e achei o máximo, imagina o devedor principal não era o principal devedor, aparece como testemunha, meu Deus Maradona, você é o máximo, driblou o autor e o réu, deu um balãozinho no Juiz e ainda saiu, de nariz empinado, pela porta da frente. Maradona, tu é o máximo, entendo que é um problema do nome. Até a próxima audiência, no bairro Marco, tem que ser no bairro Marco, senão,não vale. Até.
ResponderExcluirDr. Valdomiro......
Excluir... é só esperto que me aparece...!!!
Pense num cara "nó cego"...rsrsrsrsrs
No fim, se fosse uma novela, a gente até torceria pelo Maradona... rsrsrsrsrs
Esta crônica tem características diferentes das que eu classifiquei em quatro blocos, mais ou menos, distintos.
ResponderExcluirUma de suas singularidades é a ambientação. O enredo se desenvolve em um ambiente urbano de grande centro, enquanto os enredos das demais crônicas, exceto o das crônicas do Pilha, têm seu desenlace em ambiente de cidade bem pequena.
Daí, tanto nesta crônica como nas do Pilha, aparecerem como componentes, da própria história e das bases da crítica sutil do autor, equipamentos, cenários e serviços que não aparecem nas outras crônicas: banco, transações financeiras, edifício, hospital, trânsito conturbado, estádio esportivo etc.
Embora tenha como a maioria das outras crônicas do Menna Barreto uma contextualização jurídica e a inserção do autor como personagem, o que coincide com a função que ele exerce na sociedade, a de juiz de direito, nesta crônica, a audiência ocorre em um juizado especial, local que nos parece ser apropriado para tal. Pelo menos o autor não diz nada em contrário!
Outra característica singularizante da crônica “Maradona no Juizado Especial” é a sofisticação da “ladinagem” da personagem-réu, no acordo firmado com a personagem-autor do processo e homologado pela personagem-juiz. Esta “sagacidade” chega a um ponto tal que o próprio juiz-personagem vê-se forçado a confessar: “(...) tô quase com vergonha de contar o acordo que eu homologuei.”
XXXXXXXXXXXXXXXX
Bem, não precisa mais eu dizer o quanto gosto das crônicas do Luís Augusto Menna Barreto. Gosto tanto, que me disponho a analisá-las. Não é nada de muita contribuição, mas é a maneira que tenho de mostrar como elas são obras literárias de gtrande valor.
Perdoem-me, amigos do blog, por encher o saco de vocês com estes meus textos grandes demais! Abraço todos vocês!
Abraaaaação, autoooooorrr!!!!!
Escritora, não fazes idéia do quanto aprecio teus comentários, expondo, de forma mais técnica, o que sequer imagino.
ExcluirMas deixas eu te dizer.
A ordem dos trabalhos, foi mais ou menos essa:
Comecei a escrever as crônicas com a crônica "Mereceu". A idéia era contar o inusitado do fato de o cara não saber porque havia batido, mas a menina saber porque havia apanhado!
Daí, depois dessa, escrevi a "Nunca Mais Pergunto", porque também me foi muito inusitado o fato de o agressor, preso, ter achado que valeu a pena ter ficado preso pela agressão perpetrada, tanto que, se pudesse agredir de novo, aceitaria a mesma "pena"....
O que importava, então, era o caso... e assim fui indo... então lembrei-me desse caso do Maradona, que aconteceu logo nos meus primeiros meses de juiz, lá no distante 2003... e a próxima também é uma crônica ambientada no Juizado Especial, em que a preocupação foi contar o fato, pelo inusitado da situação... mas acho que foram apenas essas duas assim: "Maradona no Juizado Especial" e "O Juiz que Pague o Acordo"(que será a próxima a ser republicada, na próxima TERÇA-FEIRA, dia 28 de junho).
A partir daí, comecei a contar histórias, já me envolvendo com as gentes dos locais e suas características! E, no fim das contas, fui descobrindo que a minha maior satisfação é, sim, contar essas aventuras marajoaras, falas dos tantos tipos maravilhosos que aparecem.. enfim, tentar mostrar um pouco de um Brasil pouco conhecido, mas que é tão rico, tão surpreendente, tão absolutamente cheio de vida!
E, contigo, tenho descoberto, sim, várias facetas distintas....
... mil obrigados, Ana Isabel, por dividires conosco, parte de tua ciência...!
De coração, obrigado!
Sugiro que tu guardes esta tua resposta. Ela muito vai servir no futuro. A quem? A ti, aquem for estudar tua obra, à imprensa, ao futuro e à HISTÓRIA.
ExcluirE com enorme prazer que leio suas crônicas e me divirto com suas narrativas...obrigada por compartilhar conosco suas experiências inusitadas e nos transmitir com muito humor...Parabéns poeta!!!!
ResponderExcluirPrazer maior, tenho eu, ao voltar aqui e encontrar tanta gentileza, com a tua.... fico feliz demais em saber que leste...!!!!
ExcluirUm imenso abraço e mil obrigados...!!!
Égua! Esse autor é muito bom de coraçao ou inocente demais! Não sei se aceitaria essa proposta de acordo. O que importa é conciliar e o ambos sairem satisfeitos com o acordo. 😊😊 dr. tanta experiencia para transmitir, parabéns por compartilhar e fazer a gente rir muito.
ResponderExcluirAh guria.... super obrigado...!!!
ExcluirAcho que o acordo foi fruto, um pouco, do medo que o Maradona impunha... outro pouco, da esperança (vã) de tentar resolver o caso...
Quero pagar minhas contas assim: com o dinheiro do próprio credor... rsrsrsrsrs
Super obrigado guria!!
😂😂😂😂😂😂😂
ResponderExcluirAh.... adoro ver essas carinhas sorridentes... rsrsrssrs
ExcluirSuper obrigado que tenhas gostado!!!!
Estas carinhas... Acho que ela estava ocupada com outra coisa. Não podia parar para escrever.
ExcluirO que tu estavas fazendo, Silvina?
Brincadeira pura! Beijo!
Rindo muito... será que o mundo é dos espertos, ou os tolos se permitem enganar? Pois bem lembrado foi Ariano Suassuna e sua personagem em "O auto da compadecida" não Sei como foi...só sei que foi assim. Entre ser esperto ou ser tolo, melhor teria sido libertar-se do medo que tinha do tal Maradona. É cada uma que tu contas, que acabamos por achar que existe mesmo um mundo paralelo ao que enxergarmos como nossa realidade, um mundo que cada um cria para si. Fantástico !!!
ResponderExcluirTal como esse Maradona, nas ilhas marajoaras há tantos outros! Ah, o que Gabo (Gabriel Garcia Marquez) não criaria diante da experiência da vida no Marajó...?!
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