bora cronicar
Pai de Primeira Viagem - parte 2
“Mala”? Como assim eu tenho de "preparar minha própria mala para o hospital?"
Devia ser brincadeira. Aquele manual não era muito sério, pelo jeito. Ora “mala”. O hospital era em Porto Alegre e nós estávamos em Porto Alegre! Que história era aquela que eu deveria aprontar minha própria “mala”?
O médico falou que deveríamos chegar às 5h no hospital, e o João nasceria às 6h. Pra quê mala? Meio dia deveria estar tudo pronto, não?
Depois que li sobre a “mala”, achei o Manual do Pai de Primeira Viagem uma bobagem e resolvi que iria dormir, porque, afinal, amanhã conheceria meu esperado pequeno João, meu futuro parceiro de aventuras, o melhor amigo que eu ainda nem conhecia, mas já queria pra sempre ao meu lado.
Quando eu cheguei no quarto, bem quieto porque a Ana estava dormindo, eu fui dar uma olhada no roupeiro, apenas por via das dúvidas, claro… Opa!? O que é isso? Uma mala aqui embaixo no roupeiro? Elas não ficam lá em cima? Pesada? Ué, tá com jeito que está cheia. Será…? Barbaridade! Outra mala. Também em pé, ao lado. Pesada! Duas malas! Ufa! A Ana pensa em tudo mesmo: duas malas. Uma pra mim e outra pra ela! Não é que esse manual é espertinho mesmo?! Tem mesmo mala! Mas a Ana é mais esperta que esse manual e já fez as duas malas!
Mais tranquilo, fui tomar banho, escovei os dentes e então fui pra cama. Liguei a luz do abajur e fui ver o manual mais uma vez, só pra ter a satisfação de ver que as dicas do manual eram desnecessárias. Mas foi daí que comecei a assustar-me: “Se você encontrar duas malas prontas, não se engane: uma é da mãe, a outra é do bebê”. O quê? Como assim? Levantei assustado e fui conferir. Peguei uma lanterna pequenina (naquele tempo, não era comum todos os celulares terem lanternas, não havia ainda a cultura dos “smartphones”) e fui ver direito as malas. Uma mala nova, que eu nem conhecia, azul clara com motivos de bebês… a outra, era a mala que ela usava! E a minha? Meu Deus, cadê a minha? Onde tá a minha mala? Cadê o botão de pânico? Onde tá o maldito livro?
“Não entre em pânico. Se você decidiu ler este livro, é porque é previdente e terá tempo de organizar-se…”
Tempo? Que tempo? Eram 2 horas da madrugada e às 5h estaríamos no hospital! Que tempo?
“… porque ninguém - mas ninguém mesmo - sequer lembrará que você existe."
Como assim, “ninguém" vai lembrar que eu existo?
Calma! Calma, que tem tempo. Mala! Meu Deus!, onde tem uma mala? Preciso de uma mala! Certo… mala… em algum lugar vai ter uma! Tá, uma mala… quando conseguir uma mala, o que eu faço? O que eu coloco? Porque eu nunca fiquei ao lado da Ana quando ela arruma as malas pra gente viajar? Socorro!
O que se coloca em uma mala para ir pro hospital? Eu entendi direito? É claro que o hospital é em Porto Alegre, né?! Será que é mala pra trazer lembranças que as pessoas levarão para o João? Claro… deve ser isso! Nada de pânico! Óbvio que não seria preciso uma mala pra ir para o hospital na mesma cidade…
“Normalmente, em casos de partos por meio de cesarianas, você ficará ao menos dois dias no hospital. Mas é importante você estar preparado caso tenha de ficar mais. Se você optar por ir em casa para trocar de roupa e fazer sua higiene, certifique-se de que você sabe onde ficam suas roupas e seu material de higiene pessoal”.
Ora, que bobagem. Claro que sei onde ficam minhas coisas! Está tudo aqui… nesta… gaveta… gaveta? Meu Deus, eu não estava em casa, era hóspede na casa do meu sogro, há 5.000 quilômetros de distância da minha casa! Onde estão minhas coisas? Calça, camisa, cuecas… cadê?
…
Eu passei as três horas seguintes alternando pânico com tentativa de ler o manual e procurando coisas. No fim, quando o relógio despertou às 4 horas da madrugada, eu tinha conseguido uma mochila, onde coloquei dois livros, um par de meias que eu havia deixado dentro do tênis, e exatamente a mesma roupa que eu havia vestido no dia anterior. Estava um pouco amassada, porque eu havia pego de dentro de uma sacola onde a Ana falou que era para colocar a roupa usada!
Eu pensei em fingir que havia acordado junto com ela, ao despertar o relógio, mas não teve a menor chance de ela acreditar que eu havia acordado antes e vestido a mesma roupa.
Ela olhou para a mochila em cima da cama, para minha aparência de pânico e perguntou o que estava acontecendo.
Eu expliquei que estava tentando arrumar minhas coisas para ir para o hospital e que estava com dificuldades de encontrar minhas roupas e escolher o que levar, e até mostrei o manual que eu estava lendo.
Ela me olhou com aquela cara de “ai meu Deus, o que seria de ti sem mim…?!” E falou:
— Vai tomar um banho. A roupa pra hoje está separada na cadeira e a tua mala está ao lado da cadeira com as coisas que tu vais levar. Assim que tu escovares os dentes, colocas a escova dentro da necessaire em cima do balcão do banheiro.
Um alívio indescritível passou por mim e quase desmaiei de cansaço.
O manual é maravilhoso… mas só é necessário para quem não tem uma Ana!
…
Até hoje não contei que à noite, quando eu disse que iria comprar uma garrafa de água na cantina do hospital, eu fui na farmácia do hospital comprar uma escova de dentes! Eu esqueci de colocar na necessaire!
Luís Augusto Menna Barreto
14.5.2019
Hahaha
ResponderExcluirMuito boa crônica!!! Mas poeta!!!!! Como assim esqueceu a escova de dentes??? Parabéns pela maravilhosa Ana que Deus colocou na sua vida!! O que seria de ti sem ela em!!??? Me conta só uma coisinha: O manual realmente foi útil em algum momento? Hahaha 😬
Foi!!!! Um amigo meu estava pra ser pai, e emprestei o Manual pra ele na véspera do parto..... o Manual ajudou pra eu fazer um pequeno bullying!!!😅😂🤣🤦🏻♂️
ExcluirOi amigão. Fique frio. E eu que quando fomos pro hospital no fusca 69 na pressa deixei os vidros abertos 1973, quando voltei quase tive um desmaio ao olhar um guardador já tinha naquela época sentado no fusca escutando música,ele disse que tava guardando o carro , agradeci e dei uma ponta pra ele. Agora imagine se a Ana daria alguma coisa pra ele?
ResponderExcluirNão quero pensar no que ela daria pra MIM, se eu esquecesse os vidros aberto...😆😆
ExcluirValeu, amigão!!!!
Não falei???????
ResponderExcluirEla resolve tudo....
Agora chorei de verdade de tanto rir 🤣🤣🤣🤣🤣🤣
Eu tambem...!!!! Rindo pra não chorar!!!!🤣😂😅🤦🏻♂️🤦🏻♂️🤦🏻♂️🤦🏻♂️🤦🏻♂️
ExcluirAff..... no fim, a Ana foi com 4 malas para o hospital!!!!!😁😁
Rir litros aqui viu poeta, só te imaginar vc louco a procura das suas coisas, maravilhosa crônica tem continuação? Tem que ter...
ResponderExcluir... bem.... sempre há mais o que contar.......
ExcluirObrigado, guria!!!
Fiquei imaginando esse desespero todo em busca dos seus pertences, e o revesamento de ler o manual e correr pra achar suas coisas, sendo que na real já estava tudo pronto, preparado por essa, quase santa mulher, por nome Ana, que te conhece, mais do que você mesmo né? Rsrsrs O que importa é que no final deu tudo certo. Vale outros episódios do cronicar, vai ter parte 3, 4? Aguardemos 😊👍👍👍👍👍👍👍👍
ResponderExcluirBom.... houve ainda dois ou três momentos dignos de nota quando o João nasceu....
Excluir.... quem sabe.....??!!!!!!😁😁😁😁
Obrigado, Nice!!!!!!
Pelo amor de Deus...não faças uma coisa dessa!!! Ainda matas um leitor!!! 😂😂😂😂 Minha mãe e meu irmão correram pra ver o que estava acontendo...eu não conseguia parar de rir...as lágrimas desciam como cachoeiras!!!! 😂😂😂😂 Melhor de tudo...você desesperado e a Ana toda PLENA!!!
ResponderExcluirParabéns do tamanho do UNIVERSO!!!
E não é....??!!!! Tu achaste a palavra exata: a Ana toda plena e eu perdido entre o Manual e o desespero de não entender o momento....!!!!
ExcluirAh...!!! Depois que passa, tudo fica mais fácil!!!!
Muito legal!!! Imagino sua ansiedade. O que seria de ti sem a Ana?!!!! 👏👏👏👏
ResponderExcluirE não é?!
Excluir... mas nem vou falar muito pra ela não ficar “se achando”!!!😆😆😅