Quem mora por aqui, conhece. Quem vem de fora, fica até assustado.
Na época da maré grande, vem a enchente que invade a rua.
Vem lá do rio, da parte em que a cidade começou… e logo se espalha, tomando todo o largo. Sobe a Pedra do Peixe, invade o Ver-O-Peso, que não dá pra ficar com nenhuma barraca aberta. O comércio ali, na frente do Ver-O-Peso, logo é pego pela enxurrada… impossível passar carro! Nem ônibus vence a maré subindo!
Só quem mora aqui, conhece. Quem está acostumado a ver o rio.
E pra quem acha que a maré não sobre a lomba da Presidente Vargas, está enganado: ela sobe! Como onda mesmo… indo, forte, recuando, indo mais um pouco… Leva tudo pela frente! E os que estão no caminho, para ver a a enchente, não conseguem resistir e são levados.
Há quem diga, que a maré grande é em março ou abril… mas quem mora aqui, conhece. E sabe: é em outubro!
Cada gota do rio, parece ganhar vida, vira gente igual o boto, e se reúne em volta da Santinha! Ninguém nunca vai contar as gotas que formam o rio… nem as gotas-gente, que formam a maré que invade as ruas de Belém. E daí, todos podem ver o milagre: a Santinha caminha por cima da enchente, sem nunca afundar! A maré-gente, é o tapete da Santinha!
Quem mora por aqui, conhece: não dá para contar as gotas do rio. E não dá para contar as pessoas que formam o rio de gente no Círio.
… quem mora por aqui, conhece!
Luís Augusto Menna Barreto
Outubro, Círio de 2022