bora cronicar
Manual de Pai
É incrível ver a cidade ficando pequenina lá embaixo, enquanto o elevador, com vista panorâmica, vai subindo até o 25º andar.
Meu pequeno João sente-se desconfortável no elevador com parede de vidro e visão da rua, e acho que nisso puxou à Ana. Como ela sempre faz, ele fica bem pertinho da porta, olhando para a porta de metal, o mais longe possível da parede de vidro, embrulhando o estômago à medida que o elevador sobe. E, quando o elevador finalmente para e abre a porta, parece que dá pra ver o seu alívio como se alívio fosse algo que a gente pudesse pegar.
Já, eu, prefiro ir colado no vidro, olhando pra baixo, pros lados, pra longe, vendo as pessoas ficarem pequeninas, vendo os carros diminuírem, vendo telhados surgirem, depois até outros prédios ficando pequenos… gosto de deixar, naqueles breves instantes, minha mente fluir e imaginar que por uns segundos há um super poder de voar e ficar acima de tudo…
O trajeto vertical que deixa meu pequeno João ansioso para acabar, e que para ele demora demais, para mim passa voando tal qual o efêmero vôo do meu super herói imaginário cuja trajetória e vida, encerra-se e esgota-se no tempo do fechar e abrir de portas do elevador do prédio do amiguinho do João.
Eu raras vezes estive nesse elevador, mas desta vez a Ana foi resolver umas coisas em Porto Alegre e eu fiquei uma semana com o João, no meu período em férias.
Mal o João toca a campainha, e o coleguinha e seu pai, estão na porta.
— Boa tarde.
— Boa tarde.
— Dá um beijo no tio.
— Dá um beijo no tio, também, João.
— Não queres entrar um pouco?
— Não, vou aproveitar pra escrever com a tarde inteira livre pra mim.
— Ok. Boa tarde.
— Até mais.
A porta fecha, e pego o elevador de volta. É engraçado, mas a descida não é tão incrível como a subida… porque a descida parece que é o sonho esvaindo… os carros chegando perto de novo, as pessoas ficando no tamanho normal… parece que de alguma forma volto pra realidade. O super herói perdendo os poderes. Daí, quando a porta abre, no térreo, nada mais é como naqueles instantes em que solto a mente, longe do chão.
Aos poucos, vou sendo chamado de volta pra realidade. Cumprimento o porteiro, ouço o barulho dos carros, vejo as pessoas… No trajeto do portão do prédio ao carro, comparo mentalmente a visão que eu tinha lá de cima… até que o barulho do telefone devolve-me definitivamente à realidade. Olho a tela: “Ana Karina”.
— Levaste o João?
— Acabei de deixar-lo.
— Colocaste o telefone dele na mochila?
— Não. Já não tava lá? Era pra colocar?
—Deixaste teu número de telefone com os pais dele?
— Não…
— Pegaste o número dos pais dele?
— … (grunhidos da mente em desespero tentando alguma coisa)…
— Que horas é pra buscar o João?
— … ãh…
— Meu Deus, tu não perguntaste nada! Eu tinha te dito tudo o que era pra fazer!
Dito? Quanto ela me disse? Não… não vá querer dizer que ela tá se referindo a uma conversa que tivemos há mais de uma semana, antes de ela viajar! Pelo amor de Deus, não se pode esperar, em sã consciência, que um homem lembre de uma conversa de uma semana atrás, se não era sobre futebol!
Depois disso, sem dar tempo de eu dizer “tchau" (porque mulher é assim, só mantem conversa enquanto interessa) ela desligou.
Alguns minutos depois, recebo por mensagem todas as informações, inclusive a hora que eu teria de buscar o João.
Mas, cá entre nós, sejamos objetivos: eu sou o PAI! Pai não se liga nessas coisas. Eu não tive culpa nenhuma! Se tinha todas essas perguntas, ela deveria ter ligado antes de eu levar o João, né?!
Mas, enfim, o fato é que ainda durante a ausência da Ana, também estava agendado (ela deixou agendado, claro), o banho do Messi na pet. Lá vou eu levar o cachorro. Agora realiza: se eu não fiz perguntas quando larguei o João no colega, imagina o cachorro na pet…
— Bom dia, vim trazer o…
— Ah!, bom dia, estávamos esperando o Messi. Hoje ele vai tomar banho e fazer tosa higiênica e, depois, tem uma vacina. É para o senhor deixar ele aqui e voltar para buscar às 11h30. Esse cartão tem o nosso número e já temos o seu. Se ficar pronto antes, nós ligaremos para o senhor.
É… depois da experiência com o João, a Ana ligou diretamente pra pet…!
Luís Augusto Menna Barreto
7.5.2019
Hahaha
ResponderExcluirE manual de pai não é intrínseco?
Tadinho,fiquei imaginando aqui a enxurrada de informações que vinheram em seguida...Mas que bom que deu tudo certo!! A propósito!! Foi pegar o Messi no Pet no horário marcado??
Barbaridade!!!! Cheguei 5 minutos antes e fiquei esperando!!!!!!!!
Excluir😅😅
Ufa, qta coisa para um pobre pai né? Fica esperto poeta kkkkkkkkkkkk Qto essa pequena "viagem" de elevador, para os claustrofóbicos é quase a morte, tadinhos, eu acho o máximo, o bom é que na visão de um poeta, TUDO é inspiração. Belo, o cronicar de hoje
ResponderExcluirMas bah!!!! Super obrigado, Nice!!!!!!!
ExcluirEu realmente adoro elevadores panorâmicos!!!!
E eu preciso (muito) de um “Manual de Pai”, que ensine que perguntas tenho que fazer em cada situação!!!!
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirEita que me acabei em cólicas... de tanta gargalhada, Poeta!!!
Já chegaste chegando hein...! 😂😂
Pelo jeito, muita coisa boa está por vir ainda!!!
Bendita viagem! 😊
Tive algumas idéias e fiz anotações para ir escrevendo no 'bora cronicar'...
ExcluirFicaram boas histórias pra contar...!!!!!!!
Super obrigado, Armelinda!!!
hahahaha, como é difícil ser pai!!!!São tantas coisas para lembrar ao mesmo tempo! Um viva para essas mulheres maravilhosas !
ResponderExcluirAcho que existe algum "tutorial" que é disponibilizado somente para meninas!!!
ExcluirAcho que vou fazer um aplicativo: "iPai - aperte em caso de pânico"!
Realmente são muitas informações !! Kkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirÉ muita coisa!!!! Como esperam que pais consiga absorver tudo isso???
ExcluirEu achei que era só largar o guri ali, depois, quando lembrasse, buscar!!!
Como eu já comentei anteriormente, mais de uma vez por sinal, a Ana é uma super mulher e super mãe. O Sr. pra mim, é um amigo maravilhoso que espero ver lá de cima no meu velório (espero não ver lá de baixo) mas tenho que ser bem honesta e dizer o velho dito.... Por trás de um grande homem sempre existe uma grande mulher 😁
ResponderExcluir... na verdade... acho que pela frente... rsrsrsrsrsrsrs!!
ExcluirUm mega obrigado, Lola!!!!
Embora eu não seja uma pessoa que costuma fazer apologia à saudade, inegavelmente este teu texto é muito bonito.
ResponderExcluirÉ que saudade, quando é SAUDADE mesmo e não fricote, dói MUUUUUIITO. E eu não gosto de dor.
Abração gaúcho!
Ah.... mas tem dor que é tipo termômetro... é so pra lembrar a gente que a gente ama..!!!!
ExcluirUm suuuuuper abração!